Balança comercial registra superávit de US$ 29,7 bilhões em 2011
Brasília – O saldo da balança
comercial brasileira em 2011 chegou a US$ 29,7 bilhões e apresentou crescimento
de 47,8% sobre 2010. O resultado é o maior dos últimos quatro anos, sendo
superado em 2007, quando foi de US$ 40 bilhões. As exportações brasileiras no
ano foram recordistas, somando US$ 256,041 bilhões, com aumento de 26,8% sobre o
resultado do ano anterior, o que também aconteceu com as importações (US$
226,251 bilhões, com alta de 24,5%) e a corrente de comércio (US$ 482,292
bilhões, com aumento de 25,7%).
Os resultados foram apresentados hoje, em entrevista coletiva
no auditório do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC). O ministro interino, Alessandro Teixeira, destacou que o crescimento das
vendas brasileiras no ano ser significativo entre as principais economias, sendo
superado somente por Índia (45%), Rússia (32%) e Austrália (32%).
“Com isso, nós vamos crescer com a participação brasileira no
comércio mundial, o que chamamos de market share. Nós temos hoje em
torno de 1,3% de market share e devemos ultrapassar os 1,4%, ganhando
posições no mercado internacional”, disse Teixeira.
A secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Lacerda
Prazeres, avaliou ainda que o crescimento das exportações brasileiras no ano
ocorreu em todas as categorias de produtos: básicos (36,1%), semimanufaturados
(27,7%) e manufaturados (16%). Levando-se em consideração os produtos
industrializados (semimanufaturados e manufaturados), o aumento foi de 19%. Este
resultado é superior ao registrado em outros países durante o ano, como por
exemplo, Estados Unidos (12%), Alemanha (10%) e Austrália (3%).
Mercados
Mercados
Os principais países de destino das exportações em 2011 foram:
China (US$ 44,3 bilhões), Estados Unidos (US$ 25,9 bilhões), Argentina (US$ 22,7
bilhões), Países Baixos (US$ 13,6 bilhões) e Japão (US$ 9,5 bilhões). Já os
maiores mercados fornecedores para o Brasil no ano foram: Estados Unidos (US$
34,2 bilhões), China (US$ 32,8 bilhões), Argentina (US$ 16,9 bilhões), Alemanha
(US$ 15,2 bilhões) e Coréia do Sul (US$ 10,1 bilhões).
Acesse os dados da balança comercial de 2011 http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=567
Assessoria de Comunicação Social do MDIC
Café, milho e açúcar
As exportações de café verde somaram 2,63 milhões de sacas de 60 kg em dezembro, queda de 150 mil sacas ante novembro. Na comparação com dezembro do ano passado, quando as exportações somaram 3 milhões de sacas, a queda foi maior entre outros motivos porque o País em 2010 exportava uma safra de alta no ciclo bienaual do arábica. Em 2011, a colheita foi de baixa no ciclo.
As exportações de café verde somaram 2,63 milhões de sacas de 60 kg em dezembro, queda de 150 mil sacas ante novembro. Na comparação com dezembro do ano passado, quando as exportações somaram 3 milhões de sacas, a queda foi maior entre outros motivos porque o País em 2010 exportava uma safra de alta no ciclo bienaual do arábica. Em 2011, a colheita foi de baixa no ciclo.
Reuters News
- http://not.economia.terra.com.br/noticias/noticia.aspx?idNoticia=201201022018_RTR_SPE801078
Receita com exportação de suco cresce 28% em dezembro
Valor cresceu na comparação com o mesmo mês de 2010, mas caiu 22,5% em relação a novembro de 2011
A exportação brasileira de suco de laranja movimentou US$ 203,6 milhões em dezembro passado, alta de 28,1% sobre os US$ 159 milhões faturados no mesmo mês de 2010 e queda de 22,5% ante os US$ 262,6 milhões de novembro de 2011.De acordo com dados divulgados hoje pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, o volume exportado de suco de laranja no mês passado atingiu 155,1 mil toneladas, queda de 17,1% sobre as 187 mil t de dezembro de 2010 e de 25,2% sobre as 207,4 mil t de novembro de 2011.O preço médio por tonelada exportada de suco em dezembro, de US$ 1.312,80, foi 54,4% maior que os US$ 850,30/t de dezembro de 2010 e 3,7% inferior aos US$ 1.265,80/t de novembro de 2011.
