LEGISLAÇÃO

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

ECONOMIA - 08/10/2010

Nova barreira cambial
Em mais um esforço para conter a valorização do real, o governo elevou de 2% para 4% o imposto sobre o capital estrangeiro aplicado em papéis de renda fixa.

A ideia é reduzir o apetite dos investidores pelos juros brasileiros, situados entre os mais altos do mundo. A novidade foi anunciada um dia depois do primeiro turno da eleição. Seis dias antes, em 28 de setembro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, havia negado a necessidade do aumento, repetindo uma declaração do dia 27.

A decisão foi uma resposta ao novo patamar de valorização do real. Na semana passada, pela primeira vez em dois anos, o dólar foi cotado abaixo de R$ 1,70.

Levará algum tempo para poder avaliar se a nova taxação produzirá o efeito desejado. O próprio governo não leva muita fé nos efeitos da medida. Ele sabe que a longo prazo, medidas como essa tendem a perder efeito, mas o seu objetivo, neste momento, é barrar a inundação do mercado brasileiro por uma enxurrada de dólares.

Com o mundo rico ainda em crise e muita incerteza quanto ao sistema financeiro da Europa e dos EUA, o Brasil e outros emergentes têm atrativos especiais. No caso brasileiro, os juros muito altos são um atrativo importante.

Desde 2009, o capital estrangeiro investido em ações e em papéis de renda fixa era taxado com 2% de IOF. Essa política recompôs, em parte, o fluxo de dólares, com maior concentração no mercado de renda fixa. Os juros continuaram muito atraentes e o impacto da medida foi limitado, segundo economistas do FMI. Mas funcionará melhor a nova barreira?

Agora, a alíquota do IOF dobrou e incidirá somente nos investimentos em renda fixa. "O jogo pode ser diferente", disse ontem o diretor do Departamento dos Mercados Monetário e de Capitais do FMI, José Viñals. Mas, cauteloso, ele acrescentou que será preciso esperar algum tempo para avaliar a eficiência da medida.

O FMI é hoje bem mais flexível em relação a ações de controle de capitais. Durante décadas, o Fundo fez forte oposição a políticas de tipo restritivo. A liberalização dos mercados ainda é um objetivo desejável, mas o discurso mudou de tom. A mudança ocorreu quando se agravou a crise financeira iniciada em 2007.

Hoje, o controle dos fluxos é considerado um dos instrumentos à disposição dos governos. Mas seus efeitos - isso é sempre ressaltado - tendem a diminuir depois do impacto inicial. Os investidores sempre descobrem novos caminhos para fazer transitar seu dinheiro.
O governo teve pelo menos dois motivos para só elevar a barreira às aplicações no mercado de renda fixa. Em primeiro lugar, esse é um alvo especialmente atrativo por causa dos altíssimos juros brasileiros.

Em segundo lugar, restringir o ingresso de capitais no mercado de ações pode ser contraproducente, quando empresas brasileiras - a começar pela Petrobrás - precisam de volumosos recursos para investir. Os capitais destinados ao investimento direto já ingressavam e continuarão ingressando sem obstáculos.

Desde o agravamento da crise, economistas do FMI e de outras instituições previram o aumento dos fluxos de recursos para os países emergentes em melhores condições. Rapidamente se confirmou a presença do Brasil nesse grupo, já que o sistema financeiro nacional se manteve basicamente saudável e a recessão foi curta.
Esse movimento deveria provocar a valorização das moedas desses países. O aumento de suas importações seria uma das consequências.

Os brasileiros não teriam motivo para reclamar, se esses efeitos ocorressem somente na China e em algumas economias com grandes superávits externos. Mas a valorização da moeda foi maior no Brasil do que na China, com efeitos indesejáveis no comércio exterior e nas transações correntes do balanço de pagamentos.

O quadro global depende principalmente de dois atores, porque os chineses mantêm sua moeda subvalorizada e os americanos continuam provocando uma inundação de dólares, com sua política monetária frouxa. Enquanto os dois gigantes persistirem nesse jogo, os demais terão de seguir a regra do cada um por si.
O Estado de São Paulo



América Latina deve evitar euforia, diz Bird
SÃO PAULO - O Banco Mundial (Bird) fez ontem uma espécie de mea-culpa, ao reconhecer que suas expectativas mais pessimistas sobre o impacto da crise na América Latina não se verificaram. O crescimento econômico da região em 2009, estimado inicialmente em -6%, foi confirmado em -1,7%. De acordo com o Bird, desde a deflagração da crise de 2008, a região sofreu uma recessão muito mais curta - três meses, no caso do Brasil - e recuperação mais acelerada que a prevista.

