Preço de matérias-primas dispara e exportador tem renda extra de R$ 40 bi
Alta dos produtos agrícolas e metais, provocada pelo crescimento da demanda mundial, deve se acentuar depois do pacote bilionário dos EUA
Os preços das matérias-primas exportadas pelo Brasil dispararam no mercado internacional e já garantiram uma renda extra de R$ 40 bilhões aos exportadores neste ano até setembro. Essa cifra trouxe otimismo para as regiões produtoras de algodão, café, laranja e cana, com aumento nas vendas de tratores e imóveis. Também ampliou as perspectivas de receita para o ano que vem das safras de soja e milho, que estão em fase de plantio.
A alta das commodities agrícolas e metálicas reflete a forte demanda mundial, especialmente da China, e também movimentos especulativos. Na semana passada, o Fed, o banco central americano, anunciou que vai despejar US$ 600 bilhões no mercado para reanimar a economia dos Estados Unidos.
A decisão empurrou o dólar para níveis ainda mais baixos. A fraqueza do dólar perante outras moedas deve acelerar a procura por commodities como alternativa de investimento e impulsionar mais os preços das matérias-primas produzidas pelo Brasil nos próximos meses, preveem analistas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou, na sexta-feira, o desempenho das exportações de matérias-primas: “Está chegando a hora em que as commodities estão ficando mais valiosas dos que os tais produtos manufaturados”. Ele lembrou que, anos atrás, o que se dizia era que o País não poderia continuar a ser exportador de itens básicos e precisava vender mais bens industrializados.
De janeiro a setembro deste ano, as exportações de um grupo de 27 matérias-primas agrícolas e não agrícolas renderam ao País US$ 84,8 bilhões. São US$ 24 bilhões (R$ 40,3 bilhões) a mais em relação ao mesmo período de 2009. A receita adicional em dólares é quase o dobro do saldo total da balança comercial acumulado até setembro (US$ 12,7 bilhões) e bem maior que o superávit de US$ 14,6 bilhões registrado no ano até outubro.
Efeito retardado. “A explosão dos preços das commodities a partir do segundo semestre vai aparecer na receita de muitos produtos agrícolas no ano que vem, como o algodão, que atingiu a maior cotação em 140 anos”, observa o vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Na região de Barreiras, oeste da Bahia, onde se planta soja, milho e algodão, o reflexo do aumento de preços desses produtos já foi sentido pelos cotonicultores, conta o presidente da Associação Comercial de Barreiras e sócio da revenda de tratores Jaraguá Bahia, Jair Francisco.
Ele explica que a colheita do algodão na região ocorre mais tarde do que a de grãos. Quando o preço da fibra atingiu níveis recordes no mercado internacional, apenas parte dos agricultores ainda tinha o produto para vender. A sua empresa, por exemplo, registrou crescimento de 10% nas vendas de tratores neste ano e a expectativa é de um acréscimo de 15% em 2011.
“A colheita do algodão terminou em setembro”, diz Jeonásio Carvalho, sócio da Terra Imóveis, que atua na região de Barreiras. Desde julho, a sua empresa apresenta crescimento de 30% no número de negócios fechados com imóveis urbanos. São moradias na faixa de R$ 250 mil, adquiridas por pessoas ligadas indiretamente ao agronegócio.
Em Mato Grosso, onde o plantio de soja está atrasado por causa da seca, a escalada de preços em dólar atenuou o impacto da valorização do real na expectativa de receita das regiões produtoras. “Os agricultores estão mais animados. Três meses atrás, a situação estava horrível”, diz o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso, Glauber Silveira.
Na sexta-feira, a soja foi cotada a US$ 12,84 por bushel na Bolsa de Chicago, a cotação mais alta desde agosto de 2008. O preço elevado e a boa perspectiva do mercado levaram os produtores a acelerar as vendas da próxima safra. “Vinte e nove por cento da safra nacional 2010/2011 já foram vendidos”, diz Flávio Roberto de França Júnior, diretor da consultoria Safras & Mercado. No mesmo período de 2009, esse índice estava em 16% e a média de cinco anos para esta época é de 20%.
Café e laranja. Na região de Patrocínio, em Minas Gerais, onde é produzido café para exportação, o entusiasmo domina os produtores. Ricardo Bartholo, dono da Fazenda Cinco Estrelas e vice-presidente da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado, diz que investiu a receita da safra na produção. “Comprei mais um trator e estou replantando parte do cafezal.” Ele e 16 cafeicultores exportaram 150 mil sacas para Ásia e Europa este ano.
