LEGISLAÇÃO

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

ECONOMIA



O Brasil e a crise

Ivan SantosJornalista

A  liberação do comércio internacional empacou depois da eclosão da crise financeira nos Estados Unidos em 2008. O empacamento ficou claro na última reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, no fim do ano passado. O resultado do encontro dos ministros da união comercial internacional foi pífio. O que vigorou foi a disposição da maioria dos países, principalmente dos emergentes, de reforçar o protecionismo comercial nacional.

Aliberação dos mercados foi a grande vitima. Foi uma cacetada no neoliberalismo. Ministros de 50 países, durante três dias, capricharam nas acusações mútuas de protecionismo, que teria crescido em decorrência da crise financeira mundial desde 2008. O Brasil foi acusado de manter a economia mais fechada do Grupo dos 20 (o G-20).
Segundo os acusadores, o Brasil tem a economia mais fechada do que a da Rússia e a da China. Internamente, o Brasil se queixa do protecionismo econômico praticado pelos EUA, pela União Europeia, pela China e pela Rússia. O Brasil adota medidas protecionistas contra a invasão de manufaturados procedentes da China e das restrições nas importações de carne feitas pela Europa e pela China.
Queixava-se do fechamento do mercado norte-americano para o etanol brasileiro. No centro das polêmicas está o avanço de países emergentes como o Brasil nos mercados do primeiro mundo, hoje ameaçados por uma grande crise financeira que pode levar à recessão.
Protecionismo
O protecionismo aumenta na proporção das dificuldades criadas pela crise que desacelera a economia mundial. O comércio internacional encolheu 12,1% entre 2008 e 2009 e melhorou em 2010 com pequena recuperação até 2010. Nesse período, as relações de trocas cresceram 14,1%, mas não o suficiente para garantir ampla liberalização.
Tumulto
As relações comerciais entre o Brasil e a Argentina seguem tumultuadas no Mercosul. Os argentinos querem vender mais no Brasil e importar menos. Esta também é a filosofia dos chineses. País que não abrir as portar ao comércio exterior está condenado e perder os mercados que conquistou. O jogo comercial hoje é duro e jogado em duas mãos.
Jogo Duro
O protecionismo mercantil aumenta com a disposição dos países em crise em procurar mercados externos para sobreviver. Os tempos estão difíceis. Se a China reduzir as importações de commodities, a primeira vítima será o Brasil que poderá aumentar a barreira contra a entrada de manufaturados chineses. O jogo pela sobrevivência está nervoso.
Ivan Santos A coluna é assinada pelo jornalista Ivan Santos e discute o processo político, econômico e social. Ela é publicada diariamente no jornal CORREIO de Uberlândia.



Fundamentos da economia interna

Samir Keedi é bacharel em Economia, mestre em Adm
Acreditamos que como nós, todos os demais brasileiros, pelo menos aqueles mais conscientes, já se cansaram definitivamente de ouvir diversos clichês. Sempre os mesmos. Em especial o mais falado nos últimos anos para justificar que a economia brasileira vai bem, graças a Deus. O atual clichê, já de anos, é "os fundamentos da economia brasileira vão bem, são sólidos. Estamos prontos para crescer, enfrentar as crises internacionais etc. etc. etc.". A previsão do governo para 2012 é assustadora: de crescimento de 5% ou pouco menos. Tomara fosse, mas não há a menor chance para isso. A economia não cresce efetivamente há 31 anos, desde 1981. Enquanto todo o mundo cresceu, estagnou, teve recessão, cresceu etc. Mas tudo bem, isto parece um mero e simples detalhe, como já ouvimos alguém de peso dizer há alguns anos. -

Talvez nós não consigamos ver o que muita gente esteja vendo. Ou talvez muita gente esteja pensando que vê, isto é, vendo demais. Em especial o governo. Não nos cansamos de perguntar que fundamentos são esses. Que parâmetros estão sendo utilizados. Onde estão eles. Entendemos que precisamos de óculos especiais para enxergar em meio às trevas do momento. Se analisarmos os juros praticados no País já há vários anos, veremos que são os maiores do planeta em termos reais. Absolutamente inaceitáveis e sem o menor sentido. E somente estão impedindo o crescimento da economia brasileira. Ninguém consegue produzir com eles. Se formos para a carga tributária, da mesma forma nos assustamos. Vemos que no ano de 2011 ela representou cerca de 36% do PIB, produto interno bruto do País. Uma arrecadação de 1,5 trilhão de reais. Um absurdo, sem nexo ou precedentes, que representa 4,5 meses de trabalho exclusivo para o governo, por ano. Quem consegue consumir quando se trabalha tanto para o governo? O consumo é que faz o crescimento e o desenvolvimento.