Exportações de couros crescem 148% em Várzea Grande
Autor: Só Notícias/Karoline KuhnOs negócios relacionados com a comercialização de produtos das indústrias de Várzea Grande ao exterior atingiram, de janeiro a novembro de 2011, US$ 34,2 milhões, alta de 28,69% em relação ao mesmo período do ano passado. Os números fazem parte do levantamento feito pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior que ainda divulgará os resultados de dezembro.O principal destaque foi para a exportação de couros bovinos, incluindo os de búfalos, divididos, que correspondeu a 30,61% do total, com US$ 10,4 milhões. O montante é, ainda, 148,86% superior ao total negociado nos mesmos meses de 2010. Em seguida aparece ainda os couros, não divididos, com US$ 6,2 milhões (18,20% do total exportado).O município exportou ainda mais de 30 outros produtos, incluindo máquinas, colchões e milho. O principal destino foi a Itália, com US$ 8 milhões. Estados Unidos (US$ 6,8 milhões), Países Baixos/Holanda (US$ 6,1 milhões), China (US$ 3,3 milhões e outras 20 localidades também aparecem na relação.
Práticas elisivas
Recentemente, o governo brasileiro tem valorizado os instrumentos de defesa comercial para proteger a indústria doméstica contra importações. Práticas tradicionais têm sido revistas, e muito se fala sobre a necessidade de intensificar a aplicação de medidas antidumping provisórias no curso da investigação. - Entretanto, o principal marco na defesa comercial no Brasil, em 2011, foi a abertura da primeira investigação contra práticas elisivas.A lei autoriza, desde agosto de 2010, a aplicação de medidas antidumping a importações de terceiros países, não envolvidos na investigação original, ou a partes, peças e componentes do produto objeto de medidas vigentes, nos casos de práticas elisivas.São consideradas como elisivas a importação de partes, peças e componentes cuja industrialização, no Brasil, resulta em produto similar ao produto sujeito a medida antidumping. E também a importação de produto resultante de industrialização efetuada em terceiro país utilizando partes, peças e componentes originários do país sujeito à medida antidumping. Ou ainda a importação de produto com pequenas modificações que não alteram seu uso ou destinação final.A prática elisiva não se confunde com fraude às importações. Fraudes são violações à lei, e devem ser punidas fiscal e criminalmente. As práticas elisivas reguladas pelo governo brasileiro, por sua vez, são lícitas. Porém, por frustrarem a eficácia de medida antidumping em vigor, serão sujeitas a medida de defesa comercial.No caso da primeira, e única, investigação sobre práticas elisivas em andamento, iniciada em maio de 2011, alega-se que, após a imposição de medidas antidumping sobre as importações de cobertores de fibras sintéticas da China, exportadores chineses começaram a exportar tecidos em rolos de felpa longa ao Brasil e também ao Paraguai e Uruguai, os quais passaram a vender cobertores sintéticos ao Brasil. Ora, a transformação dos rolos em cobertores é muito simples: basta cortá-los em pedaços e costurar a barra. Além disso, a América do Sul não é importadora tradicional de tecidos em rolos de felpa longa da China, e o Brasil não costumava comprar cobertores sintéticos de seus parceiros do Mercosul. Logo, há fortes indícios de que tais práticas visam contornar a medida antidumping original, tornando-a ineficaz na proteção à indústria nacional.Entretanto, é importante esclarecer que a extensão da medida antidumping não é automática. Ao contrário, pressupõe procedimento administrativo, cabendo ao Departamento de Defesa Comercial da Secretaria de Comércio Exterior (Decom/Secex) conduzir a investigação, com duração de seis a nove meses. Garante-se o contraditório e a ampla defesa pelo envio de questionários às partes interessadas.Além disso, a abertura da investigação é condicionada ao cumprimento de requisitos técnicos específicos, por parte da indústria afetada. O autor do pedido descreverá a alegada prática elisiva, os terceiros países envolvidos, eventuais diferenças entre o produto importado e o produto objeto da medida antidumping e quaisquer modificações no produto importado.Investigações envolvendo práticas elisivas não devem ser algo corriqueiro. Prova disso é que, em 14 de junho de 2011, a Secex recusou-se a abrir o que seria a segunda investigação desse tipo, sobre importações de lápis da China, pela inexistência de indícios suficientes.2012: agro brasileiro cresce, porém menos que 2011Após atingir resultados recordes em alguns de seus principais indicadores em 2011, o agronegócio brasileiro prepara-se para um ano "menos positivo". As rachaduras na economia do mundo desenvolvido e seus reflexos em países emergentes, na demanda global por alimentos e nos preços das commodities tendem a provocar a desaceleração do ritmo de crescimento do setor no país.
