Crise internacional já limita o financiamento externo
O pacote amarrado pelo governo na semana passada para restringir o contágio da crise sobre o Brasil focou principalmente medidas para estimular o crescimento econômico e deixou de lado um aspecto muito importante - o aperto de liquidez no sistema financeiro internacional que está restringindo a oferta de crédito externo e o financiamento às exportações e importações.
Os bancos estrangeiros, especialmente os europeus, ficaram enfraquecidos pela crise da dívida da zona do euro, pois são os principais compradores dos títulos públicos.
Alguns governos, como o espanhol e o italiano, teriam até pressionado os bancos a comprar seus papéis e ajudar na rolagem da dívida pública, em parte constituída para salvar o próprio sistema financeiro na fase inicial da crise.
Os bancos agora precisam reforçar o capital e as provisões, como parte do saneamento do setor e blindagem contra a disseminação da crise. Para piorar, as agências de rating ameaçam rebaixar a avaliação das instituições.
A pressão sobre os bancos e a incerteza a respeito da saúde do setor financeiro causaram o empoçamento da liquidez, que está assumindo dimensões semelhantes ao aperto ocorrido no início da crise, em 2008.
Os bancos capitalizados preferem depositar seus recursos no Banco Central Europeu (BCE), recebendo por isso uma módica taxa, bem menor do que ganhariam se repassassem os recursos para outro banco.
Na semana passada, os depósitos no BCE superaram € 300 bilhões. Na outra ponta, os bancos que precisam de dinheiro têm que recorrer ao BCE, cujos empréstimos atingiram € 265,5 bilhões na semana passada.
Diante da tensão crescente dos mercados, os seis principais bancos centrais do mundo fizeram uma operação coordenada na semana passada para oferecer liquidez ao setor financeiro, no primeiro dia de dezembro.
Sob a liderança do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), o BCE e os bancos centrais do Canadá, Inglaterra, Japão e Suíça estenderam linhas de crédito em dólares para os bancos.
Em 2008, o Fed sustentou ação semelhante que despejou US$ 583 bilhões no mercado internacional, absorvidos principalmente pela Europa. O efeito positivo sobre os mercados teve curta duração. No dia seguinte, o mercado interbancário europeu voltava a ficar pressionado, especialmente nas operações "overnight" realizadas junto ao BCE.
O aperto de liquidez internacional já tem reflexos no Brasil na forma de uma redução da oferta e encarecimento das linhas de comércio exterior e de crédito internacional.
Nos últimos dois meses, as operações de adiantamento sobre contratos de câmbio diminuíram 40%, de US$ 5 bilhões em setembro para US$ 3 bilhões em outubro e igual quantia em novembro. Outras linhas são afetadas, pois o funding externo abastece 20% do volume de crédito com recursos livres.
A captação de recursos externos por meio da colocação de títulos internacionais também começa a enfrentar um cenário difícil. Pela primeira vez no ano, em setembro e outubro, não foram rolados todos os títulos privados que venceram, e sim apenas a metade.
Nos últimos três meses, a captação com a emissão de bônus ou por meio de empréstimos somou US$ 6,86 bilhões, bem abaixo dos US$ 19,62 bilhões de igual período de 2010. Felizmente, o volume de títulos externos brasileiros vencendo neste ano é reduzido, de cerca de US$ 20 bilhões. Mas, no próximo ano, o volume dobra, sendo US$ 35 bilhões do setor privado e o restante do setor público, conforme reportagem publicada pelo Valor.
No caso do financiamento ao comércio exterior, o governo já acenou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pode socorrer as empresas, e sabe-se que a instituição tem feito contato com bancos privados para avaliar a situação do mercado e a necessidade de sua intervenção.
O BNDES tem linhas de financiamento à exportação pré-embarque e pós-embarque, com prazo de até 24 meses - é o chamado BNDES Exim. De janeiro a outubro, o BNDES Exim já desembolsou US$ 4,8 bilhões e pode chegar a US$ 6,7 bilhões até o fim do ano.
Mas o principal alvo do BNDES Exim são os bens de capital. Resta saber como apoiar outros setores exportadores. E há ainda a questão dos títulos privados que vão vencer. Ou seja, há muito o que fazer para mitigar as repercussões da crise internacional no país.
