Portos e Logística
A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) divulgou
ontem o novo calado operacional no trecho 3 do canal de navegação do porto de
Santos, fruto da dragagem de aprofundamento. A obra ampliou de 11,20 metros
para 13,20 metros o calado máximo permitido para acessar o trecho. Na maré
alta, poderão entrar embarcações com até 14,20 metros de calado.
O ganho é muito relevante. Segundo armadores, cada dez
centímetros em um navio de 9 mil Teus (contêineres de 20 pés) representa um
potencial a mais de carregamento de 70 contêineres.
A dragagem de aprofundamento é obra do governo federal e
consta do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O contrato, administrado
pela Secretaria de Portos (SEP), foi vencido pelo consórcio Draga Brasil por R$
200 milhões, em 2009.
Terminais localizados no trecho 4 - onde a navegação ainda
está restrita a navios de até 11,20 metros de calado - estão preocupados com o
que denominam aumento do desequilíbrio concorrencial. Eles dizem que as
empresas situadas nos demais trechos terão uma vantagem competitiva ao poder
embarcar mais cargas.
A SEP fatiou o processo de dragagem do canal de Santos, com
quase 25 quilômetros, em quatro trechos para minimizar as perdas causadas pelos
constantes assoreamentos. Os trechos 1 e 2 foram homologados no meio do ano,
também para 13,20 metros, podendo alcançar 14,20 metros na maré cheia. Desde
então, pelo menos um terminal instalado no trecho 4 perdeu uma linha de
navegação para um concorrente do trecho 2 devido a essa vantagem operacional, apurou
o Valor.
O ministro dos Portos, Antonio Henrique Silveira, que
assumiu a SEP após a homologação dos trechos 1 e 2, diz que o governo trabalha
para diminuir o máximo possível o intervalo entre a validação dos calados
operacionais nos trechos 3 e 4. "A meta é alcançar para o trecho 4 o mesmo
status até o fim de janeiro. Até lá vamos maximizar o que for possível",
afirmou. O ministro ponderou que a diferença de tempo é curta e transitória,
apenas enquanto durar a chamada batimetria (verificação da profundidade).
"Não é o caso de um dano concorrencial permanente".
Segundo o presidente da Codesp, Renato Barco, a homologação
do trecho 4 poderá ser feita por subtrecho, para agilizar o processo,
aproveitando os ganhos operacionais alcançados em algumas áreas.
Especificamente, na região que engloba os terminais do Saboó e da BTP, que
operam o mesmo tipo de carga da maior concorrente do trecho 3 e que receberá os
benefícios imediatos do novo calado na área, a Embraport.
A estratégia vai ao encontro do pleito feito pelo Sindicato
dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp) à SEP, na semana
passada. "Hoje, os terminais do Saboó representam algo em torno de 17% a
19% da movimentação de contêineres do porto de Santos", argumenta o presidente
do Sopesp, Querginaldo Camargo.
A reclamação de assimetria concorrencial parte
principalmente dos terminais cujos berços de atracação estão preparados para
receber embarcações com os novos calados - o que não é o caso da maioria das
empresas do porto.
"Qualquer terminal que tenha um metro a mais de calado
consegue carregar muito mais o navio. Eu poderia absorver imediatamente os
ganhos potenciais com a homologação do trecho 4", diz José Eduardo
Bechara, presidente do Ecoporto Santos.
"Deixamos de ter condições de competir pelas linhas de
navegação. Para o armador é antieconômico operar um navio sem usufruir da
capacidade máxima da embarcação", diz o diretor-presidente da BTP, Henry
Robinson.
Fonte:Valor Econômico/Fernanda Pires | Para o Valor, de
Santos
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