LEGISLAÇÃO

terça-feira, 31 de agosto de 2010

COMÉRCIO EXTERIOR

Crise global facilita expansão chinesa
Enquanto o mercado global mergulhava na crise financeira, chineses aproveitaram preços em queda para fechar bons negócios

Enquanto o mundo mergulhou nos últimos dois anos na mais grave turbulência econômica em sete décadas, a China aproveitou a queda de preços globais e foi à busca de bons negócios, fechando operações que vão da compra da sueca Volvo à aquisição de minas e redes de transmissão de eletricidade no Brasil.

O volume de recursos destinados pelo chineses a investimentos produtivos em outros países deu um salto de 132% em 2008, para US$ 52,15 bilhões, e registrou queda amena de 9% no ano passado, quando o fluxo global despencou 43%, para US$ 1,1 trilhão.

Com US$ 48 bilhões em negócios fora de suas fronteiras, a China saltou da 12ª para a sexta posição no ranking dos maiores investidores do mundo em 2009, atrás apenas de Estados Unidos (US$ 248,07 bilhões), França (US$ 147,16 bilhões), Japão (US$ 74,67 bilhões), Alemanha (US$ 62,71 bilhões) e Hong Kong (US$ 52,27 bilhões), segundo dados da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad).

Mesmo com a recuperação dos preços dos ativos, o apetite chinês se mantém. Instituto de pesquisa ligado ao governo de Pequim estima que o fluxo de investimentos externos do país chegará a US$ 100 bilhões em 2013 e poderá igualar o valor do que a China receberá em Investimento Estrangeiro Direto (IED) dois anos mais tarde.

O governo de Pequim adotou há quase uma década a política de internacionalização das empresas do país, batizada de "go global", mas o movimento só ganhou impulso nos últimos anos, com a crise financeira mundial.

A maioria das transações está relacionada à aquisição de fontes de recursos naturais essenciais, como minérios e petróleo, mas os chineses também querem comprar tecnologias avançadas, ter acesso a redes de distribuição para suas exportações e atuar na área industrial.

Como em todas as regiões, a presença da China na América Latina também está em alta desde 2008 e a região assistiu nos últimos meses a uma sucessão de anúncios de negócios bilionários, incluindo o Brasil.

"Durante a crise, muitos produtores de commodities da América Latina não tinham acesso a capitais, enquanto os investidores de Estados Unidos e Europa ficaram sem recursos para investir. As duas coisas, aliadas à crescente demanda da China, levaram ao aumento dos investimentos do país asiático, que tinha dinheiro para realização de negócios", diz Erik Bethel, CEO do SinoLatin Capital, banco de investimentos especializado em negócios entre as duas regiões.

A queda no preço dos ativos também teve papel fundamental para o aumento da presença chinesa na região, observa Bethel. Apesar disso, ele acredita que os negócios tendem a aumentar ainda mais no futuro, mesmo com a recuperação dos preços.

A principal razão para isso é o forte ritmo de crescimento da China, que continuará a ser alimentado pelo massivo processo de urbanização. "Cerca de 400 milhões de chineses vão se mudar do campo para as cidades nos próximos 20 anos e esse processo vai aumentar a demanda", diz o executivo. Desde o início de 2010, a China anunciou negócios no valor de quase US$ 12 bilhões no Brasil. Entre os já realizados, o maior foi a compra de 40% do campo de petróleo Peregrino pela estatal Sinochem, uma operação de US$ 3,07 bilhões. Dois meses antes, a estatal CNOOC desembolsou US$ 3,1 bilhões por 50% da empresa argentina de petróleo Bridas.

Além de comprar ativos, a China tem concedido empréstimos que têm como garantia contratos de exportação de petróleo. O modelo foi usado no ano passado no financiamento de US$ 10 bilhões dado pelo Banco de Desenvolvimento da China (BDC) à Petrobrás. Acordo semelhante, mas no valor de US$ 20 bilhões, foi fechado em abril entre o banco chinês e o governo da Venezuela. A China é o segundo maior consumidor e importador de petróleo do mundo, depois dos Estados Unidos, e tem uma dependência crescente de fornecedores estrangeiros.

