O SEGURANÇA ME PEDIU O CRACHÁ
Se você for Gilberto Gil, pode responder na lata, "nada de crachá,
meu chapa, sou um escrachado, um extra achado num galpão abandonado", mas, se
for um despachante aduaneiro tentando representar seu cliente num local
alfandegado do Rio ou de São Paulo, terá de abrir a pasta, pegar a caixa de
crachás e procurar entre os seis ou sete qual o adequado para aquele local.
O que se passa é que cada recinto emite o próprio crachá, apesar de
essa ser, penso eu, uma atribuição da Receita Federal, pois é ela quem credencia
o despachante aduaneiro, cujo nome e número de inscrição são publicados no
Diário Oficial da União, para conhecimento de todos os interessados.
Pergunta talvez o leitor: com tanto problema mais sério, por que
esse escrevinhador está perdendo tempo com crachá?
Responde o escrevinhador, pedindo vênia para apresentar assunto tão
prosaico: trata-se de mais uma faceta do famoso Custo Brasil. O crachá não é
grátis, sua emissão - requerimento, análise, decisão, impressão, entrega ao
interessado - requer tempo, que é dinheiro, e material - papel, foto, plástico -
que também o é.
Esse custo, pequeno talvez, mas multiplicado por sete, é embutido
nas taxas de armazenagem, nos honorários do despachante.
A solução é simples, e não requer a reinvenção da roda: como
qualquer advogado pode apresentar sua carteira para acessar os locais reservados
onde exerce seu mister, a Receita Federal pode também emitir uma carteira para
cada despachante ou ajudante credenciado, com validade em todo o território
nacional, aumentando, assim, a confiabilidade de identificação e reduzindo os
custos sociais dessa identificação.
Voltando ao Custo Brasil. Existem problemas cuja solução requer
investimentos vultosos, tais como a suplantação do modal rodoviário pelo
ferroviário, e longo tempo para execução, se houvessem os recursos. Outros,
todavia, são de solução singela e resultados imediatos. Por que não os ir
solucionando um a um, digamos, assim, limpando a área, até não restarem senão os
de difícil solução?
A cada passo que damos na direção da eficiência, é um aumento que
obtemos na produtividade nacional, é uma melhoria que alcançamos na nossa
competitividade internacional, são empregos e renda que garantimos para nossos
familiares e amigos, até mesmo um incremento na paz e felicidade social.
Se assumirmos o hábito de melhorar a cada vez algo que seja
possível, poderemos chegar muito longe. Onde estaríamos se o Programa Nacional
de Desburocratização não houvesse sido extinto?
Autor(a): PAULO WERNECK Fiscal aduaneiro, escritor, professor Aduaneiras |
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