Taxa cambial depende da política monetária atual
Existe um certo consenso entre os observadores econômicos de que o Comitê de Política Monetária (Copom) manterá a taxa Selic em 10,75% até o final do ano. Baseia-se na ideia de que não se muda a taxa básica de juros na véspera de eleição presidencial. E a última reunião do Copom será muito perto do Natal. No entanto, há um acúmulo de dados em relação à inflação que justificariam elevar a taxa Selic, na tradição do Copom.
A pesquisa Focus, divulgada ontem, trouxe uma revisão para cima nas previsões dos quatro índices de preços para 2010 e 2011. O índice geral de preços IGP-10 para outubro, divulgado na mesma data, mostrou aumento de 1,15%, ante 1,12% no mês anterior, assinalando que os produtos agrícolas tiveram uma grande responsabilidade nessa alta, mas a valorização do real ante o dólar, que favoreceu um aumento das importações, teve papel importante na contenção dos preços.
O governo continua estudando medidas para reduzir o influxo de capitais estrangeiros para o País - causa da valorização - e pretende intervir nas regras do mercado futuro da BM&F, sem querer reconhecer que o fator principal desse influxo está na atual conjuntura internacional, caracterizada por um excesso de liquidez e pela falta de oportunidades de aplicação nos países do Primeiro Mundo, com taxas de juros quase nulas, enquanto o Brasil oferece remuneração de 10,75% - que, mesmo com o IOF de 4%, ainda é muito atrativa.
O que está em questão é a função da própria taxa Selic, que, incontestavelmente, teve um papel importante ao nos proteger da crise financeira mundial de 2008/2009. Atualmente, ela não só atrai capital estrangeiro em excesso, como contribui para aumentar o déficit público, pois o governo paga essa taxa para captar recursos no mercado interno e ela serve de base para juros na economia nacional.
Diante de uma nova realidade, parece necessário rever a taxa básica - a mais alta do mundo - e examinar se não se pode recorrer, paralelamente, a outros instrumentos de política monetária para conter pressões inflacionárias que, no Brasil, têm duas fontes principais: o déficit público e o excesso de demanda doméstica.
Poder-se-ia, por exemplo, recorrer a uma elevação do recolhimento compulsório sobre os depósitos para reduzir o crescimento dos empréstimos às famílias, com o compromisso paralelo do governo de diminuir seus gastos correntes.
Caindo a taxa básica, podemos ter certeza de que haveria desvalorização do real. Só as preocupações eleitorais impedem esse salto.
O Estado de São Paulo
Meirelles diz que governo está atento para evitar efeitos colaterais da valorização do real
Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O presidente do Banco
São Paulo – O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse hoje (18) que o governo tem acompanhado com atenção o fluxo cambial e afirmou que, sempre que necessário, tomará medidas para evitar danos à economia brasileira. “O risco seria grande se não existisse uma ação prudencial a respeito”, disse Meirelles logo após participar de encontro da Associação Brasileira das Empresas de Leasing (Abel), em um hotel da zona sul de São Paulo.
“Compete às autoridades de cada país prevenir a formação de bolhas [de ativos]", ponderou Meirelles, referindo-se aos efeitos da política norte-americana de manutenção de juros em baixa, o que tem provocado maior ingresso de dólares com o movimento de investidores estrangeiros no mercado financeiro brasileiro.
Uma das ações citadas por ele é o enxugamento da liquidez, que tem levado ao acúmulo de reservas internacionais, que já atingem US$ 280,096 bilhões. Ele lembrou que o ganho obtido pelo Brasil no período da crise financeira de 2008 ultrapassou o custo de carregamento das reservas. No início do mês, o governo também reforçou a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) como forma de evitar a entrada excessiva de dólares.
O presidente do BC observou que essa não é uma preocupação exclusiva do Brasil. A desvalorização do dólar também preocupa outros países emergentes e até nações ricas como a Suíça e o Japão.
Meirelles reiterou a importância de um acordo multilateral para que haja maior garantia contra situações de crise que possam implicar em riscos sistêmicos, mas disse que “isso será discutido no devido tempo”.
Agência Brasil
Brasil e China são inimigos no câmbio
DE SÃO PAULO
"Na guerra cambial, o Brasil não pode ficar do lado da China, país que roubou milhões de empregos por praticar um capitalismo desleal, com subsídios tributários, trabalhistas e cambiais." A afirmação é do economista Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de comércio exterior da Fiesp, em entrevista ao repórter Toni Sciarreta para a Folha (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal).
Segundo o economista, é "escandalosa" a carona da China na desvalorização mundial do dólar.