No ano passado, o país importou 52% do petróleo que consumiu e o governo estima que o porcentual chegará a 65% em 2020.
O Estado de S.Paulo


Reino Unido quer aumentar parceria com Brasil

Negligenciado no passado, o Brasil agora é considerado um parceiro-chave pelo novo governo do Reino Unido. Para aumentar as transações entre os dois países, o ministro de Negócios britânico, Vince Cable, chega ao País esta semana para uma visita de quatro dias. “Há forte ênfase do governo em desenvolver uma relação próxima com os países emergentes, e o Brasil é um parceiro importante”, disse em entrevista à Agência Estado.

O ministro reconhece que o Reino Unido deu pouca atenção ao País nos últimos anos, tanto que o comércio entre as duas nações é restrito. “O Brasil é um dos poucos países do mundo que conseguiram crescimento com estabilidade e melhora da justiça social”, avalia. Para ele, os dois principais candidatos à Presidência devem manter esse modelo se eleitos. Por isso, não se espera mudança no ambiente de negócios.

O Reino Unido saiu há pouco de uma recessão profunda e busca formas de estimular o crescimento econômico. O aumento dos negócios com países emergentes é um dos focos, tanto que o primeiro-ministro David Cameron já visitou a Índia e a Turquia. Os setores de tecnologia, defesa e energia são os que despertam mais interesse no Brasil. Diversas companhias britânicas já estão presentes na área de petróleo e gás, como BG, BP e Shell.
A Tarde



Importações em alta velocidade

Com o real forte, as compras externas disparam e até as empresas instaladas no País reveem suas estratégias para usar mais insumos que vêm de fora

Por Denize Bacoccina
Na quarta-feira 25, o professor Luiz Junqueira, sem saber, passou a integrar as estatísticas da balança comercial brasileira. Depois de uma intensa pesquisa, ele fechou, por R$ 65 mil, a compra de um Cerato, sedã importado da coreana Kia. Levei em conta preço e qualidade, contou à DINHEIRO.

Ele se tornou um dos 600 mil brasileiros que devem comprar um veículo importado este ano. Há dois anos, o número era pouco mais da metade. Só na Kia, as vendas devem chegar a 58 mil este ano, mais do que o dobro das 26 mil unidades comercializadas no ano passado.

O número de concessionárias da marca já passou de 68 para 140. A estabilidade do dólar tornou viável abrir lojas em cidades que antes não comportavam concessionárias mais elitizadas, diz o presidente da Kia Motors no Brasil, José Luis Gandini, que também preside a Abeiva, entidade que reúne os importadores de veículos.

As estatísticas da Anfavea, que congrega as montadoras instaladas no País, também mostram que os veículos produzidos no Exterior estão ganhando espaço. Eles representavam 13,3% do mercado em 2008. Este ano, a participação já chegou a 18% e pode aumentar ainda mais até o fim do ano. A combinação de real forte e economia aquecida tem sido um problema para a indústria nacional, diz o secretário de Comércio Exterior, Weber Barral.

Os números da balança comercial explicam a preocupação. Nos primeiros sete meses do ano, as importações aumentaram 45%, reduzindo para apenas US$ 9,2 bilhões o superávit brasileiro até agora. As exportações também subiram, mas num nível muito menor, de 27%.

O problema é que o Brasil tem mercado para os produtos importados, mas o mercado lá fora não está bom para os produtos brasileiros, diz Barral. A previsão do Ministério da Fazenda para este ano é uma expansão de 6,5% no PIB, com alta de 20,4% no investimento, de 6,9% nas exportações e de 29,6% nas importações. A participação das importações no PIB, que era de 11,3% no ano passado, pode passar a 13,5% este ano.

A indústria brasileira já reclama que os importados não estão apenas suprindo a carência do mercado, mas também ocupando espaço dos produtos brasileiros. Poderíamos investir muito mais se não fossem as condições que favorecem as importações, disse à DINHEIRO o presidente da CSN e da Federação das Indústria do Estado de São Paulo, Benjamin Steinbruch, que defende barreiras à importação da China. No setor de aço, as importações crescem em ritmo acelerado. O Instituto Aço Brasil estima que a participação do importado deve triplicar este ano, para 20% do mercado.

Embora a indústria esteja aproveitando o câmbio favorável para modernizar seu parque industrial com equipamentos importados, o maior crescimento, em julho, se deu na importação de bens de consumo duráveis, com aumento de 73% em relação a julho de 2009.

