LEGISLAÇÃO

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Alta do dólar afetará comércio de importados só em 2015




Alta do dólar afetará comércio de importados só em 2015

Donos de importadoras afirmam que dólar acima de R$ 2,50 é sinônimo de crescimento 30% menor no ano que vem. Muitos pretendem comprar da indústria nacional

Flávia Milhassi


Loja Di Vetro, na Paulista, em São Paulo: rede de franquias pode vender 20% menos se dólar continuar com viés de alta este ano
Foto: Divulgação

SÃO PAULO - A disparada do dólar colocou os importadores em estado de alerta. Com a cotação próxima a R$ 2,50 e sem sinal de mudança nesse patamar, muitos já preveem um 2015 com queda nas vendas em até 30%.

Para reverter esse quadro as empresas devem repassar o aumento da taxa de câmbio no preço ao consumidor e procurar a indústria nacional para o fornecimento de algumas categorias de produtos.

"O consumidor é o primeiro a deixar de comprar importados quando ocorre uma alta excessiva do dólar", afirmou a proprietária da Di Vetro, Celi Silva. Mesmo atuando no promissor setor de cosméticos - que deve movimentar R$ 50 bilhões no ano que vem -, a empresária já começou a sentir reflexo nas vendas, enfraquecidas ao longo deste ano. "Setembro, por exemplo, foi um mês atípico. Vendemos 20% menos que no mesmo período de 2013."

Por estar com os estoques das 15 lojas (a empresa opera como franquia) abastecidos para a venda do último trimestre do ano, o reflexo de um câmbio mais alto será sentido mais para frente. "Se o dólar continuar a subir, as perdas podem ser de 15% a 20% no ano que se aproxima", disse a executiva.

Iniciativa

A estratégia da Di Vetro para evitar que 2015 comece com perspectiva de vendas fracas é procurar pela indústria nacional. Mas isso só ocorre em algumas categorias como a de sabonetes líquidos e hidratantes, por exemplo. "O cliente começa a procurar pelos produtos mais baratos, logo, compramos algumas categorias de fornecedores nacionais para atender essa demanda", explica Celi ao DCI.

Questionada sobre uma possível estocagem de produtos - caso o dólar volte ao patamar de R$ 2,20 -, a executiva afirma que isso só traria inflação ao setor e que a Di Vetro não fará. "Fazer estoque, além de aumentar os custos operacionais das lojas, faria com que os preços fossem impactados pela inflação", diz a executiva.

Um dos diferenciais da rede de franquias está em ser importadora direta, sem intermediários. "Sem um terceiro no processo, conseguimos descontos que variam de 7% a 18% que são revertidos ao consumidor", explicou, acrescentando que, mesmo quando negocia com os revendedores autorizados, como o da marca Carolina Herrera, a empresa consegue preços bem mais em conta, afirmou Celi.

A estratégia para "sobreviver" à flutuação do câmbio adotada pela importadora Latinex (alimentos) será engavetar alguns projetos e focar no fortalecimento da marca. "Algumas iniciativas serão adiadas com o dólar a esse preço, porque ao invés de crescer cerca de 50%, podemos chegar a apenas 15% no ano que vem", lamentou o empresário Eduardo Moraes.

Instabilidade

Na opinião dele, o que mais atrapalha não é quando o dólar está em alta e sim a instabilidade da moeda norte-americana. "Quando se tem uma estabilidade cambial conseguimos nos planejar. Quando a oscilação é constante, o repasse do preço na ponta da cadeia é inevitável", disse. Moraes explica que há dois anos a Latinex tem segurado o repasse, mas se não houver nenhuma medida que contenha essa ascensão da moeda estrangeira, o consumidor é quem arcará com isso. "Não conseguiremos mais segurar o repasse, mesmo sendo a nossa estratégia vender produtos de qualidade com preços competitivos", acrescenta o empresário.

Em 2013, o País passou por situação similar e a experiência traumática, fez com que as importações apresentassem queda no acumulado desse ano.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) divulgados ontem apontou queda de 2,2% nas importações. "Até o momento não fomos impactados por esse dólar alto. Se ele tornar os preços proibitivos, as vendas aos varejistas [mais importantes] é que vão nos fazer crescer menos no período", concluiu o executivo em entrevista.

E-commerce

Com três anos de mercado, a loja virtual de artigos de decoração com design criativo (fun design) Fábrica 9 prefere não pensar no efeito dominó que o dólar acima de R$ 2,45 pode trazer às suas vendas. "Não tinha parado para pensar nisso", disse o sócio diretor do e-commerce, Vitor Gomes.

O executivo afirmou que esse ano tem sido muito complicado para o Fábrica 9 e que as vendas ficaram muito abaixo do esperado. "Tivemos Copa do Mundo que nos atrapalhou muito e desde o começo do ano sentimos a economia andar de lado", disse.

Com 50% do seu portfólio importado, a solução também será optar pela indústria nacional para abastecer os estoques. "Não deixaremos de comprar os importados, mas o estoque desses artigos será muito pequeno", explicou ele. Sem os produtos importados, Gomes estima que as vendas possam cair de 30% a 40%. "Os importados ajudam na venda de produtos nacionais", argumentou.

O que preocupa - mais que o dólar em índices assustadores - é a qualidade inferior e a pouca oferta de artigos de decoração de fun design ofertados pela indústria brasileira. "O produto brasileiro é nitidamente inferior aos importados. Além disso, aqui não se tem a cultura do design divertido, o que não nos ajuda a encontrar mercadorias que chamem a atenção do consumidor", enfatizou Gomes.

Para não perder o consumidor e recuperar as venda, a Fábrica 9 tem apostado em ações de marketing. "Estamos reinventando a forma de divulgação da nossa loja", concluiu.

Artigos esportivos

Na opinião do proprietário da importadora Froés - responsável pelas marcas Fila Skates, Divoks e Kryptonics, no Brasil - Márcio Fróes, só será possível dizer que o câmbio será um limitador de crescimento após as eleições, no próximo domingo. "Acredito que a oscilação ocorrida em setembro é reflexo da instabilidade no cenário eleitoral. Passado isso, o câmbio provavelmente voltará ao patamar de R$ 2,20", disse.

Froés explicou que os seus estoques estão 90% abastecidos, e os 10% restantes já estão embarcados e chegando ao País. "As compras são sempre antecipadas. Se houver impacto ainda este ano ele será mínimo".

Para o próximo ano, se não houver nenhuma intervenção do governo e a moeda norte-americana passar dos R$ 2,50 - ontem fechou cotada em R$ 2,48, o que representa alta de 1,5% -, a Froés terá de repassar o preço ao consumidor. "O repasse será inevitável no curto prazo. Sem ele, a margem, que já é apertada, será mais enxuta."

http://www.dci.com.br/em-destaque/alta-do-dolar-afetara-comercio-de-importados-so-em-2015-id418554.html

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