Exportações de couros se recuperam em agosto depois dos embarques menores durante os meses de junho e julho
De acordo com os dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações brasileiras de couros e peles atingiram no mês de agosto de 2011 um total de US$ 191,2 milhões e 31,3 milhões de quilos.
O valor exportado significa um aumento de 29% em comparação com o mês anterior e de 14% em relação a junho.
"À primeira vista este resultado representa uma reação extraordinária no desenvolvimento das exportações, mas na sua essência é primordialmente consequência da normalização dos embarques para a Itália que foram fortemente reprimidos durante os meses de junho e julho em decorrência do fechamento dos curtumes italianos durante as férias no mês de agosto", explica o presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), Wolfgang Goerlich.
De acordo com ele, a média exportada por mês durante o primeiro semestre de 2011 foi de 32,4 milhões de quilos, caiu para 27,3 em junho e 22,6 em julho e mesmo com a recuperação de agosto, para 31,3 milhões de quilos ainda ficou abaixo da média dos primeiros seis meses.
O total das exportações do setor couro durante os primeiros oito meses de 2011 atingiu US$ 1,4 bilhão, superando o valor exportado durante o mesmo período de 2010 em 18% enquanto o volume físico permaneceu estável.
A crise econômica internacional, atingindo todos os mercados de consumo, dificulta qualquer prognóstico em referência ao comportamento das exportações para os quatro meses restantes do ano. As últimas medidas tomadas pelo governo brasileiro no sentido de baixar os juros e melhorando as perspectivas cambiais representam sinais positivos para o setor exportador.
Por outro lado, a situação dos abates e consequentemente a disponibilidade de matéria prima para os curtumes não deve melhorar e também continuará comprometida a nossa competitividade e rentabilidade, pelos problemas resumidos no alto "Custo Brasil". "Levando em consideração todos estes fatores e o enorme esforço do setor para defender e ampliar suas conquistas no mercado externo, acreditamos ser possível atingir a nossa meta de exportar em 2011 um total de US$ 2 bilhões, 15% a mais do que em 2010", diz Goerlich.
O executivo lembra que os esforços para promover o couro brasileiro no mercado mundial estão sendo intensificados para compensar os fatores adversos, tanto em relação aos custos internos como às barreiras globais. O programa "Brazilian Leather" desenvolvido pelo CICB com a APEX-BRASIL está indo a pleno vapor, inclusive na atual Feira em Xangai onde a presença brasileira bateu um novo recorde. Outro empenho digno de nota é a realização do Primeiro Congresso Mundial de Couro, no dia 9 de novembro de 2011, no Rio de Janeiro. "Será uma grande oportunidade para apresentarmos ao mundo a qualidade e a excelência do couro brasileiro", afirma o presidente do CICB.
Nos oito meses deste ano, China e Hong Kong, Itália e Estados Unidos são os principais destinos do couro nacional; Brasil também aumenta embarques para Alemanha, Coréia do Sul, México, Taiwan, Uruguai, Espanha e Nicarágua
De janeiro a agosto de 2011, os principais mercados do couro brasileiro foram a China e Hong Kong, com US$ 413,68 milhões (29,6% de participação e aumento de 4%); Itália, com US$ 323,16 milhões (23,1% de participação e elevação de 24%); e Estados Unidos, com US$ 147,77 milhões (10,6% e crescimento de 17%).
Nos oito meses do ano, Alemanha com US$ 66 milhões (4,7% de participação e aumento de 92%), Coréia do Sul, com US$ 47,45 milhões (3,4% e 86% de crescimento), México (US$ 43,25 milhões, incremento de 56%), Vietnã (US$ 40,62 milhões, elevação de 14 %) e Taiwan (Formosa, US$ 25,46 milhões, 91%) foram importantes destinos das exportações brasileiras.
Entre outros países que aumentaram as aquisições do produto nacional figuram Portugal (US$ 15,6 milhões, 52%), Uruguai (US$ 13,65 milhões, 82%), Espanha (US$ 11,56 milhões, 89%), e Nicarágua que, após uma participação inexpressiva em 2010, saltou 19 vezes, de US$ 555 mil para US$ 10,52 milhões.
Ranking dos estados exportadores de janeiro a agosto de 2011
O Relatório do CICB informa no balanço das vendas externas de couros dos estados brasileiros nos oito meses do ano, em relação ao acumulado do ano passado, a liderança do Rio Grande do Sul (US$ 343,67 milhões, 24,6% de participação) como maior exportador nacional, seguido por São Paulo (US$ 311,94 milhões, 22,3% de participação), Paraná (US$ 157,4 milhões, 11,3%) e Ceará (US$ 115,74 milhões, 8,3%).
Os demais estados no ranking nacional são Goiás (US$ 115,15 milhões), Bahia (US$ 87,8 milhões), Minas Gerais (US$ 69,96 milhões), Mato Grosso do Sul (US$ 58,61milhões), Mato Grosso (US$ 57,84 milhões) e Santa Catarina (US$ 31,17 milhões).
CICB
Com alto volume em estoque, importadores ignoram dólar
O mercado consumidor brasileiro continua a pressionar a oferta de produtos e serviços. Neste ano, as importações ganharam força com a cotação baixa do dólar, por volta de R$ 1,60, e a grande demanda criada pela nova classe média. Com o agravamento da crise internacional, a busca por títulos americanos, considerados um refúgio contra o risco do mercado financeiro, alçou o dólar a R$ 1,71. Porém, mesmo com a desvalorização de 7% do real, os importadores não perdem o ímpeto de inundar o mercado interno com produtos estrangeiros.
Consultadas, algumas associações de importadores entendem que a alta do dólar é passageira e que a quantidade de manufaturados trazidos do exterior em um futuro próximo não se alterará. A análise se mostra pertinente principalmente frente ao consumo de produtos populares, como utilidades domésticas, eletroeletrônicos, ferramentas, brinquedos e artigos esportivos. Gilberto Braga, professor do Ibmec, indica que ao prepararem-se para as festas de final de ano, comerciantes antecipam suas compras em até seis meses para garantir a oferta nos últimos meses. "O consumo está abastecido, mas os bens de capital podem ser afetados mais rapidamente com a alta do dólar", diz Braga.
Os economistas consultados pelas entidades sugerem que após a resolução do teorema criado pela dívida grega, a moeda norte-americana voltará a se desvalorizar. Para Gilberto Braga, essa é uma visão otimista, e caso a solução não venha de imediato, o cenário de desvalorização do real pode se confirmar durante o ano de 2012. "Tecnicamente, a Grécia não se sustenta mais de forma autônoma e seu dinheiro acaba em outubro", lembra o professor.
