Empresas brasileiras reduzem investimento na Argentina
Estadão
A crise da Argentina diminuiu o ânimo das empresas do Brasil para investir no país vizinho. Nos primeiros seis meses de 2014, os dados do Banco Central revelaram que a saída de investimentos diretos brasileiros para a economia argentina foi de US$ 64 milhões, abaixo dos US$ 247 milhões investidos entre janeiro e junho do ano passado.
A queda dos investimentos brasileiros pode ser explicada por dois grandes motivos: a economia argentina está em recessão e o país não chegou a um acordo com os credores internacionais - chamados pelo governo de fundos abutres - que não aceitaram a renegociação das dívidas feitas em 2005 e 2010.
"Um investimento para ser feito tem de ter previsibilidade de fluxo de caixa e um risco aceitável", afirma Rodrigo Zeidan, professor de economia e finanças da Fundação Dom Cabral (FDC). "Hoje, os investimentos que estão sendo feitos são aqueles com possibilidade de ganho muito grande que compensam o risco da economia local."
Embora o investimento brasileiro tenha apresentado queda na Argentina em 2014, a vida das multinacionais já vem sendo dificultada pelo governo local nos últimos anos. Em 2013, a mineradora Vale suspendeu um investimento de US$ 6 bilhões na Província de Mendoza, onde havia começado a explorar potássio na área de Malargue. Na época, era considerado o maior investimento privado do país e previa a construção de ferrovias e ampliação de portos.
A empresa de louças e metais sanitários Deca também decidiu deixar o país vizinho no ano passado. Na saída, a companhia alegou dificuldades "em suas operações na Argentina, apesar de ter realizado esforços vigorosos para preservar sua competitividade na região."
"A situação para o investimento estrangeiro está complicada desde 2012", afirma Mauricio Claveri, coordenador de análise de comércio exterior e negociação internacional da consultoria argentina Abeceb. "Houve uma queda muito grande, principalmente, por conta do cerco cambial, que deixou mais difícil para as empresas repatriarem o lucro", diz Claveri.
As brasileiras que permaneceram na Argentina tiveram de fazer mudanças para enfrentar a nova realidade. A Alpargatas - empresa do grupo Camargo Corrêa - fez uma reestruturação antes da atual crise. A companhia ajustou os processos industriais, mudou o line up de produtos e fez uma redução de pessoas. "A empresa ficou mais enxuta e leve. Fomos fazendo isso ao longo do tempo. Estamos no tamanho certo", diz Márcio Utsch, presidente da Alpargatas.
No segundo trimestre, a venda de calçados esportivos na Argentina foi de 1,535 milhão de pares, um aumento de 5,6% em relação ao mesmo período do ano passado.
Pela lógica, a economia da Argentina deve seguir pouco atrativa para as empresas brasileiras. O crescimento continuará baixo e há outros países da América Latina com fundamentos macroeconômicos mais saudáveis e que podem atrair investimento. "A questão política na Argentina ainda acaba dominando a economia. E curiosamente essa crise parece ter elevado o nacionalismo, e isso favorece um futuro governo que tenha a mesma linha da Cristina Kirchner", afirma Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (Sobeet). "Se isso se concretizar, o mercado não deve abrir linhas de crédito ao menos no médio prazo."
http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=169528
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