LEGISLAÇÃO

terça-feira, 26 de julho de 2011

ECONOMIA

Globalização e concentração de capitais
A concentração de empresas é uma das faces mais controversas do capitalismo contemporâneo. A expressiva expansão da disponibilidade de recursos financeiros - intensificada na fase da chamada financeirização, ou globalização financeira, especialmente a partir das últimas décadas do século passado - tem representado um desafio crescente.

Na medida em que os mercados financeiros se sofisticaram com a criação de novos produtos, como os derivativos, e se interligaram nas 24 horas do dia, isso propiciou uma fantástica alavancagem de recursos. Estima-se que o volume global de ativos financeiros, sem considerar os derivativos, represente mais de quatro vezes o PIB mundial.
Ao mesmo tempo que essa liquidez aumentou o potencial de geração de crises, como as observadas especialmente a partir dos anos 90, também expandiu a disponibilidade de funding para as atividades produtivas: expansão das empresas, do comércio internacional, da evolução tecnológica e das inovações.
As empresas intensificaram sua atuação para fora das fronteiras dos seus países de origem, por meio dos investimentos diretos estrangeiros, cujos fluxos cresceram da média anual de US$ 200 bilhões, no início da década de 1990, para mais de US$ 1 trilhão, nos anos 2000. Isso também impulsionou as operações de fusões e aquisições mundo afora, que respondem por cerca de três quartos do volume de investimento no exterior.
Para fazer frente a essa crescente internacionalização, as empresas locais logo perceberam que, se não adotassem uma estratégia ativa, seriam alvos fáceis de aquisição por seus concorrentes mais robustos, agora fortalecidos pela expansão dos mercados de capitais. As empresas domésticas adotaram duas estratégias muito claras para ganhar economias de escala e competir neste novo cenário: adquirindo ou fundindo-se a outras empresas locais; e expandindo sua atuação no exterior. Assim, o movimento de concentração de empresas se deu tanto de fora para dentro, com a intensificação dos capitais forâneos, quanto internamente, como mecanismo de defesa, e, ainda, no exterior, com a internacionalização das suas filiais.
Esse cenário de hipercompetição entre grandes grupos econômicos impõe desafios aos países na formulação das políticas econômicas domésticas e para a regulação da concorrência. Uma atitude passiva pode significar a completa desnacionalização das suas estruturas produtivas, com evidentes perdas estratégicas. Os Estados nacionais são mais fortes, na medida em que atuam em parceria com as empresas, como mostram as experiências dos EUA, Japão, China, Coreia do Sul, entre muitos outros.
Um outro dilema é garantir que o consumidor não seja prejudicado com a crescente concentração, pois, se os órgãos de defesa da concorrência inviabilizarem as operações de fusões e aquisições, poderão, por outro lado, condenar as empresas locais à extinção.
Para o Brasil, especialmente, o cenário imposto pela concentração globalizada de capitais é um desafio ainda maior. Primeiro, porque nos falta uma clara estratégia integrada para fazer frente às novas circunstâncias e definir mais claramente o nosso papel nas grandes cadeias globais. Tenho dúvida até se estamos compreendendo a dimensão do problema. Segundo, e decorrente do primeiro, a valorização cambial, as desvantagens competitivas sistêmicas e a fragilidade das políticas de competitividade (políticas industrial, comercial e tecnológica) denotam um quadro preocupante. Até porque são questões muito mal compreendidas e maltratadas na opinião pública e pelos Poderes. Falta-nos um projeto, um rumo a ser seguido, que ultrapasse a excessiva fixação nos pseudobenefícios de curto prazo.
O risco implícito se traduz na crescente desnacionalização das bases produtivas, na desindustrialização precoce e na vulnerabilização das contas externas. Um cenário pouco propício para o desenvolvimento de longo prazo. Urge acordar e agir logo!
O Estado de São Paulo



Economia uruguaia cresce, mas país teme "Brasildependência"
Sob influência brasileira cada vez maior, o Uruguai se aproxima de uma marca impensável há quase dez anos, quando vivia o auge de sua crise bancária e lutava para convencer seus credores a reestruturar a dívida pública.

