LEGISLAÇÃO

segunda-feira, 1 de outubro de 2012


Adiós, lujo mío

Impedidas de importar, grifes internacionais como Louis Vuitton, Cartier e ralph lauren fecham suas lojas na Argentina.

Por Tatiana BAUTZER
Para uma capital que sempre se orgulhou de um certo ar parisiense, Buenos Aires está perdendo o glamour. As severas restrições às importações adotadas no fim do ano passado pelo governo de Cristina Kirchner estão provocando a debandada em massa das principais marcas de luxo estrangeiras estabelecidas na Argentina. As últimas a baixar as portas na avenida Alvear, rua das grifes, no chique bairro da Recoleta, na capital portenha, são as francesas Louis Vuitton e Cartier. Funcionários da disputada marca de bolsas, que já encerrou suas atividades em Buenos Aires, afirmam que a saída se deve ao “complexo contexto econômico pelo qual passa o País”. 
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Apesar do eufemismo, está claro que qualquer negócio que dependa de importações tornou-se quase impossível de se manter vivo na Argentina. Não só é necessário obter licenças de importação, como funcionários do governo argentino pressionam os empresários que precisam importar mercadorias a exportar — se a empresa não produz no País, precisa associar-se a algum produtor local. Simples assim. No caso da Louis Vuitton, as bolsas e sapatos são produzidos na França, Espanha, Itália e nos Estados Unidos, e aparentemente a empresa recusou-se a tentar cumprir as exigências do governo para conseguir as licenças. 
A empresa, controlada pelo LVHM, o maior conglomerado do luxo no mundo, transferirá parte do staff da loja argentina para sua filial no requintado balneário de Punta del Este, no Uruguai, onde argentinos e brasileiros endinheirados costumam veranear. Enquanto isso, no Brasil, onde já mantém cinco lojas – três em São Paulo, uma no Rio de Janeiro e outra em Brasília – o plano da Louis Vuitton é abrir uma nova em novembro num shopping carioca. Oficialmente, a Louis Vuitton afirma que o fechamento é temporário, até que a economia melhore. O ministro do Turismo da Argentina, Enrique Meyer, reagiu com sarcasmo. “A Louis Vuitton está em toda parte, em algumas cidades tem lojas até demais”, disse Meyer, entrevista à radio Mitre. 
“Talvez na Champs Elysées ela precise estar, embora não venda nada.” Nada mais distante da realidade, por sinal. Durante o verão europeu neste ano, grupos de turistas chineses faziam filas nas portas da loja da grife em Paris. Mas também não será fácil para os turistas argentinos atravessar a fronteira para fazer compras no Uruguai. As crescentes restrições à aquisição de moeda estrangeira e ao uso de cartões de crédito no Exterior no outro lado do Prata provocaram a reação do governo uruguaio, que anunciou, recentemente, a isenção de impostos para gastos dos “hermanos” no país. A próxima grife a deixar Buenos Aires é a joalheria Cartier, que deve baixar as portas de sua única loja até o fim de outubro. 
O governo argentino já vem há alguns anos tentando restringir importações, preocupado com a escassez de reservas internacionais, que hoje estão em torno de US$ 40 bilhões. Até 2015, vencem mais de US$ 15 bilhões em dívida externa, e o governo de Cristina Kirchner resolveu saldá-la com reservas. Em Buenos Aires, o câmbio paralelo prospera e os comerciantes aceitam dólares a uma cotação de 6 pesos, quase 50% acima do câmbio oficial. Dentre as marcas internacionais, a primeira a desativar suas lojas foi a italiana Emporio Armani, seguida no fim do ano passado pela alemã Escada e pela francesa Yves Saint Laurent. O êxodo foi acelerado em fevereiro, quando foi instituída exigência de novos documentos para importação. Quem fica tem que recorrer a expedientes heterodoxos. 
A Ermenegildo Zegna, por exemplo, fechou uma loja, mas consegue permanecer operando a outra porque está exportando lã produzida na Patagônia. Para as empresas de moda, que trabalham com coleções que mudam em períodos curtos, é inviável esperar até 180 dias por uma licença de importação. O êxodo das grifes de luxo é um movimento emblemático de uma situação que atinge toda a economia argentina. Empresários de todos os setores, inclusive os que produzem internamente, têm dificuldades para assegurar o abastecimento de insumos. Em agosto, Estados Unidos e Japão entraram com uma reclamação na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o controle de importações. A medida se segue a protestos da União Europeia, em maio, e de um grupo de 40 países apresentado em março. 

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