Importados acirram concorrência com a indústria de peças e componentes para veículos de duas rodas
São Paulo - A indústria fabricante de peças e componentes para atender os setores de bicicletas e motociclos continua sofrendo sérios problemas em função da forte concorrência dos produtos asiáticos no mercado nacional e internacional.
As empresas que trabalham com produtos para o segmento de bicicletas estão terminando o ano de 2010, apresentando um resultado em termos de volume 11% maior, “só que estamos perdendo em margem, uma vez que nossos preços médios caíram em função da concorrência externa”, diz Auro Levorin, vice-presidente do Simefre – Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários.
Peças e partes para bicicletas - Segundo ele, a recessão nos mercados europeus e nos Estados Unidos e o dólar baixo em comparação ao Real, fizeram que os fabricantes asiáticos voltassem suas forças para o Brasil. A indústria nacional para manter suas vendas e poder competir com os importados, reduziu seus preços em cerca de 10%. “Mesmo assim, estimo que os importadores duplicaram suas vendas em 2010 em comparação ao volume de 2009. Para nossa sorte, o mercado brasileiro está com boa demanda o que permitiu que mantivéssemos nosso quadro profissional intacto”, declara.
Hoje a indústria de peças opera com 70% da sua capacidade, ou seja, com índice de 30% de ociosidade, que chega ser considerado suportável. “Mais que isso compromete nossas empresas”, frisa.
Levorin diz que o mercado está com uma ótima demanda, por outro lado aumentou a concorrência das empresas estrangeiras. O grande comprador, neste momento é o segmento de reposição porque o original permanece igual a 2009 e 2008.
Segundo Levorin, os fabricantes que fornecem para o mercado de reposição já deixaram de fabricar alguns itens como freios, cubos, movimento central, etc. por conta da concorrência com os importados. “Existe a ameaça de outras peças deixarem de ser produzidas, entre elas aquelas fabricadas em aço”.
Para Levorin, os fatores que impactaram negativamente o desempenho do setor foi o aumento do custo de insumos nacionais (mão-de-obra, energia elétrica e serviços) e a falta de uma política industrial. “Até agora o MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio não conseguiu tirar da gaveta nenhuma proposta que realmente atenda às necessidades das empresas da área”.
Atualmente a indústria não produz uma série de peças porque perdeu competitividade.
Exportação – As vendas externas de peças para veículos de duas rodas continuam em queda livre. Hoje, o setor exporta menos de 10% da produção para países do Mercosul que oferecem vantagens tarifárias.
Perspectivas 2011 – Ao comentar sobre as perspectivas para 2011, Levorin acredita que o mercado ficará estável sem grandes mudanças. Porém, no entender do vice-presidente do Simefre, se nada for feito para salvaguardar os interesses dos produtores brasileiros contra a concorrência desleal, a participação da industrial nacional continuará diminuindo e perdendo espaço para os importados. Com isso, certamente haverá corte de funcionários. “A indústria não tem como manter um quadro operacional ocioso por muito tempo”, anuncia.
Peças e partes de Moto - Renan Chiabai Feghali, diretor do Simefre, diz que as vendas para as montadoras em 2010 cresceram cerca de 10%, mas ainda estão abaixo do volume comercializado em 2008. Quanto ao mercado de reposição deve ser 10% maior. “As montadoras voltaram a fazer compras com bastante intensidade, ao mesmo tempo em que intensificaram o processo de substituição das peças brasileiras pelos conjuntos importados”, acentua.
Para 2011, o executivo aposta em crescimento de 10% nas vendas para as montadoras e 5% no mercado de reposição. Segundo Feghali, as razões para isso são as mesmas que vem causando as perdas no segmento de bicicletas, com a clara vinculação contratual entre as diferentes montadoras com relação a modelos de moto que estão sendo importadas em CKD e a outra é o PPB - Processo Produtivo Básico, de Manaus -AM (em revisão na Suframa – Superintendência da Zona Franca de Manaus) é considerado frágil como promotor de uso de componentes brasileiros das motocicletas.
No segmento de moto e peças também há excesso de oferta na Ásia por conta da crise econômica nos Estados Unidos e Europa. Isso tem provocado a depressão de preços no mercado brasileiro e também importações de componentes.
Aguarda-se que o MDIC (Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) finalmente encaminhe as propostas do PPB para que haja a reativação do setor de motopeças, que é altamente gerador de empregos no País.
