O X do problema dos portos brasileiros mudou de lugar
O PAC garantiu bilhões de reais para obras nos portos do Brasil, mas o problema portuário só mudou do mar para a terra
rmano Lüders/EXAME.com
Porto de Santos: porto mais movimentado da América Latina
São Paulo – Quem vai ao porto de Santos, o maior da América Latina e que responde por 27% de todo o comércio exterior brasileiro, percebe que ele está diferente. Muitos dos velhos problemas continuam por lá, mas a injeção de quase 1,5 bi de reais já começa a mostrar seus efeitos.
Leia Mais
Ainda falta muito, porém, e o que já foi feito, foi demorado (algumas adaptações em portosdemoraram 20 anos para serem propostas e aprovadas).
Para evitar as filas de navios que atrasavam carregamentos, parte das obras de dragagem já estão prontas, o que significa que, hoje, o mar está mais fundo em Santos – e cerca de 30% da frota naval mundial que não entrava no porto agora passará a entrar. Segundo a Secretaria Especial dos Portos, o mesmo está sendo feitos nas principais cidades portuárias do Brasil, com dinheiro vindo do PAC.
O problema, agora, é outro: a demanda que esse novo contingente vai gerar (somada à demanda que já existia) nos arredores portuários.
“O plano de dragagem podia ter andado mais rápido, mas pelo menos está indo. Já o acesso terrestre está muito ruim. Hoje o problema é em terra”, afirma Wilten Manteli, diretor-presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP). Ou seja, os navios continuam formando filas, mas dessa vez porque os caminhões estão parados.
Para ele, a malha ferroviária e as rodovias nos arredores dos portos são insuficientes: “Não adianta ter canal se o caminhão não chega até ele. O navio fica esperando e criando congestionamento do mesmo jeito”, conta.
Em Santos, esse problema é grande. E não há, pelo menos até agora, projetos e incentivos financeiros para melhorar a qualidade ferroviária (apenas 20% do total da carga movimentada lá é realizada por vagões) ou colocar mais pistas na rodovia Anchieta, que liga São Paulo à cidade do litoral.
“Precisamos juntar os transportes, já que falta acesso, mas tem muita burocracia. Falta logística de chegada e saída, tem que aumentar o número de estradas de acesso ao porto, pontes e ligações”, concorda João de Andrade Marques, vice-presidente da Sindaport (Sindicato de Trabalhadores Administrativos do Porto de Santos).
Velhos problemas – Para Manteli, outro grande problema dos portos (e que poderá ser mencionado pela presidente Dilma Rousseff no seu esperado pronunciamento sobre a questão portuária) é a gestão administrativa.
“Os portos têm de ter autonomia e uma continuidade administrativa em vez de interferência política e questões partidárias”, reclama Manteli. Hoje, os principais portos nacionais são administrados por companhias mistas, como a Codesp em Santos, que é privada, mas tem o governo federal como acionista majoritário.
Manteli ainda completa, fazendo referência às reuniões que a presidente tem com o Ministério da Casa Civil: “Quando fui lá defendi a desfederalização dos portos. A administração tem de ser descentralizada como acontece em Hamburgo ou Roterdã, tem que dividir a gestão do dia a dia com os empresários. Ainda temos muita mão-de-obra desqualificada e muitas greves”.
Cruzeiros e turismo – Não é só no setor de cargas que falta investimento. Para Ricardo Amaral, presidente da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Abremar), não é difícil apontar os grandes problemas portuários: “alto custo tributário e infraestrutura ruim”.
Segundo Amaral, a situação dos portos está pior do que dos aeroportos no país: “tem trânsito, falta estacionamento, estrutura de lojas e serviços na área como se espera de um aeroporto internacional”.
Além disso, ele reclama que os portos (mesmo o de Santos ou do Rio de Janeiro) ainda não comportam a demanda turística: “Já tive de remanejar itinerário porque oito navios já é muita coisa pra alguns portos”, conta.
“E ainda perdemos competitividade com tanta carga tributária”, diz. As empresas que recebem concessões dos portos têm o direito de cobrar uma taxa que, muitas vezes, acaba sendo repassada pelas companhias de turismo para o passageiro. “Os navios estão indo para Buenos Aires. O custo da travessia é mais alto, mas as taxas são mais baratas e acaba compensando”, explica Amaral.
O presidente da Abremar também comentou que a Associação não foi chamada para as reuniões com a presidente Dilma que podem resultar em alterações na Lei dos Portos, incentivos e concessões privadas e mais investimentos para as áreas portuárias. “Sequer fomos consultados, mas vamos formalizar o diálogo”, diz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário