Não basta a indústria investir
O setor industrial continuará investindo em máquinas, equipamentos e instalações no próximo ano, para acompanhar a expansão da demanda e modernizar seus processos e produtos, segundo pesquisa divulgada nessa quinta-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Foram consultadas 454 empresas e 92% indicaram planos para investir em 2011. Em 2010, segundo o mesmo levantamento, 89,6% informaram ter investido.
A maior parte, 61,8%, retomou planos engavetados durante a crise ou continuou a execução de projetos já iniciados. O setor privado continua empenhado em fazer sua parte para fortalecer a economia nacional e atender às necessidades do mercado.
Falta o governo cumprir seu papel para tornar a economia brasileira mais competitiva. O poder de competir depende não só das empresas, mas de fatores como a segurança jurídica, a tributação, o grau dos entraves burocráticos, a estabilidade macroeconômica e as condições da infraestrutura.
Todos esses fatores deixam o produtor brasileiro em desvantagem diante da concorrência internacional. Por isso, o novo presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, propôs a competitividade como prioridade estratégica nacional - "do governo, do setor produtivo, da indústria, enfim, de toda a sociedade".
Ele apresentou essa proposta diante de uma plateia formada por cerca de 1.500 empresários, no 5.º Encontro Nacional da Indústria.
Não se trata, como afirmou o empresário, de uma escolha como outra qualquer, mas de uma questão vital para a empresa brasileira. A demora na execução de reformas pró-competitividade põe em risco a estrutura do sistema produtivo.
Recente levantamento da Fiesp dá uma boa ideia de como o rápido crescimento das importações afeta a cadeia produtiva. Cerca de dois terços das empresas consultadas têm recorrido a fornecedores estrangeiros de matérias-primas, bens intermediários e componentes. Os produtores nacionais são incapazes de enfrentar essa competição, porque seus custos são muito altos e suas desvantagens são agravadas pela valorização do real.
Os números do comércio exterior divulgados nesta semana mostram mais uma vez o descompasso entre exportações e importações. De janeiro a novembro as vendas ao exterior renderam US$ 181 bilhões, 30,7% mais que um ano antes, enquanto as compras de bens estrangeiros custaram US$ 166,1 bilhões, 43,9% mais que nos meses correspondentes de 2009.
Quase metade do valor das importações - 46,2% - correspondeu a matérias-primas e bens intermediários. Uma parcela de 22,4% foi destinada a bens de capital, isto é, a máquinas e equipamentos.
Os gastos com bens de consumo acabados corresponderam a 17,1% do valor total. O saldo comercial acumulado em 11 meses, US$ 17,1 bilhões, foi 32,7% menor que o dos meses de janeiro a novembro de 2009.
A expansão das importações tem sido muito maior que a da produção industrial. De janeiro a outubro a indústria produziu 11,8% mais que um ano antes. A diferença é muito menor quando se comparam os números de outubro deste ano e de outubro do ano passado: apenas 2,1%. Não há mistério: a atividade continua crescendo, mas em ritmo inferior ao da primeira fase depois da recessão.
O descompasso entre o aumento das importações e o da produção da indústria é parcialmente explicável pelo forte aquecimento do consumo interno.
Uma parcela da procura adicional transbordaria naturalmente para os produtores estrangeiros. Mesmo assim, a indústria brasileira poderia atender a uma fatia maior do consumo ampliado, se tivesse melhores condições para concorrer.
Em desvantagem, os produtores nacionais perdem participação no mercado interno, assim como têm perdido no exterior. As perdas têm ocorrido tanto nos países industrializados, notadamente nos Estados Unidos, quanto na América Latina, importante destino das exportações nacionais de manufaturados.
Diante disso, parece muito natural a decisão de 77,8% de investir principalmente para abastecer o mercado interno. Fora, a disputa é muito mais difícil.
O Estado de São Paulo
Venda de equipamentos sobe 70% no ano
O aumento dos investimentos em infraestrutura, construção pesada e construção civil - impulsionado pela forte retomada de investimentos públicos e privados pós-crise - fizeram com que a indústria de máquinas e equipamentos pesados tivessem um crescimento de 82% de janeiro a setembro, depois de uma queda de 24,5% durante todo o ano de 2009. A projeção é fechar o ano com uma alta de 70%, contra uma estimativa inicial de 47% de crescimento nas vendas internas. Somente este ano, devem ser vendidas 70.530 unidades de equipamentos de construção.
Os dados são da Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção (Sobratema), obtidos com exclusividade pelo Valor, e incluem maquinário usado em infraestrutura, construção civil, mineração e agricultura. O volume de 2010 bate o recorde da indústria, alcançado em 2008, quando foram vendidas 53 mil unidades de máquinas e equipamentos. "Superou e muito as melhores expectativa que tínhamos", diz Mario Humberto Marques, presidente da Sobratema.
O crescimento do mercado nacional coincide com o recuo de dois importantes mercados: Europa e EUA. As vendas médias de equipamentos na Europa entre 2005 e 2009 era de 162 mil unidades ao ano. A expectativa é que essa média caia para 109 mil entre 2010 e 2014. O continente, que representou 18% das vendas globais em 2005, recuou para 7% em 2010, segundo a Off-Highway Research, empresa especializada em pesquisas do setor. Na América do Norte, as vendas médias saíram de 174 mil entre 2005 e 2009 para 99 mil até 2014 e a representatividade nas vendas mundiais caiu de 20% para 5%. Segundo Marques, sobraram máquinas em países da Europa, como Espanha e Itália, que estão vindo para o Brasil.
Com o câmbio favorável, as importações cresceram - estimuladas, ainda, pelo fenômeno chinês. A Sobratema não divulga dados sobre importação, mas o presidente da entidade afirma que, dependendo do tipo de equipamento, houve um aumento de, pelo menos, 30%. "O custo Brasil, a questão do câmbio e o custo tributário atrapalham o nosso mercado", afirma Marques, que também é diretor da Andrade Gutierrez. Por outro lado, no entanto, o setor goza de benefícios importantes, como a linha do Finame, que financia máquinas a uma taxa de juros média de 5,5% ao ano
Como em vários outros mercados, a China roubou a cena nos últimos cinco anos. Sozinha, abocanhou metade do que é vendido no mundo - saiu de uma participação de 16% no mundo para 66% este ano. A capacidade produtiva chinesa em 2010 está em 254 mil unidades e a projeção é de atingir 425 mil unidades. "Já tivemos duas feiras este ano e o apetite dos chineses é impressionante".
Com tanta produção, o setor enfrenta um desafio importante: o aumento da frota de equipamentos novos e alto volume de estoques. Até por conta disso, a alta expressiva da venda este ano no país não será mantida. A expectativa é que o setor cresça um pouco acima de 10% ao ano até 2015, mesmo com a previsão de muitas obras pela frente. O setor de infraestrutura (incluindo Copa do Mundo, Olimpíada, energia, mineração, saneamento, construção civil, shoppings, hospitais e universidades) irá investir R$ 1,3 trilhão até 2016.
O mercado de locação, cujos preços subiram entre 20% e 25%, já começam a recuar em algumas cidades. A procura é maior na construção de edifícios.
Valor Econômico
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