Quantos de nós, brasileiros, podemos dizer que ao final do mês nos sobram 36% de nossos ganhos? Exatamente o que temos que repassar ao governo perdulário e péssimo administrador. Isso na média, pois já que nem todos pagam impostos ou pagam menos, qual o imposto máximo pago por alguns? O que dizer do nosso querido comércio exterior, nossa área de atuação há 40 anos, e que representa 20% do PIB. E tão-somente 1,2% de um comércio mundial de 32 trilhões de dólares. E isso porque dobramos nosso comércio exterior nos últimos cinco anos. Nem Ministério de Comércio Exterior e/ou Logística temos. De modo a juntar os esforços e remar apenas para um lado. Apesar de nossos vários artigos e pedidos.

Qual é a nossa política para a área, que é uma das melhores formas de desenvolvimento? Só estamos crescendo porque desde 2009 nos transformamos, novamente, 35 anos depois, em exportadores de commodities, que estão com preços mais altos do que nunca. E existe a China. Nossa dívida interna é astronômica, impagável, de mais de 2,5 trilhões de reais, bem mais da metade do nosso PIB. E ainda nos dizem que é de 1,8 trilhão. E só tende a subir com a nossa taxa de juros na lua. Que dirá da compra de dólares pelo Banco Central. Que aumenta nossa dívida e paga altos juros. Para que sejam aplicados no exterior a taxas baixas e negativas, provocando enormes prejuízos ao BC.

Nossa população economicamente ativa (PEA) é de cerca de 100 milhões de almas, e temos registrados em carteira cerca de 35 milhões. O que nos deixa pensando e complica a previdência social. Temos uma grande parcela do povo que vive da bolsa-esmola do governo. Que deveria criar empregos, e não dar dinheiro. O País tem muito que fazer em termos logísticos. Muito a melhorar nos portos, inadequados. Na ferrovia, a pior do mundo em tamanho. Nas rodovias. Da hidrovia nem vamos falar. São esses os bons fundamentos, tão ressaltados por todos a cada dia? Nosso investimento está na casa dos 18% do PIB desde 1995, e querem que a economia cresça. Enquanto temos 36% de carga tributária e 18% de investimento há 16 anos, a China tem carga tributária de 17% e investimento de no mínimo 40-45%. Esperamos que ninguém ache que é preciso explicar o crescimento deles e o nosso.

As estradas que levam nossa produção aos pontos de consumo ao exterior estão deploráveis. Temos poucas estradas, e apenas 12% asfaltadas. Que não condizem com a supremacia do transporte rodoviário no País. Não há como trafegar nelas sem provocar aumentos de custos com as suas más condições. Indo além, não se pode ser competitivo nas exportações com custos logísticos altíssimos. Que representam cerca de 20% do PIB - o dobro dos países desenvolvidos. Por exemplo, 70% de nossa soja anda de transporte rodoviário enquanto no grande irmão do norte esta quantidade anda via fluvial em 61%.

Segundo se sabe, produzimos soja mais barato que o irmão do norte, mas colocamos no navio, para o exterior, bem mais caro. Não há logística que sobreviva a este terremoto. É bom tentar entender que bons fundamentos econômicos são esses que se apregoam, erroneamente. Não temos política industrial. Nem agrícola. Quanto à energia, esta até nos deixou no escuro no início da década passada. Com todas as nossas potencialidades e tendo cerca de 20% de toda a água do planeta. Isso parece ser suficiente, embora muitas motivações ainda pudessem ser utilizadas em nossos comentários para mostrar o quanto temos problemas e estamos longe de termos bons fundamentos. Nem queremos entrar na questão da educação, segurança, saúde etc. Portanto, novamente vem à tona a pergunta inicial: quais são os bons fundamentos da nossa economia?





Analistas erram previsões econômicas feitas em 2011

Pior derrota foi, de longe, a aposta para o superávit comercial: o número final foi quase quatro vezes maior que o previsto.

A realidade ganhou de goleada do mercado financeiro em 2011. Pelo menos esse foi o placar da disputa entre as previsões dos analistas na primeira pesquisa Focus do ano passado na comparação com a evolução dos indicadores no decorrer de 2011. A pior derrota foi, de longe, a aposta para o superávit comercial: o número final foi quase quatro vezes maior que o previsto.