O desempenho da região, segundo Álvaro de La Torre, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina, foi similar ao do Sudeste Asiático.
Segundo De La Torre, o crescimento econômico previsto para a região - 5,7%, em 2010, e 4%, em 2011 - deve-se ao fato de a economia latino-americana ser altamente integrada ao mercado financeiro. Essa conclusão, acentuou ele, contradiz os prognósticos de economistas célebres. "Os países mais globalizados da América Latina foram os que mais rapidamente se recuperaram da crise", concluiu De La Torre.

Os documentos "A Nova face da América Latina" e "A América Latina Aprendeu a Lidar com a sua Pobreza nos Choques Econômicos", divulgados hoje pelo Banco Mundial, mostram que 2,1 milhões de habitantes caíram em condições de pobreza em função da crise. A expectativa, em 2009, era de que 10 milhões fossem atingidos. O desemprego, nas previsões do Banco Mundial em 2009, deveria afetar até 5 milhões de latino-americanos. As estatísticas mais recentes indicam que foram pouco mais de 2 milhões.

Na avaliação do economista do Bird, além do alto grau de integração ao mercado financeiro mundial, a América Latina foi favorecida por dois outros fatores.
DCI



Brasil tem pior desempenho dos Brics no 3º trimestre
O Brasil teve entre julho e setembro o desempenho econômico mais fraco entre os Brics, grupo que também inclui Rússia, Índia e China. A tendência ocorre pelo segundo trimestre consecutivo e confirma que os dias de crescimento exuberante do país ficaram para trás.

O nível de expansão da economia brasileira medida pelo EMI (sigla em inglês para Índice de Mercados Emergentes, calculado pela Markit Economics em parceria com o HSBC) se desacelerou de 52,3 entre abril e junho para 51,2 no terceiro trimestre.

Esse foi o pior resultado registrado desde o segundo trimestre de 2009, quando o país começava a se recuperar da crise global. Valores acima de 50 indicam expansão, o que significa que, com um patamar de 51,2, a economia brasileira flertou com a estagnação nos últimos três meses.

Embora o EMI já apontasse desempenho mais fraco no Brasil do que na China e na Índia, o país havia crescido acima da Rússia entre o quarto trimestre de 2008 e o primeiro deste ano.
"O Brasil havia tido um desempenho muito forte no primeiro trimestre por conta da antecipação de consumo antes do fim dos incentivos fiscais, e depois o segundo trimestre veio mais forte do que o esperado", afirma André Loes, economista-chefe do HSBC.

Segundo Loes, isso ajuda a explicar a acomodação no terceiro trimestre captada pelo EMI.

Apesar do desempenho relativamente mais fraco do Brasil, a tendência de desaceleração da atividade medida pelo EMI para o país se aplica a quase todo o mundo emergente. Uma das poucas exceções é a Índia.

ÍNDICE EMI
O EMI é uma versão para países emergentes do PMI (Índice de Gerentes de Compras) -indicador muito acompanhado por analistas de todo o mundo. O indicador reflete entrevistas feitas com 5.800 prestadores de serviços e empresários em 16 países emergentes.

O relatório com os resultados do EMI para o terceiro trimestre deste ano será divulgado hoje e foi obtido com exclusividade pela Folha.

Segundo o mesmo, o nível de expansão da atividade nos 16 emergentes acompanhados caiu de 56 entre abril e junho para 54,3 entre julho e setembro, marcando o segundo trimestre consecutivo de desaceleração e um ritmo de crescimento abaixo da média dos três anos anteriores à crise global.

Também pelo segundo trimestre consecutivo o desempenho dos emergentes captado pelo EMI é mais fraco que o registrado pelo PMI para os EUA e a zona do euro.

Isso provavelmente ocorreu porque, como os emergentes vinham crescendo a um ritmo muito mais forte que os países ricos, a base de comparação era mais alta.
Folha de São Paulo



Economia da zona do euro cresce 1% no segundo trimestre
O crescimento da zona do euro recuperou-se fortemente no segundo trimestre, puxado por maiores investimentos e por um reabastecimento dos estoques.

A agência de estatísticas Eurostat informou nesta quarta-feira que o PIB (Produto Interno Bruto) avançou 1% sobre o primeiro trimestre, a maior taxa em quatro anos, e subiu 1,9% ante o segundo trimestre de 2009.

