China cobra do Brasil reconhecimento como economia de mercado
O diretor do departamento da América Latina do Ministério das Relações Exteriores da China, Yang Wanming, cobrou, esta semana, o cumprimento das promessas que Brasil e Argentina fizeram, durante os governos Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner, de reconhecer o país asiático como uma economia de mercado. "As palavras de Lula em 2004 se transformaram em letras mortas", disse.
O diplomata também fez dura crítica às regras antidumping adotadas especialmente pela Argentina. As queixas em relação aos dois maiores países do Mercosul alteraram o tom de uma entrevista do diplomata chinês a jornalistas latino-americanos, em Pequim, no fim da tarde de segunda-feira.
Realizada no suntuoso edifício do Ministério das Relações Exteriores, no bairro de Chaoyang, o mesmo que abrigou a Olimpíada de 2008, a entrevista, em princípio, não poderia se estender além de 40 minutos em razão de outros compromissos, avisou Wanming. O diplomata anotou uma pergunta de cada um dos 16 jornalistas presentes, que representavam o mesmo número de nações. Avisou que daria as respostas de uma só vez.
O método de acumular questões que misturaram temas de política, economia e relações diplomáticas parecia fadado à confusão, principalmente tratando-se de alguém que inicialmente se mostrava pouco familiarizado com o espanhol, idioma utilizado na tradução. A ordem das respostas não seguiu a das perguntas, mas sim a lógica do entrevistado, com clara prioridade às questões econômicas.
Wanming tratou de falar logo sobre a existência de "problemas comerciais entre China e Argentina". Mencionou a insatisfação em relação ao óleo de soja argentino, cujo grau de qualidade, segundo ele, teria, em 2010, ficado abaixo dos índices fixados pelo país asiático. Disse, em seguida, que o Brasil "não poderia faltar" nessa discussão. "Esperamos que esses países cumpram com suas palavras; estamos abertos para negociar".
Iniciada há quase sete anos, a discussão sobre o reconhecimento da China como economia de mercado reaparece sempre que a oportunidade aparece. Dessa vez, o diretor do Ministério das Relações Exteriores encarregado da América Latina e também Caribe aproveitou um raro contato com a imprensa de toda a região para, inclusive, comparar condutas entre países. Durante a entrevista, o Chile foi o mais elogiado.
Quando lhe pediram detalhes da queixa contra as regras argentinas antidumping, Wanming tinha um exemplo na ponta da língua: "A Argentina deveria tomar como referência preços de mercado local e não comparar produtos italianos com chineses".
O impasse surge à medida que Brasil e Argentina encontram dificuldades para mudar regras antidumping contra produtos chineses. O reconhecimento do paceiro comercial como economia de mercado implicaria a adoção de critérios da Organização Mundial do Comércio (OMC), mais rígidos.
O compromisso brasileiro de reconhecer a China como economia de mercado foi assumido com o presidente Hu Jintao durante sua primeira visita oficial ao Brasil, em novembro de 2004. O recuo, posteriormente, reforçava o receio de apoiar uma nação que, já dona de uma indústria de produtos acabados altamente competitiva, ainda manteve a moeda desvalorizada.
Na época do compromisso com Jintao, em 2004, o governo brasileiro exigiu, como contrapartida, a abertura do mercado chinês para as carnes brasileiras. As queixas dos frigoríficos brasileiros pela demora na liberação da fronteira chinesa à carne suína foram incluídas no pacote de assuntos a serem tratados pela presidente Dilma Rousseff em sua visita à China, em abril.
Wanming disse que, apesar de não dominar os detalhes técnicos, o Brasil está liberado para exportar carne suína. O diplomata ressaltou que as restrições impostas até aqui à carne suína não diziam respeito à questão comercial, mas sim à "qualidade".
Também não escapa aos chineses, pelo menos no que diz respeito ao tratamento diplomático da questão, a insatisfação do Brasil em relação à composição do comércio entre os dois países. Wanming disse apenas que reconhece a necessidade de elevar a participação dos produtos de maior valor agregado nas exportações do Brasil para a China, que se tornou seu maior parceiro comercial, com 15,2% das exportações brasileiras em 2010, segundo o Ministério do Desenvolvimento. Soja, minério de ferro e petróleo concentraram os embarques brasileiros para o país asiático, que totalizaram US$ 30,8 bilhões em 2010.
