Taxas de Câmbio e alta burocracia são maiores entraves para a exportação brasileira
Com saldo negativo de US$ 6,1 bilhões no primeiro bimestre de 2014, as perspectivas para as exportações brasileiras não são nada animadoras para este ano. Somente em janeiro, a Balança Comercial registrou déficit de R$ 4 bilhões, atingindo diretamente a produção do país, uma vez que, com a entrada dos importados, a produção brasileira perde em escala e utiliza cada vez menos sua capacidade produtiva.
Segundo especialistas que discutem o tema durante a reunião de Gerentes da Rede de Centros Internacionais de Negócios - CIN, realizada na Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) dias 26 e 27 de março, um dos motivos que contribuem para este cenário negativo é o fim do Sistema Geral de Preferência (SGP), benefício tarifário dado pelos europeus para economias em desenvolvimento. O SGP expirou em dezembro de 2013 para as exportações brasileiras e, fora do Sistema, importantes setores exportadores do país acabaram tendo significativa subida nas tarifas de seus bens.
Diego Bunomo2Com a constante alta das importações, as indústrias brasileiras acabam perdendo mercado no comércio internacional e provocando o fenômeno da desindustrialização. “O comércio exterior está reprimido. Passa por um momento complicado, onde o saldo é decrescente. Observamos uma fusão muito grande de indústrias e serviços e um déficit considerável no setor de manufaturados”, aponta Diego Bunomo, gerente executivo de Comércio Exterior da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Marcelo Azevedo, especialista da gerencia de Política Econômica da CNI, presente na reunião, conta que um estudo realizado pela Confederação apontou que, para 94,5% dos estados brasileiros, os principais entraves para a exportação vêm sendo as taxas de câmbio e as burocracias alfandegária, aduaneira e tributária com seu número excessivo de documentos exigidos. “É preciso também que haja um rearranjo na macro economia dos estados para que possamos melhorar as taxas de câmbio”, opina.
Embora os principais problemas enfrentados pelas empresas estejam mais ou menos nivelados entre os estados brasileiros, há outros fatores que impedem a competitividade das empresas, como a falta de infraestrutura adequada de portos, rodovias e energia. “Essas dificuldades nas etapas operacionais também se somam aos problemas enfrentados pelo setor”, destaca Marcelo.
Marcelo conta que a CNI contratou uma consultoria para o levantamento dos pontos práticos da Lei, a fim de que possam agir em prol da desburocratização desses processos tributários, cada vez mais complicados e demorados. “O estudo resultará numa proposta que o Conselho Tributário apresentará ao Governo ou ao Ministério da Indústria e Comércio (MDIC)”, ressalta.
O Pará é um dos Estados que sente na pele o problema da falta de infraestrutura adequada. Segundo o gerente do CIN-Pará, Raul Tavares, os sucessivos resultados negativos do saldo da Balança Comercial Brasileira é consequência direta dos entraves que os empresários enfrentam, tanto durante o processo de internacionalização de produtos com a questão da tributação e os problemas no trâmite aduaneiro, como com o baixo nível de investimentos na infraestrutura e logística da exportação. “Esses fatores forçam os empresários a botar o pé no freio, reduzindo a quantidade de contratos”, analisa.
Karina Gueiros, gerente do CIN da Paraíba disse que os problemas enfrentados pelo seu Estado acompanham a pesquisa nacional, mas além das taxas de câmbio e da burocracia alfandegária e aduaneira ela destaca a falta de conhecimento dos procedimentos por parte das empresas envolvidas. “Isso contribui, e muito, para o atraso ou a falta de sucesso nas exportações”.
Em Alagoas, a pauta das exportações é 98% açúcares e derivados. “O que precisamos é fazer com que as empresas desenvolvam sua cultura exportadora. Se conseguirmos qualificar as empresas para atuar no mercado interno, elas se sentirão seguras para conquistar a competitividade que precisam no mercado internacional, um dos grandes problemas enfrentados no estado”, diz Dielze Mello, gerente do CIN Alagoas.
Pará
Além do debate a respeito dos entraves às exportações, a pauta do Encontro Nacional de Gerentes da Rede CIN abriu espaço para a apresentação do perfil econômico e industrial do Estado do Pará, promovido pelo assessor econômico da FIEPA, José do Egypto Soares Filho.
Na sua apresentação, ele ressaltou a grande contribuição do Pará para a Balança Comercial do país e pediu que o Estado fosse tratado com justiça pelo Governo Brasileiro. “Em 2013 o Pará ficou em 2º lugar na Balança Comercial, sendo responsável por 6,55% das exportações do país, somando quase 15 bilhões de dólares. E o que ganhamos em troca? A união só nos repassou 2 bilhões.”, lembrou o economista.
“Enfrentamos muitos problemas legais que nos impedem de crescer como deveríamos. Só para se ter um exemplo o Pará é exportador de energia, e nossa energia ainda é uma das mais caras do país. Isso é um absurdo que precisamos consertar”, ressaltou.
Egypto reforçou que, embora o Estado tenha investimentos de mais de R$ 130 bilhões previstos até 2016, o recurso não resolve os problemas enfrentados aqui na região. “A socioeconomia não vai melhorar, enquanto a indústria não for de transformação. Nós ainda exportamos gado em pé. Precisamos sim é de uma política de Estado forte, que eleve o Pará ao lugar de destaque que ele merece”.
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