O governo prevê expansão de 6% em 2011 e todos os analistas trabalham com a perspectiva de nova alta do PIB em 2012, levando o país a completar uma década ininterrupta de crescimento da economia, sem dar nenhum calote e com a atração de investimentos que permitiram até mesmo driblar os efeitos da quebra do Lehman Brothers sobre a região.
O que muitos empresários e autoridades locais discutem agora é se a presença do grande vizinho setentrional em setores considerados estratégicos está criando um processo novo: o de "Brasildependência".

Os frigoríficos brasileiros já dominam 36% do abate total de gado bovino, a gaúcha Camil beneficia metade da safra local de arroz e a Ambev é dona das três principais marcas uruguaias de cerveja. A Petrobras tem 21% do mercado de revenda de combustíveis, iniciou trabalhos de exploração de petróleo na plataforma continental e controla a distribuição de gás canalizado em Montevidéu.
Além disso, novos investidores estão chegando: o Banco do Brasil pediu autorização para operar comercialmente no país, o grupo Fasano abriu no verão passado um complexo hoteleiro de alto luxo em Punta del Este e o laboratório Eurofarma adquiriu recentemente o controle da indústria farmacêutica Gartier.

O avanço das empresas brasileiras motivou um alerta do presidente José Mujica, durante reunião de cúpula do Mercosul, no mês passado. Em seguida ao pronunciamento oficial da colega Dilma Rousseff, Mujica advertiu que "devemos lutar para que a burguesia paulista assuma a responsabilidade de gerar empresas aliadas, e não colonizadas, em toda a América do Sul".

O crescimento da presença brasileira pode ser visto em diversos indicadores. Entre 2005 e 2010, a participação do Brasil como destino das exportações uruguaias subiu oito pontos percentuais, de 13,6% para 21,5% das vendas totais. No mesmo período, o número de turistas brasileiros aumentou 92%. Seis anos atrás, havia quase seis visitantes argentinos para cada brasileiro. No ano passado, a proporção foi de pouco mais de três por um.

A invasão tupiniquim em Punta del Este, principalmente no início do verão, é tão grande que já motivou piadas dos uruguaios sobre o estranho hábito dos "novos ricos" falando alto em português e bebendo champanhe Veuve Clicquot em taças de acrílico, enquanto torram seus corpos nas areias brancas do balneário.

