CRISE DO COMÉRCIO EXTERIOR DO
BRASIL
Pode parecer
estranho ao leitor, à primeira vista, um título como este. Que pode ter como
primeiro pensamento que o autor está fora da realidade, já que nosso comércio
exterior cresceu 3,3 vezes em 11 anos. Tínhamos uma corrente de comércio de 111
bilhões de dólares em 2000, final do milênio passado. Que atingiu a marca de 482
bilhões em 2011.
Mas, na realidade,
fora dela está o comércio exterior do Brasil. Que não consegue atingir a
maturidade. Nem ser representativo. Que não consegue aparecer para o mundo. Esse
crescimento foi ilusório, e em praticamente nada mudou nossa situação mundial. O
comércio exterior brasileiro continua sendo residual em relação ao comércio
mundial. E menor do que já foi.
Em 2011, nossa
exportação representou 1,44% da mundial. Em 1950, era de 2,37%. E chegou ao
fundo do poço em 1968, com 0,83%, quase inacreditável. A importação ficou em
1,29% em 2011. Já tendo sido 2,33% em 1952, atingindo um mínimo de 0,57% em 1965
e 1988. Nossa corrente de comércio foi de 1,33% da mundial em 2011. Em 1951,
tinha alcançado 2,3% da corrente mundial, caindo a 0,76% em 1965.
As variações ao
longo desses 60 anos foram enormes, descendo e subindo de 1,0% para ficarem
sempre mais ou menos nisso. Uma instabilidade notável. Apenas desde 2004 temos
nos mantido seguidamente acima de 1,0% na exportação. Na importação, apenas
desde 2008.
Ou seja, fica claro
que não somos quase nada em relação ao mundo. Enquanto isso, a China, que em
1978 exportava 9,7 bilhões de dólares contra nossos 12,7 bilhões, em 2011
exportou 1,9 trilhão contra nossos 256 bilhões. Há algo de podre no reino do
comércio exterior. Ela importou 1,8 trilhão contra nossos 226 bilhões. A
corrente de comércio deles foi de 3,7 trilhões de dólares.
E nosso comércio
exterior representa 20% do nosso Produto Interno Bruto (PIB). A média mundial é
de 50%. E a China, que foi 67% em 2006, está hoje em 50%. Muitos países têm
mais, e os Países Baixos (Netherlands) 140%, com Singapura em 270%.
Temos menos de
20.000 empresas exportadoras, com 934 delas fazendo 92% das exportações
brasileiras. 161 empresas fazem 70%. Fomos o 22º exportador e o 21º importador
em 2011.
A China disparou no
seu crescimento econômico desde 1979, tendo atingido média de 9,9% no período. A
partir de 1980, o Brasil parou de crescer como deveria. Que tinha sido de 4,9%
na média de 1901 a 1980. E 7,4% entre 1950 e 1980. De 8,1% entre 1959 e 1980 e
11,0 entre 1967 e 1974. No período de 1981 a 2011, crescemos 2,4% de média ao
ano. Enquanto a China dobra seu crescimento a cada cerca de oito anos, nós o
fazemos em 70 anos.
A relação entre o
crescimento econômico e o comércio exterior é direta, e não conseguimos
perceber. É só ver o que ocorreu com o Japão. Também com a Coreia e os tigres
asiáticos em geral. Depois com a China. E está chegando a Índia. Os números
mostram que não damos a atenção que o setor merece. Nossa carga tributária é
astronômica, a maior do mundo em termos relativos. E também em termos absolutos,
considerando o que retorna. Taxa de juros ainda a maior, enquanto em muitos
países ela é negativa.
Nossa matriz de
transporte é toda errada e a logística de péssima qualidade, com as estradas,
ferrovias, portos, aerovias deixando a desejar. Em qualidade da infraestrutura,
fomos colocados em 104º pelo Fórum Econômico Mundial de 2011. Individualmente,
91º em ferrovia, 110º em rodovia, 122º em aerovia e 130º em portos. Foram
analisados 142 países. Sim, apenas 142. Entre outras coisas, o investimento pode
explicar isso. A China e a Rússia investem 5,0% do PIB ao ano em infraestrutura.
A Índia, 4,0%. O Brasil, meros 0,49%. Não é preciso explicar muito.
No investimento
geral, não estamos muito diferentes. A economia brasileira investiu ao ano, na
média entre 1995 e 2011, a bagatela de 18% do PIB. Qualquer economista de
primeiro semestre sabe que, para crescer 5%, é necessário investir entre 23% e
25% do PIB. Para 7%, investir 30%. E 35%, para 9%, e uns 40%/45% para crescer
11%. A china investe 45% de seu PIB.
Ficamos nos
perguntando qual a lógica do comércio exterior e da economia brasileira, que não
conseguimos visualizar. E qual a lógica da nossa constante reclamação da China.
Os problemas brasileiros são provocados pelo Brasil. Não pela China, que ainda
nos ajuda.
E, para piorar,
voltamos a ser, desde 2009, posição abandonada em 1975, exportadores de produtos
primários. Com a desaceleração da economia mundial, China no meio, a situação
ficará absolutamente cinza para nosso país, já que a China é nosso maior
parceiro comercial e nosso comprador farto de commodities.
A propósito, a
indústria brasileira passou de quase 14% em 1948 para quase 29% do PIB na década
de 1980, sendo hoje 14%. A pequena e microempresa representam apenas 2% da
exportação.
Autor(a): SAMIR KEEDI Economista com especialização na área de transportes internacionais. Aduaneiras |
Nenhum comentário:
Postar um comentário