LEGISLAÇÃO

terça-feira, 2 de março de 2010

ECONOMIA - FINANÇAS

Brasil S/A


BC retoma depósitos liberados na crise e reverte a fase de laxismo monetário. Os juros vão subir
O Banco Central voltou ao braseiro da economia com a retomada de 71% dos depósitos habitualmente recolhidos à banca e liberados no fim de 2008 para evitar a parada do crédito devido à crise global.
Na época, o aumento da liquidez — para repor parte do crédito que a banca tirara de circulação por receio de inadimplência e também devido ao corte das linhas de financiamento externas — equivaleu a 40% do total de depósitos retidos compulsoriamente pelo BC.
Trata-se de instrumento coadjuvante ao dos juros interbancários, a Selic, utilizado em vários países, mas, no Brasil, muito mais do que seria razoável. A retenção compulsória aqui é recorde.
Ela passa de 40% dos depósitos bancários, estando nessa distorção o motivo para boa parte do escandaloso spread embutido no custo dos empréstimos. É a banca que o cobra, repassando o custo de o BC reter parte dos recursos captados ao público, ainda que um pedaço desse recolhimento compulsório seja remunerado à taxa Selic.
Mas é o governo que determina o nível das retenções, feitas para reduzir o multiplicador bancário – isto é, a capacidade de a banca expandir o crédito. O objetivo é o mesmo que o do manejo da Selic: restringir a oferta de crédito para reduzir a demanda na economia, quando ela tem a propensão de correr à frente da produção atendida por fontes nacionais e complementada pelas importações.
A diferença é que tal alvo é imediato com a retenção compulsória dos depósitos, enquanto com a Selic vem espaçado no tempo, estima-se entre seis e oito meses. Outra vantagem é que não onera o custo da dívida pública. Mas, esgarçada, raciona a oferta absoluta dos empréstimos, enquanto a Selic apenas o encarece.
Alguns analistas afirmam que as retenções compulsórias também se prestam a outra finalidade: cobrir parte do subsídio de juros nas operações de crédito rural e financiamento industrial. Deixemos a questão para outro momento. Por agora, o foco é a decisão em si.
Ela prenuncia a reversão da fase de laxismo monetário inserida no contexto das medidas anticíclicas para desarmar a recessão. Foi a primeira reação ao aumento da demanda, que vem forte desde meados de setembro, embora se questione sua intensidade daqui para frente e, especialmente, a margem entre a capacidade da oferta e o ritmo do consumo, chamada pelos economistas de “hiato de produto”.

Limite de tolerância
Quando se olha para a inflação, a folga que havia para atender ao consumo esticado pela recomposição da renda, expansão do emprego e as facilidades do crédito, entre juro menor e prazo maior, fica a sugestão de que ela esteja próxima de seu limite de tolerância.
A variação do IPCA de janeiro foi expressiva. Passou de 0,37% em dezembro para 0,75%. Em 12 meses até janeiro, o IPCA cresceu 4,59%, acima da meta anual de 4,5%. E seguiu crescendo na medida de meio de mês, o IPCA-15, que variou 0,94%, antecipando uma taxa também obesa para o mês cheio de fevereiro, embora talvez menor. Em 12 meses, segundo o calendário do IPCA-15, já acumula 4,63%.

Certeza de Selic gorda
Na medida do IGP-M, a inflação monitorada pela FGV — indexador de contas de energia, telefonia e aluguéis, além de ser o índice de referência para grande parte dos financiamentos — não foi menos pressionada. E com o agravante de influenciar cerca de um terço da variação do IPCA. O IGP-M de fevereiro, impactado pelos preços no atacado, voou 1,18%, superando as projeções. O BC começa a agir.
É consensual a expectativa de que a Selic, estacionada em 8,75% desde setembro, voltará a subir em breve. Diverge-se o momento: se na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do próximo dia 17, se na seguinte, em 28 de abril, ou logo depois, mas este ano.
O tamanho do ajuste para repor a inflação na meta projeta a Selic espichada até 11,25% a 12,75%, com o ciclo de alta podendo varar o ano. Mas terminando abaixo dos movimentos altistas anteriores.