A importação de matérias-primas e intermediários cresceu 44,5%. É o caso da Samsung. Quinta maior importadora do País no primeiro semestre, com um total de US$ 1,06 bilhão, a empresa dobrou as compras de displays, semicondutores e chips no Exterior em relação aos seis primeiros meses de 2009. Vendemos mais e, por isso, tivemos de importar mais, explica Benjamin Sicsú, vice-presidente de novos negócios da Samsung.

O real valorizado também teve impacto nas contas externas. Na semana passada, o Banco Central divulgou o pior resultado desde o início da série, em 1947. Em julho, o déficit foi de US$ 4,5 bilhões. No acumulado do ano, o rombo é de US$ 28,2 bilhões, o triplo do ano passado.

Ao mesmo tempo, caiu o fluxo de investimento direto estrangeiro e o volume recebido em julho foi suficiente para financiar apenas 58% do déficit em conta corrente. Se a situação perdurar, pode ameaçar a posição de credor externo obtida há dois anos pelo País. E, ironicamente, a fragilidade nas contas externas é o efeito colateral de ter uma moeda forte.
Colaborou Rodolfo Borges
Isto é Dinheiro



Avanço chinês traz temor de dumping

Várias aquisições na área de minério de ferro assustam industriais de Minas Gerais, que temem pela forte concentração estrangeira
Eduardo Kattah, correspondente, Belo Horizonte
O apetite chinês por ativos de minério ferro no Brasil desencadeou uma discussão entre industriais em Minas Gerais, Estado que concentra a maior parte do volume de negócios anunciados este ano.

Representantes da siderurgia alimentam preocupação com o risco de prática de dumping no mercado internacional do aço por parte do país asiático, mas a tese é vista com desconfiança dentro da própria Federação das Indústrias do Estado (Fiemg). “Não pode haver esse sentimento. O que nós temos de ter é uma política industrial”, avalia o presidente do Sindicato da Indústria Mineral (Sindiextra), Fernando Coura.

As reações ao avanço chinês foram levantadas recentemente por entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto Aço Brasil (IABr) e encontraram eco no presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch, dono da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) – que tem em Congonhas (MG) a mina Casa de Pedra.

O vice-presidente da Fiemg e ex-presidente da Usiminas, Marco Antônio Castello Branco, argumenta que a lógica expansionista chinesa “está baseada num dirigismo estatal que submete o interesse empresarial às prioridades políticas e econômicas governamentais”. “O receio é que uma empresa chinesa no Brasil se transforme num simples centro de custos, e que os lucros sejam transferidos de forma distorcida para a China.”

Manipulação. Segundo Castello Branco, a grande participação do país asiático no mercado mundial de commodities confere a ele a possibilidade de manipular os preços internacionais. No caso do minério de ferro, acredita o vice-presidente da Fiemg, basta que o governo chinês “aprenda a controlar a formação de estoques e a demanda spot de minério para que os preços internacionais venham a ficar distorcidos, muito baixo ou muito alto, dependendo do interesse do momento”.

A presença chinesa em ativos minerários no Estado teve início em novembro passado com a Wuhan Iron and Steel (Wisco), que adquiriu parte do capital da MMX, dona de unidades de produção na Serra Azul, no chamado Quadrilátero Ferrífero.

Também no fim de 2009, a Votorantim Novos Negócios, do Grupo Votorantim, acertou, por meio de um memorando de intenção, a venda para a chinesa Honbridge Holdings, por US$ 430 milhões, de seu projeto de minério de ferro na região norte do Estado – considerada a mais nova fronteira mineraria de Minas, com jazidas estimadas em 20 bilhões de toneladas de minério de ferro de baixo teor .

Em março, o Grupo Itaminas, controlado pelo empresário Bernardo Melo Paz, assinou uma carta de intenções com o consórcio chinês ECE – Birô de Exploração e Desenvolvimento Mineral do Leste da China. A negociação, ainda não está concluída, envolve a venda da Itaminas Comércio de Minérios S/A, detentora de uma mina em Sarzedo (MG) com reservas estimadas em 1,3 bilhão de toneladas de minério de ferro, também na região do Quadrilátero Ferrífero. O acordo prevê que o consórcio chinês adquira 100% da Itaminas por cerca de US$1,2 bilhão.

