LEGISLAÇÃO

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

ECONOMIA


2012: Crises no Brasil

Futura Press
Constatem as crises em Estados cujos governadores podem previamente escolher o par de botas de borracha que usarão nas enchentes e deslizamentos do ...
"Constatem as crises em Estados cujos governadores podem previamente escolher o par de botas de borracha que usarão nas enchentes e deslizamentos do final do ano". Na foto, cheia em Laje do Muriaé (RJ) nesta segunda-feira (9)
Rui Daher
De São Paulo
Em atenção às recorrentes indagações dezembrinas sobre o ano novo, a coluna anterior arriscou dizer que em 2012 o país conseguirá superar as crises alardeadas em nossas queridas folhas e telas.
Pelo título, irá agora se contradizer?
Usando expressão cara aos economistas, repitamos: os fundamentos da economia brasileira são suficientes para resistir às traquinagens do sistema financeiro internacional e às eventuais calmarias nos mares do comércio exterior.
Findamos o ano com reservas 22% maiores, US$ 352 bilhões. A percepção externa do atual estágio do país levou o Tesouro Nacional a referenciar captação de recursos com a menor taxa de juros da história. A inflação ficou no limite da meta e mostra tendência decrescente, assim como os juros. A balança comercial teve superávit de US$ 30 bilhões. Um PIB maior, perto de 3%, em ano turbulento, não é de envergonhar ninguém. Ainda mais com baixo índice de desemprego.
Os horrores por que passamos nas décadas de 1980 e 90 se diluíram com a maturação de uma nova ordem mundial, tardiamente percebida aqui e teimosamente escondida nas economias centrais.
Por alguns anos, ainda será oco esperar arrefecer dramaticamente o crescimento nos principais países emergentes. Não por outra influência, os EUA, depois do baque sofrido em 2008, conseguiram crescer 1,8% no ano passado e começam a recuperar empregos.
Sim, o Brasil depende da exportação de bens primários. Sim, o preço das commodities deverá estabilizar, embora em patamares altos. Também, não somos ou seremos páreo para o Reino Unido, como descoberto por esforçados e jocosos colunistas.
Não é daí, no entanto, que vem a festa brasileira. Ela vem do interior, como escreveram Moraes Moreira e Abel Silva, 30 anos atrás, para Gal Costa cantar.
As fagulhas, pontas de agulhas e estrelas de São João que brilham em nossa economia vêm do fortalecimento do mercado interno, finalmente florescente na esteira de um ganho real de 66% no salário mínimo desde 2002, programas de inserção social e alta absorção de mão de obra.
Onde, então, as várias crises do Brasil?
Nossas crises se sobrepõem aos sólidos fundamentos macroeconômicos. Acobertam camadas do pré-sal, sujam a matriz energética, adulteram biocombustíveis, reduzem resultados do agronegócio, inibem a venda de aviões pela Embraer. Ferram, enfim, tudo de bom que vier pela frente.
Estão em operações que saíram da esfera dos negócios para a das negociatas. Nas cenas de descaso público monotonamente repetidas a cada ano. Na mídia conveniada, que acusa baseada em imediatismos políticos, e depois esquece.
Sintam-nas em prefeituras que permitem postos de saúdes desaparelhados e médicos ausentes. Ou em administradores de metrópoles que, engenheiros civis, não reconhecem uma estrutura de concreto se em pé ou deitada.
Constatem-nas em Estados cujos governadores podem previamente escolher o par de botas de borracha que usarão nas enchentes e deslizamentos do final do ano. Claro que depois dos shows da virada e das queimas de fogos fartamente divulgados pela TV.
Chorem com um Poder Judiciário que, em todos os níveis, não admite ser fiscalizado por Corregedorias. Se preferirem, riam com Câmaras e Assembleias que não passam de producentes balcões de negócios.
Neste país de riquezas e fundamentos mil, o IBGE diz viverem 11,4 milhões de pessoas em favelas, mocambos, palafitas ou grotas. Todos devidamente pacificados, pois não?
Dessas crises, infelizmente, não nos livraremos tão cedo, entranhadas que estão por séculos de dominação de classes, deseducação, incultura e corrupção endêmica.
Rui Daher é administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola.

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