O POTE DE OURO
Nasci numa época em
que crianças conheciam contos de fadas, com princesas e dragões, joões e pés de
feijão, até mesmo pote de ouro no fim do arco-íris.
Hoje tudo isso está
desaparecendo, bebês que mal engatinham já sabem fotografar com equipamentos
eletrônicos de última geração, mas a mística do pote de ouro não desapareceu,
embora tenha mudado de localização...
Pelo menos é o que
me parece, dada a quantidade de pessoas que me consultam sobre como abrir uma
empresa de importação, e estudantes que buscam ideias para aplicar em
monografias com esse mesmo tema.
Ocorre que o que
está por trás dessas ideias, a princípio maravilhosas, é o desconhecimento de
dois fatos básicos: a alta carga tributária que onera a circulação de
mercadorias e a dificuldade de uma pequena empresa enfrentar as grandes no
quesito preço.
A tributação das
mercadorias, muito maior no Brasil que no exterior, faz com que o candidato a
empresário veja o baixo preço das mercadorias no exterior e imagine poder
ofertar preços semelhantes no mercado nacional.
Isso só é possível
por meio de contrabando, pois, com as importações legais, ou as mercadorias
serão oneradas com I.I., IPI, ICMS, PIS, Cofins, AFRMM etc., ou serão tributadas
pelo RTS com alíquota única de 60%, mais ICMS, sem considerar o caríssimo frete
por remessa postal ou expressa internacional.
Mesmo que a
tributação fosse mais leve, uma pequena empresa não pode competir em preço com
uma grande: a única forma de sobreviver é apresentando um diferencial que
justifique uma margem maior, que o digam as pequenas lojas que sobrevivem
competindo com grandes redes.
Além disso,
parece-me claramente antipatriótico importar por importar, em detrimento do
trabalho e da indústria nacionais. Não me entendam errado: não sou contra
importação, o reverso da moeda da exportação, mas naquilo que, de acordo com as
velhas lições de Smith e Ricardo, os outros fazem melhor.
Assim, que venha o
presunto de parma, e que vá o óleo de soja - não o grão -, pois assim como não
importamos o porco, não deveríamos exportar a matéria-prima.
Fica aqui, então, a
minha sugestão: que os futuros empreendedores e os estudantes procurem investir
no desenvolvimento do País, localizando produtos exportáveis, estudando formas
de aumentar o valor agregado das nossas mercadorias de exportação.
Como consequência
desse esforço, teríamos a redução dos nossos gargalos logísticos, o aumento da
renda nacional, além, por óbvio, o aumento da sustentabilidade dos nossos
negócios, mais firmemente plantados em necessidades do mercado, em vez de
simples diferenciais de preço, que podem evaporar a qualquer mudança da taxa de
câmbio.
Autor(a): PAULO WERNECK Fiscal aduaneiro, escritor, professor Aduaneiras |
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