LEGISLAÇÃO

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

ECONOMIA

Mundo em transição fortalece os Brics
A crise nos EUA e na Europa deve fortalecer os Brics, o conjunto de países emergentes que aglutina Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A avaliação é do embaixador Gilberto Fonseca-Guimarães de Moura, diretor do Departamento de Mecanismos Inter-Regionais (DMR) do Ministério das Relações Exteriores, em palestra feita no Centro de Estudos Políticos dos Brics, da PUC, no Rio. Para ele, "o mundo vive hoje um grande momento de transição. Uma transição muito longa, pois caso seja rápida, será traumática para todos."
No contexto de mudança global, Moura prevê que os Brics vão se fazer ouvir, pois, com a crise, os países ricos vão ser questionados. "E algum tipo de ajuste será feito na governança global". Ele vê os Brics como uma resposta a esse repensamento da estrutura global atual, tanto em termos políticos, quanto econômico-financeiro. "Fóruns internacionais criados no mundo pós-guerra, como a própria ONU, estão envelhecendo."
No futuro, qualquer país que almeje se destacar como líder global não pode querer reproduzir visões arcaicas que dividiram o mundo entre Norte e Sul, diz. "O líder mundial do futuro não pode querer as coisas só para si. Se estamos lutando contra isso, contra um ou dois países dominando o mundo, seria um contrasenso reproduzir práticas passadas".
Os diversas grupos de países que vêm despontando, como os Brics, o Ibas (Índia, Brasil e África do Sul), o G-20, o G-15, a Unasul, entre outros, espelham a grande necessidade de mudanças. "Está evidente que o status quo do planeta não é o adequado". Segundo ele, não é possível mais nos dias de hoje ignorar um país como a China. E nem mesmos outros países de dimensões continentais como Rússia, Índia e Brasil. "Não é possível ignorar os Brics. Eles incomodam."
O diplomata reconhece que o grupo não tem uma unidade de pensamento, dados os interesses diferentes e por vezes divergentes. "Eles são países baleias, enormes, bisonhos." Mas reconhece que estão trabalhando no sentido de desenvolver "uma cumplicidade positiva" em busca da consolidação de posições comuns em relação aos diversos temas globais. "Os Brics têm realizado encontros anuais para desenvolver um diálogo político. No último encontro, em abril, na cidade de Sanya, na China, Rússia e China reconheceram a aspiração de Brasil, Índia e África do Sul de lograrem desempenhar "um papel mais protagônico" nas Nações Unidas", relatou.
Como bloco, os Brics estão avançando, disse Moura, lembrando que consta da declaração de Sanya a reforma do FMI com participação maior dos países emergentes no Fundo, a reforma do sistema monetário internacional por meio de um sistema de reservas internacionais abrangentes, capaz de proporcionar segurança e estabilidade, dentre outras questões.
Para o diplomata, o tema das reservas é muito atual e poderá avançar na próxima cúpula, que acontece em 20 de março de 2012, na Índia. Propostas para a criação de uma cesta de moedas para atenuar a presença de dólares e títulos da dívida pública americana no portfólio das reservas dos países Brics certamente estarão em debate.
Somente a China detém US$ 1 trilhão em títulos da dívida americana no seu portfólio de reservas, enquanto o Brasil possui 60% desses títulos em suas reservas. Para o embaixador, o grupo de emergentes caminha para uma configuração mais política, se distanciando cada vez mais do que foi sua origem no banco americano Goldman Sachs.
Valor Econômico

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