Para o final deste ano, Sidnei Moura Nehme, diretor executivo da NGO Corretora, entende que o real não conseguirá grande desvalorização devido a investimentos já contratados. "Existem US$ 14 bilhões em posição vendida no mercado", alerta Nehme. Assim que as opções de compra puderem ser exercidas, o montante forçará a cotação da moeda voltar aos patamares de meses antes.
Rita Mundin, professora da Fundação Dom Cabral, corrobora com o pensamento de Nehme. De acordo com Mundin, o Brasil possui dois bolsões de seguro contra desvalorização. "As altas reservas e as taxas de juros farão o dólar ceder novamente", analisa. "Infelizmente, as importações não serão afetadas agora", diz ao lamentar sobre os problemas enfrentados pelos exportadores. "Todas nossas commodities saem com desconto devido ao câmbio. Além disso, temos um processo inflacionário que prejudica o empresário voltado à exportação", explica.
2012
Caso a situação crítica proposta por Braga se torne real no ano seguinte, o aumento dos produtos importados poderia pressionar a inflação para níveis acima dos atuais. Porém, Altamiro Carvalho, assessor econômico da Federação dos Comerciantes do Estado de São Paulo (Fecomércio), desmente a tese. "A partir de 1999 tivemos uma desvalorização de 70% e o repasse para a população foi mínimo", diz. Segundo o assessor, somente o valor nominal da moeda não influencia os preços praticados no mercado, é preciso grandes variações. "Oscilações abruptas geram incertezas na formação dos preços", explica Carvalho. Os desacordos quanto ao preço pago pelo importador podem travar remessas de produtos que chegam a demorar meses para entrar no País.
Os economistas frisam que as cotações não deverão se alterar até o final deste ano, porém, no seguinte, turbulências podem ser enfrentadas pelos importadores. De acordo com Carvalho, o comércio nacional opera com altos estoques, principalmente no setor de eletrônicos. "Há uma folga para reduzir as importações. Mas 2012 é uma situação complexa e difícil de ser prevista", diz.
O mercado agora espera por notícias apontando para soluções para a crise na Grécia. Por mais que a União Europeia, capitaneadas por Alemanha e França, queiram que o problema se resolva, dificilmente isso acontecerá até o final deste ano.
Os bancos dos dois países detêm cerca de 70% da dívida grega, porém, o pacote de salvamento a ser aprovado pelo Banco Central Europeu não será suficiente para quitar os débitos. Será necessário renegociar as pendências.
Segundo Sidnei Moura Nehme, outro agravante é que muitos dos bancos financiadores desta dívida são financiados por outros bancos; estes, americanos. "Eles estão vigiando os europeus. Estas companhias agora estão com caixas líquidos e buscando segurança", afirma.
Diário do Comércio e Indústria
Importação supera indústria em 18 setores
O desempenho das importações foi melhor que o da produção nacional em 18 de 20 setores da indústria de transformação no acumulado de janeiro a julho deste ano, em comparação com o mesmo período de 2010.
Em seis dessas 18 "vitórias", o volume importado cresceu enquanto a fabricação doméstica diminuiu, segundo cruzamento da Pesquisa Industrial Mensal, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PIM-IBGE), com a série de volume importado da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).
A valorização do real perante o dólar é o principal fator que explica essa perda de espaço da indústria na opinião de representantes de setores. A moeda americana desvalorizou-se 9,65% de janeiro a julho de 2011 em relação ao mesmo período do ano passado - a comparação não alcança a recente valorização do dólar. O dólar mais fraco encarece o produto nacional, dificultando as exportações e barateia o importado, podendo tornar-se uma espécie de ameaça à produção do país.
Na opinião de Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e hoje consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o maior problema é o momento em que as importações avançam: "O impacto das importações sobre a indústria é maior quando a economia está desaquecida. Antes, o crescimento econômico interno atenuava o avanço das importações e a perda de espaço para a importação era relativa, e não absoluta, como ocorre agora."
Em alguns setores, a crise internacional prejudicou diretamente as exportações do Brasil, outro fator que desestimula a produção nacional. "A desaceleração no consumo de países europeus e Estados Unidos, assim como a queda na produção, impulsiona o excedente de estoques, o que afeta negativamente a criação de empregos", diz Milton Cardoso, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). Além da perda da exportação, os sinais de que o produto nacional está sendo substituído pelo importado também preocupam.
Os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram isso: entre maio e junho de 2010, o setor criou 4.700 vagas, enquanto no mesmo bimestre de 2011 houve uma redução de 5.100 pessoas no quadro de empregados. "Houve forte crescimento na importação do calçado desmontado. Somente a montagem, realizada no Brasil, agrega pouco valor ao produto e emprega menos gente", diz Cardoso. Enquanto a produção nacional de calçados caiu 7,4% no acumulado de janeiro a julho deste ano, as importações subiram 31,3% em relação a igual período de 2010.
"O Brasil caminha para um grave processo de desindustrialização e vai pagar caro por isso", afirma Aguinaldo Diniz Filho, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), outro setor em que as importações crescem enquanto a produção nacional cai. Na sua opinião, a indústria têxtil no país carece de incentivos como os encontrados na China, apontada como o maior concorrente. "No desfile do dia 7 de Setembro, os soldados vestiram fardas fabricadas na China. Nós poderíamos produzi-las, mas importamos a maior parte", diz.
Também no setor, os efeitos da desindustrialização foram sentidos na criação de empregos. Na comparação entre o acumulado de janeiro a julho de 2011 e 2010, houve uma desaceleração de 67% na geração de empregos, que foi de 51 mil nos primeiros sete meses do ano passado e 17 mil no mesmo período de 2011, segundo a Abit.
As atividades que sentem os efeitos das importações vão da produção de metal à produção de alimentos e bebidas, do refino de petróleo e combustíveis à indústria química. Apenas nos setores de metalurgia básica e de equipamentos médico-hospitalares, de automação industrial e de precisão, a importação registrou queda frente ao desempenho da produção nacional. "O nosso mercado interno é bom. Lá fora, há um excesso de oferta. A soma desses fatores explica a atração de parceiros comerciais", diz Almeida, do Iedi.
Entre as indústrias em que há maior distanciamento entre o aumento da importação e a produção está a de mobiliário. As importações no setor cresceram 24,4% entre janeiro e julho de 2011 em comparação com o mesmo período de 2010, enquanto a produção local cresceu só 1,7%.
Apesar de a produção da indústria farmacêutica ter crescido no acumulado do ano de 2011 (6,1%), a importação de produtos químicos em geral - inclusive farmacêuticos - aumentou de modo mais acelerado: 11,8% no mesmo período, em comparação com o acumulado de janeiro a julho de 2010. De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o quadro é ainda mais grave. "A importação de produtos que poderiam ter sido produzidos no Brasil cresceu 30,6% no acumulado do ano até julho. Esse número nos preocupa mais que o déficit comercial, que deve fechar 2011 em US$ 25 bilhões, ante US$ 20 bilhões negativos em 2010" diz Denise Naranjo, diretora de Comércio Exterior da Abiquim.
