Chineses invadem o Salão do Automóvel
Uma em cada cinco marcas de carros que estarão no Salão Internacional do Automóvel deste ano é chinesa. São 42 fabricantes nacionais e importadores de 13 países, entre os quais nove montadoras chinesas, que exibirão desde modelos compactos até peruas de luxo e carros elétricos.
Há quatro anos, somente uma chinesa (a Chana) participou do evento, que completa 50 anos de existência. As chinesas JAC Motors, Brilliance e Haima lançam no salão, aberto ao público a partir de quarta-feira, nove carros que comercializarão no país a partir de 2011. Para importar e distribuir os modelos, as empresas que representam essas três marcas no Brasil investiram juntas cerca de R$ 300 milhões, incluindo gastos com logística, abertura de concessionárias e propaganda.
Os carros chineses já respondem por cerca de 13% das importações feitas por empresas independentes, participação que há um ano estava abaixo de 1%, segundo a Abeiva (associação dos importadores de veículos). Até setembro, foram vendidos no país 9.544 carros e comerciais leves chineses.
O desafio para avançarem no mercado, segundo especialistas, são questões como segurança, qualidade e emissão de poluentes.
"Os chineses de amanhã são os coreanos de hoje", diz o empresário Sérgio Habib (do grupo SHC e ex-presidente da Citroën), responsável pela vinda da JAC Motors, ao se referir à maior participação das asiáticas no Brasil.
A tendência é que as quatro maiores fabricantes (Fiat, Volks, GM e Ford) percam espaço para sul-coreanas e chinesas, diz Habib. "Em nenhum outro país quatro marcas concentram 75% do mercado como ocorre aqui."
A venda dos carros JAC Motors será feita de forma simultânea em 46 concessionárias (34 do grupo SHC) em 18 de março. Foram R$ 200 milhões investidos e devem ser criados mil empregos. A previsão é vender 3.500 veículos (J3, J5 e J6) por mês e 35 mil em um ano para ter 1% de participação no mercado.
Os preços do compacto J3, com acessórios, variam de R$ 37,9 mil (hatch) a R$ 39,9 mil (sedã). "Dois terços das pessoas que compram carro hoje andavam de ônibus há dez anos ou tinham usados. Não são fiéis a marcas e consideram a relação custo-benefício", afirma Habib.
Do dogueiro ao luxo - Há dois anos no Brasil vendendo os utilitários Towner (Hafei) e Topic (Jinbei), a importadora CN Auto traz ao país, no primeiro trimestre de 2011, três carros de passeio da Brilliance (fabricante oficial da BMW na China).
A empresa planeja vender 1.500 unidades dos modelos FRV (hatch), FRV Cross e FSV (sedã médio) -e trará também o Splendor, uma mistura de sedã e perua de luxo, para teste no país.
Sem detalhar cifras, Ricardo Strunz, diretor-geral da importadora, diz que os preços serão "competitivos".
"Com a Towner e a Topic, atendemos pequenos comerciantes e empresários que estavam sem opções no país. Com a Brilliance, vamos atender os brasileiros com modelos de passeio."
A CN Auto tem hoje 41 concessionárias e planeja abrir outras cinco até dezembro. Em 2011, quer chegar a 60. A Districar, importadora e distribuidora da sul-coreana SSauoyng e da chinesa Chana (a primeira a chegar), traz em janeiro três modelos da marca Haima (hatch, sedã e SUV). No primeiro trimestre, abrirá dez concessionárias.
"O primeiro passo é chegar e conhecer o mercado. O segundo, abrir fábrica", afirma Floriano Gardelli, gerente comercial de rede Districar.
A Chery investirá US$ 400 milhões numa primeira etapa para abrir fábrica em 2013 e produzir um compacto em Jacareí (SP).
Já manifestaram interesse em se instalar aqui BYD, Lifan, Chana e Hafei e JAC (caminhões). A Dongfeng se reuniu com o governo paulista na semana passada e negocia com seis empresas para representá-la no país.
Folha de São Paulo
Montadoras mostram sua força e preparam pedidos ao governo
À primeira vista, o salão do automóvel pode parecer mais uma exposição de sucesso, que atrai aficionados por carros e famílias em busca de diversão, além de boas oportunidades de negócios. Mas, em 50 anos de história no Brasil, essa feira tem servido também para a indústria automobilística mostrar tamanho e poder aos governos. Por coincidência ou não, algumas das medidas governamentais de peso voltadas à indústria automotiva surgiram pouco tempo depois das exibições de carros em São Paulo.
