LEGISLAÇÃO

sábado, 31 de maio de 2014

Câmbio volátil é apenas uma das dificuldades enfrentadas




Câmbio volátil é apenas uma das dificuldades enfrentadas

Apesar de ocupar a sétima posição entre as maiores economias do mundo, o Brasil não passa do 21º lugar no ranking dos países exportadores, segundo a Organização Mundial do Comércio. Com vendas de US$ 242,2 bilhões, o comércio exterior brasileiro obteve participação de apenas 1,3% nas exportações globais. Historicamente, essa participação vem se mantendo na casa de 1% há algumas décadas. "Há uma estagnação", diz o economista Antônio Correa de Lacerda, professor da PUC-SP. "O volume cresce, mas o share de participação é constante."

O câmbio é um fator importante nessa equação. Segundo Lacerda, o real sobrevalorizado é apenas um dos problemas. "O excesso de volatilidade nas cotações também prejudica o planejamento dos exportadores", diz. No entanto, será difícil atingir um ponto de equilíbrio enquanto o governo usar a moeda como ferramenta de curto prazo para controlar a inflação. "A política cambial deveria mirar a inserção internacional das empresas, para torná-las mais competitivas e ao mesmo tempo reduzir a volatilidade da moeda."

Alexandre Espírito Santo, professor do Ibmec-RJ e economista-chefe da Simplific Pavarini, compara: "Temos uma defasagem. No melhor momento da balança comercial na década passada, o dólar estava a R$ 2,20. Se corrigirmos esse câmbio pela inflação do Brasil e dos EUA, ele deveria ficar entre R$ 2,60 e R$ 2,70 hoje."

Espírito Santo observa que os empresários não fizeram a lição de casa quando o mercado estava mais favorável às importações. "Poderiam ter aproveitado para modernizar suas instalações e aumentar a competitividade, mas poucas fizeram isso de forma consistente", diz.

Pamella Wolff de Almeida, analista de comércio exterior da empresa de tecnologia Fibracem, destaca o fator cambial como o principal obstáculo enfrentado pela companhia no mercado externo. "Essa instabilidade do câmbio nos impede de traçar metas de longo prazo", diz. Ela também critica o excesso de burocracia e a morosidade aduaneira. "No nosso segmento (comunicação ótica) faltam eventos específicos, o que dificulta a inserção no mercado externo. Tentamos contornar isso buscando contato direto com os clientes."

As dificuldades não impedem Arlete Wolfram, franqueadora da rede de alimentação natural Porto do Sabor, de planejar sua entrada no mercado externo. A empresa pretende exportar açaí para a América do Sul a partir de 2015. O mercados asiáticos também estão no seu radar. "A procura por nosso produto na Ásia é grande, por isso queremos formar parceria com empresas que atendam essa região para dar início aos trabalhos."

Arlete sabe, no entanto, que a exportação é um desafio. "Com a baixa participação do Brasil no comércio externo, é evidente que o governo precisa adotar medidas urgentes visando apoiar o mercado de exportação em nosso país, a exemplo reduzir a carga tributária, melhorar a legislação pertinente ao assunto, infraestrutura, dentre outras medidas", diz.

Para Fábio Martins Faria, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a principal dificuldade para ampliar a fatia no comércio internacional vai além do câmbio. "Há um excesso de regulamentações trabalhistas, ambientais e fiscais que aumentam o custo das empresas. Os investimentos de infraestrutura, que poderiam facilitar o escoamento da produção estão atrasados", enumera. "Sem falar na carga tributária que não para de crescer."

Roberto Francisco da Silva, da consultoria Mazars, lembra que a carga tributária incidente sobre a cadeia produtiva de exportação no Brasil é 20% superior, em média, à praticada nos países vizinhos. "São 90 tributos e o sistema de compensação dos créditos tributários tem muitas limitações", diz.

As deficiências de infraestrutura também estão entre os vilões do comércio externo. "Alguns insumos se tornaram muito caros, como a energia", observa Faria. "Como grande parte da nossa indústria tem uma matriz energética intensiva, isso pesa muito na balança do setor."

Mesmo o agronegócio, fiel da balança comercial brasileira, enfrenta problemas para exportar. A infraestrutura deficiente aumenta o custo de frete e dificulta o escoamento dos bens, tirando competitividade da produção nacional. "Oitenta e quatro por cento da nossa safra é produzida no chamado Arco Norte, acima do paralelo 16", explica Tatiana Palermo, superintendente de relações internacionais da CNA.

Por isso, defende Tatiana, faz sentido investir em melhorias na infraestrutura portuária do Norte e Nordeste e em sua interligação com a malha logística nacional. "Isso facilitaria chegar ao Pacífico pelo Canal do Panamá, encurtando a distância em relação à Ásia, que hoje recebe aproximadamente 40% de nossas exportações de grãos", explica.

Sem menosprezar os problemas externos, Evelyn Magnani, diretora da fabricante de produtos naturais Ikove Organics, lembra que as empresas também têm sua parcela de responsabilidade. "Quando falta um plano de exportação, no qual fique claro por que exportar, o que fazer, quando, quem fará, quanto custará, para onde e como exportar, torna as dificuldades maiores do que são e normalmente, a culpa é colocada na legislação, burocracia, custo Brasil, etc.

Fonte: Valor Econômico/Carlos Vasconcellos

http://portosenavios.com.br/geral/24475-cambio-volatil-e-apenas-uma-das-dificuldades-enfrentadas

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