Folha de São Paulo
FMI nega que haja guerra de divisas
DA EFE, EM XANGAI
O primeiro subdiretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), John Lipsky, negou nesta segunda-feira que esteja ocorrendo uma guerra de divisas, apesar das muito baixas taxas de juros nas economias mais avançadas do planeta, pois são medidas "orientadas à situação doméstica".
Lipsky participou de uma entrevista coletiva à imprensa junto a Yi Gang, vice-presidente do Banco Popular da China, após a reunião organizada pelas duas instituições em Xangai sobre "Políticas Macroprudenciais, uma Perspectiva Asiática", com presença de dirigentes bancos centrais de alguns países.
O encontro foi presidido pelo diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, e pelo governador do banco central chinês, Zhou Xiaochuan, mas nenhum deles concedeu entrevista à imprensa e foram seus subordinados diretos os que explicaram as conclusões do dia.
"Virtualmente todas as economias avançadas estão caindo a juros de quase 0%", ressaltou Lipsky. "O impacto dessa política nessas economias, no contexto de um baixo crescimento e uma muito baixa inflação, ainda é incerto".
"Claramente", continuou, "essas políticas estão voltadas à situação doméstica, não a implicações internacionais".
O subdiretor do FMI destacou que "a política monetária e fiscal nas economias avançadas e as políticas orçamentárias e estruturais nas dinâmicas economias emergentes" devem ser discutidas "de maneira exaustiva e coerente, em vez de nos atermos a um só aspecto".
Para evitar uma guerra de divisas, ele considera necessário "o reequilíbrio das fontes de crescimento, longe da política orçamentária e de estímulos orçamentários", mas fomentando a iniciativa privada.
Dessa maneira, as economias emergentes devem se concentrar em "desenvolver a demanda doméstica", enquanto as "econômicas com um deficit persistente" devem tentar "melhorar sua rede de exportações por meio das políticas nacionais apropriadas".
"Esta é a maneira adequada de ver este assunto e a maneira de nos assegurar que não haverá uma guerra de divisas", concluiu Lipsky.
Por sua vez, em discurso a portas fechadas e posteriormente divulgado à imprensa, Strauss-Kahn reiterou que o século XXI "pode ser o século da Ásia", mas que, "com isso, vem uma grande responsabilidade, para guiar e tornar própria a agenda de colaboração" necessária para tornar mais seguro o sistema financeiro mundial.
"Segundo as tendências atuais, a economia da Ásia poderia ser tão extensa como a dos Estados Unidos e da União Europeia juntas para 2015", afirmou a autoridade máxima do FMI.
Ele lembrou também que a Ásia tem uma "importante voz" não somente no Grupo dos 20 (G20, países ricos e emergentes), mas também no FMI, que está "em vias de dar mais influência aos mercados emergentes dinâmicos".
Strauss-Kahn destacou, no entanto, que muitos consideram os pedidos de "responsabilidade" uma indireta para a China, acusada por seus parceiros comerciais de manter sua moeda artificialmente desvalorizada.
Na origem do que se começou a chamar de "guerra de divisas" está a China, com sua política de manter o yuan depreciado, apesar das acusações de que Pequim o faz para favorecer suas exportações.
A postura do coverno chinês levou outros países asiáticos, como Japão e Coreia do Sul, a tomarem medidas similares, enquanto países emergentes como Brasil, Índia, Peru e Tailândia gozam de pujança econômica - ausente em países desenvolvidos - após a crise financeira global.
Isso está provocando uma chegada em massa de investimentos estrangeiros que empurram suas moedas para cima, e os países tentam controlar a valorização de suas divisas para não perder competitividade.
Neste contexto, Yi assinalou que, na China, "continuaremos a reforma de nosso regime cambial de maneira gradual". Sobre o yaun disse esperar "que se mantenha estável e próximo a uma taxa de juros determinada pelo mercado".
"Temos de continuar nossa política para termos certeza de que a economia crescerá e que a recuperação será sustentável", ressaltou.
A China buscará se transformar em uma economia mais voltada à demanda interna, o que coincide com seus planos para o progressivo desenvolvimento rural no vasto interior do país.
Lipsky e Yi disseram que a principal conclusão do encontro desta segunda-feira é que há bastante consenso entre os 187 países-membros do FMI sobre a ideia de que é necessário continuar a "cooperação global" para desenvolver políticas que permitam construir um sistema financeiro mundial mais seguro que antes da crise.