Valor Econômico - SP
O pacote amarrado pelo governo na semana passada para restringir o contágio da crise sobre o Brasil focou principalmente medidas para estimular o crescimento econômico e deixou de lado um aspecto muito importante - o aperto de liquidez no sistema financeiro internacional que está restringindo a oferta de crédito externo e o financiamento às exportações e importações.
Os bancos estrangeiros, especialmente os europeus, ficaram enfraquecidos pela crise da dívida da zona do euro, pois são os principais compradores dos títulos públicos.
Alguns governos, como o espanhol e o italiano, teriam até pressionado os bancos a comprar seus papéis e ajudar na rolagem da dívida pública, em parte constituída para salvar o próprio sistema financeiro na fase inicial da crise.
Os bancos agora precisam reforçar o capital e as provisões, como parte do saneamento do setor e blindagem contra a disseminação da crise. Para piorar, as agências de rating ameaçam rebaixar a avaliação das instituições.
A pressão sobre os bancos e a incerteza a respeito da saúde do setor financeiro causaram o empoçamento da liquidez, que está assumindo dimensões semelhantes ao aperto ocorrido no início da crise, em 2008.
Os bancos capitalizados preferem depositar seus recursos no Banco Central Europeu (BCE), recebendo por isso uma módica taxa, bem menor do que ganhariam se repassassem os recursos para outro banco.
Na semana passada, os depósitos no BCE superaram € 300 bilhões. Na outra ponta, os bancos que precisam de dinheiro têm que recorrer ao BCE, cujos empréstimos atingiram € 265,5 bilhões na semana passada.
Diante da tensão crescente dos mercados, os seis principais bancos centrais do mundo fizeram uma operação coordenada na semana passada para oferecer liquidez ao setor financeiro, no primeiro dia de dezembro.
Sob a liderança do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), o BCE e os bancos centrais do Canadá, Inglaterra, Japão e Suíça estenderam linhas de crédito em dólares para os bancos.
Em 2008, o Fed sustentou ação semelhante que despejou US$ 583 bilhões no mercado internacional, absorvidos principalmente pela Europa. O efeito positivo sobre os mercados teve curta duração. No dia seguinte, o mercado interbancário europeu voltava a ficar pressionado, especialmente nas operações "overnight" realizadas junto ao BCE.
O aperto de liquidez internacional já tem reflexos no Brasil na forma de uma redução da oferta e encarecimento das linhas de comércio exterior e de crédito internacional.
Nos últimos dois meses, as operações de adiantamento sobre contratos de câmbio diminuíram 40%, de US$ 5 bilhões em setembro para US$ 3 bilhões em outubro e igual quantia em novembro. Outras linhas são afetadas, pois o funding externo abastece 20% do volume de crédito com recursos livres.
A captação de recursos externos por meio da colocação de títulos internacionais também começa a enfrentar um cenário difícil. Pela primeira vez no ano, em setembro e outubro, não foram rolados todos os títulos privados que venceram, e sim apenas a metade.
Nos últimos três meses, a captação com a emissão de bônus ou por meio de empréstimos somou US$ 6,86 bilhões, bem abaixo dos US$ 19,62 bilhões de igual período de 2010. Felizmente, o volume de títulos externos brasileiros vencendo neste ano é reduzido, de cerca de US$ 20 bilhões. Mas, no próximo ano, o volume dobra, sendo US$ 35 bilhões do setor privado e o restante do setor público, conforme reportagem publicada pelo Valor.
No caso do financiamento ao comércio exterior, o governo já acenou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pode socorrer as empresas, e sabe-se que a instituição tem feito contato com bancos privados para avaliar a situação do mercado e a necessidade de sua intervenção.
O BNDES tem linhas de financiamento à exportação pré-embarque e pós-embarque, com prazo de até 24 meses - é o chamado BNDES Exim. De janeiro a outubro, o BNDES Exim já desembolsou US$ 4,8 bilhões e pode chegar a US$ 6,7 bilhões até o fim do ano.
Mas o principal alvo do BNDES Exim são os bens de capital. Resta saber como apoiar outros setores exportadores. E há ainda a questão dos títulos privados que vão vencer. Ou seja, há muito o que fazer para mitigar as repercussões da crise internacional no país.
Valor Econômico - SP
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