Risco de contaminação
A questão real da política monetária, diz o economista Fernando Montero, é se haverá “desaceleração endógena”, ou seja, induzida, “em tempo e intensidade suficiente para não contaminar a inflação” – e isso, acrescenta, se é que já não contaminou. Ele prevê para abril o início do ciclo de alta da Selic, talvez com o BC sob nova direção, se Henrique Meirelles sair para concorrer às eleições em outubro. Mas ressalva que o Copom de março “virou moeda no ar”.
Não é que haja risco na fotografia do cenário da inflação. É que, se o BC precisa tomar a decisão, melhor que a tome o quanto antes.

Superavit embonecado
A proximidade das eleições, diagnóstico sobre o risco de inflação mais brando na Fazenda que no BC e divergências entre economistas do governo quando à condução da política monetária podem embaçar o caminho da Selic. Mas dificilmente impedirão o BC de aumentá-la.
O ministro Guido Mantega até que se empenha. O superavit primário do setor público consolidado, em janeiro, foi o maior em 15 meses, chegando a R$ 13,9 bilhões. Mas o ministro terá de fazer mais. “Pouco impressiona um esforço em que, de seu total, R$ 8 bilhões vieram do pagamento de precatórios empurrado para frente”, avalia Fernando Montero. Ai fica feio, e deixa mal o governo, que jurara fazer superavit de 3,3% do PIB este ano sem artifícios contábeis.

PIB americano é revisado
O crescimento da economia dos Estados Unidos no quarto trimestre de 2009 foi revisado para cima a 5,9% ao ano, de acordo com a segunda estimativa oficial do Produto Interno Bruto (PIB) divulgada ontem pelo governo do país. Esse número é superior às expectativas dos analistas. Muitos previam que o departamento manteria a sua primeira estimativa de um aumento do PIB de 5,7% em relação ao trimestre anterior. No entanto, o motor tradicional da economia norte-americana, o consumo das famílias foi mais fraco do que o anunciado inicialmente, aumentando apenas 1,7% (-0,3 ponto em relação à estimativa do final de janeiro), após uma expansão de 2,8% no terceiro trimestre.

FMI quer mais poder
O Fundo Monetário Internacional (FMI) pedirá mais poder de supervisão do sistema financeiro mundial, além de uma intervenção ampliada, para uma melhor identificação de potenciais riscos. A solicitação será encaminhada aos Estados membros. “Há necessidade de que tenhamos um papel mais claro para detectar os riscos que pesam sobre a estabilidade econômica e financeira mundial”, destacou Strauss-Kahn, diretor-gerente do Fundo. Ele também avaliou que o FMI “está pronto para responder” a crises de liquidez mundiais, como a restrição do crédito, em 2008.
Correio Braziliense


BC prepara ‘limpeza’ nas regras para câmbio
Comércio exterior: Para facilitar exportações, banco quer simplificar normas de ingressos e remessas de divisas

Como parte do esforço para facilitar as exportações brasileiras e a competitividade do país, o Banco Central prepara uma revisão das regras para operações de câmbio, com base em consultas que o presidente do BC, Henrique Meirelles, vem fazendo entre empresários do setor. Meirelles afirma querer uma “limpeza”, das normas, ainda neste ano, para eliminar regras anacrônicas e simplificar os procedimentos necessários para ingressos e remessas de moeda estrangeira.
As mudanças planejadas pelo BC não devem constar ainda do pacote a ser anunciado em março, de apoio aos exportadores, com medidas para evitar acumulação de créditos tributários, desburocratização e facilidades ao financiamento. Os empresários sugeriram ao governo a revisão completa da lei que rege as operações cambiais, a 4131, de 1962, mas, no BC, é grande a resistência a mexer em lei tão antiga, pelo risco de mudanças indesejáveis durante a tramitação de eventual projeto no Congresso. O presidente do BC vem recolhendo sugestões de medidas que poderiam ser realizadas para facilitar as operações de câmbio. As consultas, segundo ele mesmo, estão ainda em estágio “muito preliminar”.
As medidas para redução dos créditos tributários recolhidos indevidamente pelos exportadores são as que podem ter maior efeito em curto prazo, na avaliação de participantes de conversas mantidas no governo e entre autoridades e empresários, nos últimos meses. O objetivo é conter a acumulação de créditos tributários criados com recolhimento de impostos nas etapas de produção de mercadorias para exportação. Os exportadores são isentos de impostos federais e estaduais, e a acumulação indevida de créditos, só de impostos federais, soma cerca de US$ 5 bilhões, segundo estimativas não confirmadas pelo governo.
O mecanismo pelo qual exportadores receberiam um crédito automático, calculado segundo o desempenho passado nas vendas ao exterior, é a proposta vista com mais simpatia no governo e tem concentrado as atenções nas reuniões com representantes dos exportadores. O crédito poderia ser repassado eletronicamente pelos exportadores a seus fornecedores, que poderiam usá-lo para abater imposto devido ou repassar aos próprios fornecedores, um degrau abaixo no processo de produção.
A discussão sobre o Eximbank é outra que entusiasma empresários e o Ministério do Desenvolvimento, mas sofre restrições por parte dos representantes da Fazenda, que discordam da ideia de juntar, em um só organismo, operações de financiamento, seguro de crédito e garantias de crédito. Mantega pediu detalhamento das experiências em outros países, para avaliar as propostas defendidas pelo setor privado, e o tema provavelmente será levado para decisão de Lula.
O pacote poderá, ainda, conter medidas específicas sugeridas por setores empresariais que ganharam simpatia entre autoridades, como a sugestão de exclusão das receitas de exportação para efeito de enquadramento no Simples. Com a exclusão, pequenas e médias empresas poderiam aumentar o faturamento com vendas ao exterior sem temer perder benefícios do Simples. A Receita, porém alega necessitar de tempo e de mudanças complexas nos programas do Serpro para adotar as medidas, o que dificultaria sua aplicação.
Sergio Leo, de Brasília-Valor Econômico