Folha de São Paulo
Alta das moedas dos países asiáticos ameaça crescimento na região
DA FRANCE PRESSE, EM TÓQUIO
A profusão de capitais na Ásia oriental provocou uma forte valorização das moedas locais, o que pode afetar as exportações destes países e ameaçar o crescimento, adverte o Bird (Banco Mundial) em um relatório sobre as economias regionais.
"A grande entrada de capitais na região, combinada com pressões inflacionárias e a alta dos preços imobiliários representam um desafio político e um risco crescente para a estabilidade macroeconômica da Ásia", afirma o documento.
Provocado pelas baixas taxas de juros nos países ocidentais e pela confiança dos investidores nas economias asiáticas, esta torrente de dinheiro é a principal responsável pela alta de 10 a 15% da cotação da moedas da região na comparação com o nível anterior à crise, em termos reais, segundo o Bird.
Entre as divisas asiáticas, o relatório destaca, no entanto, que o yuan chinês progrediu de maneira moderada, ao redor de 4% em relação às moedas de seus parceiros comerciais no decorrer do ano.
O governo dos Estados Unidos acusa a China de conter a valorização do yuan para conquistar mercados externos. Analistas temem uma "guerra cambial" em escala mundial, na qual cada país tentaria desvalorizar a própria moeda para reforçar a competitividade de suas empresas no exterior.
As exportações da Ásia oriental continuam "vigorosas" no momento, afirma o Bird, "mas uma persistência da valorização de suas moedas pode reduzir seu crescimento".
A região, que compreende a China e o sudeste asiático (sem Japão e Coreia do Sul) é a locomotiva da economia mundial, com um crescimento de 8,9% esperado para 2010 e de 7,8% em 2011. Uma desaceleração pode ter consequências em escala planetária. A China deve crescer 9,5% em 2010 e 8,5% em 2011, segundo o Bird.
Para limitar os riscos, o Banco Mundial sugere que estes países tenham um enfoquem comum dentro da Asean (Associação de Países do Sudeste Asiático), que reúne 10 países da região, e da Asean+6, que também inclui China, Japão, Coreia do Sul, Índia, Nova Zelândia e Austrália.
A próxima reunião dos dois fóruns acontecerá no fim de outubro em Hanói.
Folha de São Paulo
Coreia não está intervindo no mercado de câmbio, afirma ministro
Governo está preparando, porém, medidas para lidar com potenciais problemas causados pelos pesados fluxos de entrada de capital no país, segundo Ministério de Finanças
Danielle Chaves, da Agência Estado
SEUL - O ministro de Finanças da Coreia do Sul, Yoon Jeung-hyn, afirmou que o governo não está intervindo no mercado de câmbio para enfraquecer a moeda local, o won, em relação ao dólar. O ministro disse, no entanto, que o governo está preparando medidas para lidar com potenciais problemas causados pelos pesados fluxos de entrada de capital no país.
"O governo não está desviando sua política cambial para promover as exportações do país. Nós vamos apenas deixar a taxa de câmbio se mover em linha com os fundamentos econômicos do país e com as condições de oferta e demanda", disse o ministro durante uma audiência parlamentar. Suspeita-se que o Banco da Coreia tem comprado dólares nos últimos meses para desacelerar os ganhos do won, que avançou cerca de 15% diante da moeda norte-americana desde as mínimas atingidas em maio.
No entanto, o ministro observou que as autoridades vão agir se o mercado ficar excessivamente inclinado para um lado. Segundo a agência de notícias Yonhap Infomax, o ministro afirmou na audiência que, além das restrições já anunciadas para as posições de câmbio futuras dos bancos, o governo está preparando outras medidas, embora agora não seja um bom momento para revelá-las. As informações são da Dow Jones.
Agência Estado
Banco Mundial culpa EUA por fluxo de capital a emergentes
DA REUTERS, EM TÓQUIO
O salto dos fluxos de capital ameaça a estabilidade econômica da Ásia, disse o Banco Mundial nesta terça-feira.
O banco ressaltou o argumento defendido pela China e por outros países de que as políticas norte-americanas estão causando uma onda de fluxo de capital para os mercados emergentes, abatendo a competitividade das exportações desses países, elevando a inflação e formando bolhas de ativos.
"Estamos vendo um esforço do leste da Ásia em desenvolvimento para lidar com as grandes quantias de liquidez resultantes, em grande parte, do afrouxamento monetário nos Estados Unidos", disse Vikram Nehru, economista-chefe do Banco Mundial para a região Ásia-Pacífico.
"As autoridades da Ásia precisam tomar precauções adequadas para assegurar que não repitam os mesmos erros duas vezes em pouco mais de uma década", acrescentou ele, referindo-se à crise asiática de 1997/1998.
Folha de São Paulo
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