Para cumprir um acordo de fornecimento de minério de ferro com a Wisco, a MMX tem buscado novos ativos na região, entre eles a Minerita – uma das últimas jazidas significativas disponíveis na Serra Azul. Segundo fontes, a mineradora localizada em Itatiaiuçu também está na mira de empresas chinesas.

“Hoje, Minas Gerais é o foco imediato dos investimentos chineses”, observou Frederico Viana Rodrigues, da Souza Cescon Advogados, que integrou uma recente missão de negócios organizada pela Fiemg e por autoridades do Estado em Xangai. Segundo ele, o grupo voltou com uma consulta de um fundo de recursos privados com interesse de adquirir ativo minerário em Minas. “Não é uma operação de bilhões, mas é uma operação de milhões de dólares.”

Soberania. Em meio a alegações de que a invasão chinesa no setor pode representar uma ameaça soberania nacional, o presidente do Sindiextra lembra que não há no Brasil restrição ao capital estrangeiro. “Aí nos temos de rasgar tudo, se houver restrição ao capital estrangeiro. O que a Arcelor Mittal é? As produtoras de ouro no Brasil são canadenses, sul-africanas…”

Coura, porém, se impressionou com a invasão de equipamentos de carga – escavadeiras para mineração e construção pesada – chineses na feira Equipo Mining 2010, realizada este mês em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Para o economista e professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Germano Mendes de Paula, especialista em mineração e siderurgia, o risco de eventual prática de dumping no aço por parte China já é uma realidade, independentemente do estratégico avanço das empresas chinesas no Brasil ou em outros países, como a Austrália – segundo ele, o foco inicial e ainda o maior alvo de aquisições da nação asiática.

“Já existem fatores que são importantes para você o temer (a prática de dumping) agora. O chinês obtém financiamento subsidiado de seus bancos. Os preços de seus insumos, em grande parte, não são preços de mercado.”

Plataforma
MARCO ANTONIO CASTELLO BRANCO VICE-PRESIDENTE DA FIEMG
“O receio é que uma empresa chinesa no Brasil se transforme num simples centro de custos.”
O Estado de São Paulo



Fiesp alerta para risco de desindustrialização

Mantega reconhece redução de exportação de manufaturados, mas rejeita hipótese

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch, disse ontem que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve o mérito de trazer para o consumo 55 milhões de novos consumidores, mas ressaltou que, em função de a economia não estar bem “lá fora”, a questão dos importados se torna um risco iminente para a política econômica adotada. Steinbruch participou do 7º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo.

O presidente da Fiesp se referiu às turbulências internacionais como uma “crise serrote”, devido à “inconstância”, ao “sobe e desce lá de fora”. O executivo disse que seus comentários não são uma crítica ao governo, mas um apoio, e se referiu ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, que também participa do evento, como “sempre próximo”.

“Desenvolvemos um modelo brasileiro que, eventualmente, pode ser replicado em outros países: salário com mais renda e mais crédito, que se tornam mais consumo. Acho que nunca estivemos tão bem. É a primeira vez, nos 40 anos em que trabalho, que vejo o Brasil crescer voltado para dentro”, disse o presidente da Fiesp.

Na avaliação de Steinbruch, os riscos desse modelo são a moeda valorizada, “que vai nos custar caro em algum momento”, juros elevados, que fizeram com que muitos empregos deixassem de ser criados, e “gastos públicos descontrolados”. “Estamos vivendo mais um modelo de desindustrialização que de industrialização”, afirmou, destacando o déficit na balança comercial de manufaturados. “Combustíveis, grãos e minério de ferro mascaram o resultado da balança”, afirmou.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que participava do mesmo evento rebateu avaliações de que há um processo de desindustrialização em curso no País. “Não vejo processo de desindustrialização”, disse Mantega.

“Claro que, com a crise de 2008, houve uma redução das exportações de manufaturados, mas eu não chamo isso de desindustrialização”, afirmou, acrescentando que a produção industrial deve fechar o ano com crescimento expressivo ante 2009. “E vamos continuar crescendo. É claro que alguma indústria trabalha com componentes externos, mas o presidente da Fiesp (também presidente da CSN) trabalha com a siderurgia, que perdeu espaço lá fora, mas está vendendo mais para construção civil no mercado interno. Garanto que não haverá desindustrialização”, disse o ministro.