Mas, de acordo com analistas, produtores, agroindústrias e governo, nada é capaz no cenário atual de impedir novos avanços em 2012, ainda que em menor velocidade.
O valor bruto da produção (VBP) agropecuária, conforme estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), ultrapassou R$ 318 bilhões no ano passado, 8% acima de 2010.
As exportações do agronegócio, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Ministério da Agricultura, chegaram a US$ 87,6 bilhões de janeiro a novembro, 24,4% mais que em igual intervalo de 2010 - e cerca de US$ 5 bilhões embarcados em dezembro ainda vão entrar na conta. Nesse contexto, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor, incluindo todos os elos das cadeias produtivas, é calculado pela CNA em R$ 823 bilhões em 2011, um incremento de mais de 6% na comparação com o ano anterior.
De modo geral, o temor maior envolve as exportações. Beneficiado pelo crescimento dos emergentes, principalmente a China, o campo brasileiro passou bem pela crise deflagrada pela quebra do banco americano Lehman Brothers, em setembro de 2008, e teve duas temporadas extremamente rentáveis na sequência, ajudado pela pujança de seus embarques.
Com o aprofundamento da crise europeia nos últimos meses e a cambaleante situação americana, contudo, reflexos negativos já são sentidos em emergentes e um crescimento menor da demanda do grupo é dado como certo. Se de fato isso acontecer, os efeitos negativos sobre volumes e preços de venda serão inevitáveis, restando aos exportadores ampliar a comercialização no mercado doméstico. Nesse quadro, as rentabilidades seriam menores, mas há confiança de que o consumo interno seguirá forte.
Em 2011, o mercado doméstico foi fundamental para os resultados de alguns segmentos. Nas carnes, que enfrentaram barreiras na União Europeia e na Rússia, o consumo interno colaborou para manter a pecuária aquecida e ofereceu alternativas aos grandes frigoríficos.
Mas os riscos serão maiores. E eles não estão apenas no comércio exterior. Como já ressalvaram diversos analistas, uma desaceleração maior que a prevista pode prejudicar produtores e empresas que vêm registrando crescimentos acelerados nos últimos anos, especialmente os que o fizeram por meio de aquisições, de terras ou concorrentes.
A concorrência por terras agricultáveis tende a ficar mais acirrada a partir das regras de proteção ao ambiente previstas no novo Código Florestal, em fase final de discussões, e da normatização das compras de terras por estrangeiros no país, que não avançou em 2011 e paralisou transações e investimentos.
No momento, a maior parte das projeções indica manutenção ou crescimento de até 2% do PIB do agronegócio em 2012. Especificamente na agropecuária, o Banco Central trabalha com uma expectativa de avanço de 2,5% do PIB.
É preciso aguardar os rumos da crise nos países desenvolvidos e o próximo plantio no hemisfério norte, em meados deste ano, para prever o que poderá acontecer na próxima temporada de grãos (2012/13).
Também as ferramentas do governo para apoiar a produção, como crédito rural com juros baixos, subsídios ao escoamento das colheitas e linhas de crédito do BNDES dependerão de um orçamento federal mais apertado. Mas depois dos resultados de 2011, quando até o pagamento de dívidas agrícolas foi antecipado, o setor julga-se preparado para um ano menos positivo.
jornal Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.