"É preciso ter muito cuidado para não ferir suscetibilidades", afirma um funcionário do Itamaraty com experiência em lidar com o governo e empresários locais. Isso se reflete em sutilezas. O principal executivo de uma multinacional brasileira em Montevidéu, cujo orçamento global para novos investimentos em apenas um ano é superior a todo o PIB do Uruguai, tomou a precaução de nunca mencionar tais números em público, exatamente para evitar comparações.
"Antes, sabíamos o nome e o sobrenome do ministro da Economia da Argentina, mas não tínhamos ideia de quem era o ministro da Fazenda do Brasil. Isso mudou", observa Álvaro Queijo, sócio e diretor-geral da Cristalpet. Instalada na capital uruguaia, a empresa tem a maior unidade produtiva da América Latina de pré-formas PET, que servem de base para garrafas de refrigerantes e outras bebidas.
Queijo dá o exemplo da própria companhia para dizer que "hoje, na área industrial, o Uruguai é Brasildependente". A Cristalpet fatura US$ 140 milhões por ano e fabrica 150 milhões por mês de pré-formas. Cerca de 80% da produção é exportada, tendo o Brasil como maior cliente, com seis em cada dez unidades fabricadas. O salto ocorreu em 2002, quando começou a exportar para a subsidiária brasileira da Coca-Cola, que já era sua cliente no Uruguai. Ela fornece atualmente 50% dos moldes de PET usados nas engarrafadoras da Coca-Cola no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Paradoxalmente, o aumento da participação brasileira em vários setores da economia coincide com a diversificação de investimentos em outros ramos da indústria. O caso mais simbólico é o da celulose, com a chegada da finlandesa UPM (ex- Botnia), em 2007. Sua instalação às margens do rio Uruguai provocou um conflito diplomático com a Argentina e o bloqueio por três anos de uma ponte fronteiriça, mas a empresa investiu US$ 1,2 bilhão e ajudou a blindar o país no pior momento da recessão global. Hoje, ocupa o terceiro lugar na lista de exportadores.
Em maio, o consórcio Montes del Plata - formado pela sueco-finlandesa Stora Enso e pela chilena Arauco - deu início à construção de nova unidade para produzir 1,3 milhão de toneladas por ano de celulose. O investimento, de R$ 1,9 bilhão, será o maior já realizado no Uruguai. Um megaprojeto indiano para a exploração de minério de ferro aguarda o sinal verde do governo, embora enfrente resistência da população.
As companhias brasileiras se alimentaram da onda de prosperidade que elas mesmas ajudaram a criar no país. O Itaú comprou as operações locais do BankBoston em 2006 e é atualmente o terceiro maior banco no Uruguai, com 118 mil clientes e 17 agências. O Banco do Brasil acaba de fazer um aporte de US$ 7 milhões na subsidiária uruguaia do Patagônia, que já controla na Argentina, para transformá-lo de instituição financeira para estrangeiros em banco comercial. A autorização foi pedida às autoridades monetárias dos dois países e o Banco do Brasil espera obtê-la até o fim de 2011.
O Minerva, um dos maiores processadores de carnes do Brasil, pagou US$ 65 milhões em janeiro pelo controle do frigorífico Pul. No ano passado, o Pul representou 6,6% das 2,2 milhões de cabeças de gado abatidas no Uruguai. Marfrig e JBS já tinham 29,4% do total. Só a Marfrig comprou quatro frigoríficos no país - Cledinor, Tacuarembó, Colônia e Inaler. A Bertin havia assumido o Canelones em 2006, antes de ser incorporada pela JBS.
Para as umas empresas brasileiras, expandir negócios no Uruguai faz pouca diferença no balanço global, mas é algo visto como importante para conquistar espaço em mercados próximos - além de ser quase um apêndice da política externa do governo. "É fundamental, para a Petrobras, estar consolidada em países que têm democracia madura e estabilidade política", diz Irani Varella, presidente da estatal no Uruguai. "Além disso, a nossa presença não deixa de ser um instrumento de integração entre os dois países."
Desde 2006, quando comprou a rede da Shell, a Petrobras mantém em 89 o número de postos de serviços no Uruguai. A rede não aumentou porque depende de licitações públicas, que não foram mais abertas. Apesar disso, e dos preços controlados pelo governo, tem crescido organicamente. "O mercado de combustíveis sobe numa média de 6% ao ano, nos últimos três anos", diz Varella, informando que só nos seis primeiros meses de 2011 a Petrobras conseguiu avanço de 0,5 ponto percentual em participação no mercado uruguaio.

Para outras empresas, como o laboratório Eurofarma e a seguradora Porto Seguro, a chegada ao Uruguai desempenhou papel relevante no processo de internacionalização. "O nosso objetivo até 2014 é estar presente em quase toda a América Latina", diz Júlio César Gagliardi, vice-presidente comercial e de operações da Eurofarma, que comprou a uruguaia Gautier em 2010, sua segunda aquisição no exterior. A Gautier tem cerca de 4% do mercado local e a Eurofarma aposta em medicamentos que contam com bioequivalência e biodisponibilidade no Brasil para crescer no país vizinho.

Já a Porto Seguro, que está no Uruguai desde 1995, aproveitou dois fatos recentes para se expandir: a explosão nas vendas de veículos - houve um recorde de 43 mil automóveis novos emplacados no ano passado - e uma nova lei, que instituiu o seguro obrigatório. Diferentemente do caso brasileiro, os donos de veículos podem escolher livremente a seguradora para essa apólice, no Uruguai.
No segmento automotivo, a empresa conquistou 20% do mercado. São 100 mil clientes no país, incluindo outros tipos de seguros. "Nossa evolução no Uruguai é altamente satisfatória, levando em conta fatores como o tamanho do mercado, a alta concorrência e o peso que ainda tem o Estado nesse setor", afirma Fernando Viera, diretor da Porto Seguro no Uruguai.
Valor Econômico




Investidores temem inflação e câmbio
Apesar da preocupação internacional, Brasil segue atraente por causa do preço menor das ações; no ano, Bovespa já acumula queda de 13,05%.

BRASÍLIA – O Brasil não perdeu o seu posto de “queridinho” dos investidores internacionais, mas a inflação alta e as medidas de controle cambial preocupam. É o que dizem gestores de fundos de investimentos dedicados a mercados emergentes em Nova York, Londres e Los Angeles, muitos dos quais aproveitaram a queda na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nos últimos meses para comprar mais ações brasileiras.

