RECAMINHÃO-RETREM
Todos no País conhecem os problemas que enfrentamos para executarmos uma logística de qualidade. Mesmo quem não é do ramo nota isso. A situação é tão flagrante que qualquer leigo hoje pode se aventurar a criticar nossos portos, rodovias, ferrovias etc. E os problemas tornam-se mais graves quando vemos o governo falando muito e fazendo pouco. Ou seja, todos conhecem os problemas, sabem quais são as soluções, e nada é feito.
Aproximadamente 60% da nossa carga anda pelas nossas estradas, muito ruins, ressalvando-se o Estado de São Paulo. Todos sabem que este é um percentual muito alto, que precisa ser reduzido. Não podemos nos dar ao luxo de transportar carga primordialmente por esse veículo, o mais caro meio de transporte. No entanto, embora errado, é estratégico, considerando nossa atual matriz de transporte. Assim, precisa de atenção, até a necessária mudança.
Esses atuais problemas não são novos, tendo sido iniciados na década de 50 do século passado, com a escolha da indústria automobilística como carro-chefe do nosso desenvolvimento. Não estamos e nem podemos criticar a escolha, muito ao contrário, tem nosso total apoio. Foi uma grande sacada do nosso presidente JK, obstinado pelo desenvolvimento e mudança de um Brasil arcaico para um bem mais moderno. As coisas seriam bem piores sem a indústria automobilística.
O problema foi termos abandonado, posteriormente, a ferrovia, sucateando-a e relegando-a a uma situação de quase completa inexpressividade, como fizeram seus sucessores. Felizmente, antes tarde do que nunca, conseguimos retomar o gosto pela ferrovia em meados da década de 1990, com a privatização de suas operações.
O veículo rodoviário não pode ser criticado indiscriminadamente. É um modo maravilhoso em todos os aspectos. É o único capaz de pegar a carga em seu ponto de origem, e entregá-la em seu ponto de destino. Ele apenas deve ser melhor utilizado. Se alguém desejar eleger apenas um veículo para transporte de carga, eliminando-se os demais, sem dúvida, será esse veículo o escolhido. Todos os demais, salvo raríssimas exceções com relação ao ferroviário, são absolutamente dependentes do caminhão.
Dessa maneira, precisamos diminuir o seu uso. Mas com uma frota mais jovem. E um aumento no transporte ferroviário. Os dois devem andar de mãos dadas pelo bem da nossa logística e do País. Eles não são concorrentes, mas complementares.
Para uma melhoria conjunta, propomos uma dupla ação com base numa ideia já em uso desde 2004 em nossos portos. O Recaminhão e o Retrem.
Precisamos entender, antes que seja muito tarde, que o caminhão e o trem não são bens de consumo, mas bens de produção. Aliás, qualquer utilitário enquadra-se nessa categoria, diferenciando-se dos veículos de passeio. Estes sim simples bens de consumo.
Assim, precisamos ter esses dois veículos vendidos sem impostos, sejam eles nacionais ou importados. De modo a termos reduzido seus custos de depreciação e transferência aos fretes. Isso levaria a um enorme ganho a toda a sociedade, com redução dos preços dos fretes das mercadorias. O resultado desse desprendimento das diversas esferas de governo será um imediato e automático aumento do poder aquisitivo dos brasileiros, permitindo maior consumo. A consequência direta é maior produção, mais emprego, mais crescimento, e assim por diante, criando-se um círculo virtuoso na economia.
Teríamos, ao mesmo tempo, uma melhoria nos custos gerais e uma mudança na matriz de transporte. Com o trem assumindo melhor posição. E o caminhão sendo um aliado mais efetivo dos demais modos de transporte.
Isso possibilitará uma completa renovação da nossa frota rodoviária, cuja idade média é de 18 anos, segundo se sabe. Com uma média tão alta como essa, e se estamos vendendo veículos como nunca, podemos imaginar a idade de alguns deles. Com tão alta idade a manutenção é mais cara, o consumo de combustível é maior e isso se traduz em altos fretes, incompatíveis com a nossa economia de país em desenvolvimento e de dimensões continentais. E levando nossos custos logísticos às alturas.
Após seis anos de Reporto, não entendemos o que o governo está esperando para criar o Recaminhão e o Retrem, de modo que os veículos possam ser comprados completamente isentos de impostos. Isso só pode ser em razão da sanha arrecadatória, sem pensar nos benefícios gerais para o desenvolvimento e consequente aumento da arrecadação por meio do crescimento econômico.
Afinal, não é o que ocorre também com os táxis, comprados sem impostos? E eles nem são meios de produção.
Einstein: "A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original."
Autor: SAMIR KEEDI
Economista com especialização na área de transportes internacionais.
Aduaneiras
Nenhum comentário:
Postar um comentário