De acordo com a própria associação, o consumo de produtos químicos em geral cresceu 7,1% no acumulado de 2011, mas as vendas internas desses produtos caíram 4,6%. E a importação explica a diferença. "A produção no setor químico exige grandes investimentos. Nos últimos anos, indústrias desativaram unidades de produção principalmente devido à concorrência com o importado, em especial o chinês", diz Naranjo.
Já o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não vê o forte crescimento nas importações como ameaça à indústria nacional. De acordo com os dados da Funcex e do IBGE, no acumulado de 2011 até julho, houve um aumento de 19,8% das importações no setor, enquanto a produção cresceu 5,6% na comparação com o mesmo período de 2010. "Os números refletem um grupo de produtos que não afeta a produção nacional. Precisamos tomar cuidado para que as importações não subam ainda mais, investindo em inovação, pesquisa e, principalmente, no setor de autopeças", diz Cledorvino Belini.
No setor automobilístico, a própria indústria é importadora de peças e também de carros prontos. Enquanto o licenciamento de veículos novos nacionais avançou 2,2% entre janeiro e agosto deste ano em comparação com igual período de 2010, o licenciamento de importados cresceu 34,7%.
Valor Econômico
Nova regra de fiscalização especial complica importador
A Instrução Normativa da Receita Federal 1.169 foi publicada em 30 de junho desse ano, mas seus efeitos práticos e prejuízos começam a ser sentidos agora pelas importadoras. O dispositivo, que revogou a IN 206/2002, estabelece as regras dos procedimentos aduaneiros especiais de fiscalização, aos quais as empresas estão sujeitas quando há suspeita de irregularidade em alguma operação de comércio exterior. Além da expectativa sobre como os debates da IN serão recebidos no Judiciário, o principal ponto de conflito é o prazo do controle e as formas arriscadas de pedir a liberação da mercadoria.
O procedimento especial existe desde 2002 (sem previsão legal) e analisa com maior rigor elementos da transação, como problemas específicos da origem do exportador, classificação dos produtos, condição de compra, valor da operação e histórico do importador. Para isso, o fisco tem 90 dias, prorrogáveis por mais 90. Segundo o advogado Felippe Alexandre Ramos Breda, especialista em comércio exterior do escritório Emerenciano, Baggio e Associados - Advogados, o prazo pode ser ultrapassado. Ou então, na "melhor" das hipóteses, a empresa fica com sua mercadoria parada durante todos os 180 dias.
"O prazo é sempre esgotado por conta do grande volume de trabalho. Mas as operações são sempre dinâmicas ou sazonais, relacionadas a temporadas ou obras específicas", diz. No escritório, há o caso de uma empresa de segurança que, por meio de licitação, fornecerá equipamentos para uma companhia pública. No entanto, com a mercadoria sem desembaraço, ela paga altas multas por não ter cumprido o contrato.
Outra mudança da IN 1.169 foi a extinção da liberação da mercadoria por meio de garantia, desde que não verificada fraude. "A norma trouxe o fim da garantia na esfera administrativa. Para liberar a mercadoria, só mesmo judicialmente", diz o advogado. "A Tendência é cada vez mais fortalecer a fiscalização", completa.
Diante do cenário, as empresas buscam a Justiça, embora essa seja, de acordo com Breda, uma alternativa que precisa ser bastante estudada. O advogado afirma que os juízes muitas vezes afirmam que, durante o prazo do procedimento, a fiscalização exerce o seu poder dever nas atividades de comércio, ou seja, a administração está no seu direito. "É difícil a empresa provar e fazer prevalecer que ela teve prejuízo", afirma.
Além disso, a empresa tem o ônus de prestar a garantia em juízo, o que pode inviabilizar ainda mais a operação. "Além de tudo isso, há dúvida sobre qual será o desfecho do caso na Justiça", diz.
Felippe Breda afirma que o Judiciário ainda não tem posicionamento pacífico, ou seja, cada caso é um caso. "Há decisões que entendem que o procedimento especial e suas justificativas não são adequados. Outras, decidiram que a apuração deve ser mantida e o questionamento é precoce", afirma. O Judiciário tem maior sensibilidade na liberação de produtos perecíveis, medicinais, hospitalares ou para construção civil quando há interesse público.
Na busca por responsabilização, a saída em casos que não existem irregularidades seria representar, por conduta indevida e excesso de fiscalização, contra o inspetor aduaneiro. A investigação avaliaria se houve dolo ou culpa. O caso pode também ser levado ao Judiciário, com base no processo administrativo. Nessa hipótese, a União passa a ser o polo principal da ação.
Um ponto que deve gerar muitas controvérsias diz respeito à quebra de sigilo bancário. A IN anterior já previa a intimação da importadora para apresentar extrato bancário durante o controle especial. Agora, quando o documento não é apresentado, é possível que o fisco peça quebra.
A questão ainda pende de análise pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que tem diversas ações de inconstitucionalidade sobre o tema. A última decisão da Corte impediu a quebra de sigilo bancário pela Receita sem autorização judicial em procedimentos administrativos. "Essa matéria ainda pende de decisão definitiva e vinculante, que valha para todos os casos", destaca o especialista. "Os contribuintes devem ficar atentos sobre como o Judiciário vai receber esse ponto da nova instrução."
O advogado ressalta ainda que continuarão as discussões sobre se a divergência do valor aduaneiro, sem imputação de fraude, caracteriza ou não a subavaliação da base de cálculo para menor pagamento de tributos. "O Judiciário seguirá recebendo inúmeros pedidos quanto ao tema", diz.
Uma recente instrução normativa (1.181 de 17 de agosto) pegou os especialistas de surpresa e pode ser uma solução para as importadoras. Ela instituiu o procedimento de verificação de conformidade aduaneira aplicado a operador estrangeiro. Com ele, o exportador estrangeiro pode ter uma declaração de conformidade. Nas operações em que o exportador tiver essa espécie de certificação positiva, o importador não estará sujeito aos procedimentos especiais. "A legislação é complicada e coloca informações sensíveis que deverão ser mostradas ao fisco. Haverá muita discussão", diz Breda.
DCI
Algodão baiano começa a ser exportado pelo Porto de Salvador
A Bahia começou a exportar a produção de algodão que vem do Oeste baiano pelo terminal de contêineres do Porto de Salvador. Até o ano passado, a Bahia - segundo maior produtor de algodão do país - exportava sua safra pelos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR).