O Brasil precisa aprender a manipular a China Valor Econômico
A pressão inflacionária e da nova classe média que chega ao mercado consumidor - com exigência de produtos a baixo custo - tornarão as medidas de proteção à indústria brasileira em relação à China inviáveis e meros paliativos. Esta é a opinião do coordenador do Centro de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio, Matias Spektor, para quem a melhor solução para o Brasil enfrentar o desafio chinês é criar uma grande operação diplomática de aproximação ao país asiático. "O Brasil precisa aprender a manipular a China", afirma Spektor, que defende a necessidade da criação de uma embaixada "possante", com funcionários que falem mandarim e conheçam os centros de poder de Pequim.
Para Matias Spektor, o Brasil precisa deixar de ter medo. Seja diante da China - há uma crescente sinofobia no país, avalia - ou de outras potências, pois também está em bom momento. Precisa "entrar no radar" dos Estados Unidos. Deve assumir os riscos embutidos no projeto de ocupar uma cadeira do Conselho de Segurança das Nações Unidas. "Vai ter pressão naturalmente. Mas se não quer brincar, não desce para o playground", diz.
Spektor afirma que a presidente Dilma Rousseff acertou, em seu primeiro ano, ao visitar a China, a Argentina e receber o presidente americano Barack Obama, para uma distensão do péssimo clima que marcou o fim do governo Lula. Em sua opinião, Dilma já marcou uma guinada em relação ao antecessor. Quebrou a tradicional resistência brasileira a intervenções militares em países com regimes ditatoriais, ao aceitar o princípio da "responsabilidade de proteger" (a população) e sugerir uma mudança em direção à "responsabilidade ao proteger". Matias Spektor lembra que, no caso da Líbia, a abstenção do Brasil foi seguida pelos Brics e pela Alemanha, o que demonstra a capacidade de liderança do Brasil. Capacidade essa que precisa ser mantida mesmo depois de o país deixar a cadeira rotativa no Conselho de Segurança. "O Brasil precisa aproveitar o momentum", diz, ponderando que o principal risco para o avanço na política externa são os eventuais problemas que Dilma enfrentar em sua agenda interna. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Matias Spektor ao Valor:
"O Brasil precisa entrar no radar; pode se machucar, mas se não quer brincar, não desce para o playground"
Valor: Qual a maior diferença entre Dilma e Lula na diplomacia?
Matias Spektor: Dilma pegou, logo no início, o Brasil como membro rotativo do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com uma série de votações cruciais, que autorizaram o uso da força na Líbia. Esse é o primeiro tema: como o Brasil lidou com intervenção humanitária. E aí há um componente de inovação importante. Dilma aceitou o princípio da responsabilidade de proteger, que é uma nova doutrina de intervencionismo, e sugeriu uma mudança, uma adequação a essa doutrina, que ela chamou de responsabilidade ao proteger.
Valor: Qual a diferença entre os dois princípios?
Spektor: A responsabilidade de proteger diz que é legítimo para a comunidade internacional intervir em situações onde os chefes de Estado abusam dos direitos de seus próprios cidadãos. Líbia e Síria, por exemplo.
Valor: Quando prevaleceu?
Spektor: Ele começou a circular em meados da década de 2000 e foi implementado pela primeira vez de fato na intervenção na Líbia. Dilma disse: "Isto veio para ficar. Mas a gente precisa impedir que isto seja utilizado pelas grandes potências como instrumento de asserção neocolonial". A gente precisa assegurar que o processo de intervenção vai proteger civis e causar menos danos do que causaria o ditador. É um cálculo para causar o mal menor. É uma transformação importante para a política externa brasileira, que tradicionalmente resiste a qualquer ideia de intervencionismo. Nisso, a Dilma marcou uma mudança, uma guinada.
Valor: E sobre a questão dos direitos humanos?
Spektor: É o segundo ponto. O Brasil fez mudanças muito tímidas no quesito direitos humanos, no Conselho de Direitos Humanos da ONU. A comunidade internacional ainda entende que o Brasil não adere ao grupo de países que está avançando com força a agenda de proteção internacional dos direitos humanos. Não se vê uma guinada importante da Dilma em relação ao período anterior.
Valor: Que mudanças tímidas ocorreram?
