LEGISLAÇÃO

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Queda de preço de petróleo deve afetar comércio com Venezuela


Queda de preço de petróleo deve afetar comércio com Venezuela


A queda de preços do petróleo no mercado internacional deve fazer diferença na balança comercial com a Venezuela, país com o qual o Brasil tem o maior superávit dentre os países da América Latina. De janeiro a setembro, a exportação brasileira somou US$ 3,25 bilhões aos venezuelanos, com superávit favorável ao Brasil em US$ 2,36 bilhões. No mesmo período, a balança comercial total do país teve resultado em sentido inverso, com déficit de US$ 690 milhões. No ano passado, o comércio com os venezuelanos rendeu ao Brasil superávit de US$ 3,67 bilhões. A balança total ficou com saldo positivo de US$ 2,56 bilhões.

Segundo analistas, a queda de preços deve gerar divisas menores para a Venezuela, que tem no petróleo 96% do valor exportado. Os preços menores da commodity reduzirão a capacidade venezuelana de importar, num momento em que o controle cambial já restringe os desembarques locais. "Isso deve reduzir a exportação brasileira para o país e também o superávit com a Venezuela, mesmo levando em conta que os alimentos são a maior parte dos embarques para lá", diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Atualmente, a nafta, derivado do petróleo, corresponde a cerca de 60% da importação brasileira com origem na Venezuela. Nas exportações brasileiras para o país predominam as carnes. Levando em conta carne congelada, bovinos vivos e carne de aves, a exportação para os venezuelanos somou US$ 1,41 bilhão de janeiro a setembro, o que equivale a quase 45% do que o Brasil exportou para o país. Apesar da concentração em alimentos, a pauta é diversificada e inclui aços laminados, pneus, tratores, medicamentos e produtos de higiene pessoal.

"Se os preços reduzidos de petróleo se mantiverem, o exportador brasileiro vai sentir muito", diz Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores. Além da queda de demanda, a situação deve aumentar o risco da Venezuela, o que traz também dificuldades adicionais, como a contratação de seguro para exportação.

Por conta do risco político já existente, cerca de 50% dos embarques brasileiros à Venezuela são feitos via Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR), um sistema de compensação de pagamentos do comércio em que as operações entre os países da América Latina são garantidas pelos bancos centrais locais. O índice de uso do CCR com a Venezuela é bem maior que os 5,4% de utilização nas exportações brasileiras para todos os países do convênio.

Barral diz que o uso do CCR no caso da Venezuela pode aumentar, mas o convênio não será solução para todos. "O uso desse instrumento encarece a operação e muitos exportadores já têm margem pequena, que não comportaria o acréscimo." Ele lembra que a dificuldade para exportar aos venezuelanos por conta do risco intensificou-se há cerca de dois anos. A queda de preço do petróleo, porém, deve acentuar a dificuldade.

Caso os principais países não reduzam o nível de produção de petróleo e os preços continuem caindo no mercado internacional, ao exportador brasileiro, que não possa abrir mão de parte da rentabilidade, diz Barral, resta esperar que os venezuelanos consigam chegar a melhor equilíbrio nas contas públicas. Essa, porém, ressalta, é uma perspectiva a médio prazo.

Ao mesmo tempo, é difícil que o Brasil consiga aumentar a importação de petróleo e derivados dos venezuelanos. Ele explica que o tipo de petróleo produzido na Venezuela é muito próximo ao existente no Brasil, o que restringe a demanda brasileira. E mesmo que houvesse maior demanda, diz o ex-secretário, há também um problema na oferta, já que a Venezuela embarca grandes volume a outros parceiros internacionais.

A Venezuela será a economia latino-americana mais afetada negativamente pela queda de preço, de acordo com estimativas da consultoria britânica Capital Economics. A menor receita com o óleo cru aumenta as chances de não pagamento, por parte do governo venezuelano, de dívidas contraídas.

Na análise assinada pelo especialista em mercados emergentes da Capital Economics, David Rees, o petróleo mais barato deve se manter no médio prazo. As receitas com exportações líquidas de petróleo representaram 37% do Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela em 2013. Com o recuo nessa receita, o governo venezuelano terá que pagar juros maiores nos títulos da dívida pública, colocando maior pressão na já combalida reserva em dólares do país.

A queda de preços também deve afetar a economia da Colômbia. O país, segundo o relatório, terá menos espaço para comprar produtos do exterior. No ano passado, as exportações líquidas de petróleo representaram 6% do PIB do país. A consultoria britânica ressalta que a economia colombiana registrava déficit em conta corrente antes do recuo do preço da commodity. Portanto, para equilibrar as contas externas, a política econômica do governo de Juan Manuel Santos terá que contrair a importação em um cenário de desaceleração do crescimento da atividade.

O contexto colombiano, porém, deve ter impacto bem menor para a exportação brasileira. O comércio com a Colômbia é menos representativo do que o mantido com os venezuelanos. De janeiro a setembro, o Brasil exportou US$ 1,78 bilhão para os colombianos, com superávit de US$ 381,05 milhões.

Fabio Silveira, economista da GO Associados, calcula que, para os países exportadores, os preços reduzidos poderão fazer recuar entre 10% e 15% a receita com a venda de petróleo. Em relação às importações brasileiras do óleo, porém, destaca ele, a expectativa é que, no médio e longo prazo, haja redução, em razão da esperada elevação da produção doméstica.

Fonte: Valor Econômico/Marta Watanabe e Rodrigo Pedroso | De São Paulo

http://portosenavios.com.br/geral/26537-queda-de-preco-de-petroleo-deve-afetar-comercio-com-venezuela

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