A comparação entre as previsões do mercado feitas um ano atrás com os dados efetivos ou as últimas estimativas mostram que, na média, analistas erram bastante as apostas para a economia. O pior equívoco aconteceu no comércio exterior. Há 12 meses, analistas previam saldo comercial positivo em US$ 8 bilhões. Conhecido ontem, o número final foi 272% maior: US$ 29,8 bilhões.
Leia maisMercado financeiro prevê alta de 3,3% do PIB em 2012

Na inflação, a expectativa para o IPCA aumentou 23% - ou 1,23 ponto - no decorrer de 12 meses. Na primeira segunda-feira de 2011, as 80 instituições financeiras ouvidas previam IPCA de 5,32%. Mas, com o aumento dos preços acima do esperado nos meses seguintes, tiveram de ajustar os números para cima e terminaram com a aposta em 6,55%. O dado efetivo será conhecido na sexta-feira.

Outro número que mudou bastante foi a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Doze meses atrás, a expectativa de expansão era de 4,5%. Ontem, a previsão marcava 2,87%. Ou seja, um terço menor. Culpa da indústria, cuja aposta despencou dos 5,3% no começo do ano para o tímido patamar de 0,78%. Os números da produção industrial e do PIB serão conhecidos nos próximos meses.

Nas instituições financeiras, analistas dizem que, em 2011, parte dos erros pode ser atribuída aos efeitos inesperados e desdobramentos da crise internacional. Além disso, no campo interno, a inesperada redução do juro em agosto não estava no radar e pegou muita gente de surpresa.

Por outro lado, é preciso reconhecer que o mercado chegou mais perto quando o tema é a evolução do ¿?ndice Geral de Preços - Mercado (IGP-M): a expectativa original era de 5,54% e o indicador teve alta de 5,10% no ano. Ou seja, um erro "para melhor" - já que a inflação veio menor que o previsto.

Em pesquisa recente, o economista Emilio Chernavsky chamou a atenção para a qualidade das previsões na pesquisa do BC. "Os resultados das previsões divulgadas no relatório Focus não foram particularmente favoráveis", diz Chernavsky, doutor em teoria econômica pela USP.

No artigo Quão boas são as previsões do relatório Focus?, o economista afirma que há "um panorama pouco animador das previsões elaboradas no Brasil mesmo por instituições que aplicam grandes volumes de recursos humanos e financeiros no mais sofisticado instrumental econômico disponível". Segundo Chernavsky, com exceção da taxa de câmbio, balança comercial e dívida pública, os erros médios dos economistas alcançaram níveis superiores a 40% do comportamento efetivo dos dados "chegando por vezes a mais de 100%".

Inflação

O mercado consolidou a aposta de que a inflação vai estourar a meta em 2011. Pesquisa divulgada ontem pelo BC mostra que a expectativa para o IPCA subiu pela terceira semana seguida e passou de 6,54% para 6,55%, acima do teto permitido pelo governo. Além do pessimismo com os preços, analistas reforçaram a previsão de que a desaceleração da economia será mais forte que o imaginado.

O esperado descumprimento em 2011 é bem diferente da previsão para a inflação em 2012. Economistas dizem que, com a economia mais lenta, a inflação vai desacelerar. Na pesquisa do BC, a aposta para o IPCA caiu pela quinta semana seguida, para 5,32%.  Agência Estado


O problema que a indústria leva para 2012

2011 terminou deixando movimentos que ainda serão muito estudados pelos economistas, como o real efeito das medidas macroprudenciais na expressiva desaceleração da economia brasileira ao longo do ano, a resistência do emprego à mesma desaceleração e a profunda retração na produção industrial. Entre outros, esses tópicos comporiam uma lista das 10 maiores surpresas econômicas do ano, com certeza.

Dos três, o total descolamento entre a produção nacional e o Produto Interno Bruto (PIB) é o que deixa uma interrogação com cara de problema para 2012, 2013, 2014.... A indústria terminou 2010 com uma produção 10% superior à de 2009, enquanto o PIB cresceu 7,5% na mesma comparação. Em 2011, o setor vai, na melhor das hipóteses, crescer 0,5%, para um PIB próximo a 3%.

Além do crescimento pífio, o resultado dos últimos três meses mostra que a indústria brasileira nunca se recuperou efetivamente da crise externa - a produção está hoje 3% inferior à do auge pré-quebra do Lehman Brothers em setembro de 2008. O número parece pequeno, mas 3% significam cerca de 75 mil automóveis a menos por ano, ou 65 barris de petróleo por dia ou 57 mil demissões no ano.

O que mais intriga é que, na mesma comparação, o consumo doméstico está hoje 24% maior. Em três anos, a produção industrial encolheu 3% e as vendas do varejo (um bom indicador do comportamento do consumo das famílias) cresceram quase um quarto!