No primeiro trimestre, a economia cresceu 0,3% no 16 países da zona do euro (que utilizam o euro como moeda), e 0,4% nos 27 estados-membros do bloco UE (União Europeia).

Os números ficaram em linha com as previsões de analistas consultados pela Reuters.

A Grécia, abatida pela crise, foi o único país do bloco monetário a sofrer contração econômica, ainda que os números da Irlanda não estejam disponíveis. A Alemanha, maior economia da Europa, ajudou a aumentar o PIB geral, registrando 2,2% de expansão trimestral.

Economistas preveem que o crescimento da zona do euro desacelere no terceiro e no quarto trimestres do ano, com o impacto das medidas de austeridade ordenadas por muitos governos da região para evitar uma crise de dívida. As exportações à China e aos EUA também devem diminuir.

Alguns analistas disseram que a expansão trimestral pode ser de 0,4% a 0,6% entre julho e setembro e ainda menor nos últimos três meses do ano.

De acordo com a Eurostat, o aumento do consumo pessoal contribuiu menos que o esperado para o crescimento do segundo trimestre, em 0,1 ponto percentual, quantia menor que a contribuição de 0,3 ponto estimada na divulgação preliminar.

Analistas disseram que é necessária uma forte demanda privada para tornar o crescimento autossustentável, mas o desemprego elevado deve impedir uma retomada vigorosa do gasto do consumidor.

A Eurostat confirmou que o investimento privado adicionou 0,3 ponto ao crescimento, enquanto os gastos do governo deram 0,1 ponto a mais à expansão.

O crescimento dos estoques somaram 0,3 ponto, e não 0,2 ponto como estimado inicialmente. O comércio líquido contribuiu com 0,1 ponto.
Folha.com



China deveria acelerar apreciação do yuan,aponta FMI
A China deveria acelerar a apreciação do yuan para evitar abrir caminho para uma nova crise financeira global, disse o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional) nesta quinta-feira.

"As políticas econômicas adotadas pela China para lidar com a crise estão na direção correta", afirmou Dominique Strauss-Kahn ao jornal "Le Monde".

"No entanto, a subvalorização do yuan é fonte de tensões na economia mundial, que estão no processo de se tornar uma ameaça."

"Se quisermos evitar criar as condições para uma nova crise, a China precisará acelerar o processo de apreciação [do yuan]", acrescentou.
Folha de São Paulo



Diretor do FMI afirma que leva a sério ameaça de guerra cambial
O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, afirmou que leva a sério a ameaça de uma guerra cambial e prometeu apresentar propostas para evitá-la, em uma entrevista ao jornal francês "Le Monde".

"Levo muito a sério a ameaça de uma guerra de divisas, inclusive dissimulada", declarou antes do início, nesta quinta-feira em Washington, da reunião anual do FMI.

"É preciso evitar [a guerra de divisas]; o FMI apresentará propostas neste sentido", completou Strauss-Kahn.

Segundo o diretor, a recuperação da economia mundial pode fazer ressurgir "a tentação de soluções nacionais", sobretudo no que diz respeito ao câmbio.

"Já vimos a intervenção japonesa para fazer o iene baixar, e os alertas brasileiros com a valorização do real", destacou.

O perigo de uma guerra cambial foi muito citado nos últimos dias. Os países mais ricos do mundo acusam vários emergentes, principalmente a China, de não permitir a valorização de suas moedas para favorecer as exportações.
Folha de São Paulo



Diretor do FMI defende mudanças em moedas para reequilíbrio global
O diretor-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Khan, disse nesta quinta-feira que o necessário reequilíbrio global não será alcançado se não ocorrer um ajuste no valor das moedas mundiais.

Ele criticou que alguns países estejam considerando as divisas como uma "arma", em uma referência à decisão de algumas nações de manter suas taxas de câmbio artificialmente baixas.

Na entrevista coletiva, Strauss-Khan ressaltou que não pode haver soluções nacionais a uma crise global e que é necessário atuar de forma coordenada.

O FMI assinalou que as moedas dos países emergentes, principalmente o iuane chinês precisam apreciar-se e que as divisas dos países avançados, como o dólar, precisam depreciar-se.

O diretor considerou, além disso, que o FMI poderia ser o fórum adequado para discutir a situação atual das taxas de câmbio, algo que sugeriu na quarta-feira o secretário do Tesouro de EUA, Timothy Geithner, que pediu à China que aprecie sua moeda.

Ele insistiu em que se trata de um problema que levará "tempo" para ser solucionado.

