Exportador espera alta do dólar após eleições e mantém planos
Apesar do recuo do dólar nos últimos meses para um patamar perto de R$ 2,20, os exportadores acreditam que a valorização do real é momentânea. Indústrias como Romi, Metalplan, Tecumseh, Fras-le e Marcopolo mantêm planos de expansão de exportação e avaliam que o câmbio retomará a trajetória de depreciação após as eleições e também em 2015. A expectativa de patamar de dólar varia de R$ 2,30 a R$ 2,60 ao fim deste ano.
A Marcopolo, maior fabricante brasileira de carrocerias de ônibus, adotou uma estratégia cautelosa para lidar com os altos e baixos do câmbio. A empresa manteve relativamente estáveis as cotações usadas na precificação dos produtos exportados ao longo dos últimos dois semestres e com isso conseguiu absorver a inflação interna do período e ainda garantir algum espaço para negociar preços em mercados africanos e latino-americanos pressionados pela desvalorização das moedas locais.
Conforme o gerente operacional de comércio exterior, Ricardo Portolan, a Marcopolo está formando preços dos produtos exportados em cima de um câmbio "muito próximo" ao atual e não se empolgou com as altas do dólar a R$ 2,40 em agosto de 2013 e a R$ 2,44 em janeiro deste ano. "Não precificamos no câmbio na faixa de R$ 2,40 porque estava visível que era um pico", explica.
Segundo o executivo, a companhia evita utilizar as cotações diárias na formação de preços e procura parâmetros com "certa estabilidade" porque o ciclo de maturação das vendas chega a três meses e o objetivo é buscar rentabilidade semelhante nos mercados interno e externo. Apesar da postura conservadora, a Marcopolo espera um câmbio a até R$ 2,60 no fim do ano para dar "mais competitividade" à indústria brasileira no exterior, acrescenta Portolan. A previsão para 2014, diz ele, é de uma alta de 10% nos embarques.
A indústria de compressores Metalplan conseguiu manter de janeiro a maio deste ano o mesmo nível de exportação de iguais meses do ano passado. Segundo o diretor da empresa, Edgard Dutra, o desempenho está aquém do esperado, mas o resultado dos embarques compensa um pouco a falta de demanda no mercado doméstico. A produção total da empresa caiu 15% no mesmo período.
Dutra diz que a empresa conseguiu manter o mesmo nível de embarques do ano passado por conta da estratégia da empresa de mudar o mix de produtos vendidos ao exterior, além de explorar novos mercados. Ele explica que a empresa passou a exportar compressores de grande porte, o que exigiu o desenvolvimento de representantes capazes de oferecer também maior assistência no destino de vendas.
Por conta disso, diz ele, a empresa não voltará atrás na estratégia de expansão de exportação traçada este ano, mesmo com um dólar muito abaixo do patamar esperado para o período. Ele acredita que a volatilidade atual, com o recuo do dólar para perto de US$ 2,20, deve mudar após as eleições e prosseguir processo de desvalorização. Dutra avalia que o dólar pode chegar perto de R$ 2,50 ao fim do ano e, em 2015, avançar para algo em torno de R$ 2,80. No período em que o dólar ficou próximo a R$ 2,40, diz, a empresa chegou a dar descontos de 3% a 5% nos preços em dólar, o que trouxe um mais competitividade à empresa. "Mas o patamar atual não permite esse desconto."
A Romi, também fabricante de bens de capital, tem, historicamente, taxa de exportação entre 10% e 12% da produção no Brasil. Este ano, segundo o diretor financeiro da companhia, Cassiano Rosalen, o nível de exportação deve ficar no teto desse intervalo. No primeiro trimestre o crescimento foi de 30% em relação a mesmo período do ano passado. Para ele, a taxa de crescimento não deverá se manter nesse patamar porque no segundo semestre de 2013 houve elevação de exportação pela Romi, o que tornará mais alta a base de comparação.
Rosalen diz que a estratégia de expansão das exportações também está baseada em novos mercados e na criação de uma estrutura que inclui a venda de bens de capital que demandam suporte no destino, como engenharia de venda e assistência técnica.
A expectativa de dólar médio para 2014, diz Rosalen, era um patamar em torno de R$ 2,40. "Esse câmbio não deve mais acontecer porque já tivemos muitos meses com um dólar mais próximo de R$ 2,20", diz ele. A taxa, porém, não prejudica a estratégia de ampliação das vendas ao exterior, acrescenta. "Nosso objetivo é de crescimento sustentado da exportação, no médio e longo prazo. A volatilidade do dólar não muda isso."
Rosalen calcula que o nível de desvalorização do real frente ao dólar de 2010 até hoje ainda não cobre a inflação. O patamar de câmbio de hoje, diz, permite mais recomposição de margem do que descontos para tornar o produto da empresa mais competitivo no mercado internacional. Para empatar com a inflação, diz, o dólar precisaria chegar perto dos R$ 2,40. A avaliação, porém, é que o cenário mude até o fim de ano. Para ele, estimar uma taxa de câmbio num ano em que há eleições é muito mais difícil. A expectativa é de ajuste para taxas mais desvalorizadas a médio e longo prazo.
Dagoberto Darezzo, diretor da Tecumseh, fabricante de compressores, também acredita que o dólar voltará a se valorizar a partir das eleições e chegará ao fim do ano em torno de R$ 2,30. Para ele, a evolução mais recente do câmbio, mesmo com as intervenções do governo no mercado, não mudou a tendência de desvalorização da moeda nacional. Por isso, a estratégia de exportação da empresa também se mantém.
Na Fras-le, fabricante de lonas e pastilhas de freios do grupo Randon, a projeção inicial para o ano era de um câmbio médio de R$ 2,37 por dólar. O patamar não se confirmou até agora porque o governo vem intervindo no mercado para evitar uma alta mais forte da inflação às vésperas da eleição, entende o diretor-presidente e diretor de relações com investidores Daniel Randon. "Estamos trabalhando um pouco abaixo disto [para formação de preços dos produtos exportados]." Passada a eleição, diz, o governo deve afrouxar um pouco a política cambial e o dólar tende ir novamente à casa dos R$ 2,40 para evitar pressões sobre a balança comercial.
Neste cenário, que além do câmbio oscilante inclui a impossibilidade de reajuste de preços em dólar no exterior, a Fras-le mantém as margens com relativo equilíbrio entre os 30% a 40% dos custos atrelados ao dólar e a participação de 40% a 45% do mercado externo sobre o faturamento, explica Randon. No primeiro trimestre, as exportações a partir do Brasil mais as operações no exterior responderam por 44,1% da receita líquida consolidada de R$ 192 milhões.
A MAN Latin America, produtora de ônibus e caminhões, também utiliza a tática do "hedge natural" para lidar com a incerteza do câmbio, diz o presidente da empresa, Roberto Cortes. "O que importamos é equalizado com as exportações, de tal forma que a gente não dependa muito da variação do dólar", explica.
Cortes diz que a valorização do dólar, ocorrida no ano passado, e a manutenção do patamar cambial ajudaram a empresa a ganhar mais de competitividade. A MAN aproveitou para recompor margens de lucro em vez de dar desconto nos produtos. Com a valorização do dólar, insumos importados também encareceram, tornando o custo de produção mais alto. Isso implicou em aço e borracha e seus derivados mais caros. Cerca de 10% dos caminhões da MAN são de peças importadas. A companhia estima que o dólar deve ficar estável até o fim do ano.
Fonte: Valor Econômico\Marta Watanabe, Sérgio Ruck Bueno, Alessandra Saraiva e Diogo Martins | De São Paulo, Porto Alegre e do Rio
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