Greve dos servidores da Anvisa gera prejuízo de R$812 mi em SC
A Federação do Comércio de Santa Catarina (Fecomércio SC) projetou, na última quarta-feira (8), que o prejuízo causado pela greve nos portos do Estado já chegaria a R$ 812 milhões, cálculo feito após as três semanas de paralisação dos servidores da Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em Santa Catarina, a paralisação é total na fiscalização e liberação dos produtos nos postos de serviço distribuídos em três aeroportos (Joinville, Chapecó e Florianópolis); cinco portos (Navegantes, Itajaí, Imbituba, São Francisco do Sul e Itapoá) e na fronteira (Dionísio Cerqueira).
Estimativas da entidade catarinense mostram que após mais de 20 dias de greve, as perdas para a economia catarinense são altas: prejuízos de 31% no movimento do comércio exterior no Estado para as exportações e de 14% nas atividades de importação. Em números, o percentual corresponde a R$ 480 milhões em prejuízos nas exportações e R$ 332 milhões nas importações. A soma total é preocupante: R$ 812 milhões.
Manifestação da PRF causou congestionamento com a interdição da Rodovia Presidente Dutra nesta quarta, em Guarulhos
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A greve dos servidores da Polícia Rodoviária Federal deve atingir mais Estados, segundo a Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF). Após protestos nesta quarta-feira em estradas do Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Paraná e Rio Grande do Sul, o sindicato aguarda a confirmação de outros Estados para estabelecer uma greve nacional. Segundo a assessoria de imprensa do sindicato, por volta das 11h30, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraíba, Pernambuco, Pará e o Distrito Federal já haviam confirmado a participação na greve.
De acordo com o presidente da FenaPRF, Pedro da Silva Cavalcanti, entre as reivindicações dos policiais rodoviários federais está a reestruturação salarial e da carreira, realização de novos concursos, aumento do efetivo, além do aumento dos auxílios alimentação, saúde, creche e transporte. O movimento dos policiais, chamado Operação Colina, prossegue em várias partes do Brasil.
Segundo Cavalcanti, a categoria está há um ano negociando com o governo, mas nada foi decidido. Segundo lembra, a última reunião marcada para o dia 26 de julho foi cancelada sem novo agendamento. "Desde 2006 estamos recebendo por subsídio, mas quando nosso salário foi mudado perdemos alguns benefícios como adicional noturno e de insalubridade. O policial que ingressa hoje está ganhando menos do que em 2006", disse Cavalcanti. O último reajuste salarial para a categoria é de 2010.
Pedro Cavalcanti ressalta ainda que outro ponto em negociação com o governo é a reestruturação da carreira do policial rodoviário federal. "O documento que regula as atribuições dos policiais rodoviários nos categoriza com atividades de nível intermediário, enquanto que as atividades que executamos são de nível superior. Além disso, para ingressar na PRF é necessário ter nível superior. Queremos esse reconhecimento, e ele não traz gastos para o governo", falou.
Trânsito prejudicado
Nesta quarta-feira, policiais rodoviários em greve interditaram a ponte Rio-Niterói, prejudicando o tráfego local. O movimento foi apoiado por Policiais Federais que também estão em greve.
Nesta quarta-feira, policiais rodoviários em greve interditaram a ponte Rio-Niterói, prejudicando o tráfego local. O movimento foi apoiado por Policiais Federais que também estão em greve.
No Paraná, policiais fizeram ontem uma operação-padrão que provocou congestionamento e lentidão em trechos rodoviários de quatro cidades. No pico do movimento, por volta das 13h, a concessionária de pedágio Autopista Litoral Sul registrou 21 km de congestionamento no sentido Curitiba e 16 km no sentido Palhoça (SC).
Motivado pela ausência de uma proposta de reajuste salarial para a categoria, o protesto aconteceu em estradas de Curitiba, Londrina, Santa Terezinha de Itaipu e Foz do Iguaçu. Os servidores da PRF revistaram todos os veículos e verificaram as notas fiscais dos caminhões. A mobilização foi organizada pela Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF).
Nos próximos dias, a categoria pode anunciar, em todo o País, uma greve por tempo indeterminado, caso o governo não apresente uma proposta satisfatória.
Com informações da Agência Brasil
Greve de servidores afeta distribuição de remédios no Porto Seco do DF
BRASÍLIA - Os produtos estão encalhados no pátio da unidade há sete dias, quando o normal seria que todo o processo ocorresse em um período de 24 a 48 horas...
