Importação ameaça futuro das pequenas e médias
A crescente entrada de veículos importados no país e a perda de competitividade das autopeças nacionais deverão resultar no fechamento de pequenas e médias empresas do setor no curto prazo, na avaliação de consultores e representantes da indústria brasileira de componentes automotivos. Embora o governo tenha anunciado um pacote de medidas específicas para a indústria, com um novo regime tributário automotivo, na ocasião do lançamento do Plano Brasil Maior, a ausência de iniciativas que tenham impacto no curtíssimo prazo deixará marcas negativas nos elos mais fracos da cadeia - os fornecedores classificados como tier 2 e tier 3 -, que não têm encontrado fôlego financeiro para investir em modernização. "O Plano Brasil Maior é uma grande iniciativa do país para melhorar a competitividade. Mas, em minha avaliação, não será suficiente", disse ontem o sócio da consultoria Roland Berger, Stephan Keese, durante simpósio promovido pela SAE Brasil. "Sistemistas e fornecedores de componentes originais às montadoras (OEM) talvez tenham investido o suficiente em novas tecnologias de produção. Mas as companhias menores devem enfrentar um momento muito difícil", acrescentou o especialista.
Esse cenário já levou o Sindipeças, entidade que representa a indústria nacional de componentes e reúne cerca de 500 empresas, a afirmar que a previsão de déficit comercial para este ano, originalmente fixada em US$ 4,5 bilhões, deverá ser ultrapassada. Agora, o sindicato trabalha com saldo negativo de até US$ 4,8 bilhões. No ano passado, a indústria registrou déficit recorde de US$ 3,54 bilhões. "O aumento das importações tem impactado fortemente o setor e desde 2008 já resultou no fechamento de pelo menos 50 mil postos de trabalho", afirmou Paulo Butori no mesmo evento.
Segundo o empresário, a grande expectativa da indústria, neste momento, diz respeito à regulamentação da Medida Provisória 540, que estabelece um novo regime tributário para o setor automotivo e promete fornecer ferramentas à recuperação da competitividade das empresas brasileiras.
"É preciso ver como se dará a regulamentação. Tememos que apenas as grandes montadoras e sistemistas acabem beneficiadas por essas medidas", alertou Butori. Das cerca de 500 empresas associadas ao Sindipeças atualmente, 40 são sistemistas - que entregam conjuntos completos às montadoras - e outras 10, mais ou menos, são fabricantes de peças de grande porte. Os demais associados são de médio e pequeno porte e estão, hoje, no foco da preocupação.
Editada em 2 de agosto, a medida provisória, conforme expectativa da indústria, deverá ser regulamentada em até 15 dias e foi recebida com otimismo cauteloso, conforme define Butori, uma vez que representa uma "luz no fim do túnel", porém sem efeitos no curto prazo. Para o conselheiro do Sindipeças e diretor da Automotiva Usiminas, Flavio Del Soldato, o segundo semestre promete ainda mais desafios para toda a cadeia automotiva. O aumento dos estoques nas montadoras e revendas ainda não é preocupante, porém o avanço dos veículos importados no mercado nacional desperta receio entre os fabricantes nacionais.
"Haverá mais dificuldade no segundo semestre, mas tudo indica que as previsões da Anfavea serão cumpridas, com vendas superiores à produção", afirmou Del Soldato. "Agora, temos um problema sério com os importados, que mesmo pagando a taxa de 35% (de imposto de importação) chega competitivo ao mercado brasileiro". Neste ano, cerca de 800 mil veículos produzidos em outros países deverão ser comercializados no país. Além da importação de peças e veículos montados, a provável chegada de novos sistemistas e fabricantes de peças no país, na esteira da instalação de montadoras asiáticas que anunciaram produção local recentemente, acendeu a luz amarela no setor. "É positivo que eles venham produzir aqui. Mas é necessário que a indústria local esteja forte o suficiente para não entregar mercado", afirmou Del Soldato.
Valor Econômico
Investimento coreano no Brasil sobe 213% em 2011
Metódico como o empresário japonês e ousado como o chinês. É assim que advogados e consultores do setor corporativo definem o perfil do empreendedor coreano, que tem aumentado a presença no Brasil.O IED (Investimento Estrangeiro Direto) da Coreia do Sul no Brasil de janeiro a julho de 2011 mais que triplicou em relação ao verificado no mesmo período de 2010. Saltou de US$ 194 milhões para US$ 608 milhões, um aumento de 213,4%.
O tigre asiático ficou entre os dez países que mais investiram no país neste ano até julho. Um ano antes, estava na distante 21ª colocação.
A combinação de cautela e ousadia, que pode parecer contraditória, faz dos coreanos empresários bem-sucedidos, que não costumam voltar atrás depois de uma decisão tomada.
"Eles demoram a decidir, tudo parece um pouco burocrático. Mas, depois de estabelecidas as diretrizes de um negócio, são muito ágeis e eficazes em transformar em realidade", diz Martim Machado, sócio do Campos Mello Advogados, que tem cooperação com o DLA Piper (EUA).
O Campos Mello assessorou a operação de entrada da Hyundai Heavy Industries em Itatiaia, no Rio, para construção de uma unidade para produzir máquinas pesadas para construção civil.
O processo de negociação durou um ano inteiro. Com investimento de US$ 150 milhões e conclusão prevista para o fim de 2012, será a primeira fábrica própria da empresa -que é o maior estaleiro do mundo- fora da Ásia.
A unidade terá 300 mil m², e o terreno, de 600 mil m², possibilita futuras ampliações. "O interesse deles nessa fábrica é a produção de máquinas para construção. Navios não fazem parte dos planos lá por enquanto", diz Machado.
A Hyundai Heavy Industries também é sócia da OSX, de construção naval, do empresário Eike Batista.
Já a Hyundai Motor, outra empresa, investiu US$ 600 milhões em uma fábrica em Piracicaba, interior paulista, para produzir 150 mil automóveis por ano a partir do segundo semestre de 2012.
A companhia, que já tem unidades na Rússia, Índia e China, disse ter decidido vir para o Brasil pelo "crescimento sustentável e o grande fluxo de investimentos estrangeiros [no país]".
E a Samsung Electronics investiu na ampliação da fábrica de Manaus, que passou de 50 mil m² de área construída para 120 mil m² e se tornou, em 2011, "a mais moderna da empresa no mundo", de acordo com Benjamin Sicsú, vice-presidente de novos negócios da companhia para a América Latina.
Em Manaus, a empresa, que não divulga os valores aplicados, passou a verticalizar a produção de alguns itens, montando, por exemplo, molduras de televisão.
Além disso, aposta na fabricação de tablets na unidade de Campinas desde setembro de 2010. "O Brasil é o quinto maior mercado do mundo em faturamento para a Samsung Electronics e queremos chegar ao terceiro lugar em um ano e meio, atrás só da China e dos EUA", disse Sicsú.
A Samsung Heavy Industries, outra empresa, é sócia de Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e PJMR no Estaleiro Atlântico Sul, o maior do país, no complexo portuário de Suape (PE).
Portos e Navios
Nenhum comentário:
Postar um comentário