Quanto ao mercado de reposição, há forte crescimento de mercado como um todo, mas as parcelas principais desse crescimento têm beneficiado os importadores.
Feghali diz que a esperança dos fabricantes de peças para bicicletas é que se efetive a normalização de qualidade liderada pelo Simefre junto à ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial).
O regulamento já passa a ter validade para a melhoria das peças brasileiras no mercado interno e melhor controle dos importados a partir de junho de 2011. “Vale ressaltar a participação e o empenho de Edson Suster, gerente executivo do Simefre que tem representado o setor junto às ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e ao Inmetro”, comenta. [www.simefre.org.br]
Portal Fator Brasil
Superávit é de US$ 580 milhões na primeira semana de dezembro
As exportações brasileiras na primeira semana de dezembro (1º a 5), com três dias úteis, foram de US$ 2,670 bilhões, com média diária de US$ 890 milhões. O resultado é 35,4% superior à média de US$ 657,4 milhões registrada em dezembro de 2009 e 0,6% maior que a média aferida em novembro deste ano (média de US$ 884,4 milhôes).
No mesmo período, as importações somaram US$ 2,090 bilhões, com média diária de US$ 696,7 milhões. Por esse critério, houve crescimento de 24,7% em relação ao mês de dezembro do ano passado (média de US$ 558,8 milhões) e queda de 19,8% sobre novembro último (média de US$ 868,8 milhões).
Com estes dados, a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 580 milhões, com média diária de US$ 193,3 milhões. O resultado é 96% superior à média de dezembro de 2009 (US$ 98,6 milhões) e está 1.139,3% acima da média de novembro passado (US$ 15,6 milhões). A corrente de comércio (soma das exportações e importações) totalizou US$ 4,760 bilhões, com média diária de US$ 1,586 bilhão.
Ano
No acumulado de janeiro à primeira semana de dezembro deste ano (231 dias úteis), as vendas ao exterior somaram US$ 183,667 bilhões (média diária de US$ 795,1 milhões). Na comparação com a média diária do mesmo período de 2009 (US$ 608,4 milhões), as exportações cresceram 30,7%.
As importações, no acumulado do ano, foram de US$ 168,154 bilhões, com média diária de US$ 727,9 milhões. O valor está 43,5% acima da média registrada no mesmo período de 2009 (US$ 507,2 milhões).
O superávit da balança comercial no ano chegou a US$ 15,513 bilhões, com média diária de US$ 67,2 milhões. O número ficou 33,7% abaixo da média registrada no mesmo período do ano passado (US$ 101,2 milhões).
No acumulado do ano, a corrente de comércio somou US$ 351,821 bilhões, com média diária de US$ 1,523 bilhão. O valor é 36,5% maior que a média aferida neste mesmo período no ano passado (US$ 1,115 bilhão).
Assessoria de Comunicação Social do MDIC
Brasil e Argentina discutirão integração produtiva com presidentes de montadoras
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e o Ministério de Indústria da Argentina querem discutir com os presidentes das montadoras de automóveis instaladas nos dois países maneiras de aumentar o conteúdo regional das autopeças utilizadas nos veículos produzidos na região. O encontro está previsto para fevereiro de 2011, em local a ser definido.
Segundo o secretário de Comércio Exterior do MDIC, Welber Barral, nessa reunião será apresentado estudo da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) que mostra aumento da utilização de autopeças importadas em detrimento de itens regionais fabricados pelas montadoras dos dois países. O setor automotivo responde por aproximadamente 30% das exportações de cada país.
A tentativa de aumentar a produção regional de autopeças foi um dos itens discutidos na reunião da Comissão de Monitoramento do Comércio Brasil-Argentina realizada hoje (3/12), em Brasília, com a participação brasileira coordenada pelo secretário-executivo do MDIC, Ivan Ramalho. O assunto faz parte do tema integração de cadeias produtivas, que ainda inclui discussões sobre os segmentos: vinhos, madeira e móveis, máquinas e implementos agrícolas, lácteos, petróleo e gás, linha branca e setor aeronáutico.
Empresários desses setores e representantes dos dois governos têm se reunido para discutir o tema, considerado prioritário para incentivar o aumento do intercâmbio comercial. "A integração produtiva tem o foco de permitir o aumento dos negócios e investimentos mútuos", destacou Barral durante entrevista concedida após o fim da reunião bilateral.