Agência Brasil
BRASÍLIA -A greve dos servidores federais está afetando o funcionamento do Porto Seco do Distrito Federal, estação aduaneira localizada em Santa Maria, cidade-satélite a 39 quilômetros de Brasília.
BRASÍLIA -A greve dos servidores federais está afetando o funcionamento do Porto Seco do Distrito Federal, estação aduaneira localizada em Santa Maria, cidade-satélite a 39 quilômetros de Brasília.
De acordo com Edward Líbaino Martins, gerente-geral do Porto Seco do DF, 80% da carga que está parada são compostos de matérias-primas para a fabricação de medicamentos. Trata-se de uma mercadoria perecível, avaliada em US$ 15 milhões (R$ 30 milhões).
Com os serviços da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério da Agricultura e da Receita Federal paralisados, as mercadorias que chegam ao local não estão sendo liberadas por falta de fiscalização.
Os produtos estão encalhados no pátio da unidade há sete dias, quando o normal seria que todo o processo ocorresse em um período de 24 a 48 horas.
Segundo o gerente-geral do porto seco, as matérias-primas foram importadas da Índia e Alemanha por indústrias farmacêuticas de Minas Gerais, Goiás, São Paulo e do próprio Distrito Federal, que abriga fábrica da União Química e em dezembro ganhará uma da Medley.
Edward explica que é comum empresas de outras unidades da Federação importarem usando o DF como porta de entrada, em razão da posição geográfica central de Brasília.
De acordo com o gerente-geral, além de insumos para remédios, estão retidos na estação aduaneira implantes, próteses e equipamentos médicos, como marca-passos e stents, usados em cirurgias cardíacas. Material de informática e aparelhos utilizados no bloqueio do sinal de celulares em presídios também estão presos.
O gerente-geral diz que os funcionários da Anvisa lotados no Porto Seco do DF estão sem trabalhar há cerca de 15 dias. Os fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura que atuam no local pararam as atividades no início desta semana.
Atualmente, a Receita Federal é a única a cumprir suas funções na área, mas os auditores fiscais estão em operação-padrão. “De cada dez mercadorias, eles só liberam três”, afirma Martins.
Na avaliação dele, a situação dos insumos para medicamentos é a mais preocupante. Apesar de estarem estocadas em ambiente refrigerado, as substâncias têm prazo de validade. “Em geral elas demoram uns 45 dias para chegar ao Brasil. Aqui, o processo de liberação tem que ser bem dinâmico ou então os remédios chegarão ao consumidor final com uma validade muito curta”, diz.
Ele destaca que, no caso dos demais produtos encalhados, o prejuízo é apenas financeiro – as empresas têm que desembolsar uma taxa pelo tempo extra de armazenamento.
Apesar do prejuízo causado à economia, o impacto da greve dos funcionários públicos no DF parece não ter chegado ainda ao cidadão comum. A reportagem da Agência Brasil visitou a unidade do Na Hora da Rodoviária do Plano Piloto, zona central de Brasília (onde a Polícia Federal realiza emissões de passaporte), e dois centros de Atendimento ao Contribuinte (CAC) da Receita Federal. A movimentação nos locais estava normal.
No Na Hora, o empresário Vinícius Cascão, 29 anos, conseguiu buscar o passaporte sem problemas e não enfrentou demora. “Eu fiz o pedido no início de julho e pouco depois me avisaram que já estava pronto, mas só pude vir pegá-lo hoje. O atendimento foi bem rápido”, comentou.
De acordo com Jones Borges Leal, presidente do Sindicato dos Policiais Federais do DF (Sindipol-DF), quem necessita de passaporte deve sentir dificuldade para obter o documento no momento da entrega. Ele acredita que, caso a greve se prolongue, a demora média, que atualmente é dez dias, ficará maior.
“A maioria dos funcionários que atua no Na Hora é terceirizada. Eles devem continuar fazendo o atendimento à população. Mas só um papiloscopista pode autenticar um passaporte. Por isso, o problema não será com a solicitação do documento, e sim na entrega propriamente dita”, declarou.
No CAC da Receita Federal do Setor de Autarquias Sul, os cidadãos que retiravam senha eram chamados rapidamente.O cobrador de ônibus Rogério Cardoso, 32 anos, contou que foi atendido em dez minutos. “A única coisa que não estava boa era a internet, que estava lenta”, reclamou.
