LEGISLAÇÃO

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

ARGENTINA


GAÚCHOS ESTÃO RECOMENDANDO CAUTELA NA EXPORTAÇÃO PARA A ARGENTINA




Com a maxidesvalorização da moeda Argentina, que sofreu perdas de 20% desde o início do ano, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) recomendou cautela aos empresários gaúchos nas exportações para o país vizinho, alertando sobre o risco de calote. A causa do alerta é a decisão do governo argentino de reduzir o fluxo de dólares para empresas importadoras, por causa da crise de liquidez que o país vem enfrentando.

Para sustentar o valor do peso, o Banco Central argentino precisou queimar parte de suas reservas cambiais, que atualmente estão no patamar de US$ 29,1 bilhões — nível considerado preocupante por causa dos compromissos financeiros do governo. As reservas cambiais da Argentina alcançaram pico de US$ 52,6 bilhões em janeiro de 2011. Para efeitos comparativos, o Brasil detinha cerca de US$ 350 bilhões em reservas em dezembro de 2013.



“O risco de calote existe, mas não é iminente. Por isso, sugerimos que os empresários da indústria gaúcha diminuam gradativa-mente seus patamares de exportações para o país vizinho, buscando novos mercados e reduzindo seus níveis de dependência da Argentina”, afirma, Heitor José Müller, presidente da Fiergs. Segundo ele, os principais produtos gaúchos exportados para a Argentina são calçados, móveis, alimentos e máquinas agrícolas. O país vizinho é o quarto principal mercado das vendas externas gaúchas, abaixo apenas de China, Panamá e Holanda. No ano passado as exportações do estado para a Argentina somaram US$ 1, 8 bilhão, com alta de 23,15% em relação a 2012.

“Nossa preocupação maior é com a indústria moveleira e calçadista, que é formada por empresas de menor porte, menos capazes de absorver perdas co atrasos nos pagamentos” diz, mencionando que o governo, argentino tem exigido a dilatação no prazo de pagamento aos exportadores de 45 dias para 90 ou 180 dias. “Não recomendamos que os empresários abandone a Argentina, apenas ressaltamos que é importante ter um ‘plano B’ para o caso de o cenário piorar. Infelizmente, temos de concordar com o presidente do Uruguai, José Mujica: o Mercosul vive uma mentira institucional, porque enquanto a Argentina impõe medidas que restringem as exportações brasileiras, as importações de China, EUA e México só fazem crescer no país vizinho”, afirma Müller.

Em consonância, o presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, afirma que a situação econômica vivida na Argentina preocupa muito o setor calçadista. “O país é o segundo principal mercado consumidor de calçados nacionais. Agora, além das perdas ocasionadas pela adoção do ilegal mecanismo das Declarações Juramentadas Antecipadas de Importação (DJAIs) — o informal ‘uno por uno’ —, que já causou um prejuízo de mais de US$ 30 milhões ao longo do ano, temos o fator da desvalorização artificial da moeda argentina. O nosso produto ficará mais caro para o consumidor local, que já tem seu poder de compra combalido por uma inflação crescente”, explica, citando que em 2013 os argentinos compraram 8,9 milhões de pares de sapatos brasileiros, gerando uma receita de US$ 118, 8 milhões, com queda de 12,6 % no compara- tivo com 2012.

De acordo com Klein, os empresários da indústria calçadista gaúcha não têm razões para desconfiar dos importadores argentinos, mas temem pelas futuras medidas a serem adotadas pelo ministro da Economia de Cristina Kirchner, Axel Kicillof, que tem se mantido ainda mais imprevisível que o seu antecessor, Guillermo Moreno, na negociação com os exportadores brasileiros. “Os importadores precisam depositar regularmente os pagamentos pelas mercadorias em bancos, mas os dólares ficam retidos por ordem de Kicillof, sob a desculpa de que o país precisa manter as reservas”, explica.

Cansada dos sobressaltos marcantes da relação comercial entre Brasil e Argentina, a indústria moveleira do Rio Grande do Sul reduziu em 70% suas exportações para o país vizinho desde 2008. “Os argentinos não cumprem acordo e o governo brasileiro não impõe limites”, afirma Ivo Cansan, presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Rio Grande do Sul (Movergs). “Essa regra de que o importador precisa exportar, mesmo sem produção, inviabiliza o fechamento de negócios, mais do que a liberação da carta de crédito”, afirma, mencionando que a diminuição das exportações para a Argentina, que hoje é sétimo mercado consumidor dos móveis gaúchos, fez com que os empresários partis- sem rumo a novos mercados, ampliando suas vendas externas para países africanos e da América do Sul. “Para nós, as perdas serão menores daqui por diante”, diz.

Fonte: Brasil Econômico

http://www.exportnews.com.br/2014/02/gauchos-estao-recomendando-cautela-na-exportacao-para-a-argentina/

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