Economia deve sofrer impacto em curto prazo
Especialistas creem que atividade relacionada à mineração deve ser afetada pelo tremor

O terremoto que atingiu o Chile na madrugada de sábado levou à suspensão das atividades de algumas das principais minas de cobre e danificou estradas e pontes. Economista sênior do Goldman Sachs, de Nova York, Alberto Ramos acredita que a atividade econômica deve ter interrupções sérias durante algumas semanas, o que deve representar um impacto sobre o PIB real do primeiro trimestre e possivelmente do segundo trimestre.
“Depois disso, veremos um impulso adicional à economia, ancorado no esforço de reconstrução. O peso deve sofrer efeitos moderados. O fato de o país poder trazer para o seu território parte de suas reservas ajudará na estabilização da moeda”. Em relação à política monetária, Ramos avalia que o Banco Central pode mudar seu planejamento em função do terremoto. “O BC se encaminhava para normalizar em algum momento do segundo trimestre de 2010. Dependendo do impacto sofrido pela economia, eles podem manter por mais algum tempo a atual posição de estímulo”, afirma Ramos. No curto prazo, o varejo e a maior parte do setor de serviços sofrerão um grande impacto, e no médio prazo os setores da construção e dos materiais serão beneficiados, prevê o analista.
Para o diretor global de pesquisa em mercados emergentes da RBC Capital Markets, de Toronto, Nick Chamie, a economia e os mercados financeiros do Chile sofrerão um impacto profundo e generalizado. “No futuro imediato, um enfraquecimento agudo do peso chileno é bastante provável, com a atividade econômica prejudicada pelos efeitos do terremoto nos setores da agricultura e da indústria na região mais atingida”. A sólida posição do governo, dono de reservas extensas, deveria permitir que os custos de reconstrução sejam absorvidos sem que isto represente um efeito significativo para a sua saúde fiscal. “A longo prazo, os esforços para reerguer o que foi destruído devem proporcionar um incentivo para a atividade econômica, embora este se distribua ao longo de muitos anos”, complementa.
Administrador de portfólio do Pimco Emerging Markets Bond Fund, Curtis Mewbourne não acredita em danos extensos à indústria da mineração, o maior setor da economia do país, responsável por cerca de 20% do PIB e 50% das exportações. “A população chilena é principalmente urbana, e cerca de metade dela vive na grande Santiago, localizada a 320 quilômetros do epicentro do terremoto. Assim, esperamos que o impacto econômico direto do terremoto seja limitado, e o principal risco está nas consequências ainda desconhecidas dos tsunamis. Conforme a prioridade passar das necessidades humanitárias urgentes para a reconstrução, o estado sólido das finanças do governo chileno deve facilitar estas iniciativas”.
O Estado de São Paulo

Meirelles avisa que BC pode ser ‘impopular’
Presidente do BC afirma que decisões não dependem do “calendário cívico”, referência a eleições