Principal parceiro
Para o secretário de Indústria da Argentina, Eduardo Bianchi, a continuidade do aumento da corrente de comércio entre os dois países é prioridade, mas o déficit argentino nessa relação comercial "merece monitoramento e atenção". Para reforçar a importância da parceria comercial com o Brasil, ele destacou que as exportações argentinas para o Brasil aumentaram 31% nos dez primeiros meses deste ano, enquanto que, para o resto do mundo, cresceram 24%. Nas importações de produtos do Brasil, o aumento foi de 50%. De outros países, o acréscimo chegou a 44%.
Números da Secretaria de Comércio do MDIC mostram que a corrente de comércio entre Brasil e Argentina foi de US$ 29,5 bilhões entre janeiro e novembro deste ano, aumento de 41,6% em relação ao mesmo período de 2009. Nos 11 meses de 2010, o Brasil teve superávit de US$ 3,367 bilhões, tendo exportado US$ 16,456 bilhões para a Argentina e importado US$ 13,089 bilhões do país.
Com esses números, o país manteve o posto de terceiro principal parceiro comercial do Brasil, superado apenas pela China e os Estados Unidos, nas exportações, e pelos Estados Unidos e a China, nas importações. "Se continuar nesse ritmo de crescimento, a Argentina logo ultrapassará os Estados Unidos como segundo parceiro comercial do Brasil", destaca o secretário de Comércio Exterior do MDIC.
Grupo China
Brasil e Argentina também pretendem aumentar suas exportações para os chineses, maiores importadores mundiais. Essa é uma das finalidades do Grupo China, criado em 2009 e que hoje apresentou os principais produtos dos dois países identificados como passíveis de compra para o país. Levantamento realizado pelo Departamento de Planejamento e Desenvolvimento do Comércio Exterior da Secretaria de Comércio Exterior do MDIC especificou e segmentou essas áreas, tendo sido levantados, a princípio, 42 setores com potencial importador a ser explorado na China.
Os 15 primeiros foram: petróleo e derivados, materiais elétricos e eletro-eletrônicos, máquina e motores, produtores minerais, plásticos e suas obras, veículos automotores e suas partes, metais não-ferrosos, instrumentos de precisão, produtos metalúrgicos, produtos químicos, soja (grãos, óleos e farelo), aviões, papel e celulose, gorduras e óleos animais e vegetais e borracha e suas obras.
Outros itens da pauta da reunião bilateral de comércio foram harmonização estatística, acompanhamento dos acordos setoriais em vigor, defesa comercial, regra de origem, compras governamentais, Lista de Exceções à Tarifa Externa (TEC) do Mercosul e problemas técnicos no comércio bilateral de produtos agrícolas, como mosto de vinho, cítricos e azeite de oliva. O próximo encontro ainda não tem data prevista.
MDIC
Um ano doce para o Paraná
Foi um ano doce para os empreendedores da cana-de-açúcar no Paraná. A produção de açúcar no estado, o terceiro maior no ranking nacional atrás de São Paulo e Minas Gerais, será 26,32% maior em relação a 2009. O objetivo é fechar dezembro com 3,07 milhões de toneladas, para 2,43 milhões de toneladas no ano passado. As projeções são da Associação dos Produtores de Bioenergia do Paraná (Alcopar), que reúne empresas de álcool, açúcar e cana do estado.
"Atravessamos um período difícil em 2008 e 2009, quando os investimentos caíram devido à crise financeira. Sem falar em problemas climáticos como o excesso de chuvas no final do ano passado e início de 2010", explica José Adriano da Silva Dias, superintendente da Alcopar. "Mas 2011 promete ser um ano de equilíbrio, com oferta e demanda numa boa proporção", diz. "Aqui no Paraná, sempre trabalhamos com os pés no chão e muita cautela ao fazer projeções", afirma.
Segundo o superintendente da Alcopar, o crescimento não foi maior ainda devido a problemas como a não renovação de pelo menos 20% da lavoura de cana todos os anos. "Não foi possível investir nisso e agora temos um acúmulo de renovação, a ser resolvido em 2011", explica. Assim, a perspectiva é de chegar a uma safra de cana de 33,8 milhões de toneladas em 2010/2011, diante de 32,9 milhões de toneladas em 2009/2010.