No CAC de Taguatinga, a servidora pública Lenilda Araújo da Cunha, 52 anos, foi chamada em 15 minutos e só se queixou de não ter conseguido resolver seu problema. “Vim entregar a declaração do ITR [Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural], pois não consigo transmitir do meu computador. Mas não aceitaram a versão impressa e pediram que eu trouxesse em um pen drive”, contou.
Júlio Cruz, chefe da unidade, disse que os servidores da Receita que atuam no CAC de Taguatinga não aderiram à operação-padrão do movimento grevista.
Fiscais do ministério endurecem paralisação
Valor Econômico
Por Tarso Veloso | De São Paulo
A decisão do governo federal de convocar fiscais agropecuários estaduais e municipais para realizar o trabalho dos inspetores do Ministério da Agricultura em greve pode agravar uma situação já delicada. A convocação enfureceu os grevistas, que decidiram suspender integralmente suas atividades.
Responsáveis por liberar os alimentos para a comercialização, os fiscais mantinham cerca de 30% de seu efetivo trabalhando. "Agora, vamos para a radicalização total. Não entra nem sai mais nada, mesmo que os produtos estraguem", afirmou Wilson Roberto de Sá, presidente do Sindicato dos Fiscais Federais Agropecuários.
A situação é considerada particularmente dramática para as processadoras de aves e suínos. Com fluxo de abate de milhões de cabeças por dia, os armazéns são incapazes de absorver mais do que alguns dias de produção. Por isso, as empresas podem ter de suspender os abates, com consequências sobre toda a cadeia.
O ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, disse que a greve não precisa virar uma "batalha", mas que o país não pode sofrer com a falta de um serviço básico. "Ou todos nos tratamos bem ou teremos problemas na relação. E se eu tiver problema, vou pedir ajuda. Não vou deixar que prejudiquem o povo brasileiro". Em meio ao acirramento dos ânimos, fontes do governo afirmam que não há previsão para o fim da greve.
Por Tarso Veloso | De São Paulo
A decisão do governo federal de convocar fiscais agropecuários estaduais e municipais para realizar o trabalho dos inspetores do Ministério da Agricultura em greve pode agravar uma situação já delicada. A convocação enfureceu os grevistas, que decidiram suspender integralmente suas atividades.
Responsáveis por liberar os alimentos para a comercialização, os fiscais mantinham cerca de 30% de seu efetivo trabalhando. "Agora, vamos para a radicalização total. Não entra nem sai mais nada, mesmo que os produtos estraguem", afirmou Wilson Roberto de Sá, presidente do Sindicato dos Fiscais Federais Agropecuários.
A situação é considerada particularmente dramática para as processadoras de aves e suínos. Com fluxo de abate de milhões de cabeças por dia, os armazéns são incapazes de absorver mais do que alguns dias de produção. Por isso, as empresas podem ter de suspender os abates, com consequências sobre toda a cadeia.
O ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, disse que a greve não precisa virar uma "batalha", mas que o país não pode sofrer com a falta de um serviço básico. "Ou todos nos tratamos bem ou teremos problemas na relação. E se eu tiver problema, vou pedir ajuda. Não vou deixar que prejudiquem o povo brasileiro". Em meio ao acirramento dos ânimos, fontes do governo afirmam que não há previsão para o fim da greve.
Dilma pressiona para substituir servidores em greve nos Estados
Valor Econômico
Por Raymundo Costa | De Brasília
A presidente Dilma Rousseff passou do discurso à prática e determinou a assinatura dos primeiros convênios com São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná a fim de substituir servidores federais em greve por funcionários estaduais e municipais, conforme permite decreto baixado por ela no fim de julho. A avaliação do Palácio do Planalto é que o decreto 7.777 do dia 24 de julho - e que permitia a substituição dos servidores em greve por temporários ou funcionários estaduais e municipais - na prática, ainda não funcionou, apesar de algumas portarias assinadas pelos respectivos ministérios.
A ordem no governo federal é endurecer com os grevistas, mas a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, acenou com uma proposta aos servidores, na próxima semana. "Iniciamos o ano com uma perspectiva econômica melhor, mas ao longo do ano foi piorando. O governo teve que refazer seus cálculos", disse a ministra.
O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, disse que prioridade é "usar o espaço fiscal para cuidar do emprego daqueles que não têm estabilidade". Segundo ele, o diálogo não está fechado. "Temos, ao longo de agosto, a possibilidade de vir a discutir e apresentar propostas, o que faremos. Mas temos a responsabilidade de fazer na hora em que tivermos segurança da proposta", afirmou, ao deixar a Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente, em Brasília, onde foi vaiado por parte do auditório.
