Faltam profissionais qualificados para trabalhar em SC
Considerado polo de inovação, estado precisa preencher cerca 3 mil vagas. Suas 500 empresas no setor de TIC crescem 30% ao ano e vendem R$ 1 bilhão em produtos e serviços
A demanda por profissionais qualificados está abrindo boas oportunidades para quem quer trabalhar com tecnologia da informação e comunicação (TIC) em Santa Catarina. Entre os atrativos estão a qualidade de vida e a possibilidade de construir carreira vinculada à inovação. Florianópolis, um dos destinos turísticos mais visitados no País, tem hoje na tecnologia a principal fonte de arrecadação. Suas 500 empresas no setor crescem em média 30% ao ano e vendem R$ 1 bilhão em produtos e serviços. A urna eletrônica de votação e o bafômetro são dois exemplos de produtos desenvolvidas no estado.
Essa vocação tecnológica, estimulada há três décadas, motivou uma reportagem da rede britânica BBC em 2009 a se referir à capital catarinense como o "Vale do Silício tropical". Em março, a prefeitura, instituições empresariais e de pesquisa lançaram a marca Florianópolis - Capital da Inovação, para posicionar a cidade como referência em iniciativas inovadoras. Polos nas cidades de Joinville e Blumenau, bem como empreendimentos recentes em Jaraguá do Sul, Criciúma, Chapecó e Lages, também estão em expansão.
Em torno de 3 mil empresas de TIC empregam 25 mil pessoas no estado, segundo o Conselho de Entidades de Tecnologia da Informação e Comunicação em SC (Cetic). Estima-se que há 3 mil vagas disponíveis. O salário médio em TIC é mais que o dobro da média salarial brasileira. Existem amplas possibilidades de trabalho em empresas de tecnologia para profissionais talentosos das mais diversas áreas de conhecimento, tanto de nível médio quanto superior.
"Foi-se o tempo em que só se falava de programador de computador e analista de sistemas", diz o presidente do Cetic, Heitor Blum S.Thiago. "Hoje, precisa-se de gente que entenda de arte, história, cores. Quem faz games, por exemplo, precisa dessas habilidades para desenvolver as aplicações". S.Thiago sugere aos candidatos que busquem se especializar. "A maioria das empresas, por serem pequenas, não tem recursos para investir na formação do pessoal. Desta maneira, o ideal é chegar com 80% da bagagem para começar já produzindo".
Empresas de tecnologia também geram empregos para secretárias, operadores de telemarketing, telefonistas e outros trabalhadores em funções de apoio, afirma o presidente da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), Rui Gonçalves. A entidade tem investido em parcerias com instituições de ensino para formar novos talentos. Entre as ações, um curso de robótica para adolescentes e a discussão dos currículos para melhorar a empregabilidade. Em julho, a Acate iniciou um projeto de mapeamento permanente da demanda por recursos humanos. "A ideia é que sejamos uma floresta tropical com muitas árvores de diferentes formações", diz.
O profissional de TIC interessado em construir a carreira em Santa Catarina deve avaliar com critério os prós e contras. Para quem trabalha em São Paulo, será difícil manter o mesmo nível salarial. Por outro lado, as cidades catarinenses oferecem ar limpo, baixa criminalidade, boa infraestrutura urbana e educação de qualidade. Há deficiências, claro. Congestionamentos já são cotidianos e não se dorme mais com as janelas abertas. Mas são problemas de cidades de porte médio. O município catarinense mais populoso, Joinville, tem só 500 mil habitantes. A capital, pouco mais de 400 mil.
Como a maioria das empresas do setor é de pequeno e médio porte, fica mais fácil participar das diversas fases dos projetos e assim ganhar uma visão global do negócio. A chance de trabalhar com inovação estimula muitos candidatos a vagas em TIC. Diversos empreendimentos de base tecnológica surgiram de projetos criativos de estudantes em laboratórios como os da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), terceira melhor do País (atrás apenas da USP e da Unicamp) e melhor federal, conforme ranking internacional do Cybermetrics Lab.
Boa parte do êxito do modelo catarinense de TIC se deve à sintonia entre instituições de ensino, empresas e poder público. O ambiente favorável aumenta as chances de transformação de bons projetos em negócios viáveis. Passar por incubadoras empresariais tem se revelado uma experiência preciosa. No Midi Tecnológico, mantido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina (Sebrae-SC) e pela Acate, 93% das empresas graduadas sobreviveram. Ex-incubadas apóiam as recém-nascidas, em um círculo virtuoso de empreendedorismo solidário.
