Queda de commodities e de frete infla temor de desaceleração global
A queda no preço de várias commodities e o forte declínio de 60% no Baltic Dry Index (BDI), um dos principais indicadores de custo do frete marítimo e espécie de barômetro da economia, alimentam temores sobre desaceleração global e também do comércio mundial.
Heiner Flassbeck, economista-chefe da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês), apontou em entrevista ao Valor como maior risco no momento um cenário de "deflação e estagnação [nos principais países], como no Japão dos últimos anos".
Depois da recuperação ocorrida nos quatro últimos trimestres, economistas começaram a baixar as projeções de crescimento do PIB para os EUA (de 3,2% e 3,7% para algo entre 3% e 3,5%) e na zona do euro. A expectativa é de que a China crescerá menos de 10%. O aperto fiscal em vários países, que continuará em 2011, vai colocar mais pressão para os bancos centrais manterem por mais tempo as taxas de juros em níveis baixos.
Para certos economistas, a economia brasileira está hoje mais sensível ao que se passa nos EUA e na China do que na União Europeia, e o cenário global recomenda prudência.
Flassbeck, ex-vice-ministro da Economia da Alemanha, vê sinais conflitantes na economia mundial e se diz um pessimista. "Uma desaceleração depois da rápida recuperação é normal. O anormal agora é que os investimentos não aumentaram nos principais países, com exceção da China, e o consumo continua estagnado nas grandes economias", afirmou.
Além disso, apesar da saída da recessão, a expectativa de aumento de renda das pessoas é zero. Isso ocorre no Japão e na Alemanha, segunda e terceira economias do mundo, e começa a ser copiada nos EUA, a primeira.
"Agora restam poucos instrumentos para lutar contra uma nova recessão", diz ele. De um lado, o G-20, reunindo as economias que fazem 85% da produção mundial, decidiram que não vão continuar os programas de estímulo. De outro, na área monetária não há margem de manobra.
"Com investimento e consumo que não decolam nos principais países desenvolvidos, não vejo como aumentar o fluxo comercial." Se o cenário pessimista se concretizar, Flassbeck vê um começo de desintegração da economia global, com mais desvalorizações competitivas e protecionismo - cada um cuidando de seu quintal.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou ontem que o comércio mundial cresceu no primeiro trimestre, mas em ritmo menor do que no trimestre anterior. O comércio de mercadorias em valor continua 20% abaixo dos níveis anteriores a crise econômica.
Para a consultoria britânica Markit, a expansão do comércio atingiu seu pico e o crescimento das exportações continuará desacelerando nos próximos meses, sobretudo por causa dos efeitos da formação de estoque e de vendas mais frágeis por parte dos países da Ásia.
Desde o pico de abril, a maioria dos preços de commodities baixou, principalmente para metais industriais. As cotações de grãos, como trigo, mantiveram-se altas em meio a preocupações sobre o fornecimento dos produtos.
Os preços futuros de muitas commodities estão virtualmente sem mudanças desde o começo do ano, mas 6% abaixo do pico de abril, segundo o Instituto Internacional de Finanças (IIF), entidade que reúne os maiores bancos do mundo. As posições nos mercados futuros, com exceção do trigo, declinaram nas últimas semanas.
Valor Econômico
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