A expectativa é que 30% seja escoado pela capital em 2011, em rotas sem escalas até a Ásia, principal importador do produto. A ação comercial que permitiu a operação por Salvador foi possível por causa do adiantado estágio das obras de ampliação do terminal de contêineres e dos investimentos que estão sendo realizados na modernização dos equipamentos. Contribuiu também, a inauguração do transporte de carga direto da Bahia para o Extremo Oriente, que vem ocorrendo desde maio deste ano.
A nova rota marítima é feita em conjunto pelos armadores CMA GGM, CSAV e China Shipping. A operação reduz praticamente pela metade o transit-time (tempo de viagem), de 69 para 32 dias o que traz valores de fretes marítimos mais competitivos aos produtores.
Desde 2010, vários investimentos estão sendo realizados pelo Governo Federal e empresas privadas na expansão da infraestrutura do Porto de Salvador. A Secretaria de Portos da Presidência da República executou a dragagem de aprofundamento de 12 para 15 metros no canal de acesso e na bacia de evolução.
As obras federais também contemplam a construção da Via Portuária Baía de Todos os Santos, que dará acesso direto da BR-324 ao porto, com a entrega do empreendimento previsto para março de 2012. A Wilson Sons, responsável pela operação do Terminal de Contêineres (Tecon) de Salvador, está investindo cerca de R$ 180 milhões.
Portos e Navios
China antecipa compra de milho do Brasil
A China, que em 2010 adquiriu 39.850 toneladas de milho brasileiro, começou a importar mais cedo do Brasil este ano e já levou 20.150 toneladas do produto. Como mostra levantamento da consultoria Céleres, em julho a China comprou 14 mil toneladas e em agosto, 6.150 toneladas do cereal nacional, mais da metade do volume importado no ano passado. Em 2010, o volume importado pela China do Brasil ficou concentrado no mês de setembro, conforme Juliano Cunha, analista da Céleres. "Seguindo essa lógica, os chineses devem entrar comprando um pouco mais em setembro", disse, observando que este ano as importações vieram mais cedo. Os embarques de milho à China são pequenos levando em consideração o total exportado pelo Brasil - só em agosto foram 1,5 milhão de toneladas, recorde para um mês. No acumulado de oito meses, os embarques alcançam 4,59 milhões de toneladas. Ainda que pequenas, as vendas brasileiras são importantes já que China saiu, recentemente, da posição de país exportador para importador de milho. "Apesar de o USDA [Departamento de Agricultura dos EUA] ter reduzido a estimativa de importação chinesa, o apetite por cereal da China é grande", disse Cunha. No relatório divulgado ontem, o USDA cortou em 200 mil toneladas a estimativa para a importação chinesa de milho, para 1,3 milhão de toneladas. Segundo a Céleres, a China comprou milho do Brasil pela primeira vez em 2002 (5 mil toneladas). Voltou a adquirir em 2005 (57,5 mil toneladas). Em 2009, importou 27 mil toneladas.
Porto de Santos
"Direto de Brasília" : Exportações de couros em recuperação
De acordo com os dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações brasileiras de couros e peles atingiram no mês de agosto de 2011 um total de US$ 191,2 milhões e 31,3 milhões de quilos. O valor exportado significa um aumento de 29% em comparação com o mês anterior e de 14% em relação a junho. O total das exportações do setor couro durante os primeiros oito meses de 2011 atingiu US$ 1,4 bilhão, superando o valor exportado durante o mesmo período de 2010 em 18% enquanto o volume físico permaneceu estável. A crise econômica internacional, atingindo todos os mercados de consumo, dificulta qualquer prognóstico em referência ao comportamento das exportações para os quatro meses restantes do ano.
DCI
Exportação para países árabes bate recorde
As exportações do Brasil aos países árabes renderam US$ 1,824 bilhões em agosto, um aumento de 51% sobre o mesmo mês do ano passado, de acordo com informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O valor é recorde mensal.
Entre os principais produtos embarcados para a região houve aumento nas vendas de açúcar, minérios, carne de frango, milho, máquinas e equipamentos, produtos químicos inorgânicos, café e bovinos vivos. As exportações de óleos vegetais permaneceram praticamente estáveis e as de carne bovina recuaram.
“As exportações de minério de ferro surpreenderam positivamente, pois mostram que a indústria [local] continua trabalhando, apesar dos problemas na região”, disse o CEO da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby. “Isso significa que eles (os árabes) estão produzindo aço, investindo em construção e na indústria de transformação”, acrescentou.
A demanda do setor de construção pode ser vista também nos números das vendas de máquinas e equipamentos. Itens como niveladoras, escavadeiras e outros do gênero responderam por boa parte das exportações desse capítulo no mês.
O minério brasileiro atendeu ainda à demanda do Porto de Sohar, em Omã, onde a mineradora Vale tem uma usina de pelotização e um terminal marítimo.
“No caso dos alimentos, [o crescimento] é natural, para conter a inflação”, afirmou Alaby. Há muito receio no mundo árabe com o aumento dos preços das commodities agrícolas no mercado internacional, o que tem levado países da região a acumularem estoques reguladores.
No ano, as exportações do Brasil ao Oriente Médio e Norte da África somaram US$ 9,69 bilhões, um avanço de 32% em comparação com o período de janeiro a agosto de 2010. “A tendência é manter esse crescimento até o final do ano”, declarou Alaby.
Destaque para o avanço das vendas à Argélia, que passaram de US$ 1 bilhão, um aumento de 128% sobre os oito primeiros meses do ano passado; aos Emirados Árabes Unidos, que renderam US$ 1,4 bilhão, um crescimento de 32%; a Omã, que somaram US$ 489 milhões, ou 494% a mais; e à Tunísia, que ficaram em US$ 282 milhões, um acréscimo de 154%.
Os maiores destinos dos produtos brasileiros foram a Arábia Saudita, com importações de US$ 2,35 bilhões, um crescimento de 26% em comparação com o período de janeiro a agosto do ano passado; o Egito, com US$ 1,47 bilhão, um aumento de 27%; os Emirados, a Argélia; e o Marrocos, com US$ 495,5 milhões, um avanço de 25%.
Importações
Na outra mão, as importações brasileiras de produtos árabes somaram US$ 913 milhões em agosto, um aumento de 81% sobre o mesmo mês de 2010. No acumulado do ano, as compras chegaram a US$ 6,4 bilhões, um avanço de 43% em relação ao período de janeiro a agosto do ano passado.
Destaque, no mês e no ano, para o aumento das importações de petróleo e derivados, fertilizantes e plásticos. De janeiro a agosto, houve ainda avanço expressivo das importações de produtos químicos inorgânicos, algodão, vidros e borracha.