Dias lembra que o país responde por mais da metade do açúcar comercializado no mundo, com 28 milhões de toneladas vendidas para fora esse ano. Entre os importadores do açúcar paranaense, os árabes respondem por mais de 15%. Na lista dos maiores compradores do bloco estão Argélia, Emirados Árabes e Síria. "Os melhores clientes são aqueles que pagam corretamente e fazem encomendas com frequência", afirma Dias. "Os árabes são assim".
No Paraná, as exportações de açúcar começaram em 2008 e naquele ano responderam dos 10,05% das vendas do produto para fora do país. Em toneladas, isso representou 1,9 milhão de toneladas no mesmo ano.
A Alcopar foi fundada em 1981 e atualmente reúne 30 empresas que trabalham com álcool, açúcar e cana no Paraná. A sede da associação funciona em Maringá, a 430 quilômetros da capital do estado, Curitiba.
ANBA
EUA cobram do Brasil abertura comercial similar a de países ricos
Os Estados Unidos passaram a um novo patamar de cobrança sobre Brasil, China e Índia para se comprometerem em abrir seus mercados em "nível similar" a dos países ricos e facilitar a entrada de produtos industriais e serviços estrangeiros.
A cobrança ocorre depois que o presidente Barack Obama anunciou no G-20, em Seul (Coreia do Sul), que os EUA concordavam em tentar concluir a Rodada Doha de liberalização comercial em 2011, depois de dois anos afastados da negociação.
Obama assinalou pela primeira vez que estava disposto a pagar o custo político de tentar passar um acordo de Doha no Congresso, que se torna mais hostil a ele e à abertura comercial.
Na volta a Genebra, os países elaboraram um cronograma para tentar fechar a negociação até julho ou agosto de 2011, e assinar o acordo final numa conferência ministerial em dezembro.
Só que o engajamento americano vem com cobrança ampliada, singularizando Brasil, China e Índia. Até 2008, quando foi negociado um pacote agrícola, industrial e de serviços, os EUA aceitavam o mandato da negociação de Doha, prevendo "reciprocidade menos que total" por parte dos países em desenvolvimento - ou seja, os ricos deveriam abrir mais seus mercados.
Washington agora alega incessantemente que o "mundo mudou" desde 2008, quando Doha foi paralisada após confronto entre os EUA e a Índia na área agrícola. E insiste para os três grandes emergentes pagarem um preço "similar" ou "compatível" na abertura comercial, por suas presenças crescentes na economia global.
Na cena comercial de Genebra, os americanos dizem que o Brasil negociou melhor que eles em 2008 no desenho do pacote de Doha e precisam reequilibrar as concessões. O fato de a nação mais poderosa do mundo reclamar que bateram sua carteira na negociação só pode ser reconhecimento de incompetência ou tentativa esquisita de alterar as regras do jogo.
O Valor apurou que o embaixador do Brasil junto à OMC, Roberto Azevedo, insiste nas reuniões restritas com o que o presidente Lula declarou em Seul, no G-20, há três semanas: que o pacote de Doha estava 98% concluido. Sobram os 2% para barganhas industrial, de serviços e agrícola, desde que os EUA deem sua contrapartida.
Os brasileiros notam que um país não se torna desenvolvido em dois anos, como os americanos parecem alegar. Alem disso, o Brasil considera que já paga o preço de um sistema financeiro mais controlado, que limita sua competitividade e eleva o custo de capital - e, portanto, do custo país. As importações estão elevadas, e os EUA tem seu maior superávit comercial justamente com o Brasil. E, como se isso não bastasse, Washington, na prática, pede para o país praticamente exportar empregos para sua economia, deixando de produzir internamente.
Ao mesmo tempo, os EUA e outros países desenvolvidos querem manter sua capacidade de distorção no comércio agrícola, com subsídios elevados (EUA), tarifas de importação altíssimas, comércio administrado como a UE (cotas) e barreiras sanitárias e fitossanitárias.
A conclusão é de barganhas mais difíceis de se materializarem. E isso vai se refletir não só em Doha, mas também em outras negociações internacionais, com a mudança de poder em favor dos emergentes.