Spektor: O Brasil, no Conselho de Direitos Humanos, passou a condenar abusos, por exemplo, no Irã, coisa que antes não fazia. É uma mudança, mas tímida.
Valor: A mudança em relação ao Irã não é algo importante?
Spektor: É um gesto relevante, mas simbólico. Isso recebeu muita atenção na mídia brasileira, mas não provocou ondas fora do país. Os direitos humanos não são interpretados como uma marca distintiva do governo Dilma em temas internacionais.
Valor: Que país tem essa marca a ponto de pô-la acima de interesses comerciais?
"Não está clara a responsabilidade ao proteger; o Itamaraty já produziu a primeira explicação; precisa de mais"
Spektor: O Canadá encontrou uma diplomacia de nicho nessa temática. O Chile e a Argentina, também. É uma questão de graus. Nenhum país abre mão de seus interesses econômicos. Agora, a percepção dominante é de que o governo Dilma - assim como o de Lula e o de Fernando Henrique - teme que a pauta dos direitos humanos seja utilizada por grandes potências para conseguir um cheque em branco para novas intervenções.
Valor: Qual foi o resultado da visita da presidente à China?
Spektor: Ela não tocou no tema dos direitos humanos. Houve três visitas importantes: à China, à Argentina e a de Obama ao Brasil. O governo Dilma coincide com a mudança do eixo de gravidade do comércio exterior do Brasil em direção ao Leste Asiático, em particular, à China, que se transformou no principal parceiro comercial. Essa transformação tem um impacto geopolítico para o Brasil. É a ideia de que ambientes como o Bric [grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China], o Ibsa [ou Ibas, que reúne Índia, Brasil e África do Sul] e o G-20 são relevantes não apenas porque se trata de países emergentes que têm cada vez mais voz, mas se trata de ambientes onde o Brasil tem oportunidades para dialogar com a China. O Brasil não tem uma tradição de diálogo em negociação com a China. Não tem experiência acumulada em manipular a China em favor próprio. Não tem fácil acesso à vida política de Pequim. Crescentemente, o Brasil precisa disso. Porque qualquer deterioração na relação com a China, agora, tem um impacto sobre a economia brasileira que antes não tinha. O Brasil depende muito mais da China do que eles do Brasil. E portanto o Brasil precisa aprender a manipular a China.
Valor: Como se faz isso?
Spektor: Precisa chegar a Pequim e ter uma embaixada possante, com muitos e ativos diplomatas. Ter pessoas que saibam falar mandarim. Conhecer os centros de poder chineses. Expôr o Brasil a essas pessoas. Ter política de propaganda e marketing. A gente precisa de atenção da China. Isso não vai vir de graça. Demanda uma operação diplomática. Por isso foi excelente a visita da Dilma à China.
Valor: Existe no Brasil o aumento do temor em relação à China?
Spektor: Existe uma sinofobia crescente no Brasil que leva a demandas de caráter protecionista, que são uma aposta errada. A pior coisa que a gente pode fazer é usar políticas protecionistas. Precisamos desenvolver os instrumentos para poder pressionar a China. Os Estados Unidos são um parceiro não explorado do Brasil para lidar com o desafio chinês.
Valor: Como poderia se desenvolver essa parceria?
Spektor: Em muitas instâncias, o Brasil e os Estados Unidos têm interesses similares diante da China: política monetária, comercial, até mesmo política ambiental.
Valor: Medidas protecionistas não devem ser calibradas diante do risco de desindustrialização?
Spektor: Esses remédios são todos paliativos. Não resolvem a causa. Qual é a solução? Investimento em educação, competitividade. Não é proteger o mercado brasileiro e terminar punindo o consumidor brasileiro. Com a nova classe média brasileira, com 30 milhões de pessoas no mercado consumidor, você quer preços baixos. Tem que usar isso como combate de inflação. Como você vai punir sua própria população?
Valor: Com a nova classe média fica mais difícil defender politicamente medidas protecionistas?
Spektor: Sim, e devido às pressões inflacionárias do Brasil.
Valor: E a visita do Obama?