Portos e Navios
De acordo com os dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações brasileiras de couros e peles atingiram no mês de agosto de 2011 um total de US$ 191,2 milhões e 31,3 milhões de quilos.
O valor exportado significa um aumento de 29% em comparação com o mês anterior e de 14% em relação a junho.
"À primeira vista este resultado representa uma reação extraordinária no desenvolvimento das exportações, mas na sua essência é primordialmente consequência da normalização dos embarques para a Itália que foram fortemente reprimidos durante os meses de junho e julho em decorrência do fechamento dos curtumes italianos durante as férias no mês de agosto", explica o presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), Wolfgang Goerlich.
De acordo com ele, a média exportada por mês durante o primeiro semestre de 2011 foi de 32,4 milhões de quilos, caiu para 27,3 em junho e 22,6 em julho e mesmo com a recuperação de agosto, para 31,3 milhões de quilos ainda ficou abaixo da média dos primeiros seis meses.
O total das exportações do setor couro durante os primeiros oito meses de 2011 atingiu US$ 1,4 bilhão, superando o valor exportado durante o mesmo período de 2010 em 18% enquanto o volume físico permaneceu estável.
A crise econômica internacional, atingindo todos os mercados de consumo, dificulta qualquer prognóstico em referência ao comportamento das exportações para os quatro meses restantes do ano. As últimas medidas tomadas pelo governo brasileiro no sentido de baixar os juros e melhorando as perspectivas cambiais representam sinais positivos para o setor exportador.
Por outro lado, a situação dos abates e consequentemente a disponibilidade de matéria prima para os curtumes não deve melhorar e também continuará comprometida a nossa competitividade e rentabilidade, pelos problemas resumidos no alto "Custo Brasil". "Levando em consideração todos estes fatores e o enorme esforço do setor para defender e ampliar suas conquistas no mercado externo, acreditamos ser possível atingir a nossa meta de exportar em 2011 um total de US$ 2 bilhões, 15% a mais do que em 2010", diz Goerlich.
O executivo lembra que os esforços para promover o couro brasileiro no mercado mundial estão sendo intensificados para compensar os fatores adversos, tanto em relação aos custos internos como às barreiras globais. O programa "Brazilian Leather" desenvolvido pelo CICB com a APEX-BRASIL está indo a pleno vapor, inclusive na atual Feira em Xangai onde a presença brasileira bateu um novo recorde. Outro empenho digno de nota é a realização do Primeiro Congresso Mundial de Couro, no dia 9 de novembro de 2011, no Rio de Janeiro. "Será uma grande oportunidade para apresentarmos ao mundo a qualidade e a excelência do couro brasileiro", afirma o presidente do CICB.
Nos oito meses deste ano, China e Hong Kong, Itália e Estados Unidos são os principais destinos do couro nacional; Brasil também aumenta embarques para Alemanha, Coréia do Sul, México, Taiwan, Uruguai, Espanha e Nicarágua
De janeiro a agosto de 2011, os principais mercados do couro brasileiro foram a China e Hong Kong, com US$ 413,68 milhões (29,6% de participação e aumento de 4%); Itália, com US$ 323,16 milhões (23,1% de participação e elevação de 24%); e Estados Unidos, com US$ 147,77 milhões (10,6% e crescimento de 17%).
Nos oito meses do ano, Alemanha com US$ 66 milhões (4,7% de participação e aumento de 92%), Coréia do Sul, com US$ 47,45 milhões (3,4% e 86% de crescimento), México (US$ 43,25 milhões, incremento de 56%), Vietnã (US$ 40,62 milhões, elevação de 14 %) e Taiwan (Formosa, US$ 25,46 milhões, 91%) foram importantes destinos das exportações brasileiras.
Entre outros países que aumentaram as aquisições do produto nacional figuram Portugal (US$ 15,6 milhões, 52%), Uruguai (US$ 13,65 milhões, 82%), Espanha (US$ 11,56 milhões, 89%), e Nicarágua que, após uma participação inexpressiva em 2010, saltou 19 vezes, de US$ 555 mil para US$ 10,52 milhões.
Ranking dos estados exportadores de janeiro a agosto de 2011
O Relatório do CICB informa no balanço das vendas externas de couros dos estados brasileiros nos oito meses do ano, em relação ao acumulado do ano passado, a liderança do Rio Grande do Sul (US$ 343,67 milhões, 24,6% de participação) como maior exportador nacional, seguido por São Paulo (US$ 311,94 milhões, 22,3% de participação), Paraná (US$ 157,4 milhões, 11,3%) e Ceará (US$ 115,74 milhões, 8,3%).
Os demais estados no ranking nacional são Goiás (US$ 115,15 milhões), Bahia (US$ 87,8 milhões), Minas Gerais (US$ 69,96 milhões), Mato Grosso do Sul (US$ 58,61milhões), Mato Grosso (US$ 57,84 milhões) e Santa Catarina (US$ 31,17 milhões).
CICB
Com alto volume em estoque, importadores ignoram dólar
O mercado consumidor brasileiro continua a pressionar a oferta de produtos e serviços. Neste ano, as importações ganharam força com a cotação baixa do dólar, por volta de R$ 1,60, e a grande demanda criada pela nova classe média. Com o agravamento da crise internacional, a busca por títulos americanos, considerados um refúgio contra o risco do mercado financeiro, alçou o dólar a R$ 1,71. Porém, mesmo com a desvalorização de 7% do real, os importadores não perdem o ímpeto de inundar o mercado interno com produtos estrangeiros.
Consultadas, algumas associações de importadores entendem que a alta do dólar é passageira e que a quantidade de manufaturados trazidos do exterior em um futuro próximo não se alterará. A análise se mostra pertinente principalmente frente ao consumo de produtos populares, como utilidades domésticas, eletroeletrônicos, ferramentas, brinquedos e artigos esportivos. Gilberto Braga, professor do Ibmec, indica que ao prepararem-se para as festas de final de ano, comerciantes antecipam suas compras em até seis meses para garantir a oferta nos últimos meses. "O consumo está abastecido, mas os bens de capital podem ser afetados mais rapidamente com a alta do dólar", diz Braga.
Os economistas consultados pelas entidades sugerem que após a resolução do teorema criado pela dívida grega, a moeda norte-americana voltará a se desvalorizar. Para Gilberto Braga, essa é uma visão otimista, e caso a solução não venha de imediato, o cenário de desvalorização do real pode se confirmar durante o ano de 2012. "Tecnicamente, a Grécia não se sustenta mais de forma autônoma e seu dinheiro acaba em outubro", lembra o professor.