A conclusão quase óbvia na análise desses dados é que a importação tem ocupado um espaço cada vez maior no abastecimento da demanda interna - no lugar de um calçado nacional, um sapato coreano; no lugar de uma máquina "made in Brazil", uma alemã; no lugar de feijão brasileiro, feijão chinês!

E o buraco parece bem profundo, como é possível ver no detalhamento da pauta brasileira de importações, que traz informações surpreendentes, como o fato de que o maior aumento na compra externa de bens industrializados não ocorreu em produtos manufaturados, mas em semimanufaturados, onde importamos 35% mais que em 2010. Por exemplo: o 16º item semimanufaturado mais importado foi óleo de dendê, produto no qual o país gastou US$ 46 milhões entre janeiro e novembro (413% mais que em 2010). No mesmo período, importamos US$ 415 milhões em alumínio bruto e US$ 328 milhões em celulose - todas commodities com larga tradição de produção no país. Ou seja, a concorrência "made in mundo" chegou aos bens tipicamente "made in Brazil".

O cruzamento das informações de volume importado com produção nacional permite sustentar, com argumentos fortes, essa hipótese. A importação de bens produzidos pela indústria de transformação passou de uma presença de 17,3% para 20,4% entre 2008 e 2011. No mesmo período, a exportação perdeu importância para o mesmo setor e sua participação encolheu três pontos percentuais. Há alguns casos emblemáticos, como o da celulose importada, que já representa 30% do consumo nacional, segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).

Mas se a indústria está tão acossada pela concorrência importada e produz um volume 3% menor, porque não vemos demissões no setor? Por que as campanhas salariais continuaram negociando aumentos reais para os trabalhadores da indústria ao longo de 2011 se o custo salarial em dólar está 10% maior que em 2008, como informou a repórter Arícia Martins, em recente reportagem no Valor? Por que a arrecadação incidente sobre o lucro das pessoas jurídicas não financeiras ainda cresce acima da inflação?

As respostas não estão nos indicadores, mas existem pistas. A própria Confederação Nacional da Indústria (CNI) indicou, em estudo feito neste ano, que o próprio setor que está aumentando suas importações, seja de matéria prima e peças, seja de produto acabado. Com isso, seu faturamento evolui, enquanto a produção encolhe.

Enquanto mecanismo de sobrevivência, a estratégia da indústria está correta e evita "mortes" ao longo do caminho. Mas e o futuro?

Enfrentar de forma mais decisiva os elementos que corróem a competitividade nacional é tarefa para qual o governo deveria realmente dedicar energia. Por enquanto, o que se viu foi mais do mesmo em uma trajetória que repete equívocos protecionistas, como os recentes anúncios que envolvem IPI maior para carros importados ou a mudança no cálculo da tarifa de importação sobe têxteis. É a indústria toda - e não um pedaço dela - que se ressente de impostos elevados, câmbio fora do lugar, infraestrutura precária e crédito ainda caro.

Por sua vez, a indústria precisa investir mais em inovação, copiar menos produtos, agregar mais valor, investir mais na formação da sua mão de obra, pensar no longo prazo e não em lucros imediatos.

Não há nenhuma novidade no diagnóstico desse arcabouço das tarefas que cabem ao Estado e às empresas, mas o tempo está passando. É cedo para que a economia brasileira seja liderada pelo setor de serviços porque a renda e a composição da população brasileira ainda não são de primeiro mundo. Embora, às vezes, esqueçamos disso diante dos relatos da fúria consumista brasileira em Miami.


Uma meta de câmbio se faz necessária
Em um mundo onde a desvalorização de uma moeda implica a valorização de outra moeda, quem está perdendo até agora é o Brasil
    