"Este ano já contratamos 210 pessoas e no momento temos 34 vagas abertas", afirma Moacir Marafon, diretor da Softplan/Poligraph, empresa com 600 funcionários que faz softwares para gestão de transportes e obras, administração pública e automação do Judiciário. A maioria dos postos de trabalho disponíveis é para analistas, projetistas e analistas implementadores (programadores). Os executivos são selecionados internamente, uma tendência do setor. "Além de entender de tecnologia, eles precisam ser profundos conhecedores da área de negócios em que atuam", explica.
"De nossos 40 funcionários, 11 vieram de outros estados", afirma Iomani Engelmann, diretor da Pixeon, que produz softwares para diagnóstico médico por imagens. "Toda a nossa equipe que treina médicos é de tecnólogos em radiologia." Outras competências demandadas pela Pixeon são as de conhecimentos em matemática aplicada e computação gráfica. "Já ficamos com vagas abertas por seis meses e hoje temos duas, no comercial e no marketing". Entre os benefícios oferecidos aos colaboradores, inclui-se o subsídio de 65% do salário bruto para cursos de capacitação.
O mercado de TI movimentou US$ 1,43 trilhão no mundo em 2009, segundo estudo da International Data Corporation (IDC). O Brasil ocupa a 12ª posição global, US$ 30,5 bilhões, equivalentes a 2,1% do total e a 47% do mercado sul-americano. Segundo o IDC, as previsões para o segundo semestre de 2010 são bastante positivas. O mercado de TIC brasileiro tem aumento estimado em 6,5%, superior ao mercado mundial, de 3,5%.
Algumas tendências vão dar impulso a esses resultados, segundo o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES), Gerson Schmitt: a expansão da computação em nuvem - acesso remoto a programas, serviços e arquivos -, cuja demanda deve triplicar em cinco anos; a procura por aplicativos de análise e de inteligência para o negócio, que crescerá mais de 10% em 2010; o aumento da venda de laptops e smartphones e as oportunidades geradas com a TV Digital.
Para Schmitt, o Brasil não tem condições de competir no mercado global de software com o modelo indiano de mão de obra barata. O ideal é fortalecer a cadeia de valor, oferecendo serviços associados a produtos: "As empresas precisam vender não pelo o que custou, mas sim pelo benefício que entregam".
Fundo catarinense investe em empresas inovadoras
Com autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), começou a operar em julho o Fundo de Investimento em Empresas Emergentes Inovadoras (Fundo SC). Voltado para empresas com perfil inovador e pequeno porte - com faturamento de até R$ 2,4 milhões anuais -, o fundo tem patrimônio de R$ 12 milhões. Segundo José Henrique Moreira, gestor do Fundo SC e sócio da BZPlan, a intenção é expandir o patrimônio até R$ 20 milhões no próximo ano.
O Fundo SC é uma iniciativa da empresa catarinense BZPlan em parceria com a mineira FIRCapital dentro do Programa Inovar Semente, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O programa tem caráter de estímulo às iniciativas regionais. O Fundo SC será aplicado em empresas cuja sede esteja a um raio de 100 quilômetros de Itajaí. Segundo Moreira, assim será possível atender o Litoral Norte e o Centro de Santa Catarina.
Além de recursos da Finep, que integram 49% do patrimônio do Fundo SC, estão entre os investidores a SC Parcerias, braço de parcerias público-privadas do governo catarinense, o Celos, que é o fundo de pensão dos trabalhadores da Celesc, e a empresa Pedra Branca Urbanismo Sustentável, de empreendimentos imobiliários.
De acordo com o gestor, o Fundo SC busca oportunidades de investimento em tecnologia da informação e comunicação, biotecnologia e nanotecnologia, prioritariamente. "Entendemos inovação não apenas como a criação de uma tecnologia diferente ou um novo sistema, mas também como a capacidade de atender novos nichos de mercado, criar novos negócios", diz.
Em três anos, o Fundo SC pretende incluir entre oito e dez empresas na carteira de investimentos em um prazo de três anos. A expectativa é que o primeiro investimento seja anunciado ainda em 2010.
Moreira diz que a falta de uma cultura entre os empreendedores locais, por vezes, dificulta o investimento. "Às vezes o empresário tem uma ideia e espera que nós montemos o negócio", diz o gestor. O plano do Fundo SC é entrar sempre como sócio minoritário, com aporte de até 49% do capital. "Procuramos negócios estruturados que estejam dispostos a crescer", explica. Segundo Moreira, o empresário precisa estar disposto a crescer junto com a empresa, o que significa profissionalizar a gestão, adotar regras de governança e estar disposto a receber novos sócios em seu negócio. "Muitos dos empreendedores são recém egressos da faculdade e ainda tem um apego pessoal pelo negócio que criaram", afirma.