Para o final deste ano, Sidnei Moura Nehme, diretor executivo da NGO Corretora, entende que o real não conseguirá grande desvalorização devido a investimentos já contratados. "Existem US$ 14 bilhões em posição vendida no mercado", alerta Nehme. Assim que as opções de compra puderem ser exercidas, o montante forçará a cotação da moeda voltar aos patamares de meses antes.
Rita Mundin, professora da Fundação Dom Cabral, corrobora com o pensamento de Nehme. De acordo com Mundin, o Brasil possui dois bolsões de seguro contra desvalorização. "As altas reservas e as taxas de juros farão o dólar ceder novamente", analisa. "Infelizmente, as importações não serão afetadas agora", diz ao lamentar sobre os problemas enfrentados pelos exportadores. "Todas nossas commodities saem com desconto devido ao câmbio. Além disso, temos um processo inflacionário que prejudica o empresário voltado à exportação", explica.
2012
Caso a situação crítica proposta por Braga se torne real no ano seguinte, o aumento dos produtos importados poderia pressionar a inflação para níveis acima dos atuais. Porém, Altamiro Carvalho, assessor econômico da Federação dos Comerciantes do Estado de São Paulo (Fecomércio), desmente a tese. "A partir de 1999 tivemos uma desvalorização de 70% e o repasse para a população foi mínimo", diz. Segundo o assessor, somente o valor nominal da moeda não influencia os preços praticados no mercado, é preciso grandes variações. "Oscilações abruptas geram incertezas na formação dos preços", explica Carvalho. Os desacordos quanto ao preço pago pelo importador podem travar remessas de produtos que chegam a demorar meses para entrar no País.
Os economistas frisam que as cotações não deverão se alterar até o final deste ano, porém, no seguinte, turbulências podem ser enfrentadas pelos importadores. De acordo com Carvalho, o comércio nacional opera com altos estoques, principalmente no setor de eletrônicos. "Há uma folga para reduzir as importações. Mas 2012 é uma situação complexa e difícil de ser prevista", diz.
O mercado agora espera por notícias apontando para soluções para a crise na Grécia. Por mais que a União Europeia, capitaneadas por Alemanha e França, queiram que o problema se resolva, dificilmente isso acontecerá até o final deste ano.
Os bancos dos dois países detêm cerca de 70% da dívida grega, porém, o pacote de salvamento a ser aprovado pelo Banco Central Europeu não será suficiente para quitar os débitos. Será necessário renegociar as pendências.
Segundo Sidnei Moura Nehme, outro agravante é que muitos dos bancos financiadores desta dívida são financiados por outros bancos; estes, americanos. "Eles estão vigiando os europeus. Estas companhias agora estão com caixas líquidos e buscando segurança", afirma.
Diário do Comércio e Indústria
Importação supera indústria em 18 setores
O desempenho das importações foi melhor que o da produção nacional em 18 de 20 setores da indústria de transformação no acumulado de janeiro a julho deste ano, em comparação com o mesmo período de 2010.
Em seis dessas 18 "vitórias", o volume importado cresceu enquanto a fabricação doméstica diminuiu, segundo cruzamento da Pesquisa Industrial Mensal, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PIM-IBGE), com a série de volume importado da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).
A valorização do real perante o dólar é o principal fator que explica essa perda de espaço da indústria na opinião de representantes de setores. A moeda americana desvalorizou-se 9,65% de janeiro a julho de 2011 em relação ao mesmo período do ano passado - a comparação não alcança a recente valorização do dólar. O dólar mais fraco encarece o produto nacional, dificultando as exportações e barateia o importado, podendo tornar-se uma espécie de ameaça à produção do país.
Na opinião de Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e hoje consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o maior problema é o momento em que as importações avançam: "O impacto das importações sobre a indústria é maior quando a economia está desaquecida. Antes, o crescimento econômico interno atenuava o avanço das importações e a perda de espaço para a importação era relativa, e não absoluta, como ocorre agora."
Em alguns setores, a crise internacional prejudicou diretamente as exportações do Brasil, outro fator que desestimula a produção nacional. "A desaceleração no consumo de países europeus e Estados Unidos, assim como a queda na produção, impulsiona o excedente de estoques, o que afeta negativamente a criação de empregos", diz Milton Cardoso, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). Além da perda da exportação, os sinais de que o produto nacional está sendo substituído pelo importado também preocupam.
Os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram isso: entre maio e junho de 2010, o setor criou 4.700 vagas, enquanto no mesmo bimestre de 2011 houve uma redução de 5.100 pessoas no quadro de empregados. "Houve forte crescimento na importação do calçado desmontado. Somente a montagem, realizada no Brasil, agrega pouco valor ao produto e emprega menos gente", diz Cardoso. Enquanto a produção nacional de calçados caiu 7,4% no acumulado de janeiro a julho deste ano, as importações subiram 31,3% em relação a igual período de 2010.
"O Brasil caminha para um grave processo de desindustrialização e vai pagar caro por isso", afirma Aguinaldo Diniz Filho, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), outro setor em que as importações crescem enquanto a produção nacional cai. Na sua opinião, a indústria têxtil no país carece de incentivos como os encontrados na China, apontada como o maior concorrente. "No desfile do dia 7 de Setembro, os soldados vestiram fardas fabricadas na China. Nós poderíamos produzi-las, mas importamos a maior parte", diz.
Também no setor, os efeitos da desindustrialização foram sentidos na criação de empregos. Na comparação entre o acumulado de janeiro a julho de 2011 e 2010, houve uma desaceleração de 67% na geração de empregos, que foi de 51 mil nos primeiros sete meses do ano passado e 17 mil no mesmo período de 2011, segundo a Abit.
As atividades que sentem os efeitos das importações vão da produção de metal à produção de alimentos e bebidas, do refino de petróleo e combustíveis à indústria química. Apenas nos setores de metalurgia básica e de equipamentos médico-hospitalares, de automação industrial e de precisão, a importação registrou queda frente ao desempenho da produção nacional. "O nosso mercado interno é bom. Lá fora, há um excesso de oferta. A soma desses fatores explica a atração de parceiros comerciais", diz Almeida, do Iedi.
Entre as indústrias em que há maior distanciamento entre o aumento da importação e a produção está a de mobiliário. As importações no setor cresceram 24,4% entre janeiro e julho de 2011 em comparação com o mesmo período de 2010, enquanto a produção local cresceu só 1,7%.
Apesar de a produção da indústria farmacêutica ter crescido no acumulado do ano de 2011 (6,1%), a importação de produtos químicos em geral - inclusive farmacêuticos - aumentou de modo mais acelerado: 11,8% no mesmo período, em comparação com o acumulado de janeiro a julho de 2010. De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o quadro é ainda mais grave. "A importação de produtos que poderiam ter sido produzidos no Brasil cresceu 30,6% no acumulado do ano até julho. Esse número nos preocupa mais que o déficit comercial, que deve fechar 2011 em US$ 25 bilhões, ante US$ 20 bilhões negativos em 2010" diz Denise Naranjo, diretora de Comércio Exterior da Abiquim.