A tensão na negociação ficou clara ontem em frente ao Ministério do Planejamento. Cerca de 500 manifestantes, representando 23 carreiras típicas de Estado, criticaram a "intransigência" do governo nas negociações de reajuste salarial. Os manifestantes criaram até um neologismo para criticar a postura da presidente: "Dilmadura." A Esplanada dos Ministérios praticamente parou com novas adesões ao movimento na Secretaria do Tesouro, Receita Federal e até na Controladoria-Geral da União (CGU).
Até ontem, eram 36 categorias em greve em todo o país, num total de mais de 350 mil servidores. No Palácio do Planalto auxiliares da presidente reagiram quando jornalistas avisaram sobre os conflitos no canteiro de obras da refinaria Abreu Lima, em Pernambuco: "Epa, esse aí é iniciativa privada."
Carvalho argumenta que é preciso considerar o momento de crise internacional para "darmos passos seguros". "A responsabilidade nossa é muito maior neste momento", disse o ministro, encarregado de lidar com os movimentos sociais. O governo, segundo Carvalho, entende que há carreiras no serviço público que precisam de correções. O ministro citou como exemplo a proposta de reajuste oferecida aos professores de ensino universitário. "Nós temos sensibilidade para isso", afirmou.
A situação, de acordo com o secretário-geral da Presidência da República, é especial e, por isso, a presidente foi "enfática" ao dizer que o governo quer aplicar a sobra fiscal no "processo de isenção, de estímulo à produção para garantir o trabalho daqueles que, amanhã ou depois podem ser demitidos".
A vigilância sanitária e o Ministério da Agricultura saíram na frente nas providências para substituir servidores, mas os convênios em relação a órgãos da Fazenda e da Justiça também já estão encaminhados. "Tenho certeza que os policiais garantirão as atividades essenciais, como já vêm fazendo", disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Segundo balanço divulgado pela Federação Nacional dos Agentes da Policia Federal (Fenapf), a adesão à paralisação atinge 80% dos policiais, chegando a 100% no Distrito Federal. "O governo não pode ser irresponsável", disse o ministro. A situação é dramática nos portos. As principais categorias que operam os terminais está parada: policiais federais, servidores da Receita Federal e técnicos da vigilância sanitária, entre outros funcionários da União.
A greve dos fiscais agropecuários já reduziu o número de fiscalizações em contêineres de 1.200 para 80 por dia. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que pelo menos 70% dos servidores da Anvisa devem permanecer nos postos de trabalho. Os líderes sindicais agora ameaçam paralisação total - dizem que 30% do pessoal estava trabalhando até agora.
Uma portaria publicada pelo ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, avaliza a chamada de funcionários estaduais e municipais, desde que "verificada a iminência de danos à saúde, ao abastecimento público e à economia do país, colocados em risco em razão da paralisação das atividades de defesa, vigilância, inspeção e fiscalização agropecuária em decorrência da decretação de greve".
A Policia Rodoviária Federal reforçou ontem a fiscalização nas estradas de diversos Estados, gerando longos trechos de congestionamento. A operação-padrão faz parte do movimento de greve parcial dos servidores públicos federais, em vigor há quase 50 dias.
O empresário Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), aproveitou a Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente para defender a modernização das relações de trabalho. Para ele, o governo deve ampliar o debate com empresários e líderes sindicais para modernizar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, afirmou que os empresários precisam "se modernizar" e criticou as decisões recentes tomadas pelos governos europeus, de cortar os salários de servidores públicos. "Não tentem fazer isso aqui no Brasil", disse Freitas, aplaudido por servidores em greve. (Colaboraram Lucas Marchesini, Tarso Veloso e João Villaverde, de Brasília, Fernanda Pires, de Santos, e Luiz Henrique Mendes, de São Paulo)
Por Raymundo Costa | De Brasília
A presidente Dilma Rousseff passou do discurso à prática e determinou a assinatura dos primeiros convênios com São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná a fim de substituir servidores federais em greve por funcionários estaduais e municipais, conforme permite decreto baixado por ela no fim de julho. A avaliação do Palácio do Planalto é que o decreto 7.777 do dia 24 de julho - e que permitia a substituição dos servidores em greve por temporários ou funcionários estaduais e municipais - na prática, ainda não funcionou, apesar de algumas portarias assinadas pelos respectivos ministérios.
