Exportador alonga prazo de crédito
As empresas brasileiras estão aumentando os prazos de suas operações de financiamento à exportação. Com o temor da volatilidade típica do período eleitoral no segundo semestre, os exportadores diminuíram a procura por crédito de curto prazo (ACC e ACE), que foi por muito tempo a principal opção no financiamento ao comércio exterior. Essas companhias têm preferido operações de duração maior, como o pré-pagamento à exportação.
Dados do Banco Central (BC) mostram que o volume de câmbio contratado para operações de pagamento antecipado (que incluem o pré-pagamento à exportação) foi recorde em 2013, na série histórica que começa em 1995. Foram US$ 62,6 bilhões contratados na linha, um avanço de 55,3% na comparação com o ano anterior. E 2014 começou forte para a modalidade, com US$ 6,3 bilhões contratados. Na contramão, o volume de câmbio contratado para o adiantamento de contrato de câmbio (ACC) recuou 19,6%, para US$ 38,3 bilhões.
"O ACC é uma operação de muito curto prazo. Em um momento de volatilidade, os exportadores têm preferido tomar o pagamento antecipado", afirma Paulo Cesar Souza, executivo de global banking do HSBC. O nervosismo com o período eleitoral contribui para acentuar esse movimento, afirma.
O crescimento das linhas de pré-pagamento à exportação ocorreu após o fim das restrições impostas em 2012. Em meio ao temor de uma "guerra cambial", o governo lançou mão de uma série de medidas que travaram as operações. A mais importante foi a ampliação para cinco anos do prazo mínimo de linhas de pré-pagamento que ficavam isentas de 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O ACC escapou dessa tributação, o que provocou uma corrida para a modalidade. Antes de 2012 acabar, o governo voltou atrás e o prazo mínimo para isenção do IOF caiu para um ano, liberando a demanda reprimida por financiamentos de maior prazo.
A farta liquidez entre os bancos, na medida em que o apetite das empresas por crédito diminuiu fortemente no último ano, também contribui para o aumento de operações de prazo maior. "Os bancos estão com liquidez disponível para essas operações, em especial em prazos mais longos", diz o executivo do HSBC, que conta que os prazos giram perto de três anos e podem chegar a cinco. Os tíquetes também aumentaram, afirma.
O pré-pagamento é comumente usado por exportadores para trazer ao país os dólares captados no exterior (via bônus ou contratação de empréstimo). Ao fechar o pré-pagamento, o dinheiro entra no Brasil com isenção fiscal - sem IOF em contratos de até cinco anos - e também sem incidência de Imposto de Renda (IR) na saída do país para pagamento de juros. No começo deste ano, a Petrobras fez uma captação de 3,8 bilhões. Em maio do ano passado, captou US$ 11 bilhões, que também engordaram a contratação de câmbio.
"É difícil separar no universo do pré-pagamento o que é simplesmente internalização de recursos, ou operações dentro de um mesmo grupo, e o que é um empréstimo propriamente", afirma Adoniro Cestari, responsável pela área de produtos corporativos do Citibank. Ainda assim, o executivo afirma que a procura dos exportadores por linhas mais longas cresce. "O número de conversas com empresas aumentou neste ano, mas os negócios ainda não estão fechados", diz, destacando a demanda do setor de agronegócio pelas linhas.
Com a piora dos mercados e a alta dos juros no país, o custo das linhas externas hoje é considerado mais competitivo na comparação com os empréstimos locais. Os recursos tomados via ACC também contam com a isenção de IOF.
A pedido do Valor, uma instituição financeira fez uma simulação de taxas nas duas linhas. Para uma empresa com baixo risco de crédito - do grupo das melhores do país - o custo do ACC fica na casa de 0,3% a 0,5% ao ano, sobre a taxa de referência Libor. Como a demanda está baixa pela linha, as taxas têm caído, afirma esse banqueiro. No caso do pré-pagamento de cinco anos, as taxas para uma empresa semelhante ficam entre 1,5% a 1,8% ao ano, sobre a Libor. Ou seja, contratar o pré-pagamento é mais caro, mas o ACC precisa estar rigidamente atrelado ao fluxo comercial da exportação, além de ter um prazo médio de sete meses.
As linhas de pré-pagamento também são consideradas mais adequadas em tempos de maior volatilidade no câmbio, segundo Miguel Albero, superintendente de "trade finance" do Santander. "Com prazos mais longos, o exportador consegue planejar melhor o financiamento", diz.
Diante da oscilação esperada para os próximos meses, a tendência é que a procura por linhas mais longas continue. Mas a demanda por crédito de um modo geral dependerá do desempenho das vendas externas, que por enquanto não dão sinais de reação, apesar do câmbio mais favorável. "O dólar valorizado ajuda a aumentar a rentabilidade para o exportador, mas a procura por financiamentos está mais ligada à demanda internacional por commodities", diz o executivo do Santander.
Fonte: Valor Econômico/Felipe Marques e Vinícius Pinheiro | De São Paulo
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