Medidas cambiais importaram inflação
As medidas do governo para conter a valorização do real adicionaram mais lenha na fogueira da inflação. O real forte atuava como um amortecedor interno do aumento dos preços das matérias-primas no exterior. Agora, a contaminação se tornou direta e já acendeu um sinal de alerta no Banco Central (BC) e no mercado. Em economês, se diz que o País perdeu, ao menos momentaneamente, a chamada “âncora cambial”.
“Desde que o ministro da Fazenda (Guido Mantega) falou em guerra cambial (em outubro do ano passado), vemos uma clara inconsistência entre a política monetária e a política cambial no País”, afirmou o economista-chefe do banco Santander e ex-diretor do BC, Alexandre Schwartsman.
“A política monetária tem como objetivo baixar a inflação, mas a cambial pressiona a inflação para cima”, acrescentou Schwartsman. Procurado pela reportagem, o ministro Guido Mantega não quis se pronunciar sobre o tema.
Durante todo o governo Lula, a valorização do real sempre contrabalançou os momentos de alta das commodities. Entre janeiro de 2009 e julho de 2010, por exemplo, o índice CRB (Commodities Research Bureau, espécie de síntese das oscilações das principais commodities) subiu 32% em dólar, mas só 1% em real.
Nesse período, o dólar saiu de R$ 2,40 para R$ 1,77. “O câmbio compensou a alta das commodities”, disse o economista do JP Morgan, Júlio Callegari.
Intervenções. Graças às intervenções do governo brasileiro no mercado cambial, que se intensificaram a partir de outubro, com o aumento da alíquota de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o real praticamente se estabilizou. Valia R$ 1,679 em 1.º de outubro e R$ 1,674 em 31 de janeiro, ou seja, praticamente não oscilou durante quatro meses.
Além das altas sucessivas do IOF, outras medidas para conter a valorização do câmbio incluem compra de reservas e redução das posições vendidas dos bancos em dólar futuro. Resultado: o amortecedor cambial quebrou e o índice CRB acelerou 26% em dólares e 19% em reais considerando o intervalo de julho de 2010 a janeiro de 2011.
Um indicador do próprio Banco Central mostra que a situação pode ser ainda mais grave. A autoridade monetária começou a divulgar há dois meses um índice de commodities que inclui apenas os produtos que interessam ao Brasil. O IC-BR subiu, em reais, 9,7% entre janeiro de 2009 e julho de 2010 e expressivos 33,8% de julho de 2010 a janeiro deste ano.
Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), os diretores do BC reconheceram que estão preocupados com o assunto. “Os preços das commodities se elevaram, sem a contrapartida de movimentos, em sentido contrário, de ativos domésticos”, informava o documento. Por ativos domésticos, leia-se taxa de câmbio.
O Estado de São Paulo
Bovespa estuda criar taxa alternativa à Ptax para o dólar
SÃO PAULO – A BM&FBovespa pretende criar uma taxa de referência alternativa para o dólar, aproveitando a mudança do cálculo da Ptax em julho. A iniciativa poderia dar mais transparência ao mercado de câmbio, disseram dois diretores da Bolsa à Reuters. A ideia também é atrair mais liquidez para a plataforma eletrônica de dólar à vista da BM&FBovespa, atualmente em segundo plano em relação às operações no mercado de balcão.
A Ptax é a taxa média diária das operações de câmbio à vista. Atualmente, ela é calculada pelo Banco Central como uma média ponderada de todas as compras e vendas de dólares e é usada como principal referência para o câmbio, inclusive nos contratos futuros de moeda estrangeira.
A partir de julho, o BC passará a calcular a Ptax como uma média aritmética de taxas colhidas em torno de 10h, 11h, 12h e 13h com os bancos dealers de câmbio (atualmente são 13). O objetivo do BC é diminuir a diferença de liquidez entre o mercado futuro e o mercado à vista.