 Ingo Plöger* e Carlos Waack*
A intervenção do governo japonês no mercado de câmbio marca mais uma tentativa de um país proteger a sua produção de manufaturados e evitar que as empresas desloquem sua produção para o exterior. O Iene japonês tem atingido um pico pós-guerra contra o Dólar e o governo decidiu intervir via uma venda de aproximadamente 3.000 bilhões de Ienes ou 37,9 bilhões de Dólares. Essa foi a segundo intervenção cambial do Japão. A primeira foi em agosto de 2011.
Outro caso de intervenção cambial tem sido o da Suíça que decidiu estabelecer um piso mínimo de 1,20 Francos suíços contra o Euro para proteger a sua indústria doméstica.
A China, que mantêm sua moeda atrelada ao Dólar americano já faz anos, tem conseguido manter uma conta corrente superavitária consistentemente.
Quando o banco central da Suíça, o SNB, interveio fortemente no mercado de câmbio, a reação da imprensa, por exemplo, a reação do influente jornal The Financial Times, foi muito positiva. O próprio banco central suíço fez uma pesquisa perguntando às empresas como o câmbio estaria afetando as suas vendas. As respostas, evidentemente, foram que elas estariam sendo prejudicadas pela forte valorização do câmbio. O que se percebe é que a intervenção cambial para proteger a indústria doméstica é algo necessário e também justificável. Agora, se fosse o Brasil...
Em um mundo onde a desvalorização de uma moeda implica a valorização de outra moeda, quem está perdendo até agora é o Brasil.
Desde 2007, a taxa de câmbio R$ / US$ tem se valorizado crescentemente. Os dados mais recentes, de 3 de novembro de 2011, mostram que a taxa de câmbio está valorizada em 28% desde 2007 (supondo que Janeiro de 2007 = 100, a última data indica um índice de 128).
A forte valorização do Real traz sérias conseqüências para o Brasil: a produção nacional de manufaturados sofre com a perda de competitividade; há perda de emprego e o Brasil acaba enviando mais divisas para o exterior via aumento de importações, o que prejudica nossa balança comercial. Outra conseqüência é que o Brasil é pressionado cada vez mais a se especializar em exportações de commodities, o que resulta na exportação de produtos de baixo valor agregado e importação de produtos de alto valor agregado. A importação de produtos de alto conteúdo tecnológico como carros, produtos eletrônicos, máquinas e equipamentos, que estamos produzindo no Brasil, prejudica as cadeias produtivas.
O Brasil exportará dentro de poucos anos petróleo do pré-sal pressionando ainda mais a valorização do Real. Que estratégia teremos então? Não adianta tapar o sol com a peneira, temos que tomar providências antes que seja tarde demais. Temos instrumentos que ainda não foram utilizados, como por exemplo, o Fundo Soberano do Brasil que poderia comprar Dólares americanos ou Euros e adquirir ativos no exterior. Desta forma, poderíamos conquistar posições mundiais mais fortes. A função do Fundo Soberano, é prover recursos para o Brasil num momento de turbulência econômica. O momento é este.
A manutenção do valor artificial da moeda chinesa, a intervenção da Suíça e agora a do Japão, são fatores que afetam negativamente a indústria brasileira. Denunciar as intervenções do Japão ou da Suíça na Organização Mundial de Comércio (OMC), é teoricamente algo justificável, mas na prática é algo que não daria certo: a política monetária de cada país faz parte de sua soberania.
Nesse cenário de competição, o Brasil deveria adotar uma “meta de câmbio”. Com meta de câmbio entende-se a definição de uma taxa de câmbio que protege a competitividade da indústria doméstica. A taxa de câmbio do Real com relação ao Dólar americano deveria situar-se em torno de R$ 2,00.
Entretanto, a meta de câmbio precisa ser coerente com uma meta de inflação. É necessário manter a estabilidade de preços e a competitividade da indústria. O fator chave aqui é o controle dos gastos públicos: a redução dos gastos públicos possibilitará a redução da taxa de juros o que levará a uma moeda mais barata. A queda nos gastos públicos terá um efeito negativo sobre a demanda agregada, diminuindo assim a pressão nos preços. Isso poderá ser compensado por juros mais baixos.
Uma meta de câmbio implica num atrelamento do Real ao Dólar americano. É provável que sejamos acusados de manipuladores da taxa de câmbio? Sim. Mas que alternativas temos? A rodada de Doha se não morreu, falta pouco. Os EUA e a União Europeia dificilmente vão cortar seus subsídios agrícolas. A China está tentando reestruturar a sua economia, sendo que isso está acontecendo de maneira bastante devagar. A Argentina, um importante parceiro comercial, exige que cada importação de produtos seja coberta por uma exportação correspondente. Em uma boa parte de países podemos enxergar medidas protecionistas. Porque o Brasil deveria abrir mão de seus mercados para a competição externa sem nenhum retorno?
Deixar que os fundamentos econômicos definam a taxa de câmbio R$ / US$ é igual a abrir mão da indústria brasileira e se condenar a ser país de commodities.
Não devemos deixar para depois, precisamos tomar esta decisão de colocarmos uma meta para o câmbio, ante uma situação internacional deteriorada onde países como o Japão, EUA, UE e China já não deixam dúvidas sobre sua posição na guerra cambial. Valor Econômico/Denise Neumann 

* Ingo Plöger é presidente do Conselho Empresarial da América Latina CEAL) e Carlos Waack economista da consultoria IP Desenvolvimento Empresarial e Institucional




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