LEGISLAÇÃO

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

EMPRESAS


Sobrevivência de empresas na mira de auditor


Os auditores enfrentarão um começo de ano complicado na Europa, tendo que prever quais companhias ficarão sem recursos, em meio à volatilidade que ronda os negócios, e ao mesmo tempo assegurar que os ativos das companhias foram reduzidos para refletir o cenário econômico mais fraco.

Enquanto muitas empresas finalizam seus balanços anuais, as principais firmas de auditoria reconhecem que uma das questões mais desafiadoras que enfrentam é saber se uma companhia conseguirá acessar recursos suficientes para seguir com suas operações e atingir o conceito "entidade em marcha" - ou seja, com requisitos mínimos em termos de saúde financeira para se pressupor sua continuidade.

O modo como as companhias contabilizam as aquisições passadas também está no centro das atenções, em meio aos temores de que as premissas para o fluxo de caixa futuro que permearam os acordos podem ser muito otimistas no cenário atual.

Os reguladores estão observando de perto o modo como essas questões vêm sendo tratadas e já criticaram auditores por não serem tão céticos quanto o necessário em suas avaliações.

James Chalmers, sócio de auditoria da divisão inglesa da PwC, afirmou que a checagem da liquidez é prioridade. A avaliação de ativos vem em segundo lugar, com foco particular no ágio gerado em aquisições.

A avaliação desse tipo de ágio, chamado de "goodwill", precisa ser testada em cenários de estresse para levar em conta o fato de que os lucros das empresas podem estagnar ou recuar, afirmou Chalmers. "Dedicamos atenção especial para tentar entender fluxos de caixa futuros prováveis", disse.

John Griffith-Jones, presidente da KPMG Europa, disse que julgar se uma empresa é uma "entidade em marcha" é fundamental, acrescentando que também é crucial avaliar o possível impacto em uma companhia caso um cliente de peso dela esteja próximo da falência.

No setor de bancos, Griffith-Jones disse que a avaliação da carteira de crédito é outra questão importante. De acordo com ele, tem havido discussões para se chegar a uma divulgação mais uniforme acerca das provisões para inadimplência, bem como para a falta de rigor em apontar a existência de atrasos. O banco central da Inglaterra já alertou que essa prática pode mascarar perdas com empréstimos.

Os bancos e as seguradoras da Europa tiveram prejuízos bilionários com a dívida do governo grego nos últimos meses. Contudo, para o executivo, não serão necessárias novas baixas contábeis por conta de dívidas emitidas por outros países da zona do euro, "se não houver nenhum evento mais dramático".

Martyn Jones, sócio da Deloitte, disse que a questão das "entidades em marcha" é relevante. Segundo ele, a Deloitte também está atenta a manobras fora do balanço e transações entre partes relacionadas, que podem encobrir perdas.

As atividades das companhias em mercados emergentes também merecem atenção, acrescentou o executivo, dado que o maior crescimento visto em países como a China pode implicar um risco maior de fraudes, como ativos fictícios.

Em dezembro, o Financial Reporting Review Panel, um regulador que monitora o conteúdo dos balanços anuais, disse que estava adicionando os varejistas de médio porte europeus entre os setores prioritários para revisão.

A decisão refletiu a tensão causada pela diminuição do ritmo de gastos dos consumidores. Os segmentos de propriedades comerciais e serviços de suporte também estão na mira do regulador.
Valor Econômico



Contadores calmos na tempestade


Com os eventos de 2011 começando a se perder na memória - sendo a maior parte deles ruim do ponto de vista econômico -, o quão nervoso está o mundo da contabilidade?

Em conversas com vários auditores e reguladores sobre a temporada de balanços do ano completo de 2011, que se inicia nas próximas semanas, fica-se com a impressão de que o sangue deles não é bombeado com a mesma intensidade ansiosa como ocorreu no rescaldo da quebra do Lehman Brothers, em 2008.
Uma fonte de confiança é o progresso que foi feito na luta contra algumas das questões levantadas pela crise financeira. No Reino Unido, por exemplo, contadores seniores sentem que a falta de comunicação problemática entre auditores e reguladores bancários já foi corrigida.
Isso deve tornar mais fácil uma Ação decisiva caso o financiamento seque para outra instituição financeira britânica, como aconteceu com o Northern Rock em 2008, apesar de não resolver a ineficácia das declarações sobre o conceito de "entidade em marcha" no setor.
Segue sendo bastante improvável que auditores questionem a Liquidez de um banco em público por conta do perigo de que a quebra da instituição se torne uma profecia autorrealizável.
Quanto a baixas contábeis de dívida soberana, o setor contábil parece ter aprendido com as inconsistências dos balanços do primeiro semestre de 2011, quando títulos do governo grego valiam tanto cerca de 80% do seu valor de face como 50%, dependendo de qual banco se analisava.
Os pessimistas ganharam esse argumento e uma abordagem mais harmonizada já está em evidência nesse ponto. Mas apesar da melhora considerável, também parece improvável que os bancos e as seguradoras sejam levados a registrar perdas com títulos de dívida emitidos por outros países da zona do euro - como a Itália - nos seus próximos balanços.
Ainda assim, ninguém descarta a possibilidade de uma retomada repentina do caos visto há três anos, particularmente depois do colapso recente da corretora americana MF Global e das travessuras fora do Balanço da japonesa de Tecnologia Olympus.
Muitas empresas estão sob pressão, particularmente em setores dependentes de gastos do consumidor no Ocidente. Isso, combinado com nervosismo sobre a capacidade dos bancos para continuar emprestando, torna desafiadora a avaliação sobre a continuidade de uma entidade.
Reguladores e auditores também estão destacando a necessidade de as empresas reduzirem algumas avaliações de Ativos a fim de refletir a deterioração das perspectivas econômicas. Intangíveis, como o ágio - o ativo otimista criado quando o Preço de uma aquisição excede o valor dos Bens comprados -, parecem particularmente vulneráveis.
James Kroeker, chefe da área de contabilidade da Securities and Exchange Commission (SEC), regulador do Mercado de ações dos EUA, diz que o questionamento sobre o valor pelo qual estão registrados os Ativos deve percorrer "o Balanço de cima a baixo".
Michael Izza, executivo-chefe do Institute of Chartered Accountants da Inglaterra e País de Gales, relata que alguns bancos da Europa continental devem levar realizar a baixa de alguns ágios por expectativa de Rentabilidade futura depois de uma reavaliação mais pessimista das perspectivas das empresas adquiridas.
Enquanto isso, a importância crescente dos mercados emergentes para multinacionais sedentas por crescimento é uma complicação adicional, que não foi de modo algum um fator importante nos dias sombrios de 2008. Em vez de as extrapolações contábeis misteriosas que se tornaram comuns nas economias maduras, os auditores frequentemente lidam com cenários bem mais básicos em lugares como a China. Nesses casos, é muitas vezes mais uma questão de "você pode encontrar a prova de que o ativo existe?", em vez de "você questionou as projeções da administração?".
No fim das contas, ainda há muito por aí com o que se preocupar - mesmo que os contadores não estejam mostrando sinais de tensão como nos dias iniciais da crise financeira de 2008.
Adam Jones é colunista do Financial Times. As opiniões expressas neste artigo são pessoais.
Valor Econômico


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