De acordo com a própria associação, o consumo de produtos químicos em geral cresceu 7,1% no acumulado de 2011, mas as vendas internas desses produtos caíram 4,6%. E a importação explica a diferença. "A produção no setor químico exige grandes investimentos. Nos últimos anos, indústrias desativaram unidades de produção principalmente devido à concorrência com o importado, em especial o chinês", diz Naranjo.
Já o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não vê o forte crescimento nas importações como ameaça à indústria nacional. De acordo com os dados da Funcex e do IBGE, no acumulado de 2011 até julho, houve um aumento de 19,8% das importações no setor, enquanto a produção cresceu 5,6% na comparação com o mesmo período de 2010. "Os números refletem um grupo de produtos que não afeta a produção nacional. Precisamos tomar cuidado para que as importações não subam ainda mais, investindo em inovação, pesquisa e, principalmente, no setor de autopeças", diz Cledorvino Belini.
No setor automobilístico, a própria indústria é importadora de peças e também de carros prontos. Enquanto o licenciamento de veículos novos nacionais avançou 2,2% entre janeiro e agosto deste ano em comparação com igual período de 2010, o licenciamento de importados cresceu 34,7%.
Valor Econômico
Nova regra de fiscalização especial complica importador
A Instrução Normativa da Receita Federal 1.169 foi publicada em 30 de junho desse ano, mas seus efeitos práticos e prejuízos começam a ser sentidos agora pelas importadoras. O dispositivo, que revogou a IN 206/2002, estabelece as regras dos procedimentos aduaneiros especiais de fiscalização, aos quais as empresas estão sujeitas quando há suspeita de irregularidade em alguma operação de comércio exterior. Além da expectativa sobre como os debates da IN serão recebidos no Judiciário, o principal ponto de conflito é o prazo do controle e as formas arriscadas de pedir a liberação da mercadoria.
O procedimento especial existe desde 2002 (sem previsão legal) e analisa com maior rigor elementos da transação, como problemas específicos da origem do exportador, classificação dos produtos, condição de compra, valor da operação e histórico do importador. Para isso, o fisco tem 90 dias, prorrogáveis por mais 90. Segundo o advogado Felippe Alexandre Ramos Breda, especialista em comércio exterior do escritório Emerenciano, Baggio e Associados - Advogados, o prazo pode ser ultrapassado. Ou então, na "melhor" das hipóteses, a empresa fica com sua mercadoria parada durante todos os 180 dias.
"O prazo é sempre esgotado por conta do grande volume de trabalho. Mas as operações são sempre dinâmicas ou sazonais, relacionadas a temporadas ou obras específicas", diz. No escritório, há o caso de uma empresa de segurança que, por meio de licitação, fornecerá equipamentos para uma companhia pública. No entanto, com a mercadoria sem desembaraço, ela paga altas multas por não ter cumprido o contrato.
Outra mudança da IN 1.169 foi a extinção da liberação da mercadoria por meio de garantia, desde que não verificada fraude. "A norma trouxe o fim da garantia na esfera administrativa. Para liberar a mercadoria, só mesmo judicialmente", diz o advogado. "A Tendência é cada vez mais fortalecer a fiscalização", completa.
Diante do cenário, as empresas buscam a Justiça, embora essa seja, de acordo com Breda, uma alternativa que precisa ser bastante estudada. O advogado afirma que os juízes muitas vezes afirmam que, durante o prazo do procedimento, a fiscalização exerce o seu poder dever nas atividades de comércio, ou seja, a administração está no seu direito. "É difícil a empresa provar e fazer prevalecer que ela teve prejuízo", afirma.
Além disso, a empresa tem o ônus de prestar a garantia em juízo, o que pode inviabilizar ainda mais a operação. "Além de tudo isso, há dúvida sobre qual será o desfecho do caso na Justiça", diz.
Felippe Breda afirma que o Judiciário ainda não tem posicionamento pacífico, ou seja, cada caso é um caso. "Há decisões que entendem que o procedimento especial e suas justificativas não são adequados. Outras, decidiram que a apuração deve ser mantida e o questionamento é precoce", afirma. O Judiciário tem maior sensibilidade na liberação de produtos perecíveis, medicinais, hospitalares ou para construção civil quando há interesse público.
Na busca por responsabilização, a saída em casos que não existem irregularidades seria representar, por conduta indevida e excesso de fiscalização, contra o inspetor aduaneiro. A investigação avaliaria se houve dolo ou culpa. O caso pode também ser levado ao Judiciário, com base no processo administrativo. Nessa hipótese, a União passa a ser o polo principal da ação.
Um ponto que deve gerar muitas controvérsias diz respeito à quebra de sigilo bancário. A IN anterior já previa a intimação da importadora para apresentar extrato bancário durante o controle especial. Agora, quando o documento não é apresentado, é possível que o fisco peça quebra.
A questão ainda pende de análise pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que tem diversas ações de inconstitucionalidade sobre o tema. A última decisão da Corte impediu a quebra de sigilo bancário pela Receita sem autorização judicial em procedimentos administrativos. "Essa matéria ainda pende de decisão definitiva e vinculante, que valha para todos os casos", destaca o especialista. "Os contribuintes devem ficar atentos sobre como o Judiciário vai receber esse ponto da nova instrução."
O advogado ressalta ainda que continuarão as discussões sobre se a divergência do valor aduaneiro, sem imputação de fraude, caracteriza ou não a subavaliação da base de cálculo para menor pagamento de tributos. "O Judiciário seguirá recebendo inúmeros pedidos quanto ao tema", diz.
Uma recente instrução normativa (1.181 de 17 de agosto) pegou os especialistas de surpresa e pode ser uma solução para as importadoras. Ela instituiu o procedimento de verificação de conformidade aduaneira aplicado a operador estrangeiro. Com ele, o exportador estrangeiro pode ter uma declaração de conformidade. Nas operações em que o exportador tiver essa espécie de certificação positiva, o importador não estará sujeito aos procedimentos especiais. "A legislação é complicada e coloca informações sensíveis que deverão ser mostradas ao fisco. Haverá muita discussão", diz Breda.
DCI
Algodão baiano começa a ser exportado pelo Porto de Salvador
A Bahia começou a exportar a produção de algodão que vem do Oeste baiano pelo terminal de contêineres do Porto de Salvador. Até o ano passado, a Bahia - segundo maior produtor de algodão do país - exportava sua safra pelos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR).
