INFRAESTRUTURA PRECARIA É AMEAÇA QUE DESAFIA O BRASIL
João Leopoldino Neto*
Embora a elevada carga tributária seja sempre apontada como a principal causa dos elevados custos da produção nacional, a acentuada defasagem da infraestrutura é, sem dúvida, também a grande responsável por essa discrepância de valores com produtos similares importados. E o problema vem se agravando com o correr do tempo e a falta de providências por parte do governo, em todos os níveis e graus de competência.
As grandes cidades se transformaram em verdadeiros gargalos para o escoamento da produção, com gigantescos congestionamentos diários e incontáveis restrições à circulação de veículos pesados. As estradas, mesmo quando consideradas de qualidade satisfatória, como em São Paulo, em diversos trechos já não suportam o volume de veículos de grande porte, essenciais ao transporte de produtos de todas as naturezas até o destino final.
Para chegar ao consumidor nas regiões metropolitanas, ou aos pontos de embarque para outras regiões ou países, a logística é cada vez mais intrincada e custosa. Envolve desde altas despesas com manutenção dos veículos, armazenamento de cargas dada a dificuldade de embarque em portos e aeroportos, elevadas taxas de pedágio e até escoltas que possam aumentar a segurança das cargas. Tudo isso, e mais, cresce em função da infraestrutura precária que tolhe partes fundamentais da produção, como o recebimento da matéria prima e a entrega do produto final a quem o irá comercializar ou consumir.
O ponto essencial nessa dicotomia entre a real necessidade de ação e a ausência de providências nesse sentido é a falta de determinação dos responsáveis pela obtenção de recursos e investimentos na infraestrutura nacional. A aceleração desse processo continua sendo uma espécie de meta sempre relegada para mais adiante, com base em dificuldades irrelevantes diante da grandeza dessa tarefa, que tem tudo para mudar para melhor a economia do país.
A história comprova: as grandes crises econômicas foram e são superadas com investimentos maciços em infraestrutura. O Brasil, embora ainda a salvo dos efeitos da crise que afeta a zona do euro, não pode continuar ignorando suas conhecidas deficiências na malha rodoviária de dimensões continentais, nos portos, aeroportos e ferrovias, todos em contínuo e acelerado processo de defasagem em relação às necessidades do país.
Eventos internacionais já articulados, a melhoria nas condições econômicas da população e a concorrência cada vez maior de economias mais estruturadas, que colocam em xeque a produção nacional, precisam ser encarados pelas autoridades responsáveis em suas reais dimensões. A urgência nessas providências é flagrante, pois há muito essas deficiências deixaram de ser eventuais ameaças para se tornarem flagrantes obstáculos à competitividade do Brasil na economia mundial e na própria esfera interna.
Não há mais como postergar a necessidade de que o Brasil se una em torno dessa ideia e passe a exigir dos comandantes do país atitudes que realmente produzam resultados concretos. É imprescindível colocar ponto final em simulacros de realizações, que se perdem em discussões intermináveis, em diluição de competências e outros artifícios burocráticos que sempre emperraram o desenvolvimento.
* João Lopoldino Neto é engenheiro, primeiro vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo - SINICESP
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