Inflação e produção industrial sobem em agosto na China
O preços ao consumidor tiveram sua maior alta em quase dois anos em agosto na China e a produção industrial acelerou-se, mas economistas não apostam que o governo irá elevar a taxa de juro ou apreciar o yuan em resposta aos números. A base monetária e as vendas no varejo em agosto superaram as previsões dos economistas.
O índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 3,5% em agosto na comparação com o mesmo mês do ano passado, a maior alta desde outubro de 2008, refletindo aumento nos alimentos. O índice avançou de alta de 3,3% registrada em julho. Os preços dos alimentos saltaram 7,5% em agosto, na comparação anual, enquanto os preços de itens fora do setor de alimentos, avançaram apenas 1,5%. A alta do CPI em agosto ficou em linha com a previsão média dos economistas ouvidos pela agência Dow Jones.
O índice de preços ao produtor (PPI) subiu 4,3% em agosto, em base anual, abaixo da alta de 4,8% de julho e da média das projeções dos economistas de alta de 4,5%. A produção industrial cresceu 13,9% em agosto, seguindo-se a uma alta de 13,4% em julho. A elevação superou a previsão dos economistas de aumento de 12,9%. O crescimento da produção deveu-se, em parte, a uma aceleração na aprovação dos projetos de investimento em infraestrutura desde meados de julho.
Os mercados financeiros aguardavam com ansiedade os números, anteriormente previstos para serem divulgados no início da semana. A antecipação da divulgação dos dados fez investidores especularem que o Banco do Povo da China (PBOC em inglês), o banco central, sabendo dos números, estivesse preparando uma alta do juro para esfriar a economia. Mas ao olharem os números, alguns economistas disseram que ainda não há motivos para que Pequim aperte a política monetária.
Em entrevista à Agência Dow Jones, o conselheiro do banco central da China, Xia Bin, afirmou que a situação da economia chinesa não justifica qualquer mudança brusca na política monetária. O governo poderia realizar apenas algum ajuste fino na política macroeconômica, mas não "faria ou deveria" mudar a direção básica da política monetária.
Xia afirmou ainda que a China pretende deixar que o yuan, a moeda chinesa, mova-se livremente de acordo com as necessidades econômicas, mas que este é um objetivo de longo prazo. Ele acrescentou que cabe ao Banco do Povo da China decidir como implementar as reformas de câmbio.
O governo chinês divulgou também os números sobre o dinheiro em circulação na economia, a base monetária. A medida mais ampla da base monetária, o M2, expandiu-se 19,2% até o final de agosto em relação ao mesmo período do ano passado, acima do crescimento de 17,6% registrado ao final de julho. O aumento também superou a previsão dos economistas de que a base monetária ficaria estável em relação a julho.
Outros indicadores econômicos divulgados neste sábado foram o volume de novos empréstimos em yuans concedidos pelas instituições financeiras em agosto, que cresceram para 545,2 bilhões de yuans, de 523,8 bilhões de yuans em julho, acima das estimativas dos economistas de 500 bilhões de yuans. Os investimentos em ativos fixos urbanos avançaram 24,8% entre janeiro e agosto, em relação ao mesmo período de 2009, desacelerando um pouco da alta de 24,9% do período de janeiro a julho. Mas economistas esperavam alta menor, de 24,5% entre janeiro e agosto.
Já as vendas no varejo subiram 18,4% em agosto em relação a agosto do ano passado, acima da alta de 17,9% de julho. Ontem, o PBOC permitiu que o yuan tivesse uma forte apreciação em relação ao dólar ao estabelecer a referência para as trocas de dólares por yuans no seu menor nível desde que Pequim começou a divulgar taxas diárias de câmbio em 1994. A ação do PBOC foi interpretada por muitos observadores como uma tentativa de conter as intenções do Congresso norte-americano de adotar uma legislação punitiva contra Pequim por controlar a cotação da moeda.
Jornal do Comércio
O custo dos dólares
Por causa de seu rápido crescimento, que contrasta com o desempenho frustrante das economias mais ricas, os países emergentes, entre os quais o Brasil ocupa posição destacada, estão recebendo e continuarão a receber grande fluxo de capitais.
Relatórios que acabam de ser divulgados pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) e pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) mostram a preferência de investidores e instituições financeiras internacionais pelos países que estão crescendo mais depressa, o que aumentará cada vez mais o fluxo de capitais para eles.
Não é, porém, uma preferência sem custos e sem riscos para os países escolhidos, como mostra bem o caso do Brasil.
Enquanto nos Estados Unidos são crescentes os sinais de debilidade da economia e na Europa persistem as preocupações com relação ao desempenho econômico, é forte e contínuo o crescimento da China, embora em ritmo mais moderado, assim como o de outras economias asiáticas e o de alguns países da América Latina. Por essa razão, os investidores internacionais e as principais instituições financeiras continuam preferindo destinar recursos aos países emergentes.
A exposição dos bancos estrangeiros no Brasil aumentou 51% entre março de 2009 e março de 2010, segundo o boletim trimestral do BIS. Os empréstimos internacionais concedidos ao Brasil no primeiro trimestre alcançaram US$ 18,7 bilhões, valor 11,3% maior do que o registrado no trimestre anterior e, entre todos os países analisados, inferior apenas ao recorde de empréstimos recebidos pela China, de US$ 42,1 bilhões.
Mas não é só capital financeiro - empréstimos e aplicações em títulos e ações - que entra em grande volume no País. Chegam também investimentos diretos estrangeiros, aplicados na produção. O Brasil se tornou o terceiro destino preferido pelas multinacionais que planejam investir em 2011, de acordo com dados da Unctad, que todo ano realiza pesquisa sobre o destino dos investimentos internacionais. Na mais recente, o Brasil superou, pela primeira vez, os Estados Unidos na preferência das empresas transnacionais. Dos cinco países preferidos para os investimentos dessas empresas no próximo ano, quatro são os que formam o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China).
A entrada de capitais nessa proporção é auspiciosa, mas pode gerar dificuldades. Apesar da preferência das grandes empresas transnacionais pelo Brasil, a entrada de investimentos diretos estrangeiros no País não tem sido suficiente para evitar o aumento do déficit em conta corrente, ou seja, a deterioração das contas externas.
A disposição dos bancos internacionais de continuar dirigindo boa parte dos recursos para os países emergentes indica que, ao menos a curto prazo, não haverá problemas para o financiamento desse déficit.
É necessário, no entanto, observar que essa forma de financiamento, por meio de capitais que podem deixar o País a qualquer hora, se o quadro internacional se modificar bruscamente, gera alguma incerteza na área cambial. Além disso, o fluxo contínuo, e crescente, de capitais força a desvalorização do dólar em relação à moeda local.
Dos principais países emergentes, o Brasil é o que registra a valorização mais forte de sua moeda em relação ao dólar. Entre janeiro de 2009 - quando a crise financeira internacional começou a atingir mais duramente esses países - e março deste ano, a rupia (moeda da Índia) se valorizou 12,7% na comparação com o dólar e o yuan (moeda da China), fortemente controlado pelo governo, se desvalorizou 2,5%. Nesse período, o real se valorizou 33,6%.
Há tempos o BIS, considerado o banco central dos bancos centrais de um grupo formado por dezenas de países, entre eles o Brasil, vem alertando para as consequências da entrada de capitais externos nos países que, para se proteger da crise, tornaram mais rigorosas suas políticas monetárias, por meio da alta dos juros internos. Advertência que foi repetida em seu último relatório: "Com a taxa de juros mais elevada, o fluxo de capital aumentou e as moedas (locais) se valorizaram."
O Estado de São Paulo
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