Juan Mabromata/AFP
Dilma e Cristina: no discurso, críticas veladasProtecionismo derruba vendas para a Argentina
Barreiras comerciais atrasam a liberação de produtos. De julho a outubro, as exportações do Paraná para o país vizinho caíram 17%
FERNANDO JASPER
As barreiras que o governo de Cristina Kirchner ergueu contra a entrada de importados derrubaram as exportações paranaenses à Argentina neste segundo semestre. As vendas entre julho e outubro somaram US$ 568 milhões, 17% menos que no mesmo período de 2012, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do governo federal.
FERNANDO JASPER
As barreiras que o governo de Cristina Kirchner ergueu contra a entrada de importados derrubaram as exportações paranaenses à Argentina neste segundo semestre. As vendas entre julho e outubro somaram US$ 568 milhões, 17% menos que no mesmo período de 2012, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do governo federal.
27% das empresas paranaenses exportam para a Argentina. Segundo a Secex, são 518 companhias, de um total de 1.944 exportadoras no estado. Pouco mais de 90% das vendas do Paraná ao país vizinho estão concentradas em dez categorias, das quais três registram queda nas exportações ao país vizinho neste ano: equipamentos mecânicos (-3%), móveis (-11%) e chocolates (-6%).
Diplomacia
Com Cristina, Dilma defende parcerias intrarregionais
A presidente da República, Dilma Rousseff, afirmou ontem, durante visita à Argentina, que nenhum dos países deve priorizar parceiros extrarregionais em detrimento das relações entre os vizinhos. Ao citar a crise enfrentada pelos países europeus e os Estados Unidos, Dilma afirmou que a alternativa para o Brasil e para a Argentina é buscar mais cooperação e solidariedade. “Nossa única opção, além de ser melhor, é buscar mais cooperação e solidariedade entre os dois maiores países deste lado do hemisfério (Argentina e Brasil)”, afirmou Dilma.
Dilma disse esperar que a crise norte-americana seja superada para o bem do mundo todo.
Levamos um tango
A declaração de Dilma foi uma crítica velada à política argentina de barrar produtos brasileiros e liberar a entrada de equivalentes de outros países. Um levantamento do governo mostra que os argentinos estão deixando de comprar produtos brasileiros para importar bens de outros mercados, como China, EUA, México, Chile e União Europeia. Com isso, o Brasil perdeu, somente entre janeiro e setembro deste ano, pouco mais de US$ 3 bilhões, dinheiro que foi para terceiros países.
A retração dos últimos meses inverteu a tendência da primeira metade do ano, quando o aumento na burocracia não foi capaz de impedir um crescimento de 39% nos despachos para o país vizinho – o segundo destino das exportações paranaenses, depois da China, e o principal mercado para o setor industrial.
Diferentemente dos chineses, que quase só importam soja e derivados, os argentinos compram do Paraná uma grande variedade de produtos industrializados. A indústria de veículos e autopeças representa 60% desse fluxo, mas produtos como colheitadeiras, refrigeradores, papel, móveis, fibra ótica e chocolates também têm – ou costumavam ter – um grande mercado no país vizinho.
Burocracia
As dificuldades para despachar mercadorias para a Argentina, que já vinham aumentando, alcançaram um novo patamar neste ano. Até fevereiro, os importadores argentinos tinham quase todas as suas compras liberadas automaticamente; a partir de então, todas as operações passaram a depender de licenças não automáticas, liberadas a conta-gotas pela Afip, órgão argentino equivalente à Receita Federal.
O governo Kirchner afirma que as regras valem para todos os parceiros comerciais, mas há evidências de que o objetivo é reduzir o déficit nas transações com o Brasil. E são comuns os relatos de que o governo argentino descumpre as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC), que estipula um prazo de até 60 dias para a análise de licenças não automáticas.
“No caso dos móveis, o problema começou ainda em 2011. Já chegamos a esperar sete meses para despachar uma carreta”, conta Elaine Durante, diretora de comércio exterior da Artely Móveis, de São José dos Pinhais, na região de Curitiba. As vendas para a Argentina caíram pela metade neste ano, segundo ela.
Para importar, tem de exportar
Além da demora em liberar as licenças de importação, o governo argentino usa outra artimanha para barrar a entrada de produtos brasileiros: exige que, para poder importar US$ 100, a empresa exporte quantidade equivalente ao Brasil.
Isso fez com que a Hübner Indústria Mecânica, de Araucária, ficasse quase seis meses sem despachar blocos e cabeçotes de motor de caminhão para a Argentina. “A maioria dos nossos clientes não tem fábrica e, portanto, não tem o que exportar. Só recentemente encontraram uma brecha e voltaram a encomendar”, conta Ermelindo Gomes, diretor da empresa.
Afetada pelo mesmo problema, a Moval, de Arapongas (Norte do Paraná), reduz ano a ano as vendas de móveis para a Argentina. Segundo a coordenadora de comércio exterior, Jaqueline Cuerda Monzoni, em 2008 o país era o destino de 50% das exportações, mas hoje absorve menos de 5%.
Entraves
Embora tenha elevado a burocracia para as importações, o governo argentino não aumentou a equipe encarregada da análise. “Cada fatura precisa de uma licença. O volume a ser analisado é muito grande, e não há estrutura para isso”, diz Alceu Braga Júnior, supervisor de exportação da Mundial, prestadora de serviços em comércio exterior.
Segundo o presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Edson Campagnolo, o controle cambial do governo argentino também começa a atrapalhar os negócios. “Os argentinos estão tendo dificuldade em conseguir cartas de crédito para financiar a importação. E, com medo de não receber, empresários brasileiros já evitam fechar contratos”, diz Campagnolo, que participou da 18.ª Conferência Industrial Argentina.
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