Em meio a discussões de economistas sobre a necessidade de elevação do juro básico, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, subiu o tom do discurso.
Em pronunciamento, ontem, reiterou que as decisões da instituição são técnicas e, se necessário, o BC pode tomar medidas “antipáticas e impopulares”. Avisou também que o órgão não é influenciado pelo “calendário cívico”, numa clara referência às eleições. O mercado reagiu às palavras de Meirelles, e os juros futuros fecharam na máxima do dia (confira quadro ao lado).
– Atuar de forma consistente significa não evitar decisões tecnicamente justificadas que, no curto prazo, possam parecer antipáticas ou impopulares, mas que visam, sim, o bem comum – disse o presidente do BC, durante a posse do novo diretor de Assuntos Econômicos, Carlos Hamilton Araújo. – Portanto, enganam-se aqueles que esperam mudanças na conduta do BC em função do calendário cívico.
As declarações foram acompanhadas da lembrança de que uma das principais funções da instituição é “assegurar a convergência da inflação à trajetória das metas”. No caso, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). As estimativas no mercado financeiro para o indicador oficial sobem desde janeiro e já estão em 4,86%, acima do centro da meta para o ano, de 4,5%.
– O discurso mostra claramente que o juro vai subir em breve, provavelmente em março – avaliou Fabio Kanczuk, professor de economia da Universidade de São Paulo.
Atualmente, a principal discussão entre especialistas trata de quando deve começar o ciclo de alta do juro básico. As apostas se dividem entre março e abril. Apesar da divergência quanto ao mês, há consenso de que o BC vai subir a taxa Selic para desacelerar o ritmo da economia e conter a alta da inflação.
Nos últimos dias, havia crescido entre especialistas a percepção de que o início do novo ciclo de alta da Selic poderia ser adiado em consequência das mudanças no compulsório – parcela dos depósitos bancários que fica retida no Banco Central, inibindo o crédito.
A partir de 22 de março, será revertida a maior parte das medidas de liberação dos depósitos compulsórios adotadas no final de 2008 para combater os efeitos da crise financeira e injetar liquidez na economia. Com a decisão, cerca de R$ 71 bilhões serão retirados de circulação, o que pode ajudar a conter o ritmo de crescimento da economia e dos preços.

Dirigente já disse que cargo exige cortar o chope da festa
Esse lado impopular do Banco Central havia sido ressaltado por Meirelles em outra ocasião. Em março do ano passado, por exemplo, o dirigente disse que “o BC é o adulto que corta o chope da festa”, para indicar que lhe cabe o papel de controlar a euforia no mercado. Agora, demonstra que não vai se guiar pelo calendário eleitoral para segurar a alta dos preços.
Economistas consultados pelo Banco Central na pesquisa semanal Focus mantiveram a previsão de que a Selic chegue a 11,25% em dezembro. A taxa está atualmente em 8,75% ao ano.
Zero Hora


Diretor do FMI alerta para risco de bolha em ativos brasileiros
O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, alertou na sexta-feira passada que Brasil, Indonésia e outros países emergentes correm um "risco real" de sofrer uma bolha no preço de seus ativos por causa da avalanche de dinheiro externo que entra nestas nações.
O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, alertou na sexta-feira passada que Brasil, Indonésia e outros países emergentes correm um "risco real" de sofrer uma bolha no preço de seus ativos por causa da avalanche de dinheiro externo que entra nestas nações.
"Grandes quantidades de capital entram no Brasil, Indonésia e outros países, que estão em risco real de sofrer com bolhas", advertiu o diretor.
O Índice Bovespa, que caiu dos 30 mil pontos no final de 2008, durante o pior da crise, à sexta-feira passava de 66 mil pontos, apesar de registrar perdas em 2010, o que significa uma valorização de mais do dobro do dinheiro investido.
Para frear o influxo de capital externo, o Brasil estabeleceu controles de capital, ao instituir no final de 2009 o aumento da alíquota de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% aos investimentos estrangeiros em títulos de renda fixa ou variável.
O Fundo Monetário tinha se manifestado contra esse tipo de medidas no passado, mas agora as aceita em determinadas ocasiões.
Strauss-Kahn disse que os controles de capital não são a panaceia dos governos para resolver o problema. No entanto, ele acrescentou: "se no final das contas não houver outro recurso fora usá-los de forma temporária para evitar mais danos à economia, por que não deveriam fazer?".
O ex-ministro da Economia francês disse que a resposta "normal" aos influxos de capital é permitir a valorização da moeda, mas isso pode levar a uma alta excessiva da taxa de câmbio.
Diário do Comércio e Indústria