Spektor: Obama veio visitar a Dilma para desanuviar uma relação que estava péssima. O final do governo Lula coincide com um momento muito ruim na relação com os Estados Unidos. Por causa de Honduras, da Declaração de Teerã e do acordo sobre a mudança do clima. Obama não manifestou apoio à candidatura do Brasil para uma cadeira no Conselho de Segurança, mas fez uma coisa muito importante: manifestou apreço pelo pleito brasileiro. Isso quer dizer o que em diplomatês? Que o Brasil pode levar o tema em suas conversas bilaterais com os Estados Unidos e que dependerá do Brasil desenvolver o argumento.
Valor: Até que ponto a boa vontade americana é jogo de cena?
Spektor: A pauta da reforma do Conselho não está sobre a mesa. Ele não será reformado por agora. O que o Brasil pode fazer é desenvolver o argumento de que é um jogador relevante. Como o Brasil prova isso? Propondo coisas como a responsabilidade ao proteger e dizendo aos Estados Unidos: "Vamos codificar isto. Responsabilidade de proteger, pura e simples, não basta. Vocês vão ter muitos problemas se quiserem avançar essa agenda". E, de fato, na resolução que autorizou o uso da força na Líbia, não foi apenas o Brasil que se absteve. Os Brics e a Alemanha se abstiveram. Então, essa é uma oportunidade para o Brasil dizer: "Vamos codificar a responsabilidade ao proteger e tomar a liderança no processo".
Valor: Isso contraria um certo temor tradicional sintetizado na frase de Fernando Henrique Cardoso na qual o ex-presidente defendia que "quanto menos a gente entrar no radar dos Estados Unidos, melhor".
Spektor: O Brasil precisa entrar no radar. Não tem como você ser uma nova potência e ocupar uma cadeira na cena principal da ordem global sem estar no radar.
Valor: Quais são os custos?
Spektor: Ter que se posicionar fazendo propostas concretas de como melhorar a ordem global. Qual é o risco? Que a agenda interna da Dilma, a manutenção da coalizão, a economia brasileira em desaceleração, que essa agenda termine limitando o espaço que ela tem para fazer política externa.
Valor: É preciso se fortalecer internamente para ter essa postura?
Spektor: Se você olha para os governos, tanto do Fernando Henrique quanto o do Lula, ter estabilidade em casa geralmente é um pré-requisito para ser ativista fora do país. Por isso, acredito que o melhor da política externa da Dilma ainda está por vir.
Valor: O tamanho da economia de um país é necessariamente a medida de sua capacidade de influenciar a comunidade internacional?
Spektor: Não, a Turquia é um exemplo. Está aloprando, arrebentando a boca do balão. É muito ativista. Ela "punches above her weight". Ou seja, joga numa linha de gente grande. Ela tem uma economia muito menor que a nossa e um sistema político supercomplexo. Mas tem ideias, coragem, um chefe de Estado que curte o tema e um chanceler ativista.
Valor: Em 2010, a Turquia estava ao lado do Brasil na mediação da polêmica questão nuclear iraniana.
Spektor: Quem patrocinou o acordo da Declaração de Teerã foram Brasil e Turquia com o Irã e as Nações Unidas. Agora, se está indo para mais uma rodada. Quem está lá? As Nações Unidas, o Irã e a Turquia. E o Brasil, não.
Valor: Dilma mudou o papel do Brasil?
Spektor: É uma mudança, ou uma reação de fora à percepção de que a gente não é tão facilitador assim.
Valor: Lula exerceu e foi criticado por esse ativismo, em relação ao Irã e até no conflito árabe-israelense. As críticas procediam?
Spektor: A gente mostrou que o Brasil tem como influenciar. O Lula entrou para o radar. Mas, uma vez que você está no radar, vai ter pressão naturalmente. Se não quer brincar, não desce para o playground. Pode se machucar. Mas se a gente não quiser se machucar, não pode querer uma cadeira no Conselho de Segurança. A gente está dizendo que quer brincar. E tem jogo hoje em dia no mundo. Todas as áreas de governança global estão abertas para negociação, devido à crise de 2008, à crise de legitimidade do poder americano, à crise europeia. Está tudo aberto.