A ideia da bolsa é replicar esse método dentro de sua plataforma eletrônica de negociação, com leilões de um minuto em horários semelhantes aos da coleta da Ptax pelo BC. “Além de divulgar esses quatro ‘fixings’, a gente vai divulgar a média desses quatro ‘fixings’”, disse Sérgio Goldenstein, diretor de Renda Fixa e Câmbio da BM&FBovespa. “Na frente, nada impediria de você ter contratos derivativos, ou ter contratos de câmbio, indexados ao fixing que a bolsa estaria divulgando, e não à Ptax”, completou.
O projeto deve ser colocado em prática no primeiro semestre, ainda antes da implantação da nova Ptax, ainda em testes pelo Banco Central. “Isso veio até como uma demanda dos participantes do mercado”, afirmou Marcos Carreira, diretor de Derivativos da BM&FBovespa.
O BC não se opõe à criação de uma alternativa à Ptax. De acordo com Goldenstein, a iniciativa da Bolsa “vem justamente por saber que o BC não vê nenhum obstáculo”. Ele ressaltou que o risco de divergência entre as duas taxas é pequeno mas existe, devido à possibilidade de horários diferentes para a coleta e ao universo mais abrangente de contribuintes. No “fixing” de câmbio, todos os agentes cadastrados na plataforma da BM&FBovespa poderiam participar, e não somente os dealers, como na Ptax. Goldenstein, no entanto, vê isso como uma vantagem do sistema alternativo.
A intenção da BM&FBovespa ao oferecer os “fixings” vai além da transparência do mercado de câmbio. Atualmente, a plataforma eletrônica de negociação com o dólar à vista dentro da bolsa tem apenas cerca de 10% do volume total do mercado, apesar de quase todas as operações serem registradas na clearing (câmara de compensação) da instituição.
“A gente não vai cobrar nada pelo uso e pela divulgação dessa taxa referencial. Nossa intenção é fomentar um mercado eletrônico, dar transparência, e não fazer receita em cima dessa taxa”, disse Goldenstein.
O Estado de São Paulo
As medidas do governo para conter a valorização do real adicionaram mais lenha na fogueira da inflação. O real forte atuava como um amortecedor interno do aumento dos preços das matérias-primas no exterior. Agora, a contaminação se tornou direta e já acendeu um sinal de alerta no Banco Central (BC) e no mercado. Em economês, se diz que o País perdeu, ao menos momentaneamente, a chamada “âncora cambial”.
“Desde que o ministro da Fazenda (Guido Mantega) falou em guerra cambial (em outubro do ano passado), vemos uma clara inconsistência entre a política monetária e a política cambial no País”, afirmou o economista-chefe do banco Santander e ex-diretor do BC, Alexandre Schwartsman.
“A política monetária tem como objetivo baixar a inflação, mas a cambial pressiona a inflação para cima”, acrescentou Schwartsman. Procurado pela reportagem, o ministro Guido Mantega não quis se pronunciar sobre o tema.
Durante todo o governo Lula, a valorização do real sempre contrabalançou os momentos de alta das commodities. Entre janeiro de 2009 e julho de 2010, por exemplo, o índice CRB (Commodities Research Bureau, espécie de síntese das oscilações das principais commodities) subiu 32% em dólar, mas só 1% em real.
Nesse período, o dólar saiu de R$ 2,40 para R$ 1,77. “O câmbio compensou a alta das commodities”, disse o economista do JP Morgan, Júlio Callegari.
Intervenções. Graças às intervenções do governo brasileiro no mercado cambial, que se intensificaram a partir de outubro, com o aumento da alíquota de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o real praticamente se estabilizou. Valia R$ 1,679 em 1.º de outubro e R$ 1,674 em 31 de janeiro, ou seja, praticamente não oscilou durante quatro meses.
Além das altas sucessivas do IOF, outras medidas para conter a valorização do câmbio incluem compra de reservas e redução das posições vendidas dos bancos em dólar futuro. Resultado: o amortecedor cambial quebrou e o índice CRB acelerou 26% em dólares e 19% em reais considerando o intervalo de julho de 2010 a janeiro de 2011.