A ordem no governo federal é endurecer com os grevistas, mas a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, acenou com uma proposta aos servidores, na próxima semana. "Iniciamos o ano com uma perspectiva econômica melhor, mas ao longo do ano foi piorando. O governo teve que refazer seus cálculos", disse a ministra.
O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, disse que prioridade é "usar o espaço fiscal para cuidar do emprego daqueles que não têm estabilidade". Segundo ele, o diálogo não está fechado. "Temos, ao longo de agosto, a possibilidade de vir a discutir e apresentar propostas, o que faremos. Mas temos a responsabilidade de fazer na hora em que tivermos segurança da proposta", afirmou, ao deixar a Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente, em Brasília, onde foi vaiado por parte do auditório.
A tensão na negociação ficou clara ontem em frente ao Ministério do Planejamento. Cerca de 500 manifestantes, representando 23 carreiras típicas de Estado, criticaram a "intransigência" do governo nas negociações de reajuste salarial. Os manifestantes criaram até um neologismo para criticar a postura da presidente: "Dilmadura." A Esplanada dos Ministérios praticamente parou com novas adesões ao movimento na Secretaria do Tesouro, Receita Federal e até na Controladoria-Geral da União (CGU).
Até ontem, eram 36 categorias em greve em todo o país, num total de mais de 350 mil servidores. No Palácio do Planalto auxiliares da presidente reagiram quando jornalistas avisaram sobre os conflitos no canteiro de obras da refinaria Abreu Lima, em Pernambuco: "Epa, esse aí é iniciativa privada."
Carvalho argumenta que é preciso considerar o momento de crise internacional para "darmos passos seguros". "A responsabilidade nossa é muito maior neste momento", disse o ministro, encarregado de lidar com os movimentos sociais. O governo, segundo Carvalho, entende que há carreiras no serviço público que precisam de correções. O ministro citou como exemplo a proposta de reajuste oferecida aos professores de ensino universitário. "Nós temos sensibilidade para isso", afirmou.
A situação, de acordo com o secretário-geral da Presidência da República, é especial e, por isso, a presidente foi "enfática" ao dizer que o governo quer aplicar a sobra fiscal no "processo de isenção, de estímulo à produção para garantir o trabalho daqueles que, amanhã ou depois podem ser demitidos".
A vigilância sanitária e o Ministério da Agricultura saíram na frente nas providências para substituir servidores, mas os convênios em relação a órgãos da Fazenda e da Justiça também já estão encaminhados. "Tenho certeza que os policiais garantirão as atividades essenciais, como já vêm fazendo", disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Segundo balanço divulgado pela Federação Nacional dos Agentes da Policia Federal (Fenapf), a adesão à paralisação atinge 80% dos policiais, chegando a 100% no Distrito Federal. "O governo não pode ser irresponsável", disse o ministro. A situação é dramática nos portos. As principais categorias que operam os terminais está parada: policiais federais, servidores da Receita Federal e técnicos da vigilância sanitária, entre outros funcionários da União.
A greve dos fiscais agropecuários já reduziu o número de fiscalizações em contêineres de 1.200 para 80 por dia. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que pelo menos 70% dos servidores da Anvisa devem permanecer nos postos de trabalho. Os líderes sindicais agora ameaçam paralisação total - dizem que 30% do pessoal estava trabalhando até agora.
Uma portaria publicada pelo ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, avaliza a chamada de funcionários estaduais e municipais, desde que "verificada a iminência de danos à saúde, ao abastecimento público e à economia do país, colocados em risco em razão da paralisação das atividades de defesa, vigilância, inspeção e fiscalização agropecuária em decorrência da decretação de greve".
A Policia Rodoviária Federal reforçou ontem a fiscalização nas estradas de diversos Estados, gerando longos trechos de congestionamento. A operação-padrão faz parte do movimento de greve parcial dos servidores públicos federais, em vigor há quase 50 dias.
O empresário Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), aproveitou a Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente para defender a modernização das relações de trabalho. Para ele, o governo deve ampliar o debate com empresários e líderes sindicais para modernizar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, afirmou que os empresários precisam "se modernizar" e criticou as decisões recentes tomadas pelos governos europeus, de cortar os salários de servidores públicos. "Não tentem fazer isso aqui no Brasil", disse Freitas, aplaudido por servidores em greve. (Colaboraram Lucas Marchesini, Tarso Veloso e João Villaverde, de Brasília, Fernanda Pires, de Santos, e Luiz Henrique Mendes, de São Paulo)
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