Para o lado brasileiro, o excesso de dependência na exportação de commodities agrícolas e minerais pode deixar o país mais vulnerável. Antes que alguém apontasse essa preocupação, Wanming lembrou que ambas as partes se beneficiaram. "Graças a isso, ambas atingiram crescimento econômico", disse.
O comércio da China com toda a América Latina, que alcançou US$ 180 bilhões em 2010, passará dos US$ 100 bilhões somente no primeiro semestre de 2011 e poderá facilmente chegar aos US$ 200 bilhões em todo o ano, segundo o diplomata. A soma não passou de US$ 40 milhões em 2004.
A balança está equilibrada na região, mas a China mantém déficit com Brasil, Argentina e Chile. Isoladamente, a balança brasileira alcançou superávit de US$ 5,2 bilhões em 2010, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento. "Quero enfatizar que o mercado chinês está aberto e o governo não tem como meta o superávit", disse o diretor para a América Latina.
O método de responder a todas as perguntas de uma única vez mostrou-se eficaz. Wanming não deixou escapar nenhuma questão. Já em relação ao tempo, a disciplina não foi igual. Menos preocupado com os compromissos que viriam, o entrevistado abriu espaço para perguntas adicionais e, ao final, surpreendeu os que ainda tentavam esticar a conversa ao se expressar num espanhol fluente.
Como ele mesmo dissera no início da conversa, poucos latino-americanos têm a chance de conhecer a China. Pelo que ele indicou, valeu então, a pena, aproveitar interlocutores ao seu alcance. Mas, mais do que promover a imagem do pais, a ideia de reunir a imprensa latino-americana indica o interesse em ampliar os canais de comunicação com nações que podem ajudar os chineses a incrementar o gigantismo econômico de seu país.
Valor Econômico
Exportações de bens manufaturados dependem cada vez mais do Mercosul
As exportações brasileiras de manufaturados estão cada vez mais dependentes do Mercosul. Entre 2005 e 2010, as vendas desses produtos para os países do bloco cresceram 90,3%, respondendo por 68,7% do aumento das exportações de manufaturados no período, segundo números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).
Com isso, a fatia do Mercosul nas vendas desses produtos subiu de 16,5% em 2005 para 25,8% em 2010, fazendo do bloco o principal destino dos manufaturados brasileiros. Na direção oposta, as exportações desses bens para os EUA despencaram, registrando um recuo de 37,8% nesses cinco anos, o que derrubou de 24,9% para 12,7% a participação americana nas vendas de produtos industrializados.
"O desempenho das exportações de manufaturados só não está pior por causa do forte crescimento das vendas para o Mercosul", diz o economista-chefe da Funcex, Fernando Ribeiro. De janeiro a maio deste ano, o bloco continuou a ganhar terreno. Com a alta de 30% sobre igual período de 2010, a fatia do Mercosul alcançou 27,3% das vendas de produtos industrializados.
Ribeiro afirma que o forte crescimento dos países vizinhos, em especial da Argentina, tem ajudado o Brasil a expandir exportações desse produtos para o bloco. O fato desses países se aproveitarem do aumento dos preços de commodities contribui para esse movimento, já que há mais renda para compra de manufaturados brasileiros.
Ribeiro destaca o aumento expressivo das vendas de automóveis entre 2005 e 2010 para o Mercosul, contribuindo com 43% da expansão das exportações de manufaturados no período. Segundo ele, as empresas do setor têm conseguido aumentar preços nas vendas para a Argentina. O ponto é que a elevada inflação no país vizinho valoriza o câmbio por lá, o que torna a apreciação do real menos prejudicial do que nas vendas para outros países. Ribeiro ressalta também as elevações expressivas nas exportações para o Mercosul de produtos dos setores de máquinas e equipamentos e de máquinas, aparelhos e materiais elétricos.
"O Mercosul tem sido o único grande mercado dinâmico para as exportações do país", resume ele, para quem isso justifica a importância estratégica atribuída ao bloco na política externa do país, assim como também mostra que vale a pena fazer o "máximo esforço" para atenuar e resolver conflitos comerciais com os países-membros.
Já as exportações de manufaturados para os EUA vão de mal a pior. Entre 2005 e 2010, houve queda em valores absolutos de quase 40% das vendas para o país, que perdeu o posto de principal destino desses bens que ocupava desde a década de 1980. As exportações de outros equipamentos de transporte (grupo em que aviões têm o maior peso) caíram nada menos que 67%, refletindo a retração do mercado americano por aeronaves, diz Ribeiro.
Há outros segmentos, segundo ele, em que o recuo se dá mais por perda de competitividade em relação a produtos de outros países, especialmente os asiáticos como a China. É o caso dos setores de máquinas e equipamentos, com queda de 22,5% em cinco anos, e de calçados e artigos de couro (tombo de mais de 60% no período). De janeiro a maio deste ano, a fatia dos EUA nas exportações de manufaturados caiu mais um pouco, para 12,4%.
Já a União Europeia registrou um pequeno aumento na sua fatia como destino das exportações brasileiras de manufaturados. De 2005 a 2010, a participação dos países europeus cresceu de 16,5% para 19,4%. A questão, segundo Ribeiro, é que a alta ocorreu em segmentos em que o movimento foi puxado principalmente pelo aumento de preços, como o de produtos químicos e o de alimentos e bebidas. Muitos dos produtos desses segmentos têm características de commodities, apesar de classificados como manufaturados, diz.
De modo geral, as exportações de manufaturados brasileiros têm decepcionado bastante, tanto que a participação desses produtos nas vendas totais caiu de 55,1% em 2005 para 38,4% em 2010.
Valor Econômico
Exportações de tabaco devem aumentar 15%, prevê Portonave
A Portonave S/A – Terminais Portuários de Navegantes prevê um aumento de 15% nas exportações de tabaco em relação ao ano passado, quando embarcou 8.881 TEUs do insumo para o exterior. Bélgica, Reino Unido e Alemanha são os principais destino da carga. Segundo a companhia, a previsão de aumento nas exportações é influenciada pela expectativa de comercialização positiva da safra por parte das empresas fumageiras que embarcam as cargas pelo Terminal de Navegantes. A safra de tabaco deste ano começou a ser exportada por meio da Portonave na segunda quinzena de junho.
Segundo o diretor-superintendente operacional da Portonave, Renê Duarte, o volume movimentado pela Portonave no ano passado representou 65% do total de tabaco exportado pelo estado de Santa Catarina e 17% dos embarques no Brasil. “Cada vez mais, estamos nos firmando como o principal terminal catarinense exportador de tabaco”, diz.
No ano passado, o Brasil exportou 503 mil toneladas e US$ 2,73 bilhões de tabaco, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e da Secretaria de Comércio Exterior (MDIC/SECEX). O produto totalizou 1,4% das exportações brasileiras neste período e, em Santa Catarina, representou 11,5% das exportações, segundo o Sindicato da Indústria do Tabaco da Região Sul do Brasil (SindiTabaco).
Da Redação
Portos e Navios
China avança sobre o açúcar brasileiro
A China pode bater novo recorde de importação de açúcar do Brasil ou pelo menos repetir o expressivo volume comprado em 2010. Nos portos de Santos (SP) e de Paranaguá (PR), os navios que se destinam ao país asiático não param de chegar. Até ontem, de todo o açúcar programado para exportação pelo Brasil neste mês, um percentual de 24% era destinado ao mercado chinês.
No ano passado, a China comprou 1,23 milhão de toneladas do produto do Brasil e se tornou o quarto maior comprador do açúcar bruto brasileiro. Em 2009, havia importado um volume bem menor, 254 mil toneladas.
Até ontem, 16 navios com destino à China estavam programados para embarcar a commodity em julho nos portos de Santos e Paranaguá, de um total de 82 embarcações previstas, segundo a SA Commodities, que atua em parceria com a Unimar no agenciamento marítimo. Assim, dos 2,93 milhão de toneladas previstas para serem exportadas no mês, 659,5 mil toneladas estavam programadas para o país asiático.
Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, estima que a China deve importar 2,3 milhões de toneladas de açúcar, de diferentes origens, na safra mundial 2011/12 que começa em 1º de outubro. O volume estimado é 21% superior ao do período anterior. Do Brasil, devem sair em torno de 55% desse total, estima Nastari, ou cerca de 1,26 milhão de toneladas, pouco acima do volume de 2010.