Valor Econômico
Visão latina sobre China é míope, aponta estudo do BID
Não é exagero pensar que China e Brasil foram destinados a ser grandes parceiros comerciais, mesmo que seus governos fossem incapazes de perceber as oportunidades. Mas depois de construírem uma forte relação comercial nos últimos dez anos, é preciso mudar. A avaliação é de Maurício Mesquita Moreira, economista-chefe para a América Latina do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), autor de estudo que o BID divulga hoje em Washington sobre as relações entre chineses e latino-americanos na década que termina. Para ele, uma mudança nas relações diplomáticas e comerciais entre os países da região, Brasil à frente, e a China, é inevitável.
"O Brasil passou de uma posição ingênua, no começo da década, para uma percepção mais madura do jogo. E deve endurecer nas questões tarifárias se quiser ganhar mais espaço", diz Moreira. Ele se refere à relação comercial fortemente concentrada na exportação de produtos básicos, por parte do Brasil, e na maciça venda de bens industrializados, do lado chinês. "O desequilíbrio é ainda mais brutal no restante da América Latina, onde as exportações para a China são praticamente nulas, mas as importações são enormes", diz.
"Seria virtualmente impossível para a China sustentar uma taxa de crescimento de dois dígitos sem importar uma quantidade enorme de produtos básicos, e a América Latina é uma das poucas regiões do mundo em que esses recursos podem ser encontrados em abundância", resume o estudo "Dez anos após disparar", do BID. Não à toa, os principais produtos exportados pelos latino-americanos aos chineses são oriundos do campo e das minas.
Apenas soja, ligas e minério de cobre e minério de ferro respondem por 57,8% de tudo o que é vendido à China. Mesmo assim, apenas quatro países da região registraram saldos positivos na balança comercial com os chineses na década. O Chile, maior produtor de cobre e derivados do mundo, obteve o melhor resultado: o saldo comercial com a China respondeu por 28% do total comercializado pelo país na década. No Brasil, a participação foi de 4,1%. Já no conjunto da América Latina, o saldo é negativo em 3,3%.
Para Moreira, os países latino-americanos tiveram uma visão míope, ao longo da década, deixando as imperfeições se aprofundarem em troca de crescentes saldos comerciais e de investimentos diretos de companhias chinesas. Apenas entre janeiro e julho deste ano, os investimentos diretos chineses no Brasil foram 61 vezes maiores que em todo o ano de 2003, primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva, atingindo US$ 408,5 milhões. "Mas ainda é pouco, e mesmo essa relação é desigual, uma vez que os investimentos feitos pelas empresas brasileiras na China foram devido às duras condições impostas pelo governo chinês", afirma Moreira, que cita o caso da Embraer, que começou a investir em fábricas na China no ano 2000, respondendo aos anseios do governo local, que exigira da companhia o desenvolvimento de aviões no país. "O governo chinês disse que só compraria aviões da Embraer se fossem produzidos lá."
Para o economista-chefe do BID, além das barreiras não-tarifárias, como as imposições para internalização de investimentos, os principais entraves para uma melhora na composição da balança comercial entre Brasil e China, que amplie as exportações de manufaturados, são as barreiras tarifárias, que continuam elevadas, mesmo após os cortes promovidos pelo governo chinês desde que o país ingressou na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001.
Segundo o levantamento do BID, a China cobra tarifa média de 9,1% sobre o produto industrializado oriundo da América Latina, e apenas 1,3% sobre os bens minerais. "Mas é óbvio que não tem bom moço nessa história, porque as tarifas brasileiras ainda são altas, como os 15,8% em média cobrados dos manufaturados chineses", diz Moreira, para quem uma redução nas duas pontas ampliaria, inclusive, as relações políticas e diplomáticas.
"Está na hora de lavar a roupa suja", diz Moreira, "discutindo a redução de barreiras, tarifárias ou não, deixando a estratégia de comércio exterior brasileira mais aprimorada e madura quanto à China". No estudo, o caso da montadora Chery é elogiado, e lembrado como exemplo a ser seguido. A fábrica chinesa chegou no Uruguai, em 2007, e no Brasil, neste ano, com investimentos que totalizarão US$ 500 milhões. "Essa é uma menção honrosa e que a diplomacia da região deve usar como bandeira de novos projetos."