Na semana passada, a saca de café foi cotada a US$ 276 na Bolsa de Nova York, o maior preço em 13 anos. “Os preços subiram desde o início da safra e o produtor está se beneficiando”, diz Guilherme Braga, diretor do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil. Ele ressalta que a situação só não está melhor por causa do câmbio valorizado.
Também o preço da caixa de laranja aumentou duas vezes e meia nesta safra, acompanhando a alta do suco no mercado externo. Mas os produtores dizem que só 20% dos contratos da indústria foram reajustados.
O Estado de São Paulo
Superávit da primeira semana de novembro é de US$ 429 milhões
A primeira semana de novembro de 2010, com quatro dias úteis (1º a 7), teve saldo comercial positivo de US$ 429 milhões (média diária de US$ 107,3 milhões). Pela média diária, o resultado é 15,8% maior que o verificado em todo o mês passado (média de US$ 92,7 milhões) e está 251,1% acima do registrado em novembro de 2009 (US$ 30,6 milhões). A corrente de comércio (soma das exportações e importações) foi de US$ 5,981 bilhões (média diária de US$ 1,495 bilhão).
As exportações, na primeira semana do mês, fecharam em US$ 3,205 bilhão (média diária de US$ 801,3 milhões), representando aumento de 26,6% em comparação à média de novembro de 2009 (US$ 632,7 milhões). Houve crescimento nas vendas nas três categorias de produtos. Nos básicos (55,5%), os principais aumentos foram para soja em grão, minério de ferro, milho em grão, carne de frango, bovina e suína e café em grão. Entre os semimanufaturados (22,6%), destacaram-se: ferro fundido, semimanufaturados de ferro e aço, catodos de cobre, açúcar em bruto, ferro-ligas e couros e peles. Nos manufaturados (9,1%), houve crescimento nas máquinas e aparelhos para terraplanagem, tubos flexíveis de ferro e aço, tratores, partes de motores para veículos, laminados planos e autopeças.
Frente a outubro deste ano (média diária de US$ 919 milhões), as exportações da primeira semana de julho diminuíram 12,8%, com declínio nas vendas de produtos básicos (-16,8%), manufaturados (-10,4%) e semimanufaturados (-7%).
Nas importações, o total da primeira semana de novembro foi de US$ 2,776 bilhões (média diária de US$ 694 milhões), valor 15,3% acima da média de novembro do ano passado (US$ 602,1 milhões). Cresceram os gastos com cobre e suas obras (91,4%), borracha e obras (77,5%), siderúrgicos (46,7%), cereais e produtos de moagem (39%), combustíveis e lubrificantes (24,7%), equipamentos mecânicos (19,3%) e plásticos e obras (18%).
Em relação a outubro de 2010 (média diária de US$ 826,4 milhões), a média diária das importações diminuiu 16%. Houve retração nas importações de adubos e fertilizantes (-49,0%), farmacêuticos (-37,9%), veículos automóveis e partes (-30,5%), siderúrgicos (-25,4%), químicos orgânicos/inorgânicos (-19,1%) e combustíveis e lubrificantes (-16,6%).
Ano
No acumulado do ano, as exportações registraram US$ 166,514 bilhões (média diária de US$ 785,4 milhões), com aumento de 29,6% na comparação com a média de janeiro a primeira semana de novembro do ano passado (US$ 606,1 milhões). As importações alcançaram, no ano, o montante de US$ 151,464 bilhões (média diária de US$ 714,5 milhões) e registraram crescimento de 42,7% na comparação com a média do mesmo período de 2009 (US$ 500,6 milhões).
De janeiro até a primeira semana de novembro, a corrente de comércio somou US$ 317,978 bilhões (média diária de US$ 1,499 bilhão), o que representou crescimento de 35,5% na comparação com o mesmo período do ano passado - US$ 234,622 bilhões e média diária de US$ 1,106 bilhão. No ano, a balança comercial está superavitária em US$ 15,050 bilhões, com média diária US$ 71 milhões, número 32,7% abaixo da média diária de igual período em 2009 (US$ 105,4 milhões).
Assessoria de Comunicação Social do MDIC
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