Movimento importador
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Os resultados desanimadores
do primeiro trimestre comprovam que o setor siderúrgico continua enfrentando as
dificuldades que marcaram seu desempenho no ano passado, decorrentes de um
mercado deprimido e da competição dos importados. A
conjuntura da indústria será debatida hoje e amanhã, no Rio, durante o Congresso
Brasileiro do Aço, que chega a sua 24ª edição.
Entre janeiro e março, a
produção brasileira de aço bruto caiu 4,3% em relação ao primeiro trimestre do
ano passado, atingindo 8,3 milhões de toneladas. No acumulado em 12 meses, a
queda foi de 7,6%, indicando que a retração vem se acentuando. No ano passado, o
setor produziu 34,68 milhões de toneladas, volume 2,6% abaixo do fabricado em
2011.
Vendas menores para o
mercado doméstico e falta de competitividade, tanto para exportar como para
concorrer no país com importados, levaram
os fabricantes a puxar o freio e operar com capacidade média de cerca de 68%
neste ano, segundo o Instituto Aço Brasil. Em 2012, a utilização média da
capacidade instalada foi de 71,7%. Segundo Marco Polo de Mello Lopes, presidente
executivo do instituto, “sobraram”, em aço bruto equivalente, 20 milhões de
toneladas no ano passado e vão sobrar 19,8 milhões de toneladas neste ano.
A falta de competitividade,
segundo Lopes, deve-se a dois grupos de problemas: a criseeconômica na Europa e
EUA, que encolheu o mercado internacional, resultando em estoques que devem
chegar a 587 milhões de toneladas neste ano, e ao que define como questões
“sistêmicas”. Carga
tributária elevada, câmbio considerado defasado, infraestrutura deficiente, preços altos de gás e energia
elétrica causam, segundo Lopes, “assimetrias competitivas”, que impedem o setor
de competir com as importações.
Segundo estudo do Aço
Brasil, se considerados somente os custos de produção, a indústria brasileira de
aço é razoavelmente competitiva em relação a EUA, China,
Rússia, Alemanha e Turquia, ficando em primeiro lugar no segmento de bobinas a
quente e em terceiro na área de vergalhões. Quando se adicionam os impostos, o aço brasileiro torna-se o menos competitivo. “A
siderurgia, assim como a indústria brasileira em geral, está vivendo um momento
muito difícil. Os fatores de queda ainda estão aí e ela pode continuar”, diz
Lopes.
O fraco crescimento do PIB em 2012, a redução
do nível de investimento e o aumento doImposto de
Importação frearam as importações de aço, que atingiram 843 mil toneladas entre
janeiro e março, com redução de 15,4% em relação ao mesmo período de 2012,
conforme o Aço Brasil. Mas as chamadas importações indiretas, de aço contido em produtos importados, como
máquinas e equipamentos, carros, autopeças e eletrodomésticos, continuam
afetando o setor.
Segundo o Instituto
Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), as importações indiretas somaram 1,3 milhão de toneladas no
primeiro trimestre – 16,6% a mais do que em igual período de 2012. No ano
passado, atingiram 4,767 milhões de toneladas e a projeção para este ano, se
mantido o ritmo do trimestre, é de 5,529 milhões de toneladas. “As empresas que
usam aço no Brasil estão perdendo espaço para as que usam aço lá fora. É adesindustrialização”, diz Carlos Loureiro, presidente do Inda.
Entre 2007 e 2012, segundo a entidade, as importações indiretas aumentaram 103%.
Os distribuidores, que
haviam projetado aumento de 6% em suas vendas para 2013, se viram frustrados com
a queda de 3,4% registrada no primeiro trimestre. Em 2012 as vendas do segmento
aumentaram 1,5%. O Inda não ainda cortou a projeção para o ano. “Se a economiacrescer de 3%
a 3,5%, o consumo deverá aumentar pelo menos 4,5% a 5%”, diz Loureiro. O consumo
aparente de produtos siderúrgicos no primeiro trimestre, segundo o Aço Brasil,
totalizou 6,2 milhões de toneladas, queda de 1,7%, em relação a igual período de
2012.
Para as siderúrgicas, o
consumo interno precisa ser estimulado. Conforme dados do Aço Brasil, enquanto o
consumo per capita de aço na China evoluiu de 34 quilos, em 1980, para 459,8 quilos, em
2011, no Brasil ele passou de 100,6 quilos por habitante para apenas 130,1
quilos no período. É preciso também eliminar as chamadas assimetrias
competitivas. Enquanto questões como câmbio e carga
tributária não são resolvidas, o presidente do Aço Brasil propõe a “defesa
comercial” do setor, ou seja, impostos de importação maiores. O governo já concedeu, em setembro, alta
desse tributo para vários produtos, como laminados a quente e chapas
grossas, elevando as alíquotas, de 12% a 16%, para 25%. Segundo Lopes, nova
lista de produtos já foi apresentada e está sendo analisada pelo governo.
Já as empresas começam a se
movimentar com estratégias alternativas para enfrentar osimportados. A
ArcelorMittal Aços Longos, especializada em laminados para a construção civil,
fio-máquina para a indústria e trefilados (arames, pregos e parafusos), aposta
no atendimento “personalizado”, com produtos cortados e dobrados conforme as
especificações do cliente e entregues onde e quando ele determinar.
“Nossa ideia é estar o mais
próximo possível dos clientes, com estoque totalmente adequado a eles”, diz
Augusto Espeschit de Almeida, CEO da ArcelorMittal Aços Longos. Ele define essa
estratégia como uma das “barreiras naturais”, que colocam a empresa à frente do
produto importado. Usinas enxutas, controle e otimização de custos e qualidade
do produto completam o leque de ações para manter as margens projetadas. Em
2012, suas vendas cresceram 0,5%, para 3,48 milhões de toneladas de aço bruto,
enquanto o Ebitda (lucro antes de juros,impostos, depreciação e amortização) aumentou 3,5%, atingindo
R$ 1,37 bilhão. Suas sete usinas no país, segundo Almeida, operam com 90% da
capacidade instalada, de 3,9 milhões de toneladas anuais de aço bruto. A
expectativa para 2013 é manter o volume produzido em 2012, com demanda maior por
parte dos segmentos industriais em que atua, como o automotivo.
Fortalecer o relacionamento
com os clientes também está nas metas da Usiminas. Além de renovar o portfólio
de produtos, a empresa criou, em 2012, o setor de “supply chain”, responsável
por acompanhar de forma minuciosa o processo de atendimento ao cliente, do
pedido à entrega. “Em que pese o cenário de volatilidade do mercado, esperamos
aprofundar o relacionamento com nossos clientes e elevar o volume de vendas no
mercado interno em cerca de 5% neste ano”, diz Sergio Leite, vice-presidente
comercial da Usiminas. Em 2012, as vendas da empresa aumentaram 16%, atingindo
6,9 milhões de toneladas, das quais 5 milhões de toneladas no mercado interno,
4% acima do registrado em 2011.
Com 14 unidades produtoras
no Brasil e 46 em outros países, a Gerdau considera positivas as perspectivas
globais para o setor em 2013. Os países em que a empresa atua já apontam melhora
na demanda e as expectativas do WorldSteel Association indicam crescimento de 3%
no consumo mundial neste ano, para 1,45 bilhão de toneladas, liderado pelos
países emergentes. A grande preocupação é quanto ao excesso de capacidade
instalada no mundo. Excetuando o segmento de aços especiais, o desempenho da
Gerdau no país, em 2012, se destacou entre as regiões em que atua, com aumento
de 12% da receita líquida e de 5% no volume de vendas, para 5,3 milhões de
toneladas.
Por Gleise de Castro | Para o Valor, de São
Paulo
Valor Econômico
Valor Econômico
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