A expectativa é que 30% seja escoado pela capital em 2011, em rotas sem escalas até a Ásia, principal importador do produto. A ação comercial que permitiu a operação por Salvador foi possível por causa do adiantado estágio das obras de ampliação do terminal de contêineres e dos investimentos que estão sendo realizados na modernização dos equipamentos. Contribuiu também, a inauguração do transporte de carga direto da Bahia para o Extremo Oriente, que vem ocorrendo desde maio deste ano.
A nova rota marítima é feita em conjunto pelos armadores CMA GGM, CSAV e China Shipping. A operação reduz praticamente pela metade o transit-time (tempo de viagem), de 69 para 32 dias o que traz valores de fretes marítimos mais competitivos aos produtores.
Desde 2010, vários investimentos estão sendo realizados pelo Governo Federal e empresas privadas na expansão da infraestrutura do Porto de Salvador. A Secretaria de Portos da Presidência da República executou a dragagem de aprofundamento de 12 para 15 metros no canal de acesso e na bacia de evolução.
As obras federais também contemplam a construção da Via Portuária Baía de Todos os Santos, que dará acesso direto da BR-324 ao porto, com a entrega do empreendimento previsto para março de 2012. A Wilson Sons, responsável pela operação do Terminal de Contêineres (Tecon) de Salvador, está investindo cerca de R$ 180 milhões.
Portos e Navios
China antecipa compra de milho do Brasil
A China, que em 2010 adquiriu 39.850 toneladas de milho brasileiro, começou a importar mais cedo do Brasil este ano e já levou 20.150 toneladas do produto. Como mostra levantamento da consultoria Céleres, em julho a China comprou 14 mil toneladas e em agosto, 6.150 toneladas do cereal nacional, mais da metade do volume importado no ano passado. Em 2010, o volume importado pela China do Brasil ficou concentrado no mês de setembro, conforme Juliano Cunha, analista da Céleres. "Seguindo essa lógica, os chineses devem entrar comprando um pouco mais em setembro", disse, observando que este ano as importações vieram mais cedo. Os embarques de milho à China são pequenos levando em consideração o total exportado pelo Brasil - só em agosto foram 1,5 milhão de toneladas, recorde para um mês. No acumulado de oito meses, os embarques alcançam 4,59 milhões de toneladas. Ainda que pequenas, as vendas brasileiras são importantes já que China saiu, recentemente, da posição de país exportador para importador de milho. "Apesar de o USDA [Departamento de Agricultura dos EUA] ter reduzido a estimativa de importação chinesa, o apetite por cereal da China é grande", disse Cunha. No relatório divulgado ontem, o USDA cortou em 200 mil toneladas a estimativa para a importação chinesa de milho, para 1,3 milhão de toneladas. Segundo a Céleres, a China comprou milho do Brasil pela primeira vez em 2002 (5 mil toneladas). Voltou a adquirir em 2005 (57,5 mil toneladas). Em 2009, importou 27 mil toneladas.
Porto de Santos
"Direto de Brasília" : Exportações de couros em recuperação
De acordo com os dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações brasileiras de couros e peles atingiram no mês de agosto de 2011 um total de US$ 191,2 milhões e 31,3 milhões de quilos. O valor exportado significa um aumento de 29% em comparação com o mês anterior e de 14% em relação a junho. O total das exportações do setor couro durante os primeiros oito meses de 2011 atingiu US$ 1,4 bilhão, superando o valor exportado durante o mesmo período de 2010 em 18% enquanto o volume físico permaneceu estável. A crise econômica internacional, atingindo todos os mercados de consumo, dificulta qualquer prognóstico em referência ao comportamento das exportações para os quatro meses restantes do ano.
DCI
Exportação para países árabes bate recorde
As exportações do Brasil aos países árabes renderam US$ 1,824 bilhões em agosto, um aumento de 51% sobre o mesmo mês do ano passado, de acordo com informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O valor é recorde mensal.
Entre os principais produtos embarcados para a região houve aumento nas vendas de açúcar, minérios, carne de frango, milho, máquinas e equipamentos, produtos químicos inorgânicos, café e bovinos vivos. As exportações de óleos vegetais permaneceram praticamente estáveis e as de carne bovina recuaram.
“As exportações de minério de ferro surpreenderam positivamente, pois mostram que a indústria [local] continua trabalhando, apesar dos problemas na região”, disse o CEO da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby. “Isso significa que eles (os árabes) estão produzindo aço, investindo em construção e na indústria de transformação”, acrescentou.
A demanda do setor de construção pode ser vista também nos números das vendas de máquinas e equipamentos. Itens como niveladoras, escavadeiras e outros do gênero responderam por boa parte das exportações desse capítulo no mês.
O minério brasileiro atendeu ainda à demanda do Porto de Sohar, em Omã, onde a mineradora Vale tem uma usina de pelotização e um terminal marítimo.
“No caso dos alimentos, [o crescimento] é natural, para conter a inflação”, afirmou Alaby. Há muito receio no mundo árabe com o aumento dos preços das commodities agrícolas no mercado internacional, o que tem levado países da região a acumularem estoques reguladores.
No ano, as exportações do Brasil ao Oriente Médio e Norte da África somaram US$ 9,69 bilhões, um avanço de 32% em comparação com o período de janeiro a agosto de 2010. “A tendência é manter esse crescimento até o final do ano”, declarou Alaby.
Destaque para o avanço das vendas à Argélia, que passaram de US$ 1 bilhão, um aumento de 128% sobre os oito primeiros meses do ano passado; aos Emirados Árabes Unidos, que renderam US$ 1,4 bilhão, um crescimento de 32%; a Omã, que somaram US$ 489 milhões, ou 494% a mais; e à Tunísia, que ficaram em US$ 282 milhões, um acréscimo de 154%.
Os maiores destinos dos produtos brasileiros foram a Arábia Saudita, com importações de US$ 2,35 bilhões, um crescimento de 26% em comparação com o período de janeiro a agosto do ano passado; o Egito, com US$ 1,47 bilhão, um aumento de 27%; os Emirados, a Argélia; e o Marrocos, com US$ 495,5 milhões, um avanço de 25%.
Importações
Na outra mão, as importações brasileiras de produtos árabes somaram US$ 913 milhões em agosto, um aumento de 81% sobre o mesmo mês de 2010. No acumulado do ano, as compras chegaram a US$ 6,4 bilhões, um avanço de 43% em relação ao período de janeiro a agosto do ano passado.
Destaque, no mês e no ano, para o aumento das importações de petróleo e derivados, fertilizantes e plásticos. De janeiro a agosto, houve ainda avanço expressivo das importações de produtos químicos inorgânicos, algodão, vidros e borracha.
Portos e Navios
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