Valor Econômico
Brasil ousa dar rumo ao Mercosul
Em duas semanas, o governo brasileiro tentará uma jogada ambiciosa para enfrentar uma das principais críticas ao Mercosul, a de que é um arranjo muito imperfeito - um ensaio de integração econômica e comercial perfurado de exceções, que impedem o livre trânsito de mercadorias e atrapalham negócios das empresas dedicadas ao bloco regional. O Brasil que fixar, com os sócios, datas e métodos para remover os obstáculos que ainda existem à integração comercial nos países do Mercosul. A recepção da proposta entre os técnicos dos quatro países, reunidos na semana passada, não permite muito otimismo, porém.
Durante dois dias, na semana passada, diplomatas e técnicos do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai debateram sugestões como a meta de 1º de janeiro de 2011 para que todas as alfândegas desses países estejam integradas eletronicamente e unificados os procedimentos e normas dos fiscais aduaneiros em todas as fronteiras do Mercosul. A proposta também estabelece etapas (até 2017) para que, uma vez ingressada em algum dos países do bloco, uma mercadoria possa transitar por todos os outros sem ter de pagar novamente tarifa de importação.
Os cronogramas e medidas discutidos pelos negociadores devem orientar a próxima reunião de cúpula do bloco, nos dias 16 e 17 de dezembro, em Foz do Iguaçu, e, na falta de acordo, a decisão ficou para os ministros e presidentes. No campo econômico, a discussão está concentrada no que os diplomatas chamam de "consolidação da união alfandegária", uma agenda de 28 capítulos e algumas dezenas de artigos. Como antecipou em outubro ao Valor o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, o objetivo do governo brasileiro é criar "metas" para uma "integração plena" entre os países.
O problema, para alguns dos sócios do Brasil no Mercosul, é que essa integração obedece a prioridades do Brasil, nem sempre coincidentes com as dos demais. Os brasileiros querem, por exemplo, acabar com as chamadas exceções à tarifa externa comum, que são, de fato, uma excrescência num bloco integrado de comércio como pretende ser o Mercosul. Mas os sócios menores acusam os brasileiros de querer prejudicá-los nessa discussão.
Hoje, em vez de tarifas homogêneas, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai cobram, cada um, diferentes alíquotas de imposto de importação sobre bens de informática e telecomunicações e sobre máquinas e equipamentos para a indústria (os chamados bens de capital). Dono de uma diversificada indústria de máquinas e equipamentos, o Brasil tem tarifas mais altas, para proteger a produção local, enquanto os sócios obtiveram, na marra, permissão para importar com tarifas mais baixas, barateando investimentos e evitando uma dependência excessiva dos equipamentos produzidos no maior país do bloco.
Os uruguaios costumam criticar a subordinação dos interesses do Mercosul às conveniências do sócio mais forte. Eles reclamam da insistência brasileira em tarifas mais altas para os bens de capital; queixaram-se também da resistência brasileira a incluir, no documento de "Consolidação" uma regulamentação mais rígida para concessão de incentivos fiscais e financeiros (o Brasil, país com maior capacidade para dar incentivos, não quer perder a autonomia que tem para dar fôlego à indústria nacional).
As ambições do Itamaraty se estendem à criação de regimes especiais conjuntos de apoio a setores empresariais - o documento prevê a consolidação, até o fim de 2011, de um esquema desses, com facilidades para os investidores, voltado para as indústria naval e aeronáutica; até o segundo semestre de 2014 seria criado um para os setores de saúde e educação, entre outros.
As sugestões brasileiras correm o risco, porém, de se transformarem em uma lista de compromissos genéricos, longe da intenção manifestada por Amorim, de aprofundar as normas comuns entre os países do Mercosul. Em alguns casos, quem resiste às definições são os sócios do Brasil; em outros, são os próprios brasileiros que rejeitam a perda de soberania que implica esse tipo de acordo.
Paralelamente, porém, os setores ligados à indústria dos dois governos mostram a necessidade de uma maior coordenação entre os países, para extrair o máximo de vantagens do interesse mundial pelos mercados da região. Na sexta-feira, Argentina e Brasil anunciaram a intenção de negociar uma proposta comum para discutir, em 2011, com as montadoras de automóveis, responsáveis por um terço do comércio entre os dois países. A intenção dos dois governos é pressionar as empresas multinacionais para que incluam Brasil e Argentina entre seus centros de desenvolvimento de novas tecnologias, de materiais e máquinas inovadores a combustíveis alternativos.
Assumiram o desafio de mostrar que os dois países, coordenados, têm mais chance de obter resultados favoráveis do que se competirem entre si pelas boas graças dos investidores.
Valor Econômico
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