Potencial de expansão do País deve atrair mais capital externo
Otimista com a situação brasileira nos próximos anos, Rodolfo Spielmann, sócio de uma das líderes globais em consultoria de gestão, a Bain & Company, resume o quadro atual do País da seguinte maneira ao ser questionado sobre os setores mais promissores da economia nacional: "É muito difícil apostar contra um setor no Brasil. O setor financeiro está indo muito bem e tem muito espaço para crescer. O varejo vai muito bem, com aumento da renda e, por consequência, do consumo. A mineração, o petróleo, as commodities, vão muito bem, com a demanda em alta. O agronegócio vai muito bem, no setor de carnes, biocombustíveis", analisa, para em seguida pontuar. "O único que, talvez, possa ser um pouco mais arriscado são bens manufaturados específicos, como calçados e têxteis. Mas isso por conta da competitividade ante outros países asiáticos, por exemplo".
Tamanho otimismo se deve a uma conjunção de fatores que, segundo o executivo, vão desde a estabilidade brasileira, até o fato de o País ter saído rapidamente da crise. Por conta disso, ele acredita que o Brasil terá uma participação cada vez maior na economia mundial, assim como a Bain no Brasil ganhará um peso maior nos negócios do conglomerado no mundo. Hoje, a consultoria conta com 50 a 60 clientes e cerca de 160 consultores em terras brasileiras.
Para Spielmann, as grandes obras de infraestrutura que serão realizadas nos próximos anos para Copa do Mundo, Olimpíadas e para a extração de petróleo da camada pré-sal, serão as molas propulsoras para a continuidade do crescimento. Como resultado, haverá um grande desenvolvimento do sistema financeiro nacional e, no longo prazo, um fluxo de capitais significativo direcionado para o Brasil.
Tal movimento, de acordo com o executivo, se dará pela compra de bônus que as empresas e o governo emitirão para financiar as obras, assim como pela compra de ativos através de equitys, por exemplo. "Há muita liquidez no mercado internacional. Os fundos de investimento e de pensão têm bilhões e bilhões para investir e tais recursos também serão direcionados para o Brasil".
Não obstante, caso o pré-sal se confirme tão promissor quanto parece, Spielmann diz que a exportação de petróleo e derivados pode trazer um superávit significativo para a balança comercial brasileira, caso não haja nenhuma grande crise. O resultado desse quadro será, provavelmente, a valorização do real ante o dólar e as demais moedas. O que pode parecer uma tragédia para as empresas exportadoras, também gera oportunidades, segundo o sócio da Bain. "Há sempre os dois lados da moeda. Ao mesmo tempo que a valorização da moeda pode impactar os exportadores, cria-se uma série de oportunidades para a internacionalização de empresas por meio de aquisições, por exemplo, que são facilitadas com a moeda local valorizada", diz.
Questionado sobre a melhor maneira para se precaver de uma alta do real, Spielmann sugere planejamento e o desenho de diferentes cenários de cotação do dólar. "É preciso deixar claro que o mercado antecipa o que ocorrerá no futuro. Ao se saber que o fluxo de capital para o País deve subir daqui alguns anos, a moeda vai se valorizar bem antes. Por isso, é importante trabalhar com diferentes cenários e aproveitar um momento de dólar relativamente barato para, por exemplo, investir em máquinas e tecnologias que possam garantir uma competitividade maior no futuro", afirma.
Spielmann, que está há 17 anos na Bain e já trabalhou no Deutsche Bank na Alemanha e na Espanha, projeta uma expansão grande e sustentada do crédito no Brasil. Na pessoa física, segundo ele, o grande driver do crescimento será o crédito imobiliário. "Se compararmos o peso do financiamento imobiliário na carteira de pessoa física dos bancos de outros países, veremos que é o maior. No Brasil, hoje, representa apenas 3% ou 4% do PIB. Sem exageros, há espaço para o crédito imobiliário crescer 10 vezes no Brasil nos próximos anos", diz.
Na pessoa jurídica, na visão do executivo, também haverá crescimento, "porque há muitas pequenas e médias empresas que demandarão mais crédito para sustentar a expansão e que hoje não são tão alavancadas assim". Já no que diz respeito as grandes empresas, "além de tomar crédito junto aos bancos, também se financiarão via emissão de dívidas, como debêntures e bônus, nos Estados Unidos, na Europa". Aliás, é justamente esse dinheiro que deve ajudar a financiar a expansão das empresas e as obras de infraestrutura no País, visto que, segundo ele, a poupança doméstica deverá ser insuficiente para financiar ta crescimento.
Diário do Comércio e Indústria