Mantega acrescentou que, em países mais desenvolvidos, é normal que o setor de serviços cresça mais e que a indústria e a agricultura cresçam menos. “No Brasil, a agricultura pesa menos no PIB e nem por isso podemos dizer que o setor cresce menos, porque temos uma agricultura das mais dinâmicas do mundo”, disse o ministro.
Jornal do Comércio



Países pobres vão vender ao Brasil sem imposto de importação

O programa Duty Free Quota Free prevê a retirada das tarifas de importação cobrada dos 49 países mais pobres do mundo.

O governo espera implementar, até o final deste ano, o programa Duty Free Quota Free, que prevê a retirada das tarifas de importação cobrada dos 49 países mais pobres do mundo. Mas o programa vem gerando controvérsia entre empresários brasileiros. Na tarde de hoje, industriais e representantes do governo estiveram reunidos, em São Paulo, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), para discutir o programa. A grande preocupação da indústria nacional é com a possibilidade de o programa beneficiar países como a China, que poderia usar os países pobres para exportar produtos sem custos para o Brasil, por meio de uma operação triangular.

— No momento em que a indústria está tendo que enfrentar cada vez mais concorrência no mercado interno e nos outros mercados, com outros países, como é que o Brasil vai abrir e dar uma redução da sua tarifa? Ainda que sejam países pequenos, o grande temor das empresas é a triangulação, com a China e a Índia passando a investir em países africanos para direcionar produtos para o mercado brasileiro aumentando ainda mais a concorrência que as empresas estão sentindo hoje — afirmou Soraya Rosar, gerente executiva de Negociações Internacionais da CNI.

Na semana passada, a CNI encaminhou uma carta ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, pedindo a suspensão do Duty Free Quota Free ‘até que as condições do mercado internacional e os fatores de competitividade domésticos tornem-se mais favoráveis a novos movimentos de abertura comercial’.

— Há um perigo desses países asiáticos, que já estão fazendo investimentos maciços na África e em outros países, de começar a instalar fábricas nesses países [mais pobres] para determinados itens, e começar a exportar para um mercado inteiramente aberto — disse Mauro Laviola, sócio gerente da MRL Comunicação e Orientação Empresarial.

A preocupação de Laviola é compartilhada por Roberto Chadad, presidente da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest). Segundo Chadad, a abertura do mercado brasileiro para os países mais pobres pode piorar a situação do setor têxtil nacional que, segundo ele, já vem sofrendo com os juros altos, o câmbio defasado e a alta carga tributária.

— Infelizmente, o governo às vezes se esquece de que o setor empresarial brasileiro, principalmente o de vestuário, é composto de 98% de empresas pequenas e que elas são exatamente iguais a essas empresas que vão participar desse processo do Duty Free — reclamou.

O Duty Free Quota Free estava incluído na agenda de negociações da Rodada Doha e prevê que os países em desenvolvimento e desenvolvidos concedam acesso livre aos produtos provenientes dos países mais pobres. O governo brasileiro defende a medida e rebate as críticas dos empresários.

De acordo com Welber Barral, secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o governo mostrou aos industriais na reunião desta tarde que serão estabelecidas regras de origem para a entrada de produtos desses países no Brasil, justamente com o propósito de barrar a triangulação.

— A questão do Duty Free é um compromisso que o Brasil tem. A Índia e a China, que são outros parceiros importantes, já implementaram. Isso envolve 0,09% das importações brasileiras, excluindo o petróleo. Então, na verdade, o impacto é muito pequeno’, afirmou. Segundo o diretor do Departamento Econômico do Ministério das Relações Exteriores, Carlos Márcio Cozendey, que também acompanhou a reunião em São Paulo, a implementação do programa é importante para o país.

— Faz parte do esforço do Brasil de ajudar os países mais pobres do mundo a se desenvolver. O Brasil percebe que, na medida que já tem algum grau de desenvolvimento e, ao mesmo tempo, ainda é um país em desenvolvimento, tem um certo dever de ajuda e solidariedade com esses países.
AGÊNCIA BRASIL

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