CNI prevê déficit histórico para setor de manufaturados
Uma semana antes de o governo anunciar medidas que devem aumentar a competitividade do setor, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) apresentou ontem uma projeção de déficit comercial de US$ 51,1 bilhões no segmento de manufaturados este ano, o maior da história. Com o avanço das economias asiáticas e a valorização do real, a indústria da transformação brasileira vem perdendo espaço ano a ano no comércio exterior, mas o baque em 2011 será maior, segundo a entidade. Há cinco anos, o saldo comercial desse segmento - que desconsidera construção civil, setor extrativo e serviços de utilidade pública - ainda era robusto, segundo a CNI, apresentando superávit de US$ 30,4 bilhões. Em 2007, o resultado já foi menor, ficando positivo em US$ 19,5 bilhões. Mas com a crise financeira internacional, as compras passaram a superar cada vez mais as vendas.
Em 2008, a conta ficou no vermelho em US$ 6,2 bilhões, passou para US$ 7 bilhões negativos em 2009 e atingiu patamar recorde no ano passado, com um déficit de US$ 33,5 bilhões. "De 2005 para cá, a valorização (do real) foi de mais de 35% e não foi mitigada por mudanças sistêmicas que compensassem essa diferença, como burocracia, encargos e uma série de outras variáveis, como a desoneração da folha de pagamentos", comparou o gerente executivo da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.
Medidas potentes. Por isso, a entidade está tão ansiosa com o pacote de estímulo à indústria que será conhecido na próxima terça-feira. "Esperamos um pacote de medidas efetivas e potentes para que o setor possa lidar com a perda da competitividade no País nos últimos anos", comentou Castelo Branco.
Em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não quis detalhar o pacote e disse apenas que as medidas estimularão investimentos e ajudarão na competição de produtos importados no País. O ministro enfatizou, porém, que "nas próximas semanas" haverá novidades sobre a desoneração da folha e que poderá também tomar novas medidas para impedir a valorização cambial.
O economista chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, salientou que o desconforto da indústria é legítimo, pois a dificuldade encontrada hoje no cenário externo é real. Mas acredita que o setor deverá comemorar os incentivos a serem apresentados pelo governo. "O patamar atual do câmbio não é permanente, mas será perigoso se o governo resolver ajustar a economia toda a essa taxa", considerou.
Para o economista, com a situação externa incerta, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, mexer no câmbio no Brasil agora seria adicionar dúvidas a um quadro já de muitas incógnitas. "E quando o dólar voltar a subir, faremos o quê?", questionou, acrescentando que isso poderá se refletir negativamente na conta corrente e na inflação.
O Estado de São Paulo
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