Cresce presença de bancos brasileiros no exterior
Estudo indica que capitais provenientes de instituições bancárias do País já somam mais de US$ 50 bilhões

GENEBRA - Bancos brasileiros dão seus primeiros passos numa estratégia de internacionalização de suas atividades e já estão expostos a outros mercados em mais de US$ 50 bilhões. Os dados inéditos são do Banco de Compensações Internacionais (BIS), que modificou sua forma de apresentar os fluxos bancários no mundo, incluindo novos países e mostrando que os créditos e empréstimos de bancos brasileiros para outros mercados estão entre os maiores nas economias emergentes.
A crise financeira atingiu em cheio bancos em todo o mundo, exigindo que governos saíssem ao resgate de instituições. Só na Alemanha, os bancos receberam mais de 500 bilhões e, em todo o mundo, a conta atingiu US$ 2 trilhões. Já no Brasil, o impacto não foi igual.
Algumas das instituições até mesmo passaram a ver o cenário como positivo para eventuais aquisições no exterior. O presidente executivo do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, tem repetido que a prioridade agora é integrar as operações após a fusão, para só então partir para o exterior.
"Banco barato, normalmente, é ruim. Queremos banco bom. Não vejo a possibilidade de tomarmos risco para comprar algo incerto. A crise é longa e as oportunidades não vão desaparecer rapidamente", disse Setubal, em entrevista no início do ano passado. Mas a internacionalização já faz parte dos planos da instituição.
Nos últimos meses, seus executivos vêm sondando o mercado na América Latina, com análises de balanços de bancos e conversas com executivos. O objetivo é comprar um banco na América Latina.
Agora, os números do BIS revelam que, de certa forma, a internacionalização já começou. No total, bancos brasileiros têm créditos e empréstimos no exterior avaliados em US$ 51,4 bilhões.
Nos países ricos, em geral, a exposição dos bancos brasileiros chega a US$ 28 bilhões. Em termos individuais, o maior mercado é o americano, com US$ 12,6 bilhões.
A maior parte da atividade está na Europa, com créditos de US$ 15 bilhões. O Reino Unido é o principal destino, com US$ 3,6 bilhões, contra mais de US$ 1 bilhão na Alemanha, Bélgica, Portugal ou Espanha.
Os bancos brasileiros, porém, não estão expostos à Grécia, país que sofre com problemas de dívida e deixa o mercado nervoso. Outra constatação é de que os bancos nacionais estão também de olho no mercados emergentes. Mas de forma ainda tímida. Créditos e empréstimos de bancos brasileiros a outros mercados em desenvolvimento totalizam US$ 9,7 bilhões. Praticamente toda a atividade está na América do Sul.
Os empréstimos ao mercado chileno por bancos brasileiros supera a marca de US$ 6 bilhões, contra US$ 1,1 bilhão na Argentina e outros US$ 1,1 bilhão no Uruguai.
Na Ásia, por exemplo, a exposição é de meros US$ 609 milhões, quase tudo na Coreia do Sul. A região recebe créditos de mais de US$ 1,3 trilhão e é hoje uma das mais dinâmicas. O mercado chinês é praticamente inexplorado.
Em comparação ao mercado internacional de transações bancárias - de cerca de US$ 31,5 trilhões - a participação dos bancos brasileiros ainda é pequena. Mas é quase dez vezes maior que os bancos chilenos, mais de seis vezes a atuação dos mexicanos e o dobro de bancos turcos.
No entanto, o valor equivale a um terço da movimentação dos bancos portugueses e bem menor que a exposição de mais de US$ 1,3 trilhão de bancos espanhóis ou os US$ 3,7 trilhões dos bancos ingleses. J.C.

NÚMEROS
US$ 28 bilhões é a exposição dos bancos brasileiros em economias ricas. O mercado americano tem a maior participação, com
US$ 12,6 bilhões. Para a Europa, foram emprestados cerca de US$ 15 bilhões
US$ 9,7 bilhões foi o valor que os bancos destinaram para países da América do Sul. O mercado chileno é o maior destino, com US$ 6 bilhões.
O Estado de São Paulo

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