A África se consolida como rota de investimentos para empresas brasileiras, principalmente nos setores de mineração e petróleo. Com mais de US$ 7,7 bilhões já aprovados para projetos na região, a Vale é uma das companhias que apostam alto no continente.
Mas chega tarde nessa disputa por ativos africanos. Consultor de empresas brasileiras na África, o engenheiro José Mendo de Souza, presidente da J. Mendo Consultoria, disse que a China foi mais rápida em enxergar a região como a última fronteira mineral a explorar.
'A China disparou sua avidez por recursos minerais na região antes que o mundo percebesse', afirmou. Um exemplo dessa voracidade chinesa foi a disputa pela mineradora sul-africana Metorex. Mesmo dona de um caixa reforçado, a Vale preferiu sair do páreo assim que a chinesa Jinchuan entrou na disputa com uma oferta para lá de vultuosa. Mas a derrota não mudou os planos da brasileira na região.
Atualmente, a mineradora desenvolve projetos importantes na África, como o de minério de ferro de Simandou, na Guiné, e o carvão em Moatize, em Moçambique. Ela também faz prospecção de negócios em outros países. Além da Vale, a Petrobrás, a Odebrecht e a Camargo Corrêa também apostam pesado na África. 'A Camargo tem uma fábrica de cimento em Angola e está pensando em expandir', lembrou Mendo.
Financiamento do BNDES. Esse maior interesse das brasileiras por investimentos na região tem ecoado também nos corredores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para a superintendente de Comércio Exterior do banco, Luciane Machado, é nítido o crescimento na demanda por financiamentos para projetos na região. 'Essa demanda está na nossa pauta do dia a dia', afirmou.
Segundo ela, esse movimento pode ser facilmente percebido pelo aumento no número de delegações de países africanos que passam pelo BNDES. 'Só no último semestre, o presidente do banco (Luciano Coutinho) recebeu representantes do Quênia e da Guiné', contou.
A demanda levou o banco a preparar estudos específicos para mapear negócios na região. Atualmente, o BNDES trabalha em conjunto com o Itamaraty na preparação de um estudo sobre o potencial de produção de bioetanol em alguns países da África Ocidental, que deve ficar pronto em 2012.
'Percebemos que existe uma diversidade de mercado muito grande, por isso, estudos muito gerais não adiantam', disse.
A melhor explicação para o crescente interesse de companhias brasileiras na região está nas recentes crises globais, que abriram oportunidades para economias emergentes. Para a secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, o fraco desempenho das economias maduras levou o Brasil a buscar oportunidades na África, onde as taxas de crescimento são mais altas do que a média mundial. Além disso, os negócios abrem novos mercados consumidores para empresas brasileiras.
Só em 2011, o intercâmbio comercial entre o Brasil e o continente cresceu 23,5% em relação ao ano anterior, superando a marca dos US$ 25 bilhões. 'O dinamismo das exportações brasileiras para a África contribui para a expansão das vendas externas do País', avaliou. Entre os principais produtos estão açúcar de cana, minério de ferro, milho em grão, trigo e carne bovina desossada.
Do total das exportações brasileiras para o continente africano este ano, US$ 7,578 bilhões foram de produtos industrializados, sendo US$ 4,571 bilhões de produtos manufaturados e US$ 3,007 bilhões de produtos semimanufaturados. A venda de produtos básicos somou US$ 3,448 bilhões.
Os números expressivos de comércio não impedem que a balança comercial brasileira registre déficit com a África desde 1996, por causa da importação brasileira de óleos brutos de petróleo e de nafta para petroquímica, propanos e butanos liquefeitos, gás liquefeito de petróleo (GLP). 'A Nigéria é a maior exportadora para o Brasil de óleos brutos de petróleo, com vendas de US$ 7,488 bilhões', acrescentou.




Protecionismo toma conta da América do Sul, diz Le Monde

Chefes de Estado na 39ª Cúpula do Mercosul, em San Juan, Argentina.
Chefes de Estado na 39ª Cúpula do Mercosul, em San Juan, Argentina.
Reuters

Silvano Mendes
O vespertino Le Monde que chegou às bancas na tarde desta quinta-feira, 29 de dezembro, analisa as medidas tomadas pelos países do Mercosul nos últimos meses para tentar incentivar a produção local. O jornal explica como alguns membros do grupo impuseram novas tarifas alfandegárias para frear as importações.

O correspondente do Le Monde no Brasil explica que diante da crise financeira e a invasão de produtos mais baratos vindos de fora da zona, há vários meses os países da América do Sul multiplicam as tentativas para diminuir as importações. Além das medidas em vigor, os membros do Mercosul ainda pretendem aumentar os impostos de 140 produtos provenientes de outras regiões do mundo, relata o jornal.
O artigo explica que o movimento começou em janeiro de 2011 com a Argentina, quando a presidente Cristina Kirchner anunciou que 600 empresas estrangeiras seriam sujeitas à licenças de importação, um procedimento visando limitar a entrada no país dos produtos vindos de fora. A medida que teve repercussões quase imediatas, como a decisão da empresa canadense RIM, que fabrica os telefones Blackberry e que, diante das restrições, abriu uma fabrica no sul da Argentina, lembra Le Monde.  O vespertino também ressalta que Brasília e Buenos Aires decidiram reforçar o controle das fronteiras e que o governo brasileiro criou novas restrições para a importação de produtos têxteis.
No entanto, ainda de acordo com o jornal francês, a medida protecionista mais espetacular, foi o aumento de 30% nos impostos sobre os carros importados vindos de fora do Mercosul anunciado pelo Brasil. Uma decisão visando diminuir as vendas dos veículos importados, que já registrava uma alta de 35% no primeiro semestre.
Diante das críticas da Organização Mundial do Comércio, que teme uma contaminação protecionista nos mercados emergentes, alguns países já se defendem. Le Monde ouviu a secretária brasileira de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, que explica que todas as decisões protecionistas do Mercosul “foram uma reação provisória diante da degradação do mercado para evitar a contaminação da crise. Nós agimos no âmbito autorizado pela OMC”, reage a representante do governo brasileiro