Um indicador do próprio Banco Central mostra que a situação pode ser ainda mais grave. A autoridade monetária começou a divulgar há dois meses um índice de commodities que inclui apenas os produtos que interessam ao Brasil. O IC-BR subiu, em reais, 9,7% entre janeiro de 2009 e julho de 2010 e expressivos 33,8% de julho de 2010 a janeiro deste ano.
Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), os diretores do BC reconheceram que estão preocupados com o assunto. “Os preços das commodities se elevaram, sem a contrapartida de movimentos, em sentido contrário, de ativos domésticos”, informava o documento. Por ativos domésticos, leia-se taxa de câmbio.
O Estado de São Paulo
Bovespa estuda criar taxa alternativa à Ptax para o dólar
SÃO PAULO – A BM&FBovespa pretende criar uma taxa de referência alternativa para o dólar, aproveitando a mudança do cálculo da Ptax em julho. A iniciativa poderia dar mais transparência ao mercado de câmbio, disseram dois diretores da Bolsa à Reuters. A ideia também é atrair mais liquidez para a plataforma eletrônica de dólar à vista da BM&FBovespa, atualmente em segundo plano em relação às operações no mercado de balcão.
A Ptax é a taxa média diária das operações de câmbio à vista. Atualmente, ela é calculada pelo Banco Central como uma média ponderada de todas as compras e vendas de dólares e é usada como principal referência para o câmbio, inclusive nos contratos futuros de moeda estrangeira.
A partir de julho, o BC passará a calcular a Ptax como uma média aritmética de taxas colhidas em torno de 10h, 11h, 12h e 13h com os bancos dealers de câmbio (atualmente são 13). O objetivo do BC é diminuir a diferença de liquidez entre o mercado futuro e o mercado à vista.
A ideia da bolsa é replicar esse método dentro de sua plataforma eletrônica de negociação, com leilões de um minuto em horários semelhantes aos da coleta da Ptax pelo BC. “Além de divulgar esses quatro ‘fixings’, a gente vai divulgar a média desses quatro ‘fixings’”, disse Sérgio Goldenstein, diretor de Renda Fixa e Câmbio da BM&FBovespa. “Na frente, nada impediria de você ter contratos derivativos, ou ter contratos de câmbio, indexados ao fixing que a bolsa estaria divulgando, e não à Ptax”, completou.
O projeto deve ser colocado em prática no primeiro semestre, ainda antes da implantação da nova Ptax, ainda em testes pelo Banco Central. “Isso veio até como uma demanda dos participantes do mercado”, afirmou Marcos Carreira, diretor de Derivativos da BM&FBovespa.
O BC não se opõe à criação de uma alternativa à Ptax. De acordo com Goldenstein, a iniciativa da Bolsa “vem justamente por saber que o BC não vê nenhum obstáculo”. Ele ressaltou que o risco de divergência entre as duas taxas é pequeno mas existe, devido à possibilidade de horários diferentes para a coleta e ao universo mais abrangente de contribuintes. No “fixing” de câmbio, todos os agentes cadastrados na plataforma da BM&FBovespa poderiam participar, e não somente os dealers, como na Ptax. Goldenstein, no entanto, vê isso como uma vantagem do sistema alternativo.
A intenção da BM&FBovespa ao oferecer os “fixings” vai além da transparência do mercado de câmbio. Atualmente, a plataforma eletrônica de negociação com o dólar à vista dentro da bolsa tem apenas cerca de 10% do volume total do mercado, apesar de quase todas as operações serem registradas na clearing (câmara de compensação) da instituição.
“A gente não vai cobrar nada pelo uso e pela divulgação dessa taxa referencial. Nossa intenção é fomentar um mercado eletrônico, dar transparência, e não fazer receita em cima dessa taxa”, disse Goldenstein.
O Estado de São Paulo
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