LEGISLAÇÃO

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

LOGÍSTICA





Expectativa de safra recorde expõe desafios logísticos brasileiros

Transporte de grãos enfrenta estradas ruins e até mesmo falta de caminhões


Fotos: Franciele Dal'maso, Aprosoja, Divulgação
Com a expectativa de uma safra de grãos com potencial para bater recordes em volume, os produtores precisam lidar com um último grande desafio: de que forma entregar o produto? Os problemas não são novos e se mantêm: portos enfrentam filas quilométricas e há poucas alternativas às rodovias. Todas as esperanças são depositadas na caçamba de um caminhão, que enfrenta distâncias muitas vezes superiores a mil quilômetros.
As mudanças na lei trabalhista da profissão de motorista, que exige paradas para descanso, pode escassear ainda mais essa mão de obra, aumentando o custo para os agricultores e congestionando estradas e portos. Isto porque, com as novas regras, serão necessários mais caminhões para transportar o mesmo volume. Antes da vigência da nova legislação, era comum, na época de safra, ver dois caminhoneiros dividindo a boleia, alternando descanso e direção.

Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), Glauber Silveira, há o risco de um “apagão logístico”. Principalmente no Centro-Oeste, onde haverá aumento de cerca de 3 milhões a 4 milhões de toneladas no volume. “O principal risco logístico é a falta de caminhões. O que se perde, seja por falta de armazenagem ou no transporte, poderia estar alimentando milhões de pessoas”, afirma Silveira. A única alternativa ao transporte rodoviário é a Ferronorte, linha ferroviária operada pela América Latina Logística. Silveira afirma que a ferrovia está estrangulada e tem problemas de velocidade em São Paulo, próximo às regiões metropolitanas, levando muito tempo para fazer um trajeto curto.

Os conhecidos e recorrentes reveses têm feito alguns produtores investirem em locais próprios para a armazenagem da produção. Assim, ganham maior poder de barganha, ao conseguir transportar os grãos em períodos de melhor preço de frete ou até da saca do produto. “A gente almeja que todo produtor tenha a própria armazenagem, seria salutar armazenar 30% a 40% na própria fazenda. Já estamos com um déficit de armazém muito grande e ele deve aumentar. Diante de uma safra de cerca de 186 milhões de toneladas, como será neste ano, vai faltar armazém para quase 30% da produção”, conta Silveira.

Especialista em logística e presidente da Associação Brasileira de Logística (Abralog), Pedro Francisco Moreira aponta cinco vetores para os problemas brasileiros no setor de transportes: desequilíbrio na matriz – o modal rodoviário detém 65% da participação –, déficit de investimento, deterioração da estrutura, falta de regulação do setor e demora na concessão de licenças ambientais. “Demoramos para reagir. Temos programas como PAC 1, PAC 2 e, agora, o Plano de Investimento em Logística. Nos dois primeiros, temos diversos projetos orçados, com financiamento aprovado, mas não conseguimos gastar por problemas no projeto ou no licenciamento ambiental. Às vezes, passa um ano e não conseguimos gastar nenhum recurso”, explica.

Moreira cita um estudo do Departamento de Competitividade de Tecnologia (Decomtec), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que revelou que as empresas brasileiras têm uma despesa anual extra de R$ 17 bilhões devido à precariedade da infraestrutura do País, incluindo péssimas condições das rodovias e sucateamento dos portos. “Esse dado mostra nossa deficiência logística não só no agronegócio, mas de uma forma em geral. É uma carga extra para todos”, diz Moreira.
Cartola – Agência de Conteúdo
Especial para o Terra

Nenhum comentário: