ARTIGO: Termos de troca indicam que comércio exterior corre riscos desnecessários
(*) João Henrique Dib Netto
De acordo com uma definição simples, “termo de troca” é a razão entre os preços das exportações e os das importações de um determinado país, ponderada segundo a importância de cada item (bem ou serviço) na composição da balança comercial. Por ser um conceito de extensa aplicabilidade, tem sido alvo de controversos debates na literatura econômica e na mídia especializada.
No rigoroso meio acadêmico, o tema foi centro de algumas importantes teorias de desenvolvimento como, por exemplo, a tese de Raúl Prébisch e Celso Furtado de deterioração de termos de troca.
Segundo esta visão, os países dependentes das exportações de commodities e bens primários estariam fadados às crises externas, já que o preço dos produtos básicos sempre tenderia a cair frente às mercadorias mais sofisticadas. Assim, os sucessivos déficits comerciais provocariam perversos desajustes no balanço de pagamentos.
Além disso, os termos de troca também têm ganhado projeção nos meios de comunicação de massa. Nos últimos anos, com a alta expressiva dos preços das commodities, o Brasil acumulou significativos saldos comerciais. Como consequência, o tópico ganhou destaque cotidiano como sendo um dos fundamentos relevantes para o crescimento econômico.
Grande parte do superávit comercial brasileiro no período recente se deu em função da melhora no índice de termos de troca, como ilustra a figura abaixo:
Fonte de Dados: Ipeadata – www.ipeadata.gov.br
No gráfico, além da evolução do índice no período de 1999 a 2009, foi traçada uma tendência não-linear para destacar a aparente propensão brasileira a acumular ganhos nos preços de exportações. Em uma primeira análise pode parecer que, após algumas décadas de crescimento inconstante, enfim o país se encontra no caminho certo rumo ao progresso econômico. Pelo menos no que tange ao comércio exterior.
Todavia, basta um pequeno aprofundamento metodológico para o otimismo esvair-se. É o que evidencia o gráfico seguinte, composto pela mesma série de dados, porém para um período mais longo:
Fonte de Dados: Ipeadata – www.ipeadata.gov.br
É interessante notar que a suposta tendência crescente de ganhos de termos de troca dos últimos anos, destacada em vermelho, torna-se insignificante frente à excessiva volatilidade da série. Isso reflete algumas das características do comércio exterior brasileiro, sedimentado majoritariamente na exportação de produtos básicos (43,4% do valor total exportado pelo Brasil são compostos pela venda de apenas cinco commodities – minério de ferro, soja, açúcar, petróleo bruto e complexo de carnes).
Pela comparação entre os dois gráficos e o princípio estatístico de reversão à média (a série parece estar sendo atraída para algum nível médio de longo prazo), deduz-se que é baixa a probabilidade de que o crescimento dos preços da atual pauta de exportação brasileira se mantenha.
Preocupa bastante, na composição das exportações brasileiras, a falta de evidências de uma maior participação dos segmentos que exigem uma estrutura produtiva mais complexa. Nada indica que o Brasil se prepara para emergir da atual condição de fornecedor de matéria-prima e importador de produtos manufaturados.
É alarmante, também, o fato de um país de aproximadamente 200 milhões de habitantes concentrar o seu comércio exterior em setores pouco intensivos em mão de obra, de menor valor agregado e suscetíveis às imprevisíveis vicissitudes dos preços internacionais.
O comércio internacional brasileiro deve voltar o seu foco para horizontes mais amplos, sem que o sucesso momentâneo faça das commodities um caminho único e irreversível de produção. Os sinais emitidos pelo panorama conjuntural mostram que a diversificação manufatureira rumo à fronteira tecnológica é condição necessária para que se concretize o tão esperado desenvolvimento sócio-econômico.
(*) Economista, 21 anos, graduado pela Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.
http://comexdobrasil.com/24/01/2011/artigo-termos-de-troca-indicam-comercio-exterior-corre-riscos-desnecessarios/
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