Falta de pneu já aumenta preço de frete
O forte e rápido crescimento da produção de veículos pesados está provocando um descompasso entre oferta e demanda de pneus no Brasil. Para os transportadores, a falta de pneus é alarmante e já se reflete no custo do frete.
Os fabricantes admitem problemas pontuais, mas dizem que a situação não é generalizada e que a tendência é que a oferta aumente à medida que os investimentos em expansão de capacidade sejam maturados. O fato é que, com a crise de 2008, houve um processo de desinvestimento, com algumas linhas sendo desativadas, e a produção caiu.
Mas, com a desoneração do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para caminhões novos -válida até 31 de dezembro-, as vendas explodiram. E os fabricantes de pneus não conseguiram responder à demanda na mesma velocidade. "A indústria de pneus provavelmente não investiu da forma que era necessária", diz Osmar Sanches, analista setorial da Lafis Consultoria.
De janeiro a setembro, a produção de caminhões cresceu 68% no país, segundo a Anfavea (associação dos fabricantes de veículos).
Já a fabricação de pneus de carga avançou 58% no mesmo período, conforme a Anip (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos).
"O consumo retornou rapidamente e em nível elevado, o que pegou a indústria de surpresa", afirma Ricardo Drygalla, gerente do segmento de carga e transporte da Bridgestone. "Em alguns momentos, existe descompasso entre oferta e demanda. Mas está longe dizer que a indústria de transportes vai parar por causa disso", diz Drygalla. A Bridgestone prevê crescimento de 35% na produção de pneus neste ano.
Para suprir a necessidade das montadoras e do mercado de reposição -também mais aquecido como reflexo do aumento da movimentação nas estradas-, as importações crescem. Segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), entre janeiro e agosto o volume das importações brasileiras de pneumáticos cresceu 44%, mesmo com a tarifa antidumping imposta pelo Brasil aos pneus chineses.
Impacto no frete - O caminhoneiro Luiz Carlos Neves, presidente da Fenacat (Federação Nacional das Associações e Cooperativas de Caminhoneiros e Transportadores), reclama das condições de mercado. "Dependendo da medida do pneu, é preciso aguardar a entrega. E os preços subiram. Um pneu aro 295, que antes custava R$ 1.150, agora é vendido por R$ 1.300. Compras no atacado não existem mais; só no varejo."
Com isso, o habitual desconto de 15% nas vendas no atacado sumiu e o custo das transportadoras aumentou, diz Antonio Caetano Pinto, diretor do Setrans (Sindicato das Empresas de Transportes de Carga do ABC).
Luiz Carlos Podzwato, superintendente do Setcepar (Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Estado do Paraná), diz que a situação pode resultar em alta de 2% a 3% no preço do frete.
Para Newton Gibson, presidente da ABTC (Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga), o cenário é alarmante e o custo do frete pode subir até 8%. "As rodovias respondem por mais de 60% da movimentação de cargas no país. Se essa situação persistir e não houver investimento na produção de pneus, podemos ter um apagão rodoviário", afirma Gibson.
Folha de São Paulo
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