Exportações para a Argentina podem dobrar, aponta estudo
Brasil pode se beneficiar de mudanças em regras comerciais do novo governo vizinho
Depois de amargarem resultados mais fracos nos últimos quatro anos, as exportações brasileiras para a Argentina podem retomar um cenário mais positivo a médio prazo. Estudo feito pelo Departamento de Economia do Bradesco estima um potencial de US$ 12,4 bilhões de aumento das vendas nos próximos anos. Isso significa dobrar o valor das exportações, já que o montante exportado em 2015 foi de US$ 12,8 bilhões. A projeção considera que as exportações vão retomar o nível observado em cada setor nos últimos anos. Tal desempenho levaria a um aumento de 1,7% do nível da produção industrial brasileiro, segundo o trabalho.
Numa estimativa mais conservadora — que não considera aumento nos setores com maior competição com produtos chineses, como têxteis e calçados —, o aumento é de US$ 9,2 bilhões das exportações. Nesse caso, o crescimento da produção industrial seria de 1,3%. A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas de China e Estados Unidos.
— A reabertura da economia argentina vai permitir a retomada das exportações brasileiras, mas a velocidade depende de quando e como eles vão sair da crise. É difícil precisar um tempo, mas há um potencial grande de aumento se as vendas retornarem a picos históricos. Nos setores em que há mais concorrência chinesa, há mais incerteza. Mesmo sem considerar esses setores, o aumento esperado é de US$ 9,2 bilhões nos próximos anos — afirma o economista do Bradesco Leandro de Oliveira Almeida, responsável pelo estudo.
Os ganhos para a indústria brasileira, no entanto, devem ser diferentes entre os setores. A principal beneficiada será a indústria automobilística, cujo aumento de exportações é esperado em US$ 4 bilhões, quase metade dos US$ 9,2 bilhões. Isso significará um salto de 10,2% na sua produção.
GANHO A MÉDIO PRAZO
O novo governo do presidente Mauricio Macri já trouxe mudanças. Foi eliminado o sistema que exigia autorizações prévias para as importações de produtos para a Argentina, as chamadas declarações juramentadas. Além disso, foram suspensos impostos para exportações. A simplificação e a redução do custo devem estimular o comércio exterior, tanto pelo lado das importações quanto pelas exportações.
A curto prazo, no entanto, um dos fatores que dificultam essa retomada é a própria economia argentina, que deve ter retração em 2016. Pela projeção do Bradesco, a recessão esperada é de 1,5%. Ao mesmo tempo, o processo de ajuste da economia e a liberalização do câmbio devem levar à desvalorização do peso, o que encarece os produtos importados.
A concorrência com os produtos chineses é outro ponto que limita a retomada das exportações brasileiras. Ao longo dos últimos anos, a China e os países asiáticos, como um todo, ganharam espaço no mercado argentino. Em 2010, o Brasil respondia por 31,1% das importações argentinas, enquanto os países asiáticos tinham uma fatia de 22,9%. Nos primeiros nove meses de 2015, essas fatias passaram para 21,8% e 29,5%, respectivamente.
— Vemos com entusiasmo a mudança na Argentina, de um governo que via o protecionismo como alternativa de desenvolvimento para um governo que defende a liberdade do comércio. Vemos uma possibilidade de aumento de exportações, mas não sei se será possível retomar 100% das exportações por causa da concorrência com a China, principalmente em bens de capital — explica o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Fabio Faria.
Para a professora da Uerj e pesquisadora do Ibre/FGV Lia Valls Pereira, a retomada das exportações brasileiras depende essencialmente da demanda argentina, mas a concorrência da China também é um fator importante:
— A economia argentina é menor que a brasileira, então se recupera mais rápido, mas há um ajuste. E mesmo quando conseguir retomar a economia, há a concorrência dos chineses.
http://www.portalodia.com/noticias/economia/exportacoes-para-a-argentina-podem-dobrar,-aponta-estudo-257008.html
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