Valor Econômico
Petrobras atrai pequeno fornecedor de SC
A criação da Unidade de Operações e Exploração e Produção do Sul (UO-SUL) da Petrobras, em Itajaí, lançou uma nova perspectiva de negócios para a cadeia local de empresas credenciadas à estatal.
Durante um evento na semana passada, a Petrobras levou cinco das suas unidades de compras para conversar com empresários interessados em fazer o credenciamento e conhecer os pré-requisitos para fechar contratos com a estatal. No evento, a Petrobras também assinou um convênio com o Sebrae/SC para inserir micro e pequenas empresas na cadeia produtiva catarinense de petróleo, gás natural e energia.
A Petrobras não detalha que tipo de equipamento ou serviço vai precisar na nova unidade, inaugurada em julho. A unidade vai gerenciar os testes de longa duração que começaram em abril nos campos de Tiro e Sídon. Na previsão inicial, a Petrobras esperava produzir 10 mil barris de petróleo por dia, mas os testes já têm alcançando médias de 17 barris diários.
A Radionaval Eletrônica, que atua no segmento de equipamentos eletrônicos marítimos, é certificada para fornecer à estatal há cerca de um ano. Apesar disso, não conseguiu disputar nenhum edital. "A gente acompanha, mas acha os critérios muito genéricos", diz Adriana da Luz, gerente da empresa.
O contato com a Petrobras no evento, em Itajaí, gerou a expectativa de entender melhor o processo de contratação da estatal. "Nosso objetivo é prestar serviços na área de manutenção dos equipamentos", explica. Adriana diz que é preciso muito investimento em treinamento para conseguir uma equipe com capacidade para prestar o serviço de manutenção no setor. "O que mantém a empresa neste mercado não é o equipamento, mas o pós-venda", afirma. Hoje, ela desloca a equipe para atender clientes do Nordeste ao Sul do país.
Mesmo quem já conquistou algum contrato de fornecimento com a Petrobras tem perspectiva de ampliar os negócios. Há seis anos, a Arxo fornece tanques para combustíveis para a BR, distribuidora de combustíveis. De acordo com Cidemar Dalla Zen, gerente comercial da Arxo, o crescimento da empresa está ligado à parceria de fornecimento com a companhia de petróleo. Dalla Zen conta que o processo de credenciamento da estatal é complexo, mas atender as exigências da Petrobras capacita sua empresa a atuar com destaque no mercado.
Em outros momentos, cerca de 50% do faturamento da Arxo estava atrelado a contratos com a Petrobras. Hoje, o percentual fica em torno de 15%. O gerente comercial diz que há uma grande expectativa com o começo das operações da UO-SUL. "Estamos habilitados e com grande capacidade instalada para atender a demanda", diz.
Além da matriz, em Balneário Piçarras, a Arxo possui uma fábrica em Recife de tanques subterrâneos dupla parede. Até 2012, a intenção é dobrar o tamanho da capacidade de produção, passando de 14 mil m2 de área construída para 28 mil m2. Além de tanques para combustíveis, a Arxo faz projetos personalizados de tanques para armazenagem de fluidos para indústrias.
A Gamper Náutica, de São Francisco do Sul, fabrica embarcações de hypalom neoprene, um material inflável e semi-flexível. O projeto da empresa começou em 2007 e, no ano passado, a fabricação das embarcações teve início. As unidades variam de 2 a 14 metros. O modelo de 4,5 metros custa a partir de R$ 16 mil. Nilson Gamper, diretor administrativo, diz que a escolha pelo tipo de material considerou a possibilidade de atender clientes de lazer e de trabalho.
A unidade da Gamper, em São Francisco do Sul, tem capacidade para fabricar até seis embarcações de 4,5 metros por mês. Até o fim do ano, a empresa deve produzir cerca de 250 unidades. Ela já é credenciada da Petrobras e está em perspectiva de fechar contrato de reforma de uma embarcação que já pertence à estatal. Com o início das operações da UO-SUL, Gamper espera ampliar a linha e começar a fabricar barreiras de contenção de petróleo. Segundo o executivo, a empresa já detém a tecnologia do equipamento que também é inflável. "Queremos apresentar o material para a Petrobras para produzir sob demanda."
Valor Econômico
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