Indústria argentina pede diminuição de restrições a produtos brasileiros, diz embaixador
São Paulo – O embaixador do Brasil na Argentina, Enio Cordeiro, disse ontem (23) à noite que a própria indústria argentina está pedindo uma redução das restrições à entrada de produtos importados do Brasil. De acordo com Cordeiro, a demora na liberação da importação de alguns produtos brasileiros afeta a produção e as exportações da indústria argentina.
“O desejo de diminuir o número de restrições, o número de linhas tarifárias sujeitas a licenciamentos não automáticos provém de pressões da própria indústria [argentina]. Por exemplo, estavam faltando pneus para produzir automóveis na Argentina, que seriam reexportados ao Brasil”, disse, após encontro com empresários em São Paulo.
A Argentina suspendeu uma série de “licenças automáticas” – aprovação imediata para a comercialização – de bens brasileiros, visando a equilibrar sua balança comercial com o Brasil, que passou a adotar a mesma medida como retaliação, em outubro de 2009. A licença não automática retarda a entrada dos produtos em até 60 dias. Nos últimos meses, no entanto, os dois países têm diminuído suas barreiras de importação em relação ao país vizinho.
“Existem problemas pontuais, mas o que a gente deve salientar é uma melhora substancial na relação comercial entre Brasil e Argentina. Esse melhora se reflete inclusive no fato de que nos dois primeiros meses desse ano, houve um crescimento de 60% no comércio bilateral com relação aos dois primeiros meses do ano passado”, disse o embaixador.
agenciabrasil
Relações com a Argentina vão crescer, preveem empresários
Os empresários brasileiros estão otimistas e acreditam que as relações entre Brasil e Argentina devem melhorar bastante em 2010. Reunidos na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, os empresários afirmam que mudou o clima de confronto e punição de produtos brasileiros. Há uma perspectiva de ultrapassar os US$ 34 bilhões em corrente comercial, valor obtido em 2008 antes da crise.
Os empresários solicitaram ao embaixador do Brasil na Argentina, Enio Cordeiro, que promova um seminário no Brasil com empresários das províncias argentinas. "O objetivo é estreitar os relacionamentos comerciais e elevar os investimentos brasileiros no país vizinho", disse o ex-embaixador Rubens Barbosa.
Segundo Roberto Segatto, conselheiro da federação e presidente da Associação brasileira de comércio exterior (Abracex), não há mudança alguma no cenário, uma vez que o empresariado brasileiro não pressiona o governo de forma que este faça valer os interesses comerciais do País. "As relações entre o Brasil e a Argentina estão na mesma, o cenário não mudou. As indústrias manufatureiras argentinas estão com problemas econômicos e o governo mantém a premissa de fazer o que bem entende, impedir a entrada de produtos brasileiros, elevar o tempo para aprovação das licenças não-automáticas e manter promessas sem mostrar nenhum resultado", pontuou.
Na opinião do analista de relações internacionais da B&A, Ivan Boeing, as relações bilaterais continuam mal resolvidas e a ponto de haver uma quebra no bloco.
"A Argentina não estava disposta a abrir mão de alguns processos comerciais, mas mesmo assim prometeu mudanças. O Brasil por sua vez foi agüentando até que virou o jogo e pressionou os vizinhos, impondo sua vontade por meio de licenças não automáticas como retaliação", disse.
De acordo com os dados do Banco Central as relações comerciais entre o Brasil e a Argentina sem a utilização do dólar aumentaram consideravelmente na comparação com os dois primeiros meses do ano passado e o mesmo período deste ano.
Segundo dados estatísticos, em janeiro e fevereiro de 2009 foram exportados para a Argentina R$ 10,516 milhões em 55 operações, enquanto as importações foram de R$ 239 mil em quatro operações. Na comparação com o mesmo período de 2010 o resultado é 1.290,99% superior (R$ 146,277 milhões) enquanto as compras do país vizinho por parte do Brasil na mesma análise cresceram 74,15% (R$ 416 mil).
Para o presidente da Abracex houve um incremento nas operações por meio do Sistema de Moeda Local (SML) pela variação cambial interessante.
"Houve um incremento em real/peso que foi muito interessante, fora isso aumentou novamente o comércio bilateral. A volatilidade do dólar foi um dos fatores que mais colaboraram para incrementar o SML. A tendência é de crescimento no comércio bilateral entre 15% e 20%, e os valores do sistema deverão crescer proporcionalmente", afirma Segatto.
O embaixador Cordeiro afirmou que ainda vê potencial de crescimento do comércio com moeda local. "Queremos aumentar os valores por meio do SML, mas já sabemos que a indústria argentina está se recuperando da crise e deve voltar a comprar mais do Brasil", afirmou.
Os empresários afirmam que alguns setores sofrerão maior pressão este ano por conta da briga comercial entre os vizinhos. Entre eles, na opinião dos empresários que estiveram na Fiesp, estão os moveleiro, calçadista, têxtil, automobilístico e maquinas e equipamentos industriais.
Diário do Comércio e Indústria
Nenhum comentário:
Postar um comentário