Não foi somente Juscelino Kubitschek que marcou sua ligação com o setor ao desfilar a bordo do primeiro Fusca fabricado no Brasil, no ano anterior ao do primeiro salão do automóvel brasileiro. Itamar Franco também foi buscar na indústria dos carros uma marca para sua gestão. Uma de suas primeiras aparições como presidente da República, logo após o impeachment de Fernando Collor de Mello, foi no salão do automóvel de 1992. Poucas semanas depois, em janeiro de 1993, Itamar ressuscitou o mesmo Fusca, por meio do programa do carro popular.
Desnecessário citar a famosa declaração de Collor, que chacoalhou as montadoras ao comparar os automóveis brasileiros às carroças. Graças a isso, já faz 20 anos que muito mais importados circulam pelo país. Foi justamente o salão de 1990 que marcou a fase, atraindo ao pavilhão do Anhembi os que queriam ver de perto as primeiras Ferraris e Mercedes, em um Brasil de mercado mais aberto.
Em nenhum momento ao longo dessas duas décadas, no entanto, os fabricantes se mostraram tão perturbados com a presença dos importados como agora. O setor já prepara um estudo sobre competitividade, que deverá sustentar novo pedido de incentivos ao governo federal.
Desta vez, entretanto, os executivos deverão poupar os ouvidos de governantes em fim de mandato, durante a festa do 50º salão do automóvel, nesta semana. A abertura oficial acontece quatro dias antes da eleição do próximo presidente da República. O movimento para o que o setor chama de "salvar a indústria da concorrência" deve aparecer com força depois da posse da nova equipe econômica.
Nos dois últimos governos o setor se deu bem. Na década de 90, Fernando Henrique Cardoso criou o regime automotivo, um programa que atraiu uma onda de investimentos em ampliação industrial por meio de incentivos fiscais. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva reduziu o IPI dos automóveis e injetou recursos para garantir o financiamento dos carros, na crise de 2008.
O enfrentamento entre os que fabricam e os que apenas importam chegou ao Anhembi já na montagem da feira. A disputa por espaço revelou um jogo de forças. E, se os modelos importados têm aparecido com mais frequência nas ruas, dentro do pavilhão de exposições as limitações de área seguem as regras dos que dominam o mercado há mais tempo. A maior fatia da divisão dos 85 mil metros quadrados do pavilhão ficou para a Volkswagen, com estande de 5 mil m 2. Outras veteranas - Fiat, General Motors e Ford - têm em torno de 4 mil cada uma.
Quem entrou no mercado por último queria pelo menos 500 m2, mas não conseguiu mais do que 200. É o caso das marcas chinesas. Essa regra é comum também nos salões da Europa e dos Estados Unidos. Enquanto as maiores montadoras preparam apresentações caprichadas e enfileiram cadeiras para acomodar nos próprios estandes os 450 jornalistas que estarão no Anhembi, hoje e amanhã, as novatas anteciparam a distribuição de material para evitar confusão e se preparam para entrevistas em espaços acanhados. Ao todo, serão 42 marcas, das quais 14 têm fábricas no país. A exposição vai até 7 de novembro.
A divisão do espaço de um pavilhão que já não comporta tudo o que a indústria gostaria de mostrar segue critérios de fidelidade histórica, segundo executivos que não querem se identificar: é dada preferência de escolha de área aos que frequentam o pavilhão há mais tempo. Segundo dados obtidos com as empresas, o custo de um estande médio nessa feira - em torno de 2 mil m 2 - não saiu por menos de R$ 2 milhões.
Se do lado dos que produzem veículos no país, o tema político da feira será a busca de apoio governamental para fortalecer e proteger a indústria que planeja investir US$ 11,2 bilhões entre 2010 e 2012, os importadores independentes pretendem pedir ao próximo governo justamente o contrário: redução tarifária, de 35% para 20% no Imposto de Importação para veículos de países com os quais o Brasil não tem acordo de intercâmbio comercial.
A organização do evento também quer evitar constrangimentos numa festa que ocorre em véspera de eleições. A abertura do salão será na quarta-feira, com a presença de autoridades de São Paulo e ministros. A tradicional visita do presidente da República está prevista para a sexta-feira.
Valor Econômico
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