BID pede para Brasil acabar com tarifas de importação de produtos colombianos
Decidida a evitar o exemplo do México, que vem sofrendo com a desaceleração econômica de seu principal parceiro comercial, os Estados Unidos, a Colômbia procura diversificar seu leque de parceiros comerciais, agora com apoio decidido do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para ampliar o comércio com o Brasil. "Não existe justificativa para que o Brasil não elimine imediatamente todas as tarifas de importação às exportações colombianas", defende estudo do BID, ao apontar as vantagens da indústria brasileira com a maior abertura entre os dois países.O presidente do BID, Luis Alberto Moreno, que é colombiano, afirma que a forte concentração em produtos manufaturados no comércio entre os dois países justifica um maior esforço de abertura entre Brasil e Colômbia - país que em breve será a segunda economia sul-americana, ultrapassando a Argentina, prevê o economista.O BID defende a assinatura de um acordo de "céus abertos" para o mercado de transporte aéreo nos dois países, entre outras medidas para reduzir o custo do frete de mercadorias entre Brasil e Colômbia, hoje o maior obstáculo à ampliação das trocas comerciais bilaterais. Recentemente, o Brasil assinou um acordo do gênero com os Estados Unidos, abrindo o mercado sem restrições às companhias americanas.
Um estudo do BID com manufaturados selecionados mostrou que o frete pode chegar a 33,5% do preço dos produtos enviados pela Colômbia ao Brasil, enquanto os mesmos produtos enviados do Canadá têm aumento menor, de 32%.
Moreno argumenta que os países emergentes representarão 68% do mercado mundial em 15 anos, o que justifica maior esforço pelas relações comerciais Sul-Sul. O estudo do BID lembra que a Colômbia prometeu eliminar 80% das tarifas de importação de mercadorias, no acordo assinado com os Estados Unidos, que ainda aguarda aprovação do Congresso americano. No acordo firmado com o Brasil, 50% da redução de tarifas foi adiada para depois de 2015, e alguns "picos tarifários", barreiras altas a produtos manufaturados "sensíveis", permanecerão mesmo depois de 2019.
Com mercados menores que os dos países desenvolvidos, os acordos Sul-Sul como o do Brasil e Colômbia "não podem se dar ao luxo de não eliminar completamente as barreiras tarifárias, sob risco de se tornarem irrelevantes", afirma o estudo do BID. Manufaturados, principalmente plásticos, pneus, aço e aviões compõem 60% das vendas da Colômbia ao Brasil, que vende carros, alimentos, aviões, autopeças e aço, entre os principais manufaturados que exporta.
O BID elogia o aumento de investimentos entre os dois países, que acredita ser importante para evitar pressões protecionistas. Nos últimos cinco anos, os investimentos brasileiros na Colômbia aumentaram mais de oito vezes e somaram cerca de US$ 755 milhões. Esse valor pode crescer exponencialmente, se concretizado o anúncio do empresário Eike Batista, que informou ao governo colombiano a intenção de investir US$ 4 bilhões em logística e mineração nos próximos anos.
A Colômbia, que teve com o Brasil um déficit comercial de US$ 1,1 bilhão em 2010, também vem investindo no país, US$ 605 milhões entre 2005 e 2009, especialmente nas áreas e petróleo, energia, serviços financeiros e petroquímica.
Sinal do interesse na aproximação dos dois países, o presidente Juan Manuel Santos abrirá hoje o seminário, que terá quatro de seus ministros em painéis sobre comércio, transportes, comunicações, finanças, mineração e agricultura.
Na abertura, com ele, estarão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou ontem a Bogotá, com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Entre os empresários brasileiros, estarão André Esteves, do BTG Pactual, José Sérgio Gabrielli, da Petrobras, e Albano Vieira, da Votorantim Energia.
Valor Econômico
Barreiras da Argentina já renderam US$ 1 bilhão em prejuízo ao Brasil
O protecionismo da Argentina já custou pelo menos US$ 1 bilhão às empresas prejudicadas pelas licenças não automáticas de importação, um instrumento que burocratiza a entrada dos produtos no país. As vendas dos setores afetados caíram 45% depois da adoção das licenças, de US$ 2,15 bilhão para US$ 1,18 bilhão, revela estudo inédito da Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo .
O prejuízo pode ser ainda maior, pois o levantamento considerou apenas os 343 itens sujeitos à aprovação manual para entrada na Argentina até o fim de 2010. Neste ano, o governo da presidente Cristina Kirchner incluiu mais 180 produtos no sistema. O licenciamento não automático é permitido pelas regras internacionais, mas os argentinos demoram mais que o limite de 60 dias previsto.Cristina esteve em Brasília para inaugurar a nova Embaixada da Argentina e vai se reunir com a presidente Dilma Rousseff. O governo planeja apenas instalar oficialmente um fórum de empresários dos dois países, que poderia ajudar a resolver conflitos.
As medidas adotadas pela Argentina estão causando mal-estar no Brasil. No setor privado, a impressão é que o governo está sendo “tolerante” com a Argentina por causa da proximidade das eleições presidenciais, que ocorrem em outubro. Após retaliar a Argentina com a adoção de licenças para a entrada de automóveis, o que foi considerado um “tiro de canhão”, o governo Dilma teria mudado de postura por recomendação do Itamaraty.
“O governo brasileiro está sendo tolerante. Os argentinos estão abusando e desviando comércio para terceiros países. O que eles ganham com isso? É o fim da picada”, disse Paulo Skaf, presidente da Fiesp. O levantamento da entidade mostra que boa parte dos setores perdeu participação nas importações da Argentina para concorrentes como a China.
O setor que sofreu o maior prejuízo pela adoção das licenças foi o de máquinas e equipamentos. As exportações dos fabricantes brasileiros para a Argentina caíram 79%, de US$ 318 milhões nos 18 meses anteriores à adoção das licenças para US$ 65 milhões nos 18 meses posteriores, o que significa redução de US$ 252 milhões.
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