O fôlego da economia brasileira, movida pelo crescimento do crédito, tem sido posto em questão pela imprensa internacional, o que levou alguns analistas a atribuírem a recente anemia do mercado acionário brasileiro a uma fadiga dos investidores. A Bovespa acumula queda no ano até quinta-feira, 21 de julho, de 13,05%, afetada pela perda de ações como a preferencial da OGX Petróleo, do bilionário Eike Batista, que caiu 28,38%; da ação preferencial do Itaú Unibanco, que perdeu 16,23%; e da preferencial da Petrobrás, cuja perda foi de 14,1%, no mesmo período.
“O Brasil é ainda muito atraente, especialmente depois que a queda da Bolsa deixou as ações brasileiras entre as mais baratas comparadas com outros mercados emergentes”, afirmou à Agência Estado Urban Larson, diretor para mercados emergentes do fundo F&C Management em Londres, com ativos de US$ 3 bilhões em mercados emergentes, dos quais cerca de US$ 500 milhões apenas no Brasil. Larson informou que, ao longo dos últimos 30 dias, comprou mais ações brasileiras, elevando a participação da Bovespa na sua carteira de mercados emergentes de neutro para “overweight”, ou peso acima da média dos investimentos na carteira.

Fluxo
O fluxo de capital estrangeiro divulgado pela Bovespa em julho mostrou que o mau humor dos investidores em relação ao Brasil foi temporário: até o dia 20, entraram na Bolsa brasileira R$ 939,5 milhões, quase que compensando a saída de capital estrangeiro nos primeiros seis meses do ano. No saldo de 2011 até a última quarta-feira, a saída líquida de dinheiro de estrangeiros é de R$ 171,8 milhões.

Para Larson, os investidores tiveram razões bem fundamentadas para preocupação e até um tanto de negatividade com o Brasil, em particular com a política monetária e a inflação. “A capitalização da Petrobrás no ano passado também feriu a credibilidade do mercado brasileiro”, acrescentou. Mas o valor das ações brasileiras, depois da baixa recente, tornou-se irresistível, disse. “E o crescimento dos lucros das empresas brasileiras deve ser ainda muito bom neste ano.”
Na opinião da chefe de mercados emergentes do fundo DoubleLine Capital LP, Luz Padilla, as agências de rating internacionais deverão continuar melhorando a classificação de risco do Brasil dadas as perspectivas positivas para a maior economia da América do Sul. “Definitivamente o Brasil não perdeu seu brilho em termos de opção de investimentos”, explicou Padilla, que administra US$ 500 milhões em fundos de títulos da dívida de países emergentes, boa parte deles emitidos por empresas.
Padilla, que disse ter comprado recentes emissões de dívida de empresas brasileiras, manteve o Brasil com o maior peso na sua carteira de países emergentes, com 14,93% de participação, seguido pelas dívidas da Rússia, do México e do Peru. “As recentes descobertas de petróleo e o crescimento da classe média brasileira vão impulsionar a economia brasileira e melhorar os fundamentos de crédito das empresas do País”, disse Padilla do seu escritório em Los Angeles.
Controle. O que mais preocupa a gestora da DoubleLine Capital em relação ao Brasil é a adoção de medidas para controle de capital estrangeiro para tentar limitar a valorização do real. “O fato de vermos medidas adicionais de controle cambial pode desestimular a aplicação de dinheiro no País, pois não sabemos quando as regras vão mudar de novo, além de que essas normas não fazem nada à medida que o problema da taxa de câmbio é algo fora de controle (do governo).”
Para Greg Lesko, diretor-gerente da Deltec Asset Management em Nova York, que tem US$ 850 milhões em ativos, dos quais quase US$ 200 milhões investidos no Brasil, o País ainda é uma “grande história” de médio e longo prazos e a queda nos preços das ações brasileiras neste ano deve ser vista como uma oportunidade de compra para os investidores estrangeiros.
“O preço das ações de bancos brasileiros está bastante atraente e os papéis das empresas produtoras de commodities, como a Vale, não estão caros”, afirmou Lesko, que aproveitou a baixa para comprar papéis brasileiros em Bolsa nas últimas semanas.
O Estado de São Paulo

 

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