Valor: E a visita à Argentina?
Spektor: Essa é uma relação crucial porque é a pedra de toque da estabilidade na América do Sul. Há duas questões. A primeira tem a ver com a relação bilateral. A Argentina está atravessando um processo delicado de aumento muito importante de sua dependência em relação ao Brasil e do aumento dos anseios em relação ao que o Brasil pode vir a fazer. O Brasil retomou seu programa nuclear. Está completando Angra 3 e contratando a construção de dois submarinos nucleares. Portanto, a decisão de Dilma de gerar uma série de acordos de cooperação nuclear foi fundamental.
Valor: E a segunda questão?
Spektor: A relação Brasil-Argentina impacta também na dimensão regional. O processo do Mercosul é cheio de problemas. A Unasul também é um processo complicado de integração regional. No último ano, assistiu a um avanço tímido, mas é um avanço. E isto é importante para o Brasil. Porque, cada vez mais, os vizinhos temem o avanço do capitalismo brasileiro, no Paraguai, na Bolívia, no Equador, no Peru. Nesses quatro países, no último ano, a gente viu uma resistência importante ao Brasil.
Valor: Como foi essa resistência?
Spektor: Manifestações de rua na Bolívia contra obras brasileiras; manifestações do governo [do presidente do Paraguai, Fernando] Lugo contra a política brasileira em relação à Interpol; as manifestações dos candidatos presidenciais peruanos em relação a contratos de grandes empreiteiras brasileiras, principalmente na área de hidrelétricas; a decisão do governo [do presidente do Equador] Rafael Correa de olhar com lupa os contratos assinados pelo BNDES. O argumento subjacente é: o Brasil é um país grande, cada vez mais poderoso. Para muitos deles, o Brasil já é fonte de crédito e de investimento. A única solução para o Brasil é uma política muito assertiva, bilateral, de integração regional, mostrando a esses países que eles têm mais a ganhar seguindo o Brasil do que resistindo.
Valor: O que deve fazer o Brasil nos próximos anos?
Spektor: No fim deste mês, o Brasil deixa a sua cadeira rotativa no Conselho de Segurança. Foram dois anos nos quais o país recebeu mais críticas da comunidade internacional, em anos: pela Declaração de Teerã, pela posição em relação a Líbia e Síria. Qual é o próximo grande passo que a Dilma deveria fazer em política externa? É dizer: "Vamos aprender lições desses dois anos, o que fizemos de certo, de errado, e como não perdermos momentum".
Valor: Ficar no palco ainda.
Spektor: Isso. Ficar no play. Ela está com todas as condições de deixar uma marca importante como estadista. E tem capacidade, por sua personalidade, de aprender com os erros passados. E com os sucessos.
Valor: Quais foram os erros?
Spektor: Houve pouca compreensão fora do Brasil sobre a Declaração de Teerã, sobre a abstenção brasileira no caso da Líbia e há pouca compreensão hoje sobre a posição brasileira em relação à Síria. Ainda não está claro o que significa responsabilidade ao proteger. O Itamaraty já produziu a primeira explicação, em novembro. Precisa de mais. São quatro áreas em que o Brasil precisa comunicar melhor ao mundo.
Valor: O Brasil está fazendo a coisa certa, mas não está divulgando?
Spektor: O grande desafio para o Brasil em ascensão é poder comunicar as suas intenções. A gente não pode ficar calado quando recebe uma hostilidade. Quando a embaixadora americana nas Nações Unidas questionou as credenciais democráticas do Brasil em política externa por causa da Líbia, a gente deveria ter respondido à altura. Mais do que marketing, a gente precisa de uma política de comunicação internacional.
Valor: E como isso é feito?
Spektor: Com mais planejamento diplomático e perder timidez da imprensa internacional.
Valor: Como a timidez se revela?
Spektor: Embaixadores que correm da imprensa. Acaba uma sessão do Conselho de Segurança, todos os embaixadores saem para falar com a imprensa. Preste atenção no que acontece com o embaixador do Brasil. O Brasil faz muito mais - e melhor - fora de suas fronteiras do que o mundo sabe.
http://www.portogente.com.br/texto.php?cod=60562
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