Strauss-Khan assinalou que a recuperação mundial é "frágil porque é desigual" com um crescimento sólido no mundo emergente e frágil nos países em desenvolvimento. Nesse sentido, destacou que o crescimento na Europa é "lento" e que persistem as incertezas nos Estados Unidos.

Ele afirmou ainda que o FMI não dará a crise por finalizada até que a economia mundial não crie empregos, algo para o que, disse, ainda falta tempo.
Folha de São Paulo



Comissão Europeia teme impacto do euro forte sobre recuperação econômica
A Comissão Europeia expressou preocupação nesta quinta-feira com a escalada do euro, que esta semana alcançou seu valor mais alto em relação ao dólar em oito meses, estimando que isto "poderia afetar" a frágil recuperação da economia europeia.

"Acreditamos que o euro carrega atualmente uma parte desproporcional do ajuste dos tipos de câmbio no mundo. E isso pode afetar a recuperação econômica e as exportações" europeias, que se tornam cada dia menos competitivas com a escalada da moeda única, declarou um porta-voz do bloco.

A preocupação dos europeus faz uma menção especial ao nível do iuane chinês, que "segue subvalorizado de forma significativa", acrescentou.

O euro disparou nas últimas semanas, e, depois de bater na quarta-feira um novo recorde em oito meses em relação ao dólar, era negociado a 1,40 nesta quinta.
Folha de São Paulo



Entrada de dólares bate recorde
Com a operação de capitalização da Petrobrás, entraram US$ 16,71 bilhões em setembro, o maior valor da série iniciada em 1982
A operação de aumento de capital da Petrobrás atraiu tantos estrangeiros que setembro terminou com novo recorde na entrada de dólares para investimentos financeiros no Brasil.

Dados do Banco Central mostram que US$ 16,71 bilhões ingressaram no mês passado, maior valor da série iniciada em 1982. Mesmo com as recentes medidas do governo para tentar conter a queda do dólar, o mercado acredita que a entrada de recursos deve continuar, já que o juro brasileiro é muito superior ao padrão internacional e o mercado acionário segue atrativo.

No mês em que a estatal Petrobrás realizou a maior oferta de ações da história, o Brasil recebeu volume recorde de dólares na chamada conta financeira, onde são registradas transferências de recursos para compra de ações e títulos de renda fixa, empréstimos, remessa de lucros e investimentos produtivos, entre outras transações.

Por essa via, foi batido o recorde anterior, de US$ 13,1 bilhões em outubro de 2009. Naquele mês, a filial brasileira do banco espanhol Santander atraiu muitos estrangeiros em um bem-sucedido lançamento de ações.
"A Petrobrás explica boa parte desse resultado forte, mas há outros fatores que não podem ser ignorados, como o mercado de renda fixa que continua bastante atrativo para o estrangeiro", diz o economista da LCA Consultores, Homero Guizzo. Ele lembra que a renda fixa atrai muitos dólares, tanto que o governo dobrou a alíquota de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para essas operações no início da semana para tentar amenizar o efeito da entrada de dólares nas cotações do câmbio.

Na renda fixa, o interesse dos estrangeiros ocorre graças ao nível do juro brasileiro. Enquanto economias como Estados Unidos, Europa e Japão têm taxa efetiva - quando descontada a inflação - próxima de zero, o Brasil tem taxa real próxima de 6% - já que a Selic está em 10,75% e a inflação esperada para 2010 está em torno de 5%.

"Mesmo sem Petrobrás, o fluxo de dólares tende a continuar, ainda que em menor ritmo, porque o estrangeiro quer esse juro. Ele pode até pegar um empréstimo no exterior para aplicar no Brasil", diz o economista-chefe da Souza Barros Corretora, Clodoir Vieira. Para ele, o IOF maior só vai inibir investidores de curto prazo. "Se você pensar em 2 ou 3 anos, esse aumento do IOF é diluído e ele continuará vindo."

Compras do BC. Diante da entrada recorde de dólares, o BC acelerou a compra da moeda no mercado. Em setembro, foram adquiridos US$ 10,75 bilhões em leilões diários. Em alguns dias, foram duas operações. Esse foi o maior valor comprado pelo BC desde a retomada da estratégia de reforçar as reservas internacionais em maio de 2009.
A entrada de dólares em setembro só não foi maior porque o comércio exterior amargou resultado negativo pelo quarto mês seguido. No mês passado, o pagamento pelas importações superou a receita com exportações em US$ 2,99 bilhões. Dessa forma, o fluxo cambial total terminou setembro com ingresso líquido de US$ 13,73 bilhões.
O Estado de S.Paulo

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