Outras empresas de consultoria preveem volumes ainda maiores de importação pela China. Apenas entre maio e novembro, o país pode precisar importar de 2,5 milhões a até 3 milhões de toneladas, segundo Jeremy Austin, da trading Sucden do Brasil. Mais de 1 milhão de toneladas virão do Brasil, segundo ele. "Os preços futuros da commodity em Xangai já estão subindo", observa Austin.
Segundo a Datagro, já na safra mundial 2011/12 a China deve superar a Rússia como maior importador mundial de açúcar. Em dois ou três anos, o país asiático deve se tornar também o principal importador do produto do Brasil. O apetite chinês deve dar sustentação aos preços da commodity no médio prazo, diz Nastari. Ontem, o contrato com vencimento em março subiu 6 pontos na bolsa de Nova York, fechando a 27 centavos de dólar a libra-peso.
A Rússia, diz a Datagro, deve reduzir suas importações de 3 milhões de toneladas (2010/11) para 1,9 milhão de toneladas (2011/12). Com isso, passará a quinto importador mundial, segundo a Organização Internacional de Açúcar (ISO, na sigla em inglês)
Em seu último relatório, de julho, a ISO observa que as importações de açúcar da China no primeiro trimestre do ano recuaram consideravelmente, como consequência da política do governo de liberar estoques internos. Mas o documento pondera que em abril e maio essas compras voltaram a subir com força. Alguns analistas acreditam, segundo a ISO, que a China terá que importar agressivamente antes de setembro, quando começa sua colheita, e que o Brasil sozinho pode contribuir com 500 mil toneladas de açúcar bruto somente em julho.
Se confirmado, esse volume será 55% maior do que o importado um ano antes. Nos portos brasileiros, a programação para o mês de julho é de embarque de 659,5 mil toneladas de açúcar para o mercado chinês..
Além de comprar do Brasil e da Austrália, os chineses também devem se abastecer de açúcar da Tailândia, segundo maior exportador do produto depois do Brasil. A produção tailandesa surpreendeu - vai crescer de 7,1 milhões para 9,6 milhões de toneladas - o que dará ao país um excedente exportável de 6,3 milhões de toneladas, ante 5,79 milhões de toneladas da safra anterior, segundo a ISO.
O consumo de açúcar na China vem subindo, puxado pelo aumento do consumo de industrializados no país. Feito de beterraba e de cana, a produção de açúcar chinês na safra 2011/12 será de 10,5 milhões de toneladas, segundo a Datagro, enquanto o consumo deve atingir 14,5 milhões de toneladas, um déficit anual de 4 milhões de toneladas.
Valor Econômico
Produtos peruanos chegarão ao Brasil livres de tarifas em 2012
Lima, 5 jul (EFE).- Os mercados do Brasil e Argentina receberão quase 100% dos produtos procedentes do Peru livres de tarifas a partir de 2012, devido ao Acordo de Complementação Econômica assinado com o Mercosul, declarou nesta terça-feira o ministro de Comércio Exterior e Turismo peruano, Eduardo Ferreyros.
Segundo esse acordo comercial, os produtos peruanos terão livre acesso ao Brasil e Argentina, com exceção de nove linhas tarifárias relacionadas ao açúcar, explicou o ministro, durante um seminário sobre comércio exterior em Lima.
Alguns dos principais setores que serão beneficiados pelo acordo são o têxtil - que tem o Brasil como segundo maior destino (depois dos Estados Unidos) -, pesca, agrícola e industrial.
Em contrapartida, o Peru levantará suas barreiras tarifárias ao Brasil e Argentina em 2018, acrescentou o ministro, em declarações reproduzidas pela agência de notícias estatal "Andina".
"Embora as tarifas sejam eliminadas, também queremos eliminar as barreiras que, na prática, não permitem que os produtos peruanos entrem com grande fluência", disse Ferreyros.
Por exemplo, o titular de Comércio Exterior assinalou que, "na Argentina, existem sistemas de licenças prévias que, às vezes, demoram até 180 dias" para ser emitidas.
Ferreyros anunciou nesta semana uma visita do vice-ministro de Comércio Exterior, Carlos Posada, à Argentina para encontrar uma forma para que "os bens transitem com maior liberdade".
UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário