LEGISLAÇÃO

segunda-feira, 16 de julho de 2012

COMÉRCIO EXTERIOR - 16/07/2012



Exportação cai, apesar de mudança na política cambial
SÃO PAULO - O Brasil está exportando uma quantidade significativamente menor de produtos, apesar da desvalorização...
SÃO PAULO - O Brasil está exportando uma quantidade significativamente menor de produtos, apesar da desvalorização cambial. Dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), obtidos pelo 'Estado', mostram que o volume embarcado caiu 13,6% no mês passado em relação a junho de 2011 - com destaque para os manufaturados, que recuaram 21,6%. O tombo anulou a tênue recuperação que ocorria nas quantidades exportadas pelo País. No semestre, a alta é de apenas 0,4%.
As empresas brasileiras ganharam mais rentabilidade com o enfraquecimento da moeda, mas os clientes estão comprando menos e os governos se tornaram mais protecionistas. A demanda está mais fraca por causa da crise global, que atingiu não apenas os países ricos, mas também os emergentes. Os empresários também relatam que ficaram praticamente fora do mercado por muitos anos e acabaram perdendo espaço para os chineses.
“Junho foi realmente um ponto de inflexão. Os dados demonstram que a demanda externa é sempre a variável mais significativa para o desempenho das exportações”, diz Rodrigo Branco, economista da Funcex. Na sua avaliação, o protecionismo da Argentina é o grande responsável pelo fraco desempenho na vendas de manufaturados, que também sofreram o impacto da menor demanda na Europa.
Para o gerente de exportação da gaúcha Herval Móveis, Alcebíades Aquiles Cedeno, a desvalorização cambial tem surtido pouco efeito, porque a empresa perdeu muito mercado para a China. “Quando o governo se deu conta do problema do câmbio, já era tarde demais”, diz. Ele conta ainda que o real mais fraco elevou os custos dos insumos importados. Nos últimos anos, a companhia substituiu tecidos e ferragens nacionais por importados e agora não consegue fazer o caminho de volta, porque os antigos fornecedores quebraram.
Nos últimos 12 meses, o dólar se valorizou 30% em relação a real, de R$ 1,575 para R$ 2,037 na última sexta-feira. O movimento foi mais acentuado recentemente, depois das intervenções do governo. Apenas do fim de março até agora, a alta chega a 11,4%. As exportações, no entanto, foram no sentido contrário. Em valores, as vendas externas brasileiras subiram 10,4% em 12 meses, mas recuaram 1,7% no ano e 14,2% apenas em junho.
A perda de valor do real foi decisiva para melhorar a rentabilidade das exportações, que subiu 8,5% de janeiro a maio, conforme índice calculado pela Funcex. “É evidente que a desvalorização é favorável para a competitividade da indústria, mas só vamos sentir o impacto nas exportações em 2013”, acredita Flávio Castelo Branco, economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
“Nossa rentabilidade melhorou, porque faturamos as vendas com um dólar mais baixo e temos mais margem de negociação com o cliente. Mas a demanda externa está muito fraca”, disse Waldemar Sehmem Júnior, trader do setor de exportação da fabricante de roupas infantis Brandili. Ele conta que as vendas cresceram 10% para a América Latina no semestre, mas recuaram 50% para a Europa.
Para a fabricante de tratores e colheitadeiras AGCO, o problema não é a falta de demanda, mas o protecionismo. As exportações de tratores da empresa cresceram apenas 4% no semestre por conta das barreiras da Argentina. Para fugir das restrições, a empresa anunciou na semana passada uma fábrica no país vizinho. “O câmbio melhorou, mas o custo Brasil ainda é alto”, diz o gerente-geral da AGCO América do Sul, André Carioba.
Commodities. Os dados da Funcex também demonstram que a queda das commodities deprime as exportações, mas, no mês passado, teve um efeito menos deletério que os menores volumes embarcados. Os preços das exportações recuaram 5,5% em junho comparado com junho de 2011, puxados pela baixa de 9,6% dos produtos básicos.




Argentina barra produtos brasileiros, mas libera os chineses
Como se não bastassem as barreiras protecionistas, os argentinos dão preferência aos bens exportados pela China e tornam mais lento do que já é o desembaraço de mercadorias brasileiras nas alfândegas. Dados coletados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) com institutos oficiais argentinos, mostram taxas de crescimento impressionantes das compras de produtos chineses.
Números atualizados até o ano passado revelam que as compras de calçados chineses subiram 98,6%. Justamente o setor de calçados, objeto de um acordo firmado há dois anos, em que os exportadores brasileiros se comprometeram a restringir os embarques anuais para a Argentina a 12 milhões de pares, para ajudar as empresas do vizinho.
Técnicos do governo brasileiro explicaram que a questão não é o valor adquirido, mas as taxas de crescimento de produtos argentinos, o que pode significar uma tendência macabra para a indústria nacional. As compras de sapatos do Brasil, por exemplo, subiram 16%, levando em conta uma fraca base de comparação, em 2010.
No mesmo período, as importações de roupas da China subiram 82,8%; de móveis, 53,6%; automóveis, 91,7%; siderúrgicos, 87,7%; equipamentos e aparelhos eletroeletrônicos, 62%. As compras de tecidos de malha brasileiros pelos argentinos caíram 15,5%, e as de roupas, 1,7%.
A lista é interminável e levou o governo brasileiro a comunicar aos argentinos que não vai mais homologar qualquer tipo de novo acordo de restrição voluntária de exportações firmado no setor privado. Nos bastidores, estuda-se alguma retaliação, como uma ação na Organização Mundial do Comércio (OMC), pelo longo tempo de liberação das mercadorias brasileiras.
Venda de tratores brasileiros cai 43,6%
O caso dos calçados é emblemático. A OMC determina que o prazo máximo para o desembaraço dos produtos importados é de 60 dias; os argentinos estão levando, em média, 225 dias para a liberação. Há 1,4 milhão de pares parados nas aduanas argentinas, o que é péssimo para um setor que trabalha com moda.
— Para vendermos esses sapatos, só se voltarmos no tempo, ou se a moda for retrô — disse o presidente da Abicalçados, Milton Cardoso. — Nossas exportações para a Argentina estão em queda livre.
Dados do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) mostram que, de janeiro a maio, houve uma redução de 59% em volume e 55% no faturamento dos exportadores calçadistas. Isso intensificou o êxodo de empresas brasileiras que atuavam no país vizinho.
Levando em conta o primeiro semestre deste ano, as vendas de tratores brasileiros à Argentina caíram 43,6%. Calçados e tecidos sequer aparecem entre os principais itens exportados na pauta brasileira para aquele mercado. Os embarques de automóveis diminuíram mais de 30%.
Em uma avaliação reservada, os técnicos reconhecem a grande dependência que a Argentina tem da China, sua principal compradora de produtos agropecuários, mas revelaram que a paciência está no limite. A única saída para o problema, disse uma fonte, seria um acordo político, no mais alto nível, entre as presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner.
— Estão barrando somente os nossos produtos. Os dos chineses, não — disse uma importante fonte do governo brasileiro.
Nos bastidores, o que se diz é que, ao tentar segurar as importações da China, tal como faz com o Brasil, a Argentina foi avisada por Pequim de que poderia ter suspensas suas exportações de óleo de soja para o país asiático. Daí o maior cuidado no desembaraço de mercadorias chinesas.
Além disso, Cristina tem pressionado o Brasil e os demais sócios do Mercosul a firmar um acordo de livre comércio com os chineses. Como o governo brasileiro rechaça essa possibilidade, a presidente argentina vem tocando seu projeto sozinha.
País pode adotar medidas de reciprocidade
A indústria brasileira, que várias vezes abriu mão de rentabilidade em favor da Argentina, quer que o governo tome medidas efetivas e responda à altura ao país asiático. Usar a reciprocidade, como tem sido feito nos últimos anos, seria um caminho.
Domingos Mosca, diretor da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), disse que, em 2005, a participação do vestuário brasileiro nas importações argentinas era de 22,67%, e a dos chineses, de 6,1%. Hoje, o percentual de confecções da China saltou para 58,8%, e o do Brasil caiu para 3,68%.
— Nosso governo continua praticando a paciência estratégica, levando em conta a situação difícil da economia argentina. Esperamos que sejam tomadas medidas de reciprocidade — disse Mosca.
Tanguy Baghdadi, coordenador do Clio Internacional, grupo de pós-graduação em política externa e negócios, ressaltou que a China já está tomando o lugar do Brasil na América Latina. Há poucos anos, o Brasil ficava apenas atrás dos EUA, agora os chineses estão em segundo lugar.



Tensão comercial entre Brasil e Argentina dá sinais de trégua

Carros, alimentos e calçados já cruzam fronteira e governo vê compromisso de regularidade

Gabriela Borges -  especial para o iG, de Buenos Aires |


Getty Images
Alpargatas, uma das prejudicadas: embaixador diz que relação entre países não foi contaminada

tensão comercial entre Brasil e Argentina dá sinais de melhoras. Após as reuniões entre as secretárias de Comércio Exterior do Brasil, Tatiana Prazeres, e da Argentina, Beatriz Paglier, durante a última cúpula do Mercosul, na cidade de Mendoza, na semana passada, muitos produtos voltaram a ter licenças de importação autorizadas, como carros e alimentos do lado argentino, além de carne suína e calçados do lado brasileiro.
No caso da carne de porco, após quase quatro meses de negociações, o governo Kirchner autorizou a entrada, no segundo semestre, de 27 mil toneladas de carne suína in natura, industrializada e miudezas – volume similar ao importado no mesmo período do ano passado. Era um dos setores que mais preocupava o Brasil. Em 2011, foram exportadas 130 mil toneladas e a expectativa do governo brasileiro é de que se mantenha uma regularidade mensal de pedidos e que o saldo deste ano seja de 80 mil. “É essa regularidade que assegura os laços comerciais”, diz Enio Cordeiro, embaixador do Brasil na Argentina, em entrevista exclusiva ao iG.
Cordeiro acredita que os dois países têm demonstrado vontade política de resolver os problemas. As reuniões em Mendoza resultaram em um compromisso de que o fluxo de autorização de licenças não automáticas será regularizado em poucos dias e será mantido um prazo de 15 dias para a liberação dos pedidos futuros. Mas muitos exportadores ainda dependem de desembaraços aduaneiros e aprovação de documentos que liberam a circulação interna, sobre tudo em produtos alimentícios.
É o caso das maçãs e das peras argentinas, que durante dois meses tiveram suas licenças automáticas suspendidas, além de um bloqueio fitossanitário devido à suposta presença de Cydia pomonella. Essa vespa, transmissora de um vírus que pode afetar as plantações do país importador, foi encontrada em alguns lotes enviados ao Brasil. Nesse caso, as licenças voltaram a ser autorizadas, mas as frutas ainda deverão passar por uma inspeção nas fronteiras.
A paralisação nas vendas ao Brasil, que começou em abril, chegou a gerar perdas de 13 milhões de dólares, além de causar desempregos e pânico entre os produtores de Alto Valle, na Patagônia Argentina. Segundo a Câmara Argentina de Fruticultores Integrados, no primeiro dia de liberação entraram 120 toneladas de maçãs e peras no Brasil.
As empresas brasileiras estabelecidas na Argentina também enfrentaram dificuldades nos últimos meses. No setor calçadista, por exemplo, o Brasil tem um acordo de exportação de até 15 milhões de pares por ano, segundo a Embaixada em Buenos Aires, número limitado que levou algumas empresas a se estabelecerem no país vizinho. No entanto, até elas tiveram problemas para importar e sofreram com a baixa na demanda, como aconteceu com a Alpargatas. Fabricante de calçados e produtos têxteis, a empresa decidiu reduzir a produção e adiantou uma semana de férias em julho para cerca de três mil funcionários.
No entanto, para o embaixador, a relação política entre os dois países não foi contaminada. “Houve uma introdução de medidas dos dois lados que tiveram um efeito sobre o fluxo comercial”, diz em relação à queda de 32% na balança comercial em junho, em relação ao mesmo período de 2011. Mas ele acredita que essa tendência deverá ser revertida já no próximo mês com a liberação mais fluida das licenças.
Por outro lado, Cordeiro avalia a queda total do semestre, de 12%, como uma situação “não tão dramática” em um cenário de desaceleração na capacidade de produção industrial e de consumo nos dois países nos últimos meses. De janeiro a junho, as exportações do Brasil à Argentina caíram 16%, enquanto as vendas da Argentina ao Brasil diminuíram 8,6%. “De certa forma, essa situação foi pré-anunciada pelas autoridades argentinas. Um dos objetivos do país para esse ano era ter um superávit comercial mínimo de 10 milhões de dólares. Isso levou a um controle maior nas licenças de importação e também nas autorizações cambiárias de todo tipo”, lembra.
“Mas, segundo as estatísticas, o país deve fechar o mês de junho com superávit próximo a sete milhões e já é possível começar a ver que o objetivo não está distante”, diz. Outro fator positivo na relação entre os dois países seria o restabelecimento da regularidade da interlocução governamental, devido às mudanças no ministério de comercio interior argentino, que passou a ser comandado diretamente por Guillermo Moreno. A embaixada agora espera que representantes dos dois governos mantenham reuniões regulares para